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O tempo na redação no Veículo A

CAPÍTULO 5 PESQUISA EMPÍRICA: ANÁLISE E RESULTADOS

5.1 Estudo nos Veículos A e C

5.1.1 Jornalistas, convergência e produção no Veículo A

5.1.1.1 O tempo na redação no Veículo A

No dia da pesquisa, percebeu-se que, no Veículo A, os profissionais do jornal impresso começaram a chegar à redação entre 9h30 e 10h30. A reunião de pauta com o editor-chefe do jornal e os responsáveis por cada editoria inclui o editor do portal. A sala de reuniões é separada da redação por um vidro, uma espécie de aquário. As estações de televisão e rádio vinculadas ao veículo ficam no mesmo prédio da redação, mas não no mesmo espaço. À tarde, acontece outra reunião de pauta geral. Ao contrário dessa regra, no portal do veículo não acontecem reuniões de pauta rotineiras, salvo para discutir projetos de reportagens especiais, que envolvem toda a equipe.

Os jornalistas do veículo têm uma hora para almoçar e devem marcar horários de entrada e de saída nos relógios de ponto eletrônico distribuídos pela empresa, mesmo que nem sempre saiam no horário certo. Os horários de almoço são definidos pelos próprios profissionais, que podem sair individualmente ou em grupo para a refeição. Segundo os jornalistas do portal, pelo fato dos profissionais trabalharem em meio ao “tempo real”, é impossível que toda a equipe do portal esteja fora da redação na hora do almoço. Desse modo, eles se organizam para almoços individuais ou em duplas, a fim de que o portal “não fique sozinho”. O mesmo acontece no “horário de janta” na equipe do portal, que equivale ao horário de almoço no período noturno.

No dia da pesquisa, sobretudo ao final da tarde e início da noite, notou-se barulho em meio ao trabalho dos jornalistas, vindo de falas ao telefone, do teclado do computador, dos vários televisores instalados e das conversas, as quais se tornavam mais acaloradas, dependendo da situação e do horário. Por exemplo, em coberturas de eventos espetaculares e em discussões entre jornalistas sobre reportagens. O volume do som da redação também aumentava quando chegavam novas informações no momento do fechamento, no final da noite.

A redação, entretanto, se manteve quase silenciosa até o fim da manhã. Os repórteres do portal, sempre em maior número com relação às outras editorias nas primeiras horas do dia, faziam mais barulho, que vinha da troca de informações, da

106 discussão de ideias e de conversas informais. O portal fica em atividade até por volta de 1h da manhã, pois a redação não é 24 horas.

Às 7h30 da quarta-feira, 7/10/2015, a redação do veículo ainda estava praticamente vazia e silenciosa. Um subeditor do jornal impresso, que costuma trabalhar à tarde, adiantava uma pauta por telefone. Além dele, o repórter de outra editoria designado a fazer a chamada “ronda de notícias”, ligava para órgãos, como delegacias, em busca de fatos. Na bancada onde fica a equipe do portal, duas repórteres conversavam. Ao fundo, o telejornal da concorrência anunciava as principais notícias daquela manhã.

A Entrevistada 2, que era alocada no impresso e passou a produzir para o portal, conta que a primeira mudança que ocorreu na nova rotina foi com relação ao horário de trabalho. Segundo ela, antes, a hora de entrada era indefinida, mas ela trabalhava sete horas por dia. No portal, ela entra logo no início da manhã, já que é preciso chegar cedo para atualizar as notícias do portal e deixá-lo “de cara nova”. A jornada dela inclui uma hora de almoço, ainda que nem sempre ela saia no tempo certo; ter tempo para almoçar nem sempre é possível. A outra mudança ocorreu a respeito do horário de saída do jornal. Segundo a repórter, antes, no impresso, normalmente ela entrava no jornal às 10h e saía às 18h. Na web, ela diz que dificilmente tem hora para ir embora. No dia da observação, a repórter, que tinha entrado na redação às 7h, foi embora apenas às 19h. Segundo a webjornalista, ela se interessou por uma pauta que seria a manchete do jornal impresso no dia seguinte. Ou seja, quando terminou o trabalho no portal, ela quis se envolver em uma matéria também da editoria de notícias locais, porém do impresso, mesmo já tendo passado do horário de trabalho. No dia seguinte, ela explicou o porquê de ter feito isso:

Isso é muito o meu perfil e, hoje em dia, você acaba assumindo muitas responsabilidades. A rotatividade aqui no jornal também tem sido muito grande, então, na situação em que a gente está hoje, as pessoas estão muito desmotivadas. Por eu ter cinco anos de casa, me sinto um pouco responsável de fazer isso. Eu poderia ir embora e não ligar, mas é do meu perfil, mesmo (Entrevistada 2, 8/10/2015).

A questão explicita que o compromisso assumido com o tempo por parte dos jornalistas pode ser pessoal, relacionado ao perfil de cada um. Além disso, a repórter mostrou que, mesmo atuando no portal, ainda está ligada à antiga função dela no jornal

107 impresso, o que, aliado à falta de pessoal ocasionada pelas demissões (voluntárias ou não), gera nela uma necessidade de produzir para essa mídia também. O vínculo da repórter com o jornal impresso também se mostra pelo fato de, mesmo produzindo conteúdo para o portal, ela continuar localizada na bancada antiga: “Passei a escrever para o on-line, mas não mudou nada no meu contrato de trabalho. Mesmo que isso dificulte um pouco a comunicação com o pessoal do portal, fiquei por aqui (na bancada da editoria de assuntos locais do impresso), mesmo”, diz. Os telefonemas para os ramais da equipe do portal são constantes. Além de tirar dúvidas, ela também avisa aos colegas do portal sobre a publicação de novas matérias para serem chamadas na home page do portal, controlada pelos subeditores. Já a home ou “capa interna” da editoria para a qual a repórter produz é atualizada por ela e pelo colega com quem ela reveza o trabalho.

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