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1 O CONSELHO DE EDUCAÇÃO NAS ESFERAS ADMINISTRATIVAS DE

1.4 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL INVESTIGADO

1.4.3 O perfil dos Alunos

No que se refere ao público atendido, de acordo com as informações coletadas in loco na Secretaria Municipal de Educação, tem-se o seguinte quadro de matrículas na Rede Municipal de Ensino, conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 - Matrículas efetivadas na Rede Municipal de Educação em 2015

Nível Total de Alunos

Creche 75

Ensino Infantil 517

Ensino Fundamental 1.819

Total 2.411

Fonte Elaboração própria, com base nos dados do Educacenso/INEP (2016).

Do total de alunos matriculados demonstrados na Tabela 3 no Ensino Fundamental, 50% estão distribuídos na zona rural. Na Educação Infantil, dos 517 totalizados, 247 na zona rural e as 75 crianças na Creche, que está localizada na sede do Município. Essa clientela está dispersa em 37 escolas municipais, dos quais 32 estabelecimentos de ensino encontram-se na zona rural do município.

Nesse contexto, tem-se também um panorama do desempenho dos alunos das escolas da Rede Municipal de Ensino com maior foco nas escolas localizadas na zona rural do município, cujo calendário escolar deve ser adequado ao regime de cheias e vazantes dos rios da Amazônia.

Tal situação obriga a paralisação e, consequentemente, a reposição das aulas em calendário especial cuja elaboração está sob a responsabilidade da equipe

pedagógica lotada na Coordenadoria de Educação, mas que estaria submetida à aprovação e fiscalização do Conselho Municipal de Educação.

Nesse universo, 1.157 alunos, o correspondente a 48% do total do alunado atendido pela Rede Municipal de Ensino, está matriculado em escolas localizadas na zona rural sujeitas a essa sazonalidade que se replica todos os anos e implica num esforço constante para as reformulações necessárias não só no que tange à adequação do calendário especial, mas nas próprias propostas curriculares.

No próximo capítulo, apresentaremos o arcabouço teórico sob o qual estão ancoradas a metodologia e a análise dos dados coletados no âmbito desta pesquisa considerando os aspectos descritivos impressos no presente caso de gestão.

2 CONSTRUINDO OS CAMINHOS PARA A DISCUSSÃO E ANÁLISE DO TEMA

Toda investigação suscita a necessidade de percorrer caminhos metodológicos que nortearão os procedimentos inerentes ao ato da pesquisa. Quando se pensa em estudar uma temática, inúmeras inquietações emergem, o que coloca o pesquisador diante de uma série de opções que ao serem delimitadas, prevalece a que lhes causou maior incômodo que se constitui no caso problema.

Há de se considerar que, em toda investigação de cunho científico urge a necessidade da escolha de um referencial teórico que oferecerá subsídios que darão embasamento na discussão da temática abordada e na análise dos dados produzidos.

Nesta perspectiva, o presente capítulo apresenta-se subdividido em três seções que comportam respectivamente: o referencial teórico que fundamentou a pesquisa, o procedimento metodológico para produção e a análise dos dados.

2.1 SUBSÍDIOS TEÓRICOS

Para embasamento teórico, buscou-se subsídios para a discussão da temática abordada neste trabalho ancorada nos eixos que suscitam uma melhor compreensão diante de sua demanda de reflexão calcada nos eixos da autonomia e da participação sobre os quais figuram os CMEs no contexto dos Sistemas Municipais de Educação.

Desse modo, consideram-se os princípios que norteiam a autonomia (BARROSO, 1996), termo este bastante relativo e, neste caso, não figura como sinônimo de soberania, em se tratando da competência dos municípios no gerenciamento de sua própria rede educacional visto que, na maioria dos casos, devem-se observar as normativas determinadas pela União e os Estados que circunscrevem os municípios quando da elaboração de suas próprias políticas públicas.

Sarmento (2012, p.42) destaca que “a maior garantia para a liberdade ocorre devido à existência de duas ou mais comunidades políticas autônomas, porém não soberanas”, isto indica que, mesmo que no cerne das decisões tomadas em um ambiente participativo cujas variáveis locais sejam o foco das discussões, deve-se

considerar a estrutura administrativa estatal hierárquica dentro de um contexto de competências e subordinação.

Num contexto político-administrativo constante do sistema federalista, a soberania do ente maior não deve cercear a liberdade dos cidadãos mesmo que inseridos em instâncias inferiores, no que diz respeito ao delineamento das políticas locais ou adequação dos programas de cunho top down.

No entanto, independentemente da aplicação e interpretação do termo, a autonomia está concatenada na elaboração, condução e abrangências de políticas públicas educacionais de competência dos municípios.

