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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 O protomovimento de ocupação das terras do Paranapanema

Nossa primeira questão, ao começar a analisar a ocupação das terras do Vale do Paranapanema é - o processo de ocupação iniciado por José Theodoro de Souza e depois e posteriormente potencializado pelos demais conterrâneos foi um movimento assim como o MST e demais movimentos da década de 90? -. Conforme observaremos em todo o histórico de ocupação, a estrutura organizacional do grupo de José Theodoro de Souza foi mais simples que as insurgentes em 1990 e claramente não chegou a assumir a forma e se reconhecer como um movimento socioterritorial. Contudo, mesmo que simples, houvera estrutura organizacional, identidade, interesses comuns, objetivavam transformações, e também, mesmo que não declarado como um movimento, havia um espírito de corpo, personagens que lideraram, etc. É com base em tais elementos que afirmamos que não houve um movimento socioterritorial, mas que por conta dos indícios e elementos desenvolvidos ainda que de forma primária houve um protomovimento socioterritorial de ocupação das terras do Vale do Paranapanema.

De maneira clara, entendemos o protomovimento é uma forma de organização social que antecede o movimentos socioespacial-socioterritorial. Todo protomovimento

José Sobreiro Filho pode vir a ser um movimento ou não, assim como todo movimento pode resistir/manter, se institucionalizar ou acabar. Contudo, o diferencial do que denominamos de um protomovimento é a estrutura social mais simples e a presença de alguns elementos essenciais para a conformação de um movimento socioterritorial mas em condição ainda embrionária. De fato, em um protomovimento muitos objetivos, significados e sentidos que caracterizam um movimento socioterritorial ainda é latente. Tal circunstância pode ser notada ao analisarmos e compararmos o protomovimento socioterritorial ocupação das terras do Paranapanema com o MST, ou seja, veremos objetivamente a condição e os elementos embrionários que caracterizam um protomovimento no primeiro caso e no segundo um movimento socioterritorial mais definido e consolidado.

Quanto ao potencial de um protomovimento em se tornar um movimento socioterritorial definimos este processo através do que chamamos de áreas de intersecção. As áreas de intersecção são espaços de contato em que as estruturas e relações se aproximam e podem potencializar uma transformação, o vir-a-ser em movimento socioterritorial no caso de um protomovimento, ou também podem, sobretudo no caso das relações, exemplificar a proximidade, origem, diálogo e até um certa dependência com determinadas formas de organização social, tal como tem os movimentos que se originaram como braços ou dentro de partidos, ONGs, Igrejas, empresas, etc. Entretanto, este processo tem muitas outras faces, por exemplo, um protomovimento pode viar-a-ser uma ONG ou partido antes de se tornar movimento socioterritorial. Tentamos aqui fazer uso de uma representação que pudesse exemplificar o caso do protomovimento socioterritorial de ocupação das terras do Vale do Paranapanema (organograma 1), ou seja, este processo se encaixa nitidamente à organização iniciada por José Theodoro de Souza, mas se esbarra em alguns dos demais sujeitos/personalidades que mais tarde emergiram tal como o Cel. Manoel Goulart visto que realizara transformações a partir de uma estrutura empresarial.

José Sobreiro Filho Alguns destes ensejos nos levam a crer que além de podermos compreender o processo de ocupação do Pontal do Paranapanema através da análise de organizações e ações socioterritoriais também é fundamental destacar sua importância no processo. Neste sentido, entendemos que além da luta pela terra realizada a partir de 1990, o processo de ocupação do Pontal do Paranapanema também tivera alguns elementos que nos levam a interpretá-lo e identificar a atuação do que denominamos como um protomovimento ou quase-movimento (GOHN, 2011). Além de nossa abordagem sobre protomovimento encontramos também em Gohn (2011) a ideia de quase-movimento que soa muito semelhante.

Não muito diferente de outros movimentos, podemos dizer que o proto ou quase- movimento de ocupação das terras do Vale do Paranapanema desejavam grandes transformações culturais e sociais. Contudo, tais transformações socioterritoriais tiveram feições, sobretudo, desumanas e ilegais, tais como: extermínio dos indígenas e de sua cultura; grilagem de terras; desmatamento; destruição da fauna; imposição da

José Sobreiro Filho cultura do homem branco; comercialização e ocupação das terras; etc. José Theodoro de Souza foi o personagem que deu início ao processo e, portanto, a principal liderança e referência do proto ou quase movimento. Contudo, assim como em todos os movimentos, apesar de iniciado por José Theodoro de Souza, mais tarde foram surgindo demais personagens que dinamizaram o processo de ocupação, tais como: João da Silva Oliveira, Francisco de Paula Moraes, José Antonio Gouveia ou Antonio José Gouveia, João Evangelista de Lima, José Rodrigues Tucunduva, etc.

É fundamental destacar que nossa compreensão da ocupação das terras do Paranapanema como um proto ou quase movimento tem a sua base na organização de um grupo de colonizadores liderado por José Theodoro de Souza. Além das primeiras inserções no Pontal com um grupo/proto-movimento destacamos também a dinamização do processo na povoação e ocupação das terras do Paranpanema. Destaca- se que desde a primeira inserção até ocupação e povoamento houvera o "espirit de corps" (GOHN, 2011). Todavia, com a intensificação do processo de ocupação, este "espirit de corps" foi se perdendo e então emergindo vários personagens com interesses específicos vinculados a uma ordem empresarial, tais como Manoel Pereira Goulart, Francisco de Paula Goulart, José Soares Marcondes, Antonio Sandoval Neto, etc. Contudo, o surgimento destes personagens tivera o caráter empresarial e, portanto, implicara em uma dinâmica diferente. Consequência disso é que muitos outros grilos também foram surgindo dentro do grande grilo da Fazenda Pirapó-Santo Anastácio, abertura de muitas outras fazendas, etc. Em síntese, conforme veremos adiante, pode-se afirmar que este proto ou quase-movimento foi um movimento socioterritorial pela grilagem, ocupação e comercialização das terras do Paranapanema, diferentemente da postura do MST mais tarde que surge para fazer o processo contrário.

José Sobreiro Filho