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O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

3.5 A Relação Cuidado/Educação

3.5.2 O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI, é um importante documento oficial elaborado pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC (BRASIL, 1998). Tal documento apresenta por objetivo a construção de parâmetros voltados para o currículo atinente à educação infantil. A lógica do RCNEI

gira em torno do pressuposto da indissociabilidade das ações de cuidado e educação das crianças pequenas.

O Referencial em comento apresenta-se em três volumes. No primeiro, denominado “Introdução” vem apresentada a proposta do documento. No segundo, chamado de “Formação de Pessoal e Social”, encontra-se uma exposição acerca da discussão da Identidade e Autonomia da criança. O terceiro volume, intitulado “Conhecimentos de Mundo”, nos traz uma apresentação de conteúdos para a educação infantil.

Por tratar de um documento oficial, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, deve ser visto como sendo uma ferramenta voltada para auxiliar as práticas pedagógicas relacionadas com a educação infantil. Isto significa dizer que tal documento não se constitui como um mecanismo de limitação, e sim, de orientação de tais práticas pedagógicas que têm por finalidade precípua o desenvolvimento integral das crianças pequenas.

Levando em consideração que a relação estabelecida entre o cuidar e o educar são intrínsecas, as práticas pedagógicas desenvolvidas no universo da Educação Infantil, o RCNEI atrela suas bases nas concepções a seguir expostas:

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Nesse processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais e afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p. 23).

Seguindo a lógica da indissociabilidade entre o cuidar e o educar, o RCNEI nos diz que:

Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro em si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos [...] O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades sócio-culturais (BRASIL, 1998, p. 24-25).

Das citações anteriormente apresentadas, podemos extrair que o cuidar compreende ações nas quais figuram componentes afetivos, emocionais, cognitivos e sociais (BRASIL, 1998). Desta forma o cuidado, acima aludido, é elemento fundamental para as práticas educativas infantis, ou seja, é imprescindível ao ato de educar dentro da conjuntura educacional da criança pequena.

A partir das concepções propostas pelo RCNEI, também é possível entender que o cuidar, quando inserido em uma prática educativa, enseja a adoção de uma postura interdisciplinar. Desta feita, cuidar das crianças, numa perspectiva educativa, pressupõe agregar ao atendimento destas, saberes das mais diferentes áreas do conhecimento. Tal assertiva deve ser materializada em ações integradas de educação, saúde, cultura, esporte e lazer em prol das crianças.

As linhas anteriormente lidas nos conduzem ao caminho que leva ao entendimento de que trabalhar a relação cuidado/educação na educação infantil, necessariamente significa enxergar as crianças nas suas mais variadas dimensões. Em suma, consiste em ressaltar a integralidade desses seres tão especiais. Sendo assim, não lhes pode faltar ações direcionadas ao cuidado/educação em relação ao corpo, crescimento, sono, alimentação, desenvolvimento neuro-psico-motor, físico,

cognitivo, afetivo e social. Em conformidade com este entendimento, aduzimos as palavras Stela Maris Oliveira. Ela nos fala que:

[...] os aspectos físicos, intelectuais e sociais são tratados como dimensões do desenvolvimento e não como coisas distintas ou áreas separadas evidenciando a necessidade de se tomar a criança como um todo, para promover o seu desenvolvimento integral (OLIVEIRA, 2003, p. 37).

Insistimos que a relação cuidar/educar é indissociável. De maneira extremamente simples e valorosa, Kramer (2003) nos ensina que quando se educa se cuida. Para ela, não há dicotomia entre cuidado e educação, pelo contrário, as entende como instâncias que se fundem para compor a relação cuidar/educar. Essa percepção contemporânea nos distancia do modelo assistencialista de atendimento às crianças pequenas, cuja lógica era pautada em ações exclusivamente de cuidados, práticas estas que reafirmam o paradigma da compensação das carências físicas e afetivas (KRAMER, 2003).

Parece-nos evidente, e de fundamental importância, que as ações realizadas nas creches devem, necessariamente, estar em consonância com a relação cuidar/educar. Trabalhar nessa ótica significa entender a criança pequena como ser em constante desenvolvimento, compreender sua singularidade, aprender com ela a perceber suas necessidades e caminhar em busca de supri-las da melhor forma possível.

Agimos de acordo com a relação cuidado/educação quando nos preocupamos e ampliamos nossos horizontes, buscando perceber o que a criança sente e pensa, o que ela sabe sobre ela mesma e do mundo. O resultado esperado para tais ações aponta para a promoção da independência e autonomia das crianças, dentro das suas respectivas faixas etárias. Destacamos que respeitar a especificidade etária da criança não se confunde com diferenciar, nem hierarquizar

ações de cuidado para as crianças de 0 a 3 anos, e de educação para as crianças de idade pré-escolar (4 a 5 anos), isto seria um retrocesso.(KRAMER, 2003).

Resta-nos apontar que a consecução de ações nas quais impere o cuidar e o educar, de maneira indissociável e em respeito à integralidade da pessoa é o caminho a ser seguido para se fazer valer o direito que as crianças têm à educação infantil. Em síntese, é agir da forma mais eficaz de garantir-lhes não apenas a proteção social, mas, sobretudo, a proteção integral prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2000).

No capítulo a seguir, apresentamos a incursão metodológica através da

4 METODOLOGIA

Em consonância com os objetivos previamente estabelecidos, e buscando seguir um caminho capaz de responder às questões norteadoras integrantes da presente pesquisa científica, apresentamos, a seguir, as etapas metodológicas que orientaram a realização da mesma.