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CAPÍTULO 4. METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

4.1. Opções Metodológicas: abordagem à investigação mista

Com o desenvolvimento metodológico de estudos empíricos nas Ciências Sociais e Humanas, há na história da investigação educacional o registo bem assente de um confronto entre dois modelos de paradigmas (Coutinho, 2011). Por um lado, o paradigma Positivista ou Empiricista, por outro, o paradigma Interpretativo, igualmente conhecido por Fenomenológico (Deshaies, 1992). Em linhas gerais, na opinião de Mertens (1998), o paradigma interpretativo visa a inter-relação do investigador com o conhecimento adquirido, fazendo com que a construção da teoria se processe de modo indutivo e sistemático, a partir da interpretação da informação dada no terreno à medida que os dados empíricos emergem. Deste modo, “a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal (…) que se interessa mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos” (Bodgan & Biklen, 1994, p.47-49).

O paradigma positivista, de uma forma geral, permite ao investigador descobrir factos que interpreta e procura generalizar. Segundo Tuckman (2012), o objetivo principal é desenvolver um modelo sistémico que identifique as variáveis relevantes e levante todas as hipóteses sobre a relação das mesmas. Este paradigma baseia-se no método experimental dedutivo-positivista que permite ao investigador descobrir, compreender, explicar, predizer e controlar factos através da formulação de hipóteses e da relação de variáveis.

Apesar da convivência entre os seguidores destes dois pressupostos epistemológicos nem sempre ser harmoniosa, cada vez mais são utilizados os dois paradigmas e a aceitação de que ambos possam estar em concordância numa mesma investigação educativa, dada a sua característica de ser uma “investigação do porquê” (Pacheco, 1995). Esta relação de simbiose entre os dois paradigmas surge, essencialmente, pela necessidade de articular abordagens de tipo quantitativo com outras de carácter mais qualitativo, tendo em vista a procura de interpretações dinâmicas que se adequam ao problema de estudo.

Sabemos que a abordagem quantitativa e a qualitativa têm metodologias distintas e que ambas têm vantagens e limitações, “a questão não é colocar a pesquisa qualitativa

101 pesquisa quantitativa” (Günther, 2006, p. 207). Trata-se de uma decisão com implicações de natureza prática, empírica e técnica de estilo teórico-metodológica que permita, em determinado espaço de tempo, geralmente curto, chegar a um resultado que melhor contribua para a compreensão do problema em estudo.

Na opinião Tashakkori e Teddlie (1998), ambas as abordagens metodológicas acima referidas dispõem de diferentes métodos, sendo as quantitativas mais voltadas para a análise de dados estatísticos, geralmente através de questionários de resposta fechada. As abordagens qualitativas têm um papel mais interpretativo e como tal recorrem preferencialmente a um menor número de participantes, onde a observação direta, entrevistas ou questionários em formato de resposta aberta são privilegiados (Creswell & Clark, 2007). Com efeito, o conceito da metodologia mista tem vindo a ser utilizado e aperfeiçoado por vários autores (e.g., Creswell, 2003; Johnson, 2006; Teddlie & Tashakkori, 2006), sendo esta a designação que se utilizará ao longo deste trabalho, no sentido de combinar as duas abordagens, a quantitativa e a qualitativa.

Trata-se de uma opção metodológica exigente, uma vez que a utilização de metodologia mista requer um domínio sobre as técnicas e uma experiência considerável para analisar em simultâneo as duas componentes metodológicas (Teddlie & Tashakkori, 2006). Na opinião de Coutinho (2011) “os métodos quantitativos e qualitativos podem aplicar-se conjuntamente dependendo das exigências da situação a investigar. A ciência vale-se de todos os métodos, porque lhe proporcionam uma visão mais ampla da realidade” (p. 31).

Segundo Creswell e Clark (2007) é uma solução bastante viável e oportuna, uma vez que consegue conciliar as vantagens de ambos os métodos, enriquecendo desta forma o conteúdo teórico e prático de um trabalho de investigação. Para estes autores, a investigação através da combinação de dados quantitativos e qualitativos num único estudo é a melhor forma para se compreender o problema de estudo. É um design metodológico cujo propósito principal é de que a combinação das abordagens quantitativa e qualitativa pode fornecer uma melhor compreensão do problema do que cada uma das abordagens por si só. Desta maneira, o trabalho segue a opinião de Creswell e Clark (2007).

De facto, a metodologia mista requer um domínio sobre as técnicas e uma prática considerável para analisar em simultâneo ambas as abordagens, a quantitativa e a

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qualitativa. Os autores Teddlie e Tashakkori (2006) reconhecem estas especificidades e recomendam que “o trabalho seja conduzido por uma equipa de investigadores, em que cada membro colabore no desenvolvimento das diferentes fases” (p. 21). Uma vez que este estudo faz parte do projeto de investigação FITE (PTDC/CPE-PEC/121238/2010), o qual conta com uma equipa de dez membros, investigadores integrados, considera-se que os obstáculos que surjam possam ser minimizados pelo diálogo e troca de experiências que caracterizam um trabalho desta natureza.

A presente investigação conjuga técnicas de recolha de dados quantitativos e qualitativos numa lógica de complementaridade que visa, essencialmente, conseguir uma visão holística do problema em estudo, o qual pretende aprofundar de que modoa institucionalização de jovens, influencia o desenvolvimento da identidade vocacional, mediante a oferta de educação e formação dos cursos profissionalizantes EFA. Deste modo, a opção metodológica será marcada pelo paradigma interpretativo, onde através da categorização das variáveis quantitativas e qualitativas fornecidas pelos dados, se procurará chegar a uma análise do problema em estudo. Na Figura 7 apresenta-se o

design do estudo metodológico em função das questões de investigação.

O design do estudo caracteriza-se por dois Estudos com duas vertentes metodológicas complementares e sequenciais. O Estudo 1, a vertente quantitativa de recolha e análise de dados através da aplicação de (a) uma ficha de recolha de dados sociodemográficos, para a caracterização dos jovens participantes e de (b) aplicação da escala de avaliação do conteúdo de identidade vocacional, a escala Dellas Identity

Status Inventory-Occupation (DISI-O).

O Estudo 2, a vertente qualitativa, decorrente da primeira vertente, desenvolve-se através de entrevistas semiestruturadas e da recolha documental. Os sujeitos participantes na segunda vertente do estudo serão selecionados tendo em conta as informações e resultados emergentes da primeira vertente empírica.

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Figura 7. Design do estudo metodológico

A articulação entre as duas vertentes é pertinente, pois ambas têm em comum o objetivo de contribuírem com elementos para as questões da investigação. Apesar de serem vertentes com métodos distintos, será certamente possível identificar aspetos comuns entre ambas ao nível das opiniões e dos conhecimentos dos sujeitos participantes. Além disso, uma vez que estes métodos serão realizados sequencialmente, primeiro o Estudo 1 e depois o Estudo 2, espera-se que os resultados do primeiro contribuam para uma melhor compreensão da temática em análise, auxiliando a preparação da segunda vertente de estudo (Creswell & Clark, 2007).

Existem assim duas vertentes sequenciais que caracterizam o design deste estudo metodológico. Estas vertentes apresentam abordagens metodológicas distintas, mas ambas contribuem para encontrar respostas às questões de estudo, permitindo estudar com rigor a questão central: Como é que os jovens institucionalizados em centros

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educativos, (re)constroem a sua identidade vocacional em função da oferta de educação e formação existente nesses centros?

4.1.1. Aspetos éticos do estudo

O procedimento científico e metodológico em qualquer uma das vertentes deste estudo, quer da vertente quantitativa, quer da qualitativa, será seguramente garantida de confidencialidade e anonimato dos jovens participantes. Este é um dos pressupostos do trabalho, o de utilizar e direcionar o conhecimento obtido nesta investigação para a comunidade educativa e científica. Em particular, para o bem-estar futuro dos jovens institucionalizados em centros educativos, respeitando a dignidade e os direitos enquanto seres humanos, assim como dos contextos que eles ocupam, tendo a plena consciência da responsabilidade social inerente à presente investigação, com respeito às gerações presentes e futuras destes jovens (UNESCO, 2000).

A realização de um trabalho de investigação deve ser assente em valores éticos, que incluem o equilíbrio entre os direitos e a privacidade dos indivíduos, bem como a satisfação geral da sociedade que integra os indivíduos, quer investigadores ou sujeitos participantes da investigação, assume-se o compromisso de ter sempre em consideração os princípios gerais propostos pela American Psychological Association (APA, 2010), a qual se segue como normativo, tendo presentes os seguintes princípios e valores:

(a) competência científica; (b) integridade pessoal, científica e profissional, (c) fidelidade e responsabilidade científica e profissional; (d) respeito pelos direitos e dignidade dos sujeitos participantes; (e) preocupação pelo bem-estar de todos os indivíduos envolvidos nesta investigação; (f) responsabilidade social na correta divulgação dos dados perante a comunidade educativa e científica.

De acordo com os princípios éticos enunciados apresentou-se aos jovens participantes do estudo e às instituições que os acolhem um compromisso escrito, que incluiu os objetivos principais da investigação e a garantia de confidencialidade e anonimato de todo o material de investigação cedido e recolhido (Anexos C e D).

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