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Estabelece o § 1º do art. 103-A da CF/88 que a súmula vinculante terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, sobre as quais haja controvérsia atual, apontando a finalidade de se evitar dois problemas: a insegurança jurídica e a multiplicação de processos sobre questão idêntica.

Inúmeras vezes podemos nos deparar com decisões diferentes proferidas para casos idênticos, sendo esta uma característica intrínseca do Direito, pois aos juízes é permitido, como não poderia deixar de ser, interpretar o texto normativo com independência e liberdade e isso é bom, pois, o juiz não é um mero autômato diante de uma norma unívoca, como já comentamos nos capítulos iniciais.

No entanto, a proliferação de decisões divergentes proferidas para casos concretos que guardam muitas semelhanças entre si, quando não idênticos, traz uma grave insegurança social, uma insegurança jurídica.

Em decorrência dessa insegurança, foi alimentada no país uma política de insatisfação perpétua que gerou a interposição inflacionária, por vezes, meramente protelatória, de recursos endereçados aos tribunais e ao Supremo Tribunal Federal.

Diante de uma justiça emperrada, devido a problemas de gestão e de uma legislação extremamente permissiva que apoiava estratégias processuais temerárias, foram ocorrendo importantes alterações tanto nas normas processuais quanto nas constitucionais que deflagraram à EC n. 45/2004 e a criação da súmula com efeitos vinculantes.

Nota-se, dessa forma, que a finalidade da súmula vinculante não é de limitar a independência ou a liberdade dos magistrados nem impedir a natural evolução do direito.

O enunciado geral vinculativo foi criado com o objetivo de dirimir divergências relacionadas à validade, interpretação e eficácia de normas, auxiliando na diminuição do risco de se criar incoerências no sistema e, consequentemente, de ocasionar insegurança jurídica.

Essa intervenção sumular acaba por impor obstáculos para prática de atos processuais que buscavam, tão somente, o retardamento da aplicação do direito ao caso concreto e da operação da coisa julgada, tendo em vista, que a interposição temerária de recursos ou mesmo a propositura de ações cujo fim seja de discutir matéria já pacificada e sumulada com os efeitos vinculantes, poderá ser coibida já no juízo monocrático. Isto, evitará a multiplicação de processos sobre questões que guardam muita semelhança ou sejam idênticas.

É como a estória daquele garoto que todos os dias se dirigia à padaria do bairro e indagava ao proprietário se o estabelecimento vendia ovos de pato.

Dia após dia o proprietário respondia à indagação do jovem rapaz dizendo que não vendia ovos de pato.

Certa vez, o proprietário, após muito responder àquela capciosa pergunta, ameaçou pendurar o garoto na parede utilizando pregos.

Passado alguns dias, o jovem retorna a padaria e indaga: Tem pregos? No que o proprietário respondeu: Não! E retrucando, disse o garoto: Então me dá um ovo de pato!

Como o proprietário do estabelecimento, respondeu o S.T.F. e os demais órgãos do Poder Judiciário a muitos recursos e ações que lhe foram endereçados ano após ano, muitos dos quais contendo em seu bojo tema que já havia sido arduamente debatido e alcançado o consenso entre os Ministros daquela Corte, porém, semelhante às indagações do garoto, os recursos com finalidades meramente protelatórias não cessaram até serem tomadas providências cabíveis para reorganizar o sistema jurídico brasileiro, organização esta, que teve como carro de abertura, a súmula vinculante.

Voltando aos objetivos, a súmula vinculante versará sobre a validade de normas determinadas.

Primeiramente, cabe-nos relembrar que a norma jurídica será válida quando não contrariar o seu fundamento de validade25, a Constitutição, e que

existe diferença entre validade e vigência de uma norma.

A norma será válida se guardar conformidade com a Constituição e vigente quando cumprir todos os requisitos formais de competência, procedimento, espaço, tempo, matéria e destinatário.

Assim, uma lei poderá ser vigente, porém, nula, inválida por violar os limites traçados pela Constituição.

Versar a súmula sobre a validade de uma determinada lei significa dizer que o S.T.F. deverá pronunciar-se sobre qual tese adotada pelos tribunais deverá prosperar se a que declara que a lei viola seu fundamento de validade,

25 “Sendo a Constituição o fundamento de validade de todas as demais leis, a determinação do significado

de uma de suas normas poderá importar no afastamento uma regra infra-constitucional até então vigente, mas que se torna incompatível com a norma constitucional da forma por que passa a ser compreendida” (BASTOS, 2002, p. 110).

sendo consequentemente inconstitucional ou se não viola a Constituição podendo ser declara válida.

Como bem preleciona STRECK (2005) para verificar-se a validade de uma norma deve sempre haver um ato de interpretação que preceda tal verificação, no entanto, ainda sob os ensinamentos do citado doutrinador, o § 1º do art. 103-A da CF/88 prescreve como objetivo do texto sumular vinculante emitir interpretação que deverá ser conferida a determinado texto normativo, que tem originado interpretações divergentes entre os órgão do Poder Judiciário e também na administração pública direta e indireta.

Para STRECK26, o termo “interpretação” contido no dispositivo

constitucional sob análise parece estar relacionado com as hipóteses de interpretação conforme e de nulidade parcial sem redução do texto, além de abranger as reiteradas decisões sobre outras interpretações discrepantes não ligadas com os dois institutos mencionados.

Deve-se atentar para o fato de que a interpretação discrepante que dará ensejo aos pronunciamentos reiterados do S.T.F. e possibilitará a edição de um enunciado vinculativo, não se referirá à inconstitucionalidade da norma jurídica, caso em que, estaríamos diante de um juízo de validade e não de interpretação no espírito do mecanismo constitucional em testilha.

Em síntese, a súmula com efeitos vinculantes terá por objetivo a interpretação de dada norma que tem sido interpretada de inúmeras formas e tem ocasionado certa insegurança jurídica à sociedade.

Por último, a norma constitucional prescreve que a súmula apaziguará também as questões relacionadas à eficácia de normas.

26 Sobre esse assunto (STRECK, Lenio Luiz. In Comentários à Reforma do Poder Judiciário. 2005, p. 165

A eficácia referida no artigo sob análise refere-se à aplicabilidade de dada norma, no entendimento de que a norma deve ser capaz de produzir efeitos.

Para Streck (2005) conferir outro entendimento ao termo “eficácia” faria com que o estudo fosse remetido para o campo da sociologia, pois diz que “Emitir juízos sobre a eficácia, efetividade ou eficiência das normas implica um bom conhecimento da sociedade, tratando-se, pois, de um saber sociológico” (op. cit. p. 175).

3. Processo de edição, revisão e cancelamento da súmula

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