Capítulo III. O Modelo atual de Ensino Religioso do Colégio Santa Cruz
2. O Modelo atual
2.1. Origem
a saída do Padre Lourenço, no final de 1984, os professores que não queriam fazer essas mudanças, que não se identificaram com ela, se vêm livres para continuarem suas aulas sem alterações e sem muitos questionamentos. Apesar de continuarem a seguir os planos de aula estabelecidos com os temas e ideias, mais avançados (“modernos”), que o Padre Lourenço havia deixado como seu legado.
E assim, não existiu um olhar, de fato, mais aprofundado para esse documento na época, de maneira que foi deixado de lado e logo esquecido.
2. O Modelo atual
2.1. Origem
No lugar do Pe. Lourenço, em 1985, o Padre Corbeil assume a Coordenação da Pastoral do Curso Ginasial. E no ano seguinte, o Padre Charbonneau assume a Coordenação Geral da Pastoral do Colégio, que agrupava todas as áreas relacionadas à Educação Religiosa (Ensino Religioso, Catequese, Ação Comunitária, Cultura Religiosa e Orientação Pastoral). Além de assumirem a Animação Espiritual do Colégio por esse período, que depois, passa para o Padre Filinto C.S.C, padre indiano que chega de Goa, em 1987.
O Professor Cláudio Rondello, como coordenador da Educação Religiosa, seguiu as diretrizes indicadas pelo Padre Lourenço, como por exemplo, a que deixava clara a separação da Catequese e do Ensino Religioso. Mas, a separação dos professores de Ensino Religioso dos de