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2.1 Aspectos teóricos da gestão hospitalar

2.1.2 O Plano Diretor Hospitalar como Instrumento de Planejamento

Bipartite Governo e Iniciativa Privada

Podemos citar como exemplo, os arranjos produtivos locais e o adensamento e integração de cadeias produtivas. Temos como estratégias mais utilizadas nesse modelo, as seguintes: fomento compartilhado de fatores locacionais; ações de capacitação de pessoal em parceria; identificação bipartite de entraves burocráticos a serem eliminados; convênios de facilitação fiscal e creditícia; ações conjuntas de suporte à comercialização de bens e serviços; parcerias para o desenvolvimento tecnológico e aquisição de tecnologias.

Tripartite Governo, Iniciativa Privada e Sociedade Civil

Englobam simultaneamente as três esferas através de pactos, fóruns e conselhos, formais ou informais, institucionalizados ou virtuais. Sendo as estratégias cooperativas mais utilizadas: intercâmbio de informações; a busca coletiva e o compartilhamento de conhecimentos; a pactuação de propósitos e valores e o debate de crenças; a construção de visões do futuro compartilhadas; a formulação conjunta de soluções inovadoras para problemas das comunidades; a elaboração de agendas e projetos consensuais de desenvolvimento e o aporte conjunto de recursos diversos, em conformidade com as possibilidades de cada agente.

Fonte: Elaborado por Ferreira (2006) a partir de Monteiro et al (2002).

Acrescenta-se que a gestão pode-se dar em dois âmbitos. Quando a gestão se dá no âmbito de uma única organização, tem-se a gestão intra-organizacional, quando isso acontece envolvendo vários entes organizacionais, pode-se então falar em gestão inter-organizacional. A gestão compartilhada ocorre nas formas inter- organizacionais de relacionamento (FERREIRA, 2006, p. 34).

Nesse contexto, a gestão compartilhada do Hospital Universitário da UFJF se enquadra no modelo unipartite, visto que a interação de atores de uma única esfera (Governo), sendo a Universidade Federal de Juiz de Fora uma autarquia e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares uma empresa pública, ambas pertencentes à Administração Indireta do Poder Executivo Federal.

Feitas as considerações sobre a gestão compartilhada nesta seção, vislumbra-se importante adentrar na seção seguinte a abordagem do planejamento, que é um dos instrumentos fundamentais para o desenvolvimento da gestão.

2.1.2 O Plano Diretor Hospitalar como Instrumento de Planejamento

A presente subseção trata de noções sobre o planejamento, a compreensão do plano diretor, especialmente o hospitalar, e sua importância no processo de planejamento da gestão do Hospital Universitário da UFJF.

Inicialmente, Mendes (2007) destaca que o planejamento apresenta-se como tarefa primordial aos agentes envolvidos no setor de saúde para que os hospitais possam fazer o seu reposicionamento, tanto físico, quanto administrativo, econômico

e outros, frente ao cenário atual brasileiro, motivados, sobretudo, pela sua condicionante característica histórica que é a complexidade (MENDES, 2007, p. 23).

O planejamento é uma das tarefas importantes e que podem fazer a diferença no desenvolvimento de uma instituição e do qual terá influência na tarefa seguinte de uma gestão, que é execução.

Potier (2002) sustenta que o conceito de planejamento é um tanto amplo e abrange as mais diversas áreas do conhecimento e que no caso dos hospitais é ainda mais diversificada dada a sua complexidade, por englobar em uma só instituição, funções de hotel, restaurante, empresa comercial, lavanderia, farmácia, oficina de manutenção, dentre outras, o que demanda o exercício de planejamento à visão de todo o conjunto.

O planejamento por si só já é bastante complexo, e em se tratando de instituições de saúde que são complexas por natureza, de tal forma que pode implicar em mais dificuldade aos gestores de saúde em realizar o adequado planejamento.

Consoante exposto no capítulo anterior, há muitos problemas a serem enfrentados por gestores de saúde, e isso está entranhado principalmente na execução de serviços e realização de atos de gestão, originados muitas vezes em falhas de planejamento.

É possível crer que o planejamento pode ser viabilizado a partir de um plano diretor, que é um instrumento com esta característica de planejar e que busca reunir as propostas de melhoria acordadas para o espaço que irá abranger em vários períodos de tempo. Nesse sentido, e sob um aspecto geral, Villaça (1999) sustenta que o plano diretor é um instrumento de planejamento urbano sem aplicação prática e expõe o seu conceito:

é um plano que a partir de um diagnóstico científico da realidade física, social, econômica, política e administrativa da cidade, do município e de sua região, apresentará um conjunto de propostas para o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial dos usos do solo urbano, das redes de infraestrutura e de elementos fundamentais da estrutura urbana, para a cidade e para o município, propostas estas definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovados por lei municipal, ou seja, é uma definição mais consensual (VILLAÇA, 1999, p. 238).

Mendes (2007) reforça este entendimento num contexto específico ao entender que dentre os instrumentos existentes para se planejar estabelecimentos

de saúde, o plano diretor configura-se como um dos mais importantes por ser considerado uma ferramenta fundamental para a organização espacial e o direcionamento de futuras ações a serem realizadas nos edifícios hospitalares, conforme prioridades e necessidades físicas específicas dessa tipologia (MENDES, 2007, p.27).

A partir desse cenário, Gomez (2002) expande o entendimento de plano diretor para o contexto hospitalar. Segundo o autor, todo hospital deveria ter um plano diretor, pois ele expressa o compromisso com o futuro, sendo que em hospitais novos, ajuda a orientar seu desenvolvimento, enquanto em hospitais existentes, ajuda a adaptá-los às mudanças e exigências do mercado.

Sobre a importância do plano diretor no contexto hospitalar, Toledo (2002) sustenta que as instituições hospitalares exigem um plano diretor e que este é essencial para permitir que essas instituições de elevada complexidade e alto custo de implantação possam ser construídas, equipadas e postas em funcionamento em etapas.

No que tange à elaboração de um plano diretor, Saboya (2006) emprega a ideia de que é uma atividade complexa visto que lida com valores diferentes, muitos deles conflitantes, e com ações de diversos atores, o que requer diretrizes com certo grau de flexibilidade e versatilidade. Somam-se ainda as limitações, já que quanto mais distante no tempo e maior a quantidade de ações interdependentes, maior o número de incertezas e, quanto maior o número de incertezas, maior a dificuldade em se definir as ações. É por isso que “a especificação das ações concretas tende a funcionar melhor com questões emergenciais e de curto prazo, assim como com aquelas sobre as quais as dúvidas e discordâncias sejam menores”.

O plano diretor, segundo Miquelin (1992), deve possibilitar a compreensão do empreendimento como um todo, incluindo: volume e forma do edifício (vertical, horizontal, misto, acessos externos, integração com o bairro e com a cidade, etapas previstas etc); anatomia do hospital (fluxos, circulações, contiguidade das unidades etc.); anatomia das unidades (compartimentos, formas e áreas aproximadas etc.); layout e relação preliminar de mobiliário e equipamentos; determinação prévia das interfaces entre a arquitetura e as diversas instalações (ramais principais verticais e horizontais, modulação estrutural etc.); estimativa financeira dos custos globais e setoriais para construção, aparelhagens e operacionalização.

Ao se relacionar o plano diretor utilizado para o planejamento urbano com o aplicável no hospital universitário, podem-se apurar neste último a presença de semelhanças ou até mesmo que foi originado plano diretor urbano e, dessa forma, os juízos e conceitos abordados no referencial supracitado são aplicáveis ao plano diretor hospitalar, principalmente em considerá-lo como instrumento de planejamento da gestão hospitalar.

Além disso, na elaboração e desenvolvimento do plano diretor é aconselhável observar se a população do hospital universitário adere aos seus termos em sua maioria, bem como se há forças de atraso que poderiam levá-lo a se tornar um plano inútil, inócuo e que se restrinja a apenas tratar de políticas, princípios, objetivos e diretrizes gerais, sem dispositivos auto-aplicáveis, assim como vem ocorrendo em muitos planos diretores urbanos, conforme ideias de Villaça (1999) e, dessa forma, não irá contribuir efetivamente com a implantação da gestão compartilhada com a EBSERH.

Esclarece Souza (2008) que o Plano Diretor empregado nas questões urbanas ao teor do Estatuto das Cidades (Lei Federal nº 10.257/2001) é um instrumento básico de orientação das ações do poder público e que o plano diretor hospitalar tem o mesmo foco. O Autor ensina que o plano diretor é um:

Instrumento básico para orientar a política de desenvolvimento e de ordenamento da expansão urbana do município, tendo como objetivo orientar as ações do poder público visando compatibilizar os interesses coletivos, garantir de forma mais justa os benefícios da urbanização e os princípios da reforma urbana, direito à cidade e à cidadania, gestão democrática da cidade, consistindo no documento que orienta e ordena o crescimento e ações de um determinado elemento, visando à coletividade e o adequado desempenho das atividades proposta a este, e que o Plano Diretor Hospitalar (PDH) está inserido nesse mesmo conceito, contemplando aspectos físicos, gerenciais e operacionais do edifício (SOUZA, 2008, P.40-41).

Além disso, é apontado Souza (2008), em relação à área da saúde, que no final do século passado os hospitais foram obrigados a modernizar seus processos administrativos e produtivos, na tentativa de buscar recursos para arcar com as novas exigências de atualização tecnológica e na capacitação de profissionais, o que fez surgir o Plano Diretor Hospitalar (PDH) como o norteador dessas transformações e novas exigências.

O plano diretor apresenta-se como importante ferramenta de organização espacial e de direcionamento de ações a serem tomadas pelas instituições hospitalares, na busca de seu reposicionamento como edificações modernas, flexíveis e aptas a enfrentar esse cenário. Produto de um processo de planejamento, o plano diretor pode ser abordado sob diferentes perspectivas, sobretudo em estabelecimentos multidisciplinares como hospitais (MENDES, 2007, p. 13)

Dessa forma, percebe-se que o Plano Diretor do Hospital Universitário da UFJF representa o planejamento da instituição, constitui um importante instrumento de gestão, principalmente para organizar a estrutura do hospital e dar direção adequada às ações de melhoria pretendidas a partir da adesão à EBSERH.

E para continuidade, adentra-se na seção seguinte a outro aspecto fundamental para a gestão, que é a qualidade.