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O perfil do livro didático de inglês no Brasil

COMUNICAÇÃO LINGUAGEM DOMINANTES CAPACIDADES DE EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS

1.4 O livro didático de língua inglesa

1.4.1 O perfil do livro didático de inglês no Brasil

As pesquisas em Lingüística Aplicada apontam uma falta de interesse e uma escassez da produção acadêmico-científica brasileira (publicações cientifícas, dissertações de mestrado e teses de doutorado) a respeito do livro didático de línguas estrangeiras20, principalmente para o ensino e aprendizagem da língua inglesa, embora mudanças já possam ser percebidas neste contexto.

Uma vez que o estado de investigação atual sobre o LD de LE brasileiro requer um estudo mais acurado, vale lembrar que esse LD tem assumido um papel de destaque em nossas escolas. Seria relevante, então, repensar, enquanto educadores e professores-agentes de LE, sobre a verdadeira função do LD em nossas salas de aula. Pensando nesse contexto, apresentamos três pesquisas recentes (duas dissertações de mestrado defendidas na UFMG e um livro publicado pelo CEFET-PB – originado a partir de uma dissertação de mestrado, respectivamente) que apresentam como objeto de pesquisa o LD de inglês como língua estrangeira no contexto brasileiro. A escolha desses trabalhos deve-se ao fato de estarem relacionados ao estudo de leitura em inglês – foco de interesse deste trabalho.

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Pesquisas recentes apontam um volume acentuado na circulação nacional de trabalhos (instrumentos e relatórios de pesquisa; teses e dissertações; documentos públicos; produções científicas e comunicações) destinados ao livro didático de língua portuguesa no período de 1975 a 2003. (Batista e Rojo, 2005)

Eiras (2004) envereda sua pesquisa para a concepção de leitura que subjaz as atividades de compreensão nos LDs nacionais de Inglês Instrumental. A pesquisa aponta que as atividades de leitura estão relacionadas à localização de informação explícita no texto, inferência lexical e inferência de informações implícitas no texto. Além disso, percebeu-se que o conhecimento gramatical está descontextualizado em relação aos textos de leitura. A autora conclui que os livros didáticos analisados ainda refletem uma concepção de leitura muito próxima daquela das décadas de 1960 e 1970, quando a abordagem de ensino de línguas ainda era estruturalista, com enfoque em escolhas gramaticais descontextualizadas, a partir de um sistema ideal de língua.

A pesquisa de Racilan (2005) também assinala a importância dos LDs de Inglês Instrumental produzidos no Brasil, mas com o enfoque na abordagem comunicativa. O autor aponta como resultado que os LDs analisados seguem os princípios da abordagem comunicativa de forma parcial na elaboração das atividades de aprendizagem que neles constam. Em sua proposta de pesquisa, Racilan (2005: 122) esclarece que o resultado “de forma alguma diminui a

importância desses livros como exemplares de material didático para ESP, como também não constitui indício de ineficiência no desenvolvimento das habilidades de leitura em LE, (...)”. É uma pesquisa que convida o leitor a uma reflexão sobre as

teorias de língua e aprendizagem de línguas que orientam a prática de ensino de leitura instrumental mediada pelo LD.

Edmundson (2004) examina as seções das atividades de leitura dos LDs de língua inglesa do Ensino Médio. A autora analisa-os a partir de seus objetivos, adequação das unidades aos aspectos cognitivos e afetivos de alunos e professores, linguagem, textos e produção de sentido. A pesquisa concluiu que a maioria das atividades pouco contribuíram para o desenvolvimento da habilidade de leitura, pois os alunos apenas transcrevem as palavras do texto como respostas às questões formuladas.

No que tange as pesquisas relacionados ao LD sob outra perspectiva, Consolo (1990) investigou a construção do insumo nas aulas de inglês do Ensino Fundamental na escola pública a partir do livro didático brasileiro, enquanto Silva

(1998) abordou o uso do texto literário no LD estrangeiro21 de inglês sob a perspectiva da abordagem comunicativa para o desenvolvimento das quatro habilidades lingüísticas, do vocabulário e gramática. Macedo (2003) examinou a escrita acadêmica nos livros didáticos estrangeiros de inglês com a emergência do gênero discursivo e Ticks (2005) investiga as concepções de linguagem subjacentes às atividades nos LDs estrangeiros em língua inglesa.

