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5 MERCADO DE TRABALHO E MOBILIDADE PENDULAR NA REGIÃO

5.2 As mudanças no mercado de trabalho e nos fluxos pendulares metropolitanos

5.2.2 Origem e destino dos trabalhadores pendulares no ano de 2000

Na Matriz 2, apresentam-se as informações sobre os locais de origem e destino dos trabalhadores pendulares metropolitanos no ano de 2000. Como se pode notar, os principais locais de destino dos trabalhadores pendulares permanecem sendo os municípios Belo Horizonte, principal centro de empregos da área metropolitana, e o eixo Betim-Contagem, que polariza uma menor parcela dos trabalhadores pendulares.

Matriz 2 – Origem e destino dos trabalhadores pendulares metropolitanos – ano 2000

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2000 – IBGE.

Origem do trabalhador pendular Vetor Leste Vetor Norte Vetor Norte- Central Vetor Oeste I Vetor Sudoeste Vetor Sul Belo Horizonte Eixo Betim- Contagem Total Vetor Leste 330 98 233 0 71 213 19.392 1.134 21.471 Vetor Norte 51 2.328 1.249 0 35 23 4.170 163 8.019 Vetor Norte-Central 396 796 1.966 30 184 559 84.648 6.058 94.637 Vetor Oeste I 40 15 93 549 76 387 19.138 6.660 26.958 Vetor Sudoeste 0 16 161 5 1.230 116 4.307 3.448 9.283 Vetor Sul 45 50 37 77 86 749 7.855 904 9.803 Belo Horizonte 636 1.166 3.789 1.102 457 1.737 0 23.097 31.984 Eixo Betim-Contagem 192 153 1.168 610 949 732 67.662 16.630 88.096 Total 1.690 4.622 8.696 2.373 3.088 4.516 207.172 58.094 290.251

A participação de Belo Horizonte, na atração dos fluxos pendulares metropolitanos, aumenta em relação ao ano de 1980. Em 2000, a proporção dos trabalhadores pendulares empregados em Belo Horizonte correspondeu a 71% dos trabalhadores pendulares, envolvendo mais de 200 mil pessoas (MATRIZ 2).

O aumento dos trabalhadores pendulares empregados em Belo Horizonte foi influenciado principalmente pelo crescimento da população de trabalhadores pendulares com origem no vetor Norte-Central. Somente esse vetor passou a responder por 41% do total de trabalhadores pendulares empregados em Belo Horizonte.

Souza (2008) analisou a relação existente entre o crescimento demográfico e as migrações intrametropolitanas no vetor Norte-Central, em especial no caso do município de Ribeirão Neves. A autora aponta que o vetor Norte-Central se tornou uma das principais áreas de atração dos imigrantes intrametropolitanos, com uma considerável participação de emigrantes de Belo Horizonte nesse fluxo. Essa migração foi marcada pelo deslocamento da população mais pobre, atraída pela oferta imobiliária. O rápido crescimento populacional e o reduzido número de empregos, em relação à população residente, estão na raiz da formação dos fluxos pendulares com origem no vetor Norte-Central.

A redistribuição residencial da população em direção à periferia já havia sido discutido por Brito (1996), que apontava também a relação existente entre as migrações intrametropolitanas e a mobilidade pendular. Com base na análise do autor, é possível concluir que, além do vetor Norte-Central, os maiores municípios do vetor Leste e Oeste I também compõem a dinâmica de periferização das camadas sociais de menor poder aquisitivo.

Nesse sentido, o aumento no número de trabalhadores pendulares, com saída nos vetores Leste e Oeste I, em direção a Belo Horizonte, como se pode observar na Matriz 2, também é um efeito do processo de redistribuição seletiva da população metropolitana. A formação dos fluxos pendulares, com origem nesses vetores, associa-se à oferta residencial, sem haver, em contrapartida, maiores oportunidades de emprego.

Conforme se pode notar na Matriz 1, os deslocamentos pendulares, entre os municípios de Betim, Contagem e Belo Horizonte, aumentam em relação ao ano de 1980. Contudo, duas diferenças devem ser consideradas, em relação a esse ano. Primeiro, o aumento da diferença entre as trocas pendulares do eixo Betim- Contagem com Belo Horizonte, com maior predomínio dos deslocamentos de saída de Betim-Contagem em direção a Belo Horizonte, e, segundo, a ampliação das trocas de trabalhadores pendulares entre os próprios municípios de Contagem e Betim.

A partir dos trabalhos de Camargos (2006) e Soares (2006), que analisaram o caso dos municípios de Betim e Contagem, respectivamente, pode-se destacar que o crescimento demográfico desses municípios foi influenciado pelos fluxos migratórios intrametropolitanos, sobretudo, com origem em Belo Horizonte. Nesses municípios, o mercado imobiliário encontrou possibilidades de investimentos para atender à população de menor pode aquisitivo, o que contribuiu para manter a importância de Betim e Contagem no processo de redistribuição residencial da população metropolitana. Nesse sentido, as migrações intrametropolitanas, em direção à periferia industrial, também se associam às oportunidades habitacionais, o que contribuiu para aumentar o estoque de trabalhadores pendulares.

É interessante notar que os deslocamentos pendulares em direção aos vetores de expansão metropolitana, sem se levar em conta os municípios de Betim e Contagem, apresentam um aumento em relação ao ano de 1980. A partir dos dados da Matriz 2, é possível afirmar que a existência de certo grau de atratividade dos empregos, situados na periferia metropolitana, contribuiu para a configuração de um espaço de fluxos pendulares dispersos de pequeno número de trabalhadores.

Antes de se analisar as áreas ocupacionais dos trabalhadores pendulares no ano de 2000, deve-se destacar que as mudanças estruturais da economia brasileira afetaram as características dos fluxos. Na dimensão macroeconômica, conforme aponta Oliveira (2003), a reestruturação produtiva, após a década de 90, modificou os padrões setoriais e ocupacionais da economia brasileira, sendo observada a redução da participação do setor industrial sobre a ocupação e um processo de terceirização das ocupações.

A partir dos dados da Tabela 12, apresentada a seguir, pode-se notar que as mudanças nos deslocamentos pendulares metropolitanos, na comparação entre os anos de 1980 e 2000, acompanharam a reestruturação da economia brasileira. As áreas da economia, polarizadoras dos fluxos pendulares, tiveram a hierarquia redefinida.

Em 2000, a distribuição dos trabalhadores pendulares metropolitanos, entre as áreas da economia, passou a ser concentrada principalmente no setor de serviços, com perda da participação relativa dos setores industrial e da construção civil.

O número de trabalhadores ocupados no setor industrial, da periferia metropolitana, apresentou um aumento muito pequeno, em relação ao ano de 1980. A redução da participação do setor sobre o emprego dos trabalhadores pendulares metropolitanos não se tornou mais significativa, devido ao crescimento dos empregos no setor industrial de Belo Horizonte. Conforme os dados da Tabela 12, o setor de serviços do eixo Betim-Contagem passou a ocupar a maior parte dos trabalhadores pendulares e o setor industrial reduziu sua participação relativa na atração dos fluxos pendulares.

Tabela 12 - Local de ocupação do trabalhador pendular, segundo as áreas da

economia - ano de 2000 – RMBH

Fonte: Elaborado a partir dos microdados do Censo Demográfico de 2000 – IBGE.

Legenda: I. TRANS. – Indústria de transformação; I. CONS. – Indústria da construção civil; S. SER. – Setor de serviços; E. DOM. – Emprego doméstico.

Nota: a coluna “outros” inclui as atividades primárias, as indústrias extrativas e os indivíduos em setores mal definidos.

Abs. Perc. Abs. Perc. Abs. Perc. Abs. Perc. Abs. Perc. Abs. Perc.

Vetor Leste 521 30,8 175 10,3 705 41,7 65 3,8 226 13,4 1.692 100 Vetor Norte 1.195 25,9 442 9,6 2.488 53,8 152 3,3 344 7,4 4.621 100 Vetor Norte-Central 2.766 31,8 735 8,5 4.596 52,8 108 1,2 492 5,7 8.697 100 Vetor Oeste I 437 18,4 204 8,6 1.501 63,3 80 3,4 150 6,3 2.372 100 Vetor Sudoeste 1.178 38,1 187 6,1 1.381 44,7 83 2,7 260 8,4 3.089 100 Vetor Sul 495 11,0 801 17,7 2.086 46,2 443 9,8 693 15,3 4.518 100 Eixo Betim-Contagem 22.862 39,4 3.225 5,6 29.369 50,6 1.363 2,3 1.276 2,2 58.095 100 Periferia 29.454 35,5 5.769 6,9 42.126 50,7 2.294 2,8 3.441 4,1 83.084 100 Belo Horizonte 24.357 11,8 25.211 12,2 123.132 59,4 29.322 14,2 5.150 2,5 207.172 100 TOTAL 53.811 18,5 30.980 10,7 165.258 56,9 31.616 10,9 8.591 3,0 290.256 100 Local de ocupação

Área da economia de ocupação do trabalhador pendular

A concentração dos trabalhadores pendulares em ocupações do setor de serviços, na comparação ente os anos de 1980 e 2000, foi influenciada pela concentração dessas atividades em Belo Horizonte. A partir dos dados da Tabela 12, é possível inferir que somente o setor de serviços, desse município, absorveu 42% do total de trabalhadores pendulares metropolitanos. No caso da periferia metropolitana, esse percentual foi de 15%, com o setor de serviços superando o setor industrial no número de trabalhadores pendulares empregados.

Os setores da construção civil e os empregos domésticos aumentaram o contingente de trabalhadores empregados, em relação ao ano de 1980. No entanto, a participação relativa do setor da construção civil sobre o emprego dos trabalhadores pendulares metropolitanos diminuiu, em relação ao ano de 1980, ao passo que, o setor de serviços domésticos apresentou um aumento. Em conjunto, esses dois setores empregaram um quinto dos trabalhadores pendulares metropolitanos em 2000 (TABELA 12). Assim como no ano de 1980, os empregos, nesses setores, estavam concentrados em Belo Horizonte. Portanto, os fluxos pendulares polarizados pelos setores da construção civil e os empregos domésticos permaneceram com uma orientação periferia-núcleo bem definida.