1 EDUCAÇÃO INTEGRAL DE RECIFE: ESTRATÉGIAS PARA GARANTIA DE
1.3 A educação integral na cidade do Recife
1.3.2 Organização das Escolas Municipais em Tempo Integral
A proposta que a Secretaria de Educação de Recife assume para as EMTIs é muito mais complexa do que a simples ampliação da jornada escolar e a promoção de atividades de lazer e cultura realizadas no contraturno.
De acordo com a Portaria nº 823, de abril de 2014, que dispõe sobre o funcionamento e organização das EMTIs, estas devem ser um espaço de acolhimento capaz de acompanhar, apoiar, avaliar e sistematizar as experiências nelas desenvolvidas, permitindo a incorporação dos avanços, atuando como fonte de inovação em termos de conteúdo, método e gestão, fundamentada na Pedagogia da Presença, nos 4 Pilares da Educação para o século XXI: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser na Articulação Curricular e na Cultura da Avaliação Institucional.
Com base no Manual Operacional do ICE – Implantações do Programa em uma Rede Escolar e de acordo com o Artigo 4º da referida portaria, fica explícito o caminho que as escolas devem percorrer para serem escolas em tempo integral, comprometidas com a formação integral dos estudantes.
Nessa perspectiva, fica definido, no mesmo artigo que regulamenta o funcionamento das EMTIs, que essas escolas terão como premissas o Protagonismo Juvenil, a Formação Continuada, a Corresponsabilidade, a Excelência em Gestão e a Replicabilidade, que fundamentarão a organização e o funcionamento, sendo a espinha dorsal para a elaboração do Plano de Ação e demais documentos que norteiam as práticas pedagógicas das escolas.
A primeira premissa é o Protagonismo Juvenil, ação que considera o estudante como partícipe em todas as ações da escola e construtor do seu Projeto de Vida. Por meio do protagonismo, o aluno é o principal ator na condução de ações nas quais ele é sujeito e, ao mesmo tempo, objeto das suas várias aprendizagens. O aluno é levado a refletir que pode ir além do que a família ou o meio em que vive lhe oferecem, utilizando-se das atividades lúdicas, pesquisas, debates, entrevistas, aulas extraclasse para desenvolver e dar continuidade aos seus estudos, indo além da conclusão do ensino fundamental.
A segunda, a Formação Continuada, entendida como o educador em processo permanente de aperfeiçoamento profissional e comprometido com seu
autodesenvolvimento, é um diferencial desse programa. Nas escolas, é disponibilizado um tempo ao professor para que, além da formação mensal oferecida pela Secretaria de Educação, ele possa, durante o dia, realizar estudos individuais e coletivos, reuniões de planejamento e ajustes pedagógicos e também organizar seus materiais. Na organização diária, os professores têm, ao final do dia, uma hora sem estudantes para realizar a formação continuada, que é mediada pelos Coordenadores Pedagógicos, auxiliados pelos Coordenadores de Área.
A terceira premissa, Corresponsabilidade, é concebida como o envolvimento de todos: estudantes, família e comunidade escolar, com os processos de ensino e aprendizagem, com a melhoria da qualidade da educação e dos resultados. Nessa perspectiva, a corresponsabilidade é aplicada a todos os envolvidos na dinâmica da escola, interna ou externamente: Secretaria de Educação, Gestor Escolar, professores, funcionários, porteiros, merendeiras, apoios de pátio, alunos e responsáveis pelos alunos, pois a ação de um indivíduo reflete na vida do outro e do coletivo, e todos são partícipes do processo de formação integral dos alunos.
A quarta, Excelência em Gestão, é a utilização de ferramentas de gestão, focada na melhoria dos resultados das aprendizagens de seus estudantes em suas diversas dimensões, baseada no monitoramento contínuo das atividades pedagógicas, administrativas e nas relações interpessoais que se estabelecem na escola. O gestor escolar é o gerenciador dos processos e responsável pelas ações dinamizadoras e de promoção de resultados afirmativos para todos os segmentos da escola. Ou seja, não é o sujeito burocrático do gabinete, e sim alguém que participa junto com todos na perspectiva de uma realidade concreta, contribuindo para o ajuste do foco e do alinhamento da equipe na busca por resultados que beneficiam todos os membros da escola: estudantes, professores, pais de alunos e demais segmentos, estando consciente da sua importância para o sucesso de todos que compõem a comunidade escolar.
A quinta e última premissa é a Replicabilidade, que consiste na aplicação das inovações em outras escolas da rede e aumento dos números de escolas no Programa. A partir dos resultados e do bom funcionamento das escolas, a concepção do modelo implantado deveria ser replicado nas demais escolas da Rede, independentemente até de ser ou não em tempo integral.
Como atestam os documentos orientadores, dois aspectos foram considerados estruturantes para a concepção de educação integral adotada para as EMTIs: a Articulação Curricular e a Cultura da Avaliação.
Para garantir a Articulação Curricular, o currículo foi estruturado de forma integralizada e diversificada, com uma matriz flexível, composta pelos componentes curriculares da Base Nacional Comum, Parte Diversificada e Atividades Complementares. Essa estrutura é desenvolvida pelos professores dos componentes curriculares que ministram também as disciplinas da parte diversificada e coordenam as atividades complementares por meio da Coordenação de Área e da Tutoria.
Na Coordenação de Área, um professor por área do conhecimento tem um percentual da sua carga horária dedicada a desenvolver atividades de articulação com os outros professores, organizando momentos de estudos coletivos, elaboração dos Programas de Ação, projetos, planejamentos e os momentos de aulas e atividades.
As atividades de tutoria são exercidas também pelos professores, que, durante a semana, têm duas horas-aula dedicadas ao acompanhamento de uma turma, auxiliando os alunos no seu desenvolvimento acadêmico, na elaboração e execução do seu projeto de vida. O Professor-Tutor é o elo entre os alunos, a escola e a família. É quem está mais perto dos alunos, percebendo os desafios encontrados pelos alunos, orientando-os nas soluções e superações. Esses professores trabalham em articulação com a atividade complementar de Estudos Orientados.
A Cultura de Avaliação é outro diferencial na organização das EMTIs, pois se apoia na cultura de um acompanhamento sistemático das escolas e, acima de tudo, no monitoramento constante das escolas, o que pressupõe uma mudança na concepção de avaliação, que passa a ser vista também como um termômetro para validação e intervenção no cotidiano das escolas.
A cultura de avalição pressupõe um conceito de avaliação, o qual vem para o cotidiano da escola, que até então não era abordado: a avaliação institucional. Trabalhando dessa forma, não só o aluno está sendo avaliado na construção do conhecimento, mas também o professor é avaliado positivamente à medida que consegue levar seus alunos a compreenderem melhor sua disciplina e adquirirem
melhores resultados. O coordenador de área é avaliado quando se percebe que é atuante, propondo aos seus colegas maneiras de solucionar problemas que possam influenciar no resultado das avaliações dos educandos. O coordenador pedagógico é avaliado por sua atuação junto a todos os professores, pois deve estar sempre fomentando a cultura de novos processos que possibilitem a aprendizagem dos alunos. O diretor escolar é avaliado enquanto aquele que é responsável pela elaboração, coordenação, articulação e operacionalização do Plano de Ação da Escola, que compreende todos os Programas de Ação de todos os segmentos. É ele o responsável por fazer cumprir todas as diretrizes da Secretaria de Educação. Nessa perspectiva, todos os outros atores do cotidiano escolar também são avaliados de acordo com o artigo 16 da Portaria nº 823/2014, em que estão deliberadas as atribuições e competências de todos que compõem o quadro de pessoal das EMTIs.
Todas essas premissas e fundamentos estão envolvidos pela atmosfera da Pedagogia da Presença, divulgada pelo professor Antônio Carlos Gomes da Costa (1997), na qual a permanência de todos durante dois turnos no mesmo ambiente e a dedicação diurna exclusiva dos professores e funcionários os aproximam e fazem com que sejam parte de fato da vida uns dos outros, onde todos estão envolvidos no processo que é mais amplo do que a formação acadêmica de excelência:
Efetivamente, a presença não é alguma coisa que se possa apreender apenas ao nível da pura exterioridade. Tarefa de alto nível de exigência, essa aprendizagem requer a implicação inteira do educador no ato de educar. Sem esse envolvimento, o seu estar-junto-do educando não passará de um rito despido de significação mais profunda, reduzindo-se à mera obrigação funcional ou a uma fornia qualquer de tolerância e condescendência, de modo a coexistir mais ou menos pacificamente com os impasses e dificuldades do dia a dia dos jovens, sem empenhar-se, de forma realmente efetiva, numa ação que se pretenda eficaz. (COSTA, 1997, p. 144).
A pedagogia da presença deve ser a referência de toda ação pedagógica, implicando a criação de um ambiente e de relações interpessoais que sejam de fato qualificadas e exerrçam uma influência construtiva na vida de todos, principalmente dos alunos.