Além desses pesquisadores também lembramos os trabalhos de Pinto et al (2003, 2004), Grigoletto (1999), Souza (1999), Nascimento (2000), Araújo et al (2003, 2004a, 2004b) e Dourado (2004) que também desenvolvem estudos relacionados ao LD para o ensino de língua inglesa.

A nosso ver, as pesquisas sobre o LD de inglês no contexto educacional brasileiro têm se mostrado mais significativas, contribuindo para o volume de produção acadêmica e, conseqüentemente, para a expansão de seus temas e subtemas. O interesse por esse objeto de estudo (LD) nos faz melhor compreender o seu funcionamento e analisar suas condições pedagógicas necessárias enquanto recurso didático no ensino-aprendizagem. Deve-se ressaltar que o livro didático é ainda “um dos poucos materiais didáticos presentes cotidianamente na sala de aula,

constituindo o conjunto de possibilidades a partir do qual a escola seleciona seus saberes, organiza-os, aborda-os.” (Batista et al, 2005: 47)

Por outro lado, muitas escolas de Ensino Médio (públicas ou particulares) preferem não adotar um LD em seu programa curricular para o ensino de inglês como língua estrangeira. Ou seja, os professores, na maioria das vezes, preparam seus próprios materiais (textos e atividades) em forma de apostila.

Entretanto, alguns pesquisadores (Coracini, 1999; Edmundson, 2004; por exemplo) mostram uma certa inquietação e preocupação com os materiais didáticos preparados pelos professores de inglês do Ensino Médio. Segundo as autoras, os materiais não passam de uma coletânea de textos, atividades e exemplos selecionados pelos professores (sem muitas vezes levar em consideração as necessidades de seus alunos) de vários livros didáticos, tornando, então, o material um verdadeiro mosaico didático-pedagógico de exercícios. Podemos observar ainda

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Neste trabalho, iremos denonimar livro didático estrangeiro aquele publicado fora do Brasil, destinado a um público internacional.

materiais de inglês (apostilas) preparados pelos professores, em substituição do LD, com uma variedade de gêneros e temáticas retirados de fontes diversificadas (jornais, revistas, sites) com temas atuais e, na maioria das vezes, adequados a seu público-alvo. Não obstante, os modelos de atividades são, ainda, reflexos das atividades do LD, a saber, há uma repetição de procedimentos inerentes ao LD que não apresenta, na verdade, inovação alguma no “novo material”. Esses pontos nos mostram que “o LD já se encontra, de certo modo, ‘internalizado’ no professor.” (Coracini, 1999:24)

Do ponto de vista do professor, a elaboração de um material didático para o ensino de inglês deve-se ao fato do LD ser, muitas das vezes, inadequado ou não corresponder às expectativas do ensino-aprendizado desejado. Além disso, o fator preço também é decisório para o professor “coletar” seu material, pois o LD é muitas vezes um material de aquisição caro para muitos alunos de maneira geral.

Todavia, enquanto professores, precisamos lançar um olhar mais crítico para o conteúdo e a metodologia propostos pelo LD para torná-lo mais acessível e mais prático a nossos alunos. Certamente, esses fatores ficarão mais evidentes a partir do momento em que justificarmos perante os discentes o propósito comunciativo da língua inglesa nos contextos nacional e internacional, e criarmos condições para que eles se motivem para sua aprendizagem de forma mais contextualizada e comunicativa.

Assim sendo, acreditamos que o LD não é o vilão do ensino e aprendizagem de língua inglesa e muito menos, um inimigo que precise ser abolido do contexto escolar. É um instrumento didático-pedagógico que necessita estar adequado de acordo com as perspectivas de nossos alunos para torná-los mais críticos e reflexivos em uma esfera de situação imediata de comunicação (Bakhtin, [1952-53] 2003).

Nesse contexto, a leitura torna-se o foco principal para a maioria dos LDs de língua inglesa no contexto de Ensino Médio cuja interpretação do texto é verificada por vários tipos de atividades. Assim, são os tipos de atividades de compreensão o tema da próxima seção.