• Nenhum resultado encontrado

Omissão, enrolação e ausência de vontade política: Itamar Franco na

Antes de se tornar presidente da República, Itamar Franco teve uma extensa carreira política. Seu ingresso no campo político foi na década de 1950, quando se candidatou a vereador pelo município de Juiz de Fora/MG, em 1958. Na ocasião, era filiado ao PTB e não fora eleito. Na década de 1960, em pleno Regime Militar, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido pelo qual foi prefeito de Juiz de Fora entre os anos de 1967 e 1971; e reeleito em 1972. No segundo mandato, renunciou ao cargo para assumir o Senado Federal pelo estado de Minas Gerais, em 1975. Como senador, ainda foi reeleito em 1982 pelo mesmo estado, contudo, por outro partido, o PMDB.

Em 1989 compôs a chapa de Collor, no cargo de vice-presidente. Com o afastamento de Collor, em fins de 1992, assumiu a presidência do país até final do ano de 1994. Depois da presidência, Itamar se elegeu governador de Minas Gerais, entre os anos de 1999 e 2002. Ainda, pelo estado de Minas Gerais, se elegeu novamente senador nas eleições de 2010. Devido a um diagnóstico de leucemia, se licenciou das atividades do senado e faleceu no dia 2 de julho de 2011.

No período em que foi presidente, sob o ponto de vista do diálogo, Itamar Franco foi bem mais receptível aos movimentos sociais do que Collor. Aliás, a característica de Collor não era a de dialogar com os movimentos sociais. As próprias lideranças do MST evidenciavam que a entrada de Itamar na Presidência da República foi interessante para a organização. Na década de 1990, em meio ao contexto de isolamento e repressão por parte do governo Collor, João Pedro Stedile destaca: “sentar, negociar e nos dar status de interlocutor político, somente com o governo Itamar”419. É possível dizer que, com Itamar na presidência,

a organização do Movimento pôde respirar e se fortalecer para o enfrentamento das lutas que viriam ao longo dos anos de 1990.

Mesmo com sua característica amistosa e de diálogo com os movimentos sociais, no editorial de outubro de 1992, o MST explicitava que os trabalhadores, no caso do MST,

164 certamente seriam oposição ao governo, o qual chamava de “capenga”. E sobre o novo governo, destaca:

Itamar Franco montou um ministério baseado em critérios de amizade pessoal e com representação política, visando consolidar o apoio dos senadores para o afastamento definitivo de Collor. Sua composição se revelou uma salada de frutas. Sem uma unidade política e sem uma correlação com as forças que derrubaram Collor nas ruas. É um governo de transição com forte marca conservadora.

Em termos de medidas administrativas e políticas, nenhuma novidade, nenhuma posição, que deixasse claro a intenção de resolver os problemas sociais que o país vive. Para o Ministério da Agricultura, nomeou novamente um grande proprietário de terras, seu amigo, Lazaro Barbosa, deputado do PMDB de Goiás, dono de sete fazendas que totalizam 24.300 hectares e 8 mil cabeças de gado. Coordenador da campanha Collor naquele estado420.

Na citação observa-se que, o MST, de modo geral, representava Itamar e seu governo pelo prisma do continuísmo. Com Itamar não teria nada de novo, o conservadorismo iria imperar. Os problemas sociais e, em especial, a reforma agrária não seriam resolvidos. Sobre a “salada de frutas” (composição do governo Itamar), era um trocadilho para dizer que o presidente não tinha “unidade política”, ou melhor, unidade de “correntes políticas” para governar. Assim, era considerado um governo incerto e que não trazia muitas perspectivas para os trabalhadores.

O governo Itamar foi marcado por sua heterogeneidade, em que diversos partidos compuseram os cargos de primeiro e segundo escalão na administração federal. Com isso, Itamar recebeu inúmeras críticas de políticos e analistas que ressaltavam que a heterogeneidade não trazia coerência no modo de governar. Na visão de Itamar, pelo contexto dos ocorridos, o país não poderia “discriminar” grupos com ideologias distintas. Conforme Costa, “em lugar de uma equipe coesa em ideias, Itamar preferiu recrutar nomes com trânsito no Congresso, que lhe ajudassem a viabilizar medidas capazes de distinguir sua gestão aos olhos da opinião pública”421. Por mais que Itamar optasse por reunir vários partidos para

compor seu governo, o PMDB e o Partido da Social Democracia (PSDB) assumiram posições de maior destaque, com ministérios e secretarias estratégicas. Na época, o PT se recusou em apoiar o presidente Itamar, e chegou ao ponto de expulsar do partido a ex-prefeita de São

420 Outubro Histórico. Jornal Sem Terra. São Paulo, outubro de 1992, ano XI, n. 120, p. 2-3. 421 COSTA, T., Os Anos Noventa: o acaso do político e a sacralização do mercado, p. 271.

