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2 ASPECTOS TEÓRICOS

2.13 OBSERVAÇÕES FINAIS

Como pôde-se notar pelo exposto nesse capítulo quanto à reciclagem, mecânica ou química, os plásticos podem ser avaliados como co-produtos de dois modos distintos: nos processos de produção e no pós-consumo. No primeiro caso, os co-produtos advindos de plásticos industriais (aparas, rebarbas, sobras e matérias-primas fora de especificação) são considerados materiais “nobres”, pois

não estão misturados a outros resíduos e não necessitam de etapas de separação e lavagem.

Estes co-produtos dificilmente são descartados; geralmente não saem das empresas transformadoras, sendo reutilizados nas atividades produtivas. Contudo, não se tem informação segura de quantidades envolvidas nesses processos de produção.

Além disso, a maioria dos processos a que os plásticos são submetidos implicam em ciclos de aquecimento, o que, por tratar-se de material orgânico, implica em reações químicas, que, por sua vez, levam a mudanças indesejadas nas propriedades mecânicas. Portanto, há um limite técnico na reciclagem mecânica pura e simples, e, inevitavelmente, em algum momento o material será processado apenas para recuperação energética.

O setor de produção de plásticos apresenta peculiaridades que tornam difícil a melhoria do desempenho ambiental. São características importantes do setor, o alto volume de produção, a diversificação - desde o início da cadeia de produção – dos usos do material produzido, a grande variabilidade de propriedades, além de, em muitos casos, a dificuldade de reciclagem ou a limitação da reciclagem a um número pequeno de ciclos. Dentro deste quadro, o setor de plástico, setor que apresenta produção expressiva e que pode originar um grande impacto ambiental, é um grande candidato para ser avaliado pelas ferramentas da Ecologia Industrial (o ciclo de vida do produto, o fechamento de ciclo, etc.). Portanto, este setor – como abordado na introdução deste trabalho – apresenta boas características para a utilização de simbiose industrial entre várias etapas da produção e consumo, o que, para ser implantado, necessita de um estudo do fluxo de materiais no setor.

3 METODOLOGIA

Para compreender como o uso do conceito de Ecologia Industrial e/ou de suas ferramentas pode ser aplicado nas empresas para melhorar a sustentabilidade destas, vários pesquisadores utilizaram como metodologia o estudo de caso, não apenas no grupo de pesquisa onde este trabalho foi desenvolvido (GAMEIRO, 2002, 2007; QUEIROZ, 2007; LIMAD, 2010) como também em grupos semelhantes (COSTA, 2002, p. 212; NEHME, CARLOTTO, 2009) ou até mesmo no exterior (FREIRES, 2007, p. 253). O uso dos estudos de caso é comum mesmo se a análise estende-se apenas ao projeto, não considerando, portanto, o produto (TORPOCOV, 2009, p. 88)

Em alguns estudos de caso, quando o número de variáveis é muito grande (LABEGALINI, 2010, p. 242), é comum a pesquisa iniciar-se por desk research (pesquisa de documentos), para conhecer não só a pesquisa, mas também os dados disponíveis sobre o tema, após procede-se a um estudo exploratório de casos, por exemplo, através de entrevistas. Esse processo foi extensamente utilizado e mostrou-se adequado, por exemplo, até mesmo para a melhor compreensão da produção científica em gestão ambiental empresarial. Para essa análise é bastante importante estabelecer claramente os parâmetros a serem obtidos, para se poder inferir corretamente rotas de correção adequadas, caso os resultados indiquem tal necessidade (JABBOUR, SANTOS, BARBIERI, 2008).

Nesse particular aspecto, portanto, a escolha da base de dados para a definição da pesquisa inicial é fundamental, e, na maioria das vezes, não se baseia apenas na área acadêmica. Assim, para o estudo da importância da química verde no desenvolvimento sustentável utilizaram-se três bases de patentes: USPTO, Espacenet, INPI, portal Delphion (CALIL NETO, 2010, p. 141). Nesse mesmo estudo detectou-se, por exemplo, a importância da normalização, governamental ou não, para a área de plásticos e a consequente mudança de comportamento da área

química para atender aos stakeholders quanto à sustentabilidade.

Outra questão importante é enquanto requisitos físicos podem ser descritos de modo objetivo, o mesmo não ocorre quando as informações são decorrentes de interação com atores (stakeholders). Assim, Freires (FREIRES, 2007, p. 253) considera que, como a cooperação entre os atores é de natureza mais abstrata, os

dados obtidos “são caracterizados por uma variedade de informações de natureza qualitativa e quantitativa, resultantes de fontes primárias (entrevistas e visitas às empresas) e secundárias (documentos, relatórios técnicos, vídeos e legislação)”. Essa metodologia é, portanto, primariamente qualitativa, apesar de todos os dados quantitativos fornecidos pelos requisitos físicos.

Quanto ao estudo de recuperação de material na área do setor plástico, o uso dos conceitos da Ecologia Industrial e a metodologia de estudo de caso foram aplicados para as embalagens PET e a Região Metropolitana de Salvador (LIMA, 2001).

Quanto ao uso do conceito e simbiose industrial, estudos de caso foram desenvolvidos no Pólo Petroquímico de Camaçari – onde a análise da legislação municipal, estadual e federal foi fundamental para entender as restrições de troca de

matéria-prima. Neste estudo de caso, o envolvimento de vários stakeholders (órgãos

governamentais, instituições privadas, academias e ONG) foi apontado como fundamental (TANIMOTO, 2004, p. 151).

Portanto, a metodologia utilizada neste trabalho é coerente com trabalhos similares realizados anteriormente e corresponde ao estudo de caso, onde 8 empresas foram avaliadas de acordo com as recomendações para fechamento de ciclos na Ecologia Industrial.

As empresas avaliadas têm seus perfis listados na Tabela 5; como é possível observar pela tabela, essas empresas atendem aos principais setores listados como

relevantes para plásticos commodities (capítulo 1 deste trabalho) e tem como

co-produtos os principais plásticos listados nessa categoria. Neste conjunto, duas atuações distintas foram efetuadas: 7 empresas foram avaliadas apenas para compreender as relações de consumo e descarte, ou seja, o fluxo de materiais imediato e possíveis simbioses industriais, enquanto a oitava empresa foi avaliada em toda a sua cadeia de produção interna (Operações Unitárias), para estimar o impacto da redução do consumo e, posteriormente, comparar com o uso da simbiose industrial.

Tabela 5 - Perfis das empresas estudo de caso

Empresa empregados*N° de Porte Segmento comercializadoProduto Tipos de co-produtos

A 100 a 499 médio Alimentício Carne Seca PEBD, PP (ráfia) B 100 a 499 médio Lubrificantes LubrificantesAditivos e PEBD, PP, PVC C 100 a 499 médio Automobilístico Forrações Poliéster), EVAFios (PE, PP,

D 100 a 499 médio Automobilístico Forrações

Fios (PE, PP, Poliéster) e Estearato de Zinco

úmido

E 20 a 99 pequeno Têxtil Cobertores Fios acrílicos

F 100 a 499 médio Automobilístico supensãoPeças de borracha vulcanizadaRebarbas de

G 500 grande Pneumáticos

Pneus para caminhão

Rebarbas de borracha vulcanizada

e borracha crua com arame

H 20 a 99 pequeno Eletro/eletrônico Fios e cabos PVC (*)Pequena: de 20 a 99 empregados

Média: 100 a 499 empregados

Grande: mais de 500 empregados (SEBRAE)