O princípio federativo esboçado na CF de 1988, que destaca as competências dos componentes do pacto federativo no que diz respeito à manutenção da educação como direito subjetivo e a interação dos seus sistemas em regime colaborativo (BRASIL, 1988, Art. 211), regulamentado pela Lei nº 9394/96 delega a cada unidade federativa a autonomia na delimitação e divisão de responsabilidades na matéria constitucional reiterando a harmonia das competências da União com os demais entes federados, no qual figura no eixo inferior piramidal, os Municípios (BRASIL, 1996).

Nessa perspectiva, a autonomia está condicionada à observância, por parte dos sistemas subjacentes, das diretrizes superiores, por meio da adequação de suas competências de forma harmoniosa. Gadotti e Romão (1993) destacam que:

[...] assim como os sistemas estaduais devem responder complementarmente às diretrizes nacionais, aos reclamos das diferenças nacionais, os municípios deverão adicionar as especificidades normativas cobradas pelas diversidades locais (p.111).

Neste sentido, considerando os princípios explicitados no pacto federativo, a autonomia se manifesta pela linearidade das especificidades inerentes a cada ente federado.

Vale ressaltar que o teor participativo imprime maior consistência à autonomia, pois à medida que se consolida em um ambiente dialógico, amplia as diversidades, razão pela qual considerarmos a participação como um eixo temático a ela vinculada, visto que se trata de uma estratégia de ação política (ANDRADE, 2010).

Dagnino (2004) e Tenório (2005) comungam da ideia de que a participação é um dos pressupostos na materialização da gestão democrática com vista ao compartilhamento do poder decisório do Estado com a sociedade.

A participação estimula o exercício da cidadania no qual os componentes de um determinado espaço social são conclamados a assumir o compromisso pelo bem público e co-responsabilizados pelas ações de governo, consolidando sua vivência, fator primordial na construção da feição democrática impressa nos espaços de participação social ofertadas pelos Conselhos Municipais de Educação que figuram na legitimidade da representatividade esboçado no seu papel na interlocução dos problemas sociais assegurando assim a participação social no aperfeiçoamento da educação municipal.

No âmbito das políticas educacionais, podemos admitir que este princípio deva ser o pilar na construção dos Sistemas Municipais de Educação de forma a promover as relações harmoniosa entre os segmentos sociais de maneira exitosa, contemplando suas especificidades. Nesta perspectiva:

A partir do advento do novo marco legal brasileiro (CF/1988; LDB/96), a formação dos sistemas municipais de ensino passa a ser reconhecida como parte substantiva do processo de democratização da gestão educacional inferido enquanto mecanismo de viabilização do processo de proposição de políticas educacionais, tendo como horizonte, a mediação do diálogo entre as instâncias de participação democrática no âmbito do Poder Local (ANDRADE, 2010, p.296). Nesse sentido, os sistemas de ensino primam pela complementaridade entre si, o que lhes confere a competência na adequação de suas especificidades detectadas no seu contexto de atuação no víeis dos sistemas aos quais estão verticalmente integrados cuja práxis assegura o equilíbrio sem dinamitar a autonomia, ao mesmo tempo em que, não promove nenhuma invasão de suas competências privativas e estimula a participação cidadã.

Em outro fragmento, Andrade (2010) destaca que:

O sistema de ensino, apesar de ter sido engendrado em conjunto com a criação dos demais espaços de participação, é somente no momento em que o Município ascende ao nível de ente federado autônomo que o ideário de funcionamento sistêmico passa a ser extensivo, em condições de se atingir sua concretude, no âmbito Municipal (p.297).

Como peça fundamental que deva integrar os Sistemas Municipais de Educação, figuram os Conselhos Municipais de Educação que se apresentam como espaço dialógico de participação cidadã ao mesmo tempo em que é crucial no exercício do papel interlocutor entre a sociedade e governo local sob o qual deve repousar o “estudo dos problemas educacionais” (CURY, 2006, p.54).

Esboçado na abertura constitucional e infraconstitucional, os municípios criaram seus sistemas, o que gerou a sensação de autonomia condicionada aos ditames do sistema nacional. Inibiu-se o princípio da soberania, mas não anulou o princípio da autonomia ao permitir a criação de órgãos colegiados destacados como ambientes de participação da sociedade na condução de políticas públicas educacionais na esfera municipal alicerçada nos elementos basilares da democratização da gestão e fortalecimento de sua capacidade de auto decisão.

Na seção seguinte deste trabalho, aprofundaremos, no subtópico 2.1.1 os aspectos peculiares da gestão democrática e suas relações com a autonomia e, no subtópico 2.1.2, trataremos do papel dos Conselhos Municipais de Educação como espaços de participação e controle social.