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1 DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA E POLÍTICAS DE

1.2 A política de formação de leitores do Ministério da Educação

1.2.1 O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)

Esta seção busca descrever o PNBE apresentando sua criação, as ações e a avaliação diagnóstica realizada pela Secretaria de Educação Básica do MEC (SEB/MEC), em parceria com uma equipe de pesquisadores ligados à Associação Latino-americana de Pesquisa e Ação Cultural (ALPAC), do Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que traça, também, as concepções de material bibliográfico e de biblioteca, além do perfil do profissional da biblioteca escolar e de práticas pedagógicas realizadas nesse espaço.

O PNBE foi instituído em 1997, pela Portaria Ministerial nº 584 e é financiado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pela SEB/MEC. Os objetivos que perpassam o programa são: o incentivo à leitura tanto pelos estudantes, quanto pelos professores e a promoção de acesso à cultura. De acordo com o Portal do MEC,

[O] o programa divide-se em três ações: avaliação e distribuição de obras literárias, cujos acervos literários são compostos por textos em prosa (novelas, contos, crônica, memórias, biografias e teatro), em verso (poemas, cantigas, parlendas, adivinhas), livros de imagens e livros de história em quadrinhos; o PNBE Periódicos, que avalia e distribui periódicos de conteúdo didático e metodológico para as escolas da educação infantil, ensino fundamental e médio e o PNBE do Professor, que tem por objetivo apoiar a prática pedagógica dos professores da educação básica e também da Educação de Jovens e Adultos por meio da avaliação e distribuição de obras de cunho teórico e metodológico. Com o intuito de auxiliar alunos e professores em relação à Reforma Ortográfica, o MEC distribuiu, no ano de

2010, 204.220 exemplares do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), desenvolvido pela Academia Brasileira de Letras, beneficiando 137.968 escolas. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. <www.mec.gov.br>. Consultado em julho de 2015).

O Programa passa por avaliação contínua e para a seleção dos livros que compõem o acervo de obras do PNBE, o MEC possui critérios como a qualidade do texto, a adequação temática e o projeto gráfico. Em relação à qualidade do texto as obras devem apresentar um amplo vocabulário, propiciando a fruição estética e tanto a leitura autônoma quanto a leitura do professor para os estudantes em sala de aula. Essas obras não podem apresentar preconceitos e moralismos de qualquer natureza. A adequação temática se refere ao gosto e à faixa etária dos estudantes, de acordo com o seu nível. São observadas também as possibilidades de motivação e exploração de diversos temas. No projeto gráfico, tanto a capa como todo o livro devem ser atraentes com a utilização de recursos gráficos priorizando a articulação das imagens com o texto.

No período de 1983 a 1999, as ações do PNBE se voltaram para o atendimento às bibliotecas escolares baseadas no número de matrículas dos estudantes em cada escola distribuindo, em 2000, obras que visavam à formação dos docentes de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental. Entre 2001 a 2003, por meio de um novo formato para o atendimento às escolas, intitulado “Programa Nacional Biblioteca da Escola - Literatura em Minha Casa e Palavra da Gente”, o MEC distribuiu livros literários sob critérios específicos, atendendo a alunos do ensino fundamental e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do último segmento de EJA. As bibliotecas das escolas que ofereciam esses segmentos também foram contempladas com as obras distribuídas aos estudantes. Por outro lado, o novo critério de distribuição acarretou uma perda em relação aos acervos das bibliotecas, que ficaram sem receber exemplares diversificados (periódicos, mapas) nesse período. Esse quadro foi contornado a partir de 2005, quando o MEC voltou a distribuir para todas as escolas acervos de diferentes gêneros.

A partir de 2005, o MEC voltou a distribuir obras de gêneros diversificados para as salas de leitura e bibliotecas de todas as escolas de Ensino Fundamental. Atualmente, para a distribuição dos acervos, o programa baseia-se nas escolas cadastradas no Censo Escolar. Dessa forma, todas as escolas públicas de educação básica que são cadastradas são atendidas de forma gratuita e universal.

Para o desenvolvimento dessa política de formação de leitores para além da aquisição e distribuição de acervos, o MEC propõe ações que visem à criação de

(...) uma rede de bibliotecas escolares adequadas, com mediadores de leitura capazes de propiciar práticas e eventos de leitura no sentido de produzir novos leitores, favorecendo o acesso à cultura letrada e, consequentemente, evitando novas formas de exclusão social. (BERENBLUM, 2006, p.27).

As ações giram em torno da formação continuada dos profissionais da escola e da biblioteca, da publicação e distribuição quadrimestral da Revista Leituras; da ampliação de acesso a materiais de leitura diversificados para alunos, professores e comunidade e do monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas em relação à Política de Formação de Leitores.

Em 2005, a pesquisa avaliativa do PNBE, intitulada Avaliação Diagnóstica do Programa Nacional de Biblioteca da Escola teve como objetivo avaliar o uso dos livros distribuídos às escolas públicas e o impacto desse programa na formação de leitores. A pesquisa mostrou que

[C] considerando os baixos resultados apresentados pelos alunos das escolas públicas do ensino fundamental em avaliações como o PISA e os dados críticos levantados pelo Sistema Nacional da Educação Básica (SAEB) sobre os indicadores de desempenho em leitura das crianças ao final dos primeiros e dos últimos anos do ensino fundamental, constata-se que a distribuição de acervos às escolas, alunos e professores pelo PNBE vem cumprindo de forma tímida sua função de promover a inserção dos alunos na cultura letrada. (PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE: LEITURA E BIBLIOTECA NAS ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS, Ministério da Educação, 2008).

A pesquisa mostrou ainda que para formar leitor não basta apenas distribuir livros aos alunos. É claro que o acesso é importante, mas é preciso ações mais propositivas no sentido de levar o estudante a se apropriar dos acervos de forma crítica e reflexiva e aqui a figura do mediador, do profissional da educação é de extrema importância no desenvolvimento da competência leitora nas escolas.

Foram priorizados na pesquisa, também, aspectos referentes à concepção de material bibliográfico e de biblioteca, ao espaço da biblioteca, ao perfil do profissional da biblioteca escolar e às práticas pedagógicas realizadas nesse espaço.

Quanto à concepção de biblioteca e de material bibliográfico, a pesquisa retratou a necessidade de que haja,

em geral, uma ênfase nas questões da estrutura física e uma separação entre essa e os projetos de incentivo à leitura. As pessoas entrevistadas, especialmente aquelas que trabalham diretamente com as salas de leitura encontradas, não fizeram referência ao papel da biblioteca como promotora de ações voltadas para o incentivo à leitura e à escrita, mas apenas como espaço físico depositário de materiais para que tais ações aconteçam, sob orientação de professores e coordenadores, nunca dos responsáveis pelo espaço ou como base de um projeto de incentivo à leitura. (BERENBLUM, 2006, p.19-20).

A pesquisa mostrou como a biblioteca ainda era vista como um espaço para guardar o acervo, sem considerá-lo como também propício ao ensino e aprendizagem da leitura, e que, em muitas escolas não existia biblioteca e em algumas, apenas cantinhos ou salas de leitura inadequadas para a função. Os estudantes não podiam escolher livros de sua preferência e também pela dificuldade de visualização do acervo organizado em prateleiras abarrotadas de livros didáticos.

Quanto aos profissionais atuantes na biblioteca, a pesquisa constatou a ausência de bibliotecários com formação na área, sem admissão por concurso público específico, sendo, assim, a função de bibliotecário era exercida, geralmente, por professores em readaptação funcional.

Em relação às práticas pedagógicas foi constatado pela pesquisa que não há uma política de formação de leitores na maioria das redes de ensino e os professores sequer possuem informações sobre o PNBE e a utilização do acervo. Perceberam-se, ainda, práticas de leitura fortemente escolarizadas12 nas propostas

de trabalho dos professores.

A avaliação diagnóstica do PNBE retratou também as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da educação nas escolas brasileiras: organização e manutenção das bibliotecas, garantia de funcionamento adequado e atendimento às demandas dos estudantes e às necessidades pedagógicas dos professores, garantia de acesso dos usuários aos acervos, além de dificuldades no que se refere à qualidade das obras e ao estado em que se encontram os livros.

12

Práticas de leitura escolarizadas visam levar o estudante a responder exercícios, cujas respostas estão explícitas no texto e geralmente se realizam como ordem. Na maioria das vezes, após a leitura é realizado um fichamento do texto. Essas práticas não levam em consideração a função social da leitura e a opinião do leitor.

Frente a essas constatações, a pesquisa avaliativa do PNBE concluiu que uma política de formação de leitores deve ser estruturada em dois eixos: a ampliação do acesso a materiais de leitura diversificados e a qualificação dos recursos humanos. Isso demonstra que as políticas públicas de incentivo à leitura e formação de leitores devem ir além da distribuição de livros, mas buscar a qualificação dos profissionais que trabalham diretamente com a competência leitora dos estudantes, por meio da formação continuada de mediadores de leitura. Os dados da pesquisa13 empreendida pelo PNBE contribuíram para a presente

dissertação, no que se refere a questões que também envolvem as diretrizes do Programa de Bibliotecas da RME/BH objeto do presente estudo.

Na seção a seguir, é detalhado o PNLL, uma política pública voltada para a leitura e o livro no Brasil, desenvolvida no âmbito do MEC e MINC.