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Orientações Curriculares do Ensino Médio: Proposta de

1.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais de LE

1.1.4 Orientações Curriculares do Ensino Médio: Proposta de

Com o intuito de rediscutir os princípios que regem o Ensino Médio e esclarecer os PCNEM (2000) e PCNEM+ (2002) de língua estrangeira, um novo documento (2004) foi apresentado por um renomado especialista na área da linguagem, o professor Luiz Paulo da Moita Lopes. A insatisfação e as críticas com os documentos anteriores são notórias no início do novo documento, pois, segundo o autor, as versões anteriores “não chegam a referenciar, de maneira satisfatória, às

mudanças de estrutura, organização, gestão e práticas didáticas que seriam necessárias para a realização dos princípios e diretrizes expostos nos documentos legais” (BRASIL/Orientações Curriculares do Ensino Médio 2004:14).

Também aponta para uma dificuldade de compreensão da parte de seus leitores-professores de LE dos Ensinos Fundamental e Médio e a ausência de uma fundamentação teórica mais abrangente e articulada como forma de construção do conhecimento do uso da LE na sociedade contemporânea. Além disso, o documento em pauta ressente-se da falta de uma proposta pedagógica “de ensino de LE que

permita preparar a escola, alunos e professores para enfrentar as vicissitudes com as quais defrontamos no cotidiano” (BRASIL/Orientações Curriculares do Ensino

Médio, 2004: 43). Com o objetivo de direcionar a aprendizagem de LE para uma prática de envolvimento, de construção de sentido e de agir no mundo social , o autor critica o ensino pautado unicamente na competência gramatical. Assim, “não

se aprende uma LE para preencher uma lacuna em um exercício gramatical, nem para resolver uma charada na qual se focaliza o conhecimento do vocabulário”

(Ibidem: 47).

Para colocar em prática essa construção de aprendizagem significativa para o aluno, Moita Lopes advoga um ensino direcionado para a compreensão e produção escrita e oral mais especificadamente na habilidade de leitura. Assim, para o autor “o

texto escrito em LE e a conversa sobre ele em Língua Materna (LM) devem ser o foco das práticas escolares de letramento com o objetivo de fornecer aos alunos uma experiência significativa de engajamento na construção do significado”. (Ibidem:

48). O predomínio dessa habilidade no Ensino Médio, de acordo com o referido autor, deve-se ao fato de atender à necessidade do aluno em usá-la em contextos educacionais e sociais, como no trabalho, na universidade (para acompanhar as inovações científicas e tecnológicas) e na navegação pela Internet.

O pesquisador aponta procedimentos para se trabalhar a leitura com o objetivo de aprender a usar a linguagem em situações mais comunicativas. Segundo Moita-Lopes, é necessário considerar os conhecimentos – nos níveis sistêmico, de gênero discursivo, de mundo e de outros meios semióticos - que o aluno já traz do Ensino Fundamental. Esses conhecimentos seriam expandidos para que o aluno esteja mais apto a discutir ou conversar sobre os textos e hipertextos focalizados e se engajar na construção do significado. O autor também é favorável aos “múltiplos letramentos” como prática social de LE centrada no trabalho da sala de aula em contexto multisemiótico5 para a compreensão e construção de significados a partir do texto escrito.

O documento ainda aponta para o ensino de inglês (a língua da globalização e da Internet) e do espanhol6 (uma das línguas estrangeiras mais hegemônicas na

5

“(...) para além da letra, ou seja, um mundo de cores, sons e imagens e design que contróem significados em textos orais/escritos e hipertextos” (BRASIL/Orientações Curriculares do Ensino Médio, 2004:43-44).

6

“sancionada no dia 05/08 uma nova lei que torna obrigatórias as aulas de espanhol nas escolas públicas e particulares. As escolas terão prazo máximo de cinco anos para se adaptarem às novas normas” (Revista New Routes. Outubro/2005:8).

América Latina) como as línguas estrangeiras a serem incluídas nas escolas de Ensino Médio no Brasil por serem “línguas com grande apelo internacional e também

relacionadas ao mundo do trabalho” (BRASIL/Orientações Curriculares do Ensino

Médio, 2004:50). O autor reforça que esses fatores são relevantes para a escolha e inclusão dessas LEs no currículo de nível médio para os alunos brasileiros no mundo contemporâneo.

Diante dessas propostas feitas pelo professor Luiz Paulo da Moita Lopes nesse novo documento, percebemos alguns pontos que merecem ser comentados.

O documento é bem escrito e argumentado do ponto de vista teórico. Apresenta razões plausíveis para a verdadeira inclusão da língua estrangeira no currículo do Ensino Médio brasileiro e as contribuições de sua aprendizagem significativa no mundo contemporâneo para a formação de um aluno-cidadão mais crítico. Não obstante, do ponto de vista prático, o autor não apresenta uma proposta pedagógica de transposição didática que facilite a prática do professor no contexto de sala de aula, a saber, a transferência do conhecimento científico em conhecimento escolar.

Ainda com relação à aprendizagem de LE, o autor advoga a inclusão apenas do inglês e do espanhol no nível médio. As necessidades do aluno e o contexto sócio-histórico da região não são levados em consideração. Sabemos da importância dessas duas línguas em nossos dias, mas reconhecemos que seria um retrocesso em relação aos documentos anteriores que mencionam os interesses da comunidade como fator decisório para a escolha da LE. A dimensão territorial do Brasil nos mostra que cada região apresenta sua realidade, sua história e seus interesses. Logo, a inclusão de apenas duas línguas estrangeiras no Ensino Médio seria considerar uma unificação no ensino sem o atendimento às diversidades e aos interesses culturais e geográficos brasileiros. Dessa forma, lembramos o primeiro documento (BRASIL/PCNEM, 2000:27) ao afirmar que “muitos são os fatores que

devem ser levados em consideração no momento de escolher a(s) Língua(s) Estrangeira(s) que a escola ofertará aos estudantes, como podem ser as características sociais, culturais e históricas da região onde se dará esse estudo.”

Podemos perceber a inclusão de novos termos no documento como “múltiplos letramentos”, “mundo semiótico”, “testagem”, “hipertextos”, “gêneros discursivos”

sem um suporte teórico claro e de orientação para o professor, tornando-o muitas das vezes inacessível para o docente. O autor presume que o professor, ao ler o documento, já conheça e esteja familiarizado com esses termos teóricos.

Diante disso, advogamos a necessidade de mais uma revisão do documento referente à língua estrangeira para torná-lo mais objetivo e colocá-lo em ação de forma coerente e eficaz, como um instrumento de orientação pedagógica que contribua para as práticas educativas do professor em sala de aula.

Em síntese, os três documentos (2000, 2002 e 2004) apresentam propostas teóricas – de natureza indicativa e interpretativa – para a consolidação de uma educação instrumental para o aluno e de novas alternativas de organização curricular para o Ensino Médio brasileiro. Não obstante, uma transposição didática, prática e coerente com o ensino atual, deveria ser levada em consideração pelos documentos como forma de organizar e elaborar um currículo de LEM nos usos sociais da língua. Como mencionamos, não há um esclarecimento pragmático do conteúdo e habilidade(s) (ouvir, falar, ler e/ou escrever) a serem ensinados. Além disso, não houve uma preocupação dos autores dos documentos no tocante à transposição didática, como percebemos com clareza nos PCNs de 3o e 4o ciclos do Ensino Fundamental. “Talvez os autores dos parâmetros entendam que os

documentos sejam complementares, mas não explicitam isso e nem em que sentido se deve entender esta complementariedade.” (Bonini, 2003:82)

Acreditamos que deveria haver uma maior integração entre os documentos, principalmente os de línguas estrangeiras, para que justificassem a verdadeira importância da LE no contexto de ensino e aprendizagem na comunidade educacional. Nessa perspectiva, os professores deveriam passar por um processo de formação contínua para terem oportunidade de debater, melhor compreender e se posicionar diante das orientações educacionais propostas pelo MEC para que possam refletir e sugerir mudanças de acordo com suas realidades sociais, culturais e históricas.

Essa falta de coerência e de informações explícitas sobre as habilidades a serem alcançadas se refletem nos livros didáticos, como veremos mais adiante.

Uma vez considerados os parâmetros propostos pelos documentos elaborados pelo MEC – PCNEM – na tentativa de adequar e aperfeiçoar o ensino e a aprendizagem de LE no Ensino Médio brasileiro, apresentamos, a seguir, a noção de gênero textual.