165 Paulo, Luiza Erundina422, por ela ter aceitado o convite para assumir o cargo de ministra-

chefe da Secretaria da Administração Federal.

Itamar era considerado uma “figura provinciana, de temperamento instável e propensões nacionalistas”423. Quando assumiu a presidência, havia uma incógnita quanto ao

seu governo. O certo era que Itamar não deu continuidade ao estilo Collor de governar. Sobre os estilos diferentes entre Collor e Itamar, Costa destaca:

Faltam a Itamar os dotes cênicos de Collor. Não lhe apetece a política- espetáculo. É mais da prosa ao pé do ouvido. Tampouco sonha com o ingresso no Primeiro Mundo. Parece satisfeito com Juiz de Fora. Não é fascinado por tecnologia de ponta, muito menos se vier d’além-mar. Prefere o fusquinha, que lhe evocava a indústria nascente424.

Ao se declarar oposição ao novo governo, passados dois meses de Itamar na presidência, o MST dizia, por meio do seu jornal, que o governo era “surdo e mudo”, pois não ouvia os trabalhadores. De forma irônica, enfatizava que Itamar não tinha dito a “que veio”, ou seja, não tinha noção de sua responsabilidade enquanto presidente e não havia sistematizado planos para o Brasil. No que tange à reforma agrária, o Movimento enfatizava que o desinteresse para ouvir os trabalhadores e efetivar a reforma agrária era maior ainda. Demonstrando descontentamento e frustração, relatava que, até àquele momento, Itamar “sequer havia indicado o novo presidente do INCRA”425.

O Movimento cobrava atitudes de Itamar que, na visão das lideranças, estava “perdido”, sem saber o que fazer na direção política do país. Enfim, afasta-se Collor. E agora

Itamar?, esse era o título do editorial do Jornal Sem Terra, em dezembro de 1992. Itamar era representado como “inoperante”, por não propor mudanças para o país, nem melhorar os projetos e políticas voltadas ao campo. O MST cobrava ações mais ágeis do recém-presidente,

422 Na edição de fevereiro/março de 1993, do Jornal Sem Terra, Lula, então presidente nacional do PT, concedeu

uma entrevista ao periódico e foi indagado sobre a expulsão de Luiza Erundina do partido. Na época, disse que o partido não “tinha outra coisa a fazer”, pois Erundina “desrespeitou as normas elementares do partido”. Ao assumir um cargo político sem autorização do PT, o partido teve que puni-la. A justificativa de Lula também era, conforme suas palavras: “Ou nós fazemos isso, ou então nós não estaríamos mais criando um partido e sim um amontoado de pessoas em torno de uma sigla para disputar cargo nas eleições”. O interessante dessas palavras de Lula é pensar que dez anos depois o PT mudaria substancialmente seus discursos e princípios, pois se aliou a partidos historicamente contrários à sua forma de ver e conceber a política, visando a agregar capital político para eleger e ocupar alguns cargos nos diversos níveis de administração pública (federal, estadual e municipal). Ver entrevista: Lula fala ao MST. Jornal Sem Terra. São Paulo, fevereiro/março de 1993, ano XII, n. 123, p. 12- 13.

423 FAUSTO, B., História do Brasil, p. 476.

424 COSTA, T., Os Anos Noventa: o acaso do político e a sacralização do mercado, p. 268. 425 Governo Surdo e Mudo. Jornal Sem Terra. São Paulo, novembro de 1992, ano XI, n. 121, p. 2.

166 mesmo com a situação de crise política por que o país estava passando. Sobre órgãos voltados ao campo, exigia mudanças no Ministério da Agricultura e no INCRA. Para o Movimento, esses cargos deveriam ser ocupados “por pessoas realmente comprometidas com a luta pela reforma agrária”426 e com políticas que favorecessem o desenvolvimento do campo e o

aumento da produção nas pequenas propriedades.

As representações sobre Itamar, sobretudo, em seu primeiro ano no governo, giravam em torno de sua “inércia” face aos problemas no campo. Na edição de fevereiro/março de 1993, o título do editorial era: Reforma Agrária, quando? Nesse editorial, o Movimento reconhece um pequeno avanço com Itamar na presidência, em especial, a partir da aprovação da Lei Agrária427 pela Câmara dos Deputados. Também, pelo fato de o governo ser transitório

e ter pouco “tempo, nem condições de realizar um programa massivo de reforma agrária”. Todavia, suas lideranças cobravam do presidente dizer “para o que veio”428, fazendo alusão ao

fato de que era necessário tomar medidas e ações concretas nas desapropriações de terras para fim de reforma agrária.

No editorial de fevereiro/março de 1993, a charge publicada, de autoria do chargista Hércules Sanchez429, chama atenção para o aspecto de tranquilidade do presidente Itamar,

como se ele estivesse perdido, não sabendo o que acontecia na conjuntura do país.

426 Enfim, afasta-se Collor. E agora, Itamar? Jornal Sem Terra. São Paulo, janeiro de 1993, ano XII, n. 122, p. 2. 427 Lei Agrária (Lei n. 8.629, de 25/02/1993). Essa lei dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos

constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal de 1998. Destaca-se que a Lei Agrária foi aprovada, mas os conflitos e lutas por terra não cessaram.

428 Reforma Agrária, quando? Jornal Sem Terra. São Paulo, fevereiro/março de 1993, ano XII, n. 123, p. 2. 429 Hércules Sanchez trabalha a mais de 30 anos produzindo charges. Utilizando o traço, a ironia e o humor têm

abordado diferentes temas no campo sindical e político. Na primeira metade da década de 1990, colaborou produzindo algumas charges para o Jornal Sem Terra. Milita no PT desde o seu nascimento em fins da década de 1970, e atualmente é responsável pelas charges do Portal Linha Direta, do PT/SP.

167 Imagem 13 – Reforma Agrária, quando?

Fonte: Jornal Sem Terra. São Paulo, Fevereiro/Março de 1993, ano XII, n. 123, p. 2.

A primeira questão a ser evidenciada na imagem é a perspectiva do diálogo que Itamar buscou com os movimentos sociais do campo. Observa-se que há um grupo de quatro adultos e um bebê no colo de sua mãe que, pelas expressões faciais, está alegre, conversando com o presidente. Essas pessoas são representantes de algumas regiões e estados brasileiros, como se pode perceber por suas vestimentas e por suas expressões regionais: chê (gaúcho), ochente (nordestino), sô (mineiro). Nessa conversa, em meio a gestos e sorrisos, a senhora, que tem o bebê no colo, diz: “Reforma Agrária!”. Com certo tom de humor, a partir da exclamação da senhora, Itamar, mineiro, responde interrogativamente: “Uai?”. A imagem de Itamar, de mãos para trás e com uma face pensativa é a representação de um presidente passivo face aos problemas que geravam interrogação, dúvidas. Isso sugere que o diálogo estava estabelecido, contudo, o MST cobrava atitudes e ações do presidente. A aparente tranquilidade de Itamar e a percepção de que ele não tinha um projeto político de reforma agrária gerava constantes críticas ao presidente.

Sobre a abertura de diálogo entre o presidente Itamar e os movimentos sociais, ressalta-se que ele foi o primeiro presidente da República que recebeu a Direção Nacional do MST, em Brasília, após nove anos da existência do Movimento. Esse acontecimento foi manchete e destaque no Jornal Sem Terra, na edição de fevereiro/março de 1993430. Na

ocasião, 24 dirigentes nacionais do Movimento, representando todos os estados em que o MST estava organizado, participaram da audiência. Além do presidente, também estavam

430 Movimento Sem Terra é recebido pelo presidente da República. Jornal Sem Terra. São Paulo,

168 presentes o Ministro do Trabalho, Walter Barelli; o presidente do Banco do Brasil, Alcir Calliári; o Secretário Geral do Ministro da Agricultura, Benedito da Rosa; um diretor do INCRA; e diversos assessores do Ministério do Trabalho e da Agricultura. O gesto do presidente em receber o MST foi muito significativo, sobretudo, quanto à representatividade e à força política do Movimento no país. Na época, o MST avaliou positivamente a audiência com o presidente e reconheceu o interesse e respeito de Itamar para com sua organização e suas reivindicações.

Mesmo com diálogos, a relação entre o presidente Itamar e o MST não deixou de ser tensa. Obviamente também que as composições no governo, em especial, da Bancada

Ruralista431, não deixaram de legislar em favor dos seus interesses, ou melhor, dos grandes

proprietários de terras e dos setores a eles ligados. Após a audiência com o presidente, a organização do MST não cessou de criticar e construir representações sobre Itamar. No editorial de maio de 1993, o Movimento fez um balanço sobre a crise no Brasil que, na concepção de suas lideranças, era a “pior crise que a história tinha registrado”, com salários baixos para os trabalhadores, número alto de desempregados, inflação incontrolável, seca no nordeste, epidemia de cólera e os péssimos serviços prestados no sistema de saúde.

O interessante era que a crise estava associada ao governo e personificada na figura do presidente Itamar Franco. Assim, dizia o editorial: “Ora, o governo continua conversando com os políticos. Apresentou um plano que não é um plano. É apenas a descrição de várias medidas que já vem sendo aplicadas, e em sua maioria beneficiam os mesmos, isto é, os que têm acesso ao banco”. Adiante, Itamar Franco era representado como “incompetente”432. Na

charge a seguir, do editorial analisado, nota-se que o governo, diante da crise, era personificado na representação de Itamar.

431 A Bancada Ruralista se constitui em uma frente parlamentar que atua em defesa dos interesses dos grandes

proprietários rurais. Essa bancada é formada por parlamentares de diversos partidos políticos, em especial, daqueles com tendências conservadoras. Muitos dos parlamentares que compõem essa bancada são grandes proprietários de terras, ou possuem um vínculo estreito com setores e atividades do campo. Nesse sentido, legislam em causa própria. A Bancada Ruralista, historicamente, tem sido uma opositora ferrenha da reforma agrária e dos assuntos que dizem respeito às identificações e demarcações de terras indígenas no país.

169 Imagem 14 – A crise e o governo

Fonte: Jornal Sem Terra. São Paulo, Maio de 1993, ano XII, n. 125, p. 2.

Em 1993, a editoração do jornal era de responsabilidade da jornalista Débora Lerrer433,

e no Expediente não há menção sobre o nome do ilustrador/chargista do periódico434. Por

meio de um tom humorado e irônico, a charge mostra o presidente Itamar conversando com um trabalhador sem-terra, muito provavelmente da região Nordeste, em vista de sua vestimenta e particularmente por seu chapéu de cangaceiro estilo Lampião435, típico da região.

O trabalhador está com uma aparência muito cansada, abatida. Essa aparência sofrida revela os meandros da luta pela terra que, na maioria das vezes, é morosa e exige muita resistência dos sujeitos envolvidos no processo. Na maior parte da imagem está Itamar, com seu imponente topete, terno e gravata; próximo a duas vacas robustas.

O cenário geral é o de uma propriedade rural (a qual teoricamente seria área de reforma agrária), que tem ao fundo um sol radiante. Com suposta lista nas mãos, o presidente diz que ela é uma lista de beneficiados “pro assentamento” e pergunta o nome da família do trabalhador. Sem pestanejar, o trabalhador diz: “Silva”. Então, Itamar responde: “Não, aqui não tem. Só tem as famílias Nelóre, Zebus, Holoandesa...”. Essas famílias a que o presidente faz referência são raças de bovinos, as quais estariam ocupando a terra no lugar do

433 É interessante destacar que, com Débora Lerrer como jornalista responsável, as charges, em especial, nos

editorais, voltaram a ser mais constantes no Jornal Sem Terra.

434 Mesmo não tendo uma assinatura, acredita-se que, pelo estilo dos traços da charge, sua autoria seja de

Hércules Sanchez.

435 Lampião, como ficou conhecido o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, é personagem histórico da região

Nordeste do Brasil. Em torno de sua figura existe várias polêmicas, para alguns Lampião foi um bandido

sanguinário, para outros é considerado rei do cangaço, símbolo maior do sertão nordestino. Lampião e sua esposa Maria Déia, conhecida como Maria Bonita, são personagens fascinantes do imaginário nordestino, que se estenderam ao território brasileiro. Lampião e Maria Bonita morreram em 28 de julho de 1938, após uma emboscada de soldados da polícia de Alagoas.

170 trabalhador. Interpreta-se que as vacas faziam alusão às políticas voltadas ao campo que beneficiavam os grandes proprietários de terras, criadores de gado, em detrimento dos sujeitos que almejavam conquistar terra para trabalhar e viver.

Ao qualificar as vacas (Nelóre, Zebus e Holoandesa), o MST expressa também sua ideologia, pois essas raças de bovinos são a representação dos grandes proprietários de terras e pecuaristas. Os pecuaristas criam esses bovinos a partir de uma lógica de mercado. Em grande escala, essas raças de bovinos têm destinações econômicas para a produção de carne (nelore e zebu), melhoramento genético (nelore) e produção de leite (holandesa). A relação que os grandes pecuaristas possuem com seu gado é exclusivamente a de mercado, visando ao lucro.

No caso dos pequenos proprietários (nos assentamentos), o seu gado e demais animais, a princípio, estabelecem uma relação direta com a subsistência da família, mesmo que o excedente da produção seja destinado à comercialização. Nos assentamentos, os bovinos são chamados pelo nome dado a cada um pelos assentados (mimosa, pretinha, branquinha, rajada, boneca, dentre outros), enquanto que entre os grandes pecuaristas o seu gado é identificado e classificado pela raça e pelo número catalogado. Assim, as relações são distintas. Qualificar as vacas representava para o MST definir sua posição ideológica anticapitalista. E o presidente Itamar, personagem central da imagem, personificava seu Governo, que privilegiava os grandes proprietários de terras, em detrimento dos trabalhadores sem-terra.

No Jornal Sem Terra, o presidente Itamar era indagado constantemente pelo MST.

Itamar, as promessas serão cumpridas agora?, era o título do editorial da edição de julho de 1993. Nesse editorial, destaca-se o fato de, até aquele momento, o presidente não ter realizado nenhuma desapropriação de terra para fins de reforma agrária, alegando a falta de instrumentos jurídicos para isso. Na concepção do MST, Itamar estava procurando “desculpas” para não desapropriar terras, pois já vigorava a Lei Agrária e havia sido sancionada a Lei do Rito Sumário, que orientava o poder judiciário e o INCRA sobre como deveriam ser as desapropriações de terra por interesse social, para fins de reforma agrária436.

Assim, junto à Constituição, havia outros instrumentos legais para as desapropriações de terras. Para o MST, Itamar procurava desculpas e retardava o máximo a questão das desapropriações de terras.

171 Na charge apresentada a seguir437, evidencia-se a morosidade de Itamar sobre os

assuntos relacionados à reforma agrária.

Imagem 15 – Itamar, as promessas serão cumpridas agora?

Fonte: Jornal Sem Terra. São Paulo, Julho de 1993, ano XII, n. 122, p. 2.

O cenário, no texto/charge, é da Esplanada dos Ministérios. Verifica-se que, de forma sorrateira, o presidente abre a porta do Ministério da Agricultura, coloca a cabeça para fora e diz à secretária: “Preparem outra recepção. Aquela não valeu!”. A charge faz menção à audiência que a Direção Nacional do MST teve com o presidente no mês de fevereiro de 1993. Na representação do Movimento, todas as conversas e reinvindicações feitas ao presidente na reunião não valeram de nada. A representação de Itamar foi como estivesse fugindo dos compromissos firmados. A expressão do seu rosto revela certo cinismo e má vontade para realizar as ações, no caso, as desapropriações de terras. Observa-se também que a secretária, prestando atenção na fala do presidente, parece não entender tal gesto e fala.

Em relação ao Governo Itamar, por mais que o presidente demonstrasse sensibilidade às questões sociais e aos grupos organizados pela sociedade, manteve o modelo político e econômico de Collor, como por exemplo, ao não interromper o programa de privatizações – a Companhia Siderúrgica Nacional, símbolo da industrialização estatal, foi privatizada em