• Nenhum resultado encontrado

Obra de Demônios?

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 62-65)

A antiga cidadela de Sacsayhuamán situa-se a pouca distância ao norte de Cuzco. Chegamos ao local em fins da tarde, sob um céu quase encoberto por pesadas nuvens cor de prata suja. Uma brisa fria soprava pela tundra de alta altitude, enquanto eu subia as escadarias, passava por portais com dintéis, construídos para gigantes, e caminhava ao longo de fileiras gigantescas de muralhas em forma de Ziguezague.

Espichei o pescoço e levantei a vista para a grande pedra de granito por baixo da qual passava meu caminho. Medindo 7 m de altura por 2m de largura e pesando muito mais de 100t, era obra de homem, não da natureza. Fora cortada, modelada e transformada em uma harmonia sinfônica de ângulos, manipulada com visível facilidade (como se feita de cera ou massa) e se erguia sobre uma das extremidades em uma parede formada de outros enormes blocos poligonais, alguns deles sobre a primeira pedra, outros embaixo, outros de lado, e todos eles em uma justaposição perfeitamente equilibrada e organizada.

Uma vez que uma dessas peças espantosas de pedra cuidadosamente talhada tinha uma altura de 8,5m e cálculos falavam em um peso de 361 t (aproximadamente, o equivalente a quinhentos automóveis de grande porte), achei que grande número de perguntas de importância fundamental clamava por resposta.

De que maneira haviam conseguido os incas, ou seus predecessores, trabalhar pedras em uma escala tão gargantuesca? Como haviam cortado e modelado com tal precisão esses calhaus ciclópicos? De que modo os haviam transportado por dezenas de quilômetros desde pedreiras distantes? Através de que meios haviam-nas usado para construir muralhas, movimentando blocos isolados e erguendo-os, com aparente facilidade, muito altos acima do solo? Supostamente, esses povos não conheciam nem a roda, quanto mais maquinaria capaz de erguer e manipular dezenas de blocos de formas diferentes de 100t de peso e colocá-Ios em quebra-cabeças tridimensionais.

Eu sabia que os historiadores do início do período colonial haviam ficado tão perplexos como eu com o que tinham visto. O respeitado Garcilaso de Ia Vega, por exemplo, que visitou o Peru no século XVI, escrevera, estarrecido, sobre a fortaleza de Sacsayhuamán:

Suas proporções são inconcebíveis para os que não a viram com seus próprios olhos. E quando a olhamos de perto e a examinamos atentamente, ela parece ser algo tão extraordinário que dá a impressão de que algum mágico presidiu à sua construção, que deve ter sido obra de demônios, e não de seres humanos. É construída de pedras tão grandes, e em tal número, que nos perguntamos no mesmo instante como índios poderiam extraí-Ias de pedreiras, transportá-Ias... e cortá-Ias e colocá-Ias umas sobre as outras com tal precisão. Isso porque eles não dispunham nem de ferro nem de aço com que pudessem perfurar a rocha e cortar e polir as pedras. Nem possuíam carroças nem bois para transportá-Ias e, na verdade, não existiam nem carroças nem bois em todo o mundo que tivessem sido suficientes para realizar esse trabalho, tão enormes eram essas

pedras e tão íngremes as trilhas de montanhas através das quais foram levadas...

Garcilaso escreveu também sobre algo interessante. No Royal Commentaries of the Incas, ele faz um relato do modo como, nos tempos históricos, um rei inca tentou imitar as realizações de seus predecessores, que haviam construído Sacsayhuamán. A tentativa implicava trazer um único bloco imenso de uma distância de vários quilômetros para aumentar as fortificações: "Esse calhau foi arrastado pela montanha por mais de 10.000 índios. subindo e descendo colinas muito íngremes (...) Em certo ponto, a pedra escapou das mãos que a seguravam, rolou por um precipício e esmagou mais de 3.000 homens". Em todas as histórias que examinei, este foi o único relato que descrevia os incas como realmente construindo, ou tentando construir, alguma coisa com blocos enormes semelhantes aos que haviam sido usados em Sacsayhuamán. O relato sugere que eles não possuíam experiência das técnicas envolvidas e que a tentativa terminou em tragédia.

Esse fato, claro, nada provava por si mesmo. A história de Garcilaso, porém, aumentou minhas dúvidas sobre as grandes fortificações que se alteavam muito acima de mim. Olhando para elas, achei que podiam, na verdade, ter sido construídas antes da era dos incas e por uma raça infinitamente mais antiga e tecnicamente mais avançada. Não pela primeira vez, lembrei-me de como era difícil para arqueólogos fornecer datas exatas para obras de construção, como estradas e muralhas de pedra, que não continham compostos orgânicos. O teste com o rádio-carbono era inútil nessas circunstâncias, como também a termoluminescência. E embora novos testes promissores, como a datação de rochas pelo Cloro-36, estivessem sendo desenvolvidos na ocasião, seu emprego ainda era coisa para o futuro. Dependendo de progressos ulteriores neste último campo, por conseguinte, a cronologia dos "especialistas" era ainda, na maior parte, resultado de formulação de palpites e pressupostos subjetivos. Uma vez que se sabia que os incas haviam usado

extensivamente a fortaleza de Sacsayhuamán, eu podia facilmente compreender o motivo da suposição de que eles a tinham construido. Os incas, com igual probabilidade, poderiam muito bem ter encontrado as estruturas já de pé e as ocupado.

Se assim, quem tinham sido os construtores originais?

Os Viracochas, diziam os mitos antigos, os estranhos barbudos, de pele branca, os "refulgentes", os "soldados fiéis".

Enquanto viajávamos, continuei a estudar os relatos de aventureiros espanhóis e de etnógrafos dos séculos XVI e XVII, que haviam registrado fielmente as tradições antigas dos índios peruanos antes do contato com os europeus. O fato particularmente notável nessas tradições era a ênfase repetida em que a chegada dos Viracochas estivera ligada a um dilúvio terrível, que havia varrido a terra e destruido a maior parte da humanidade.

CAPÍTULO 7

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 62-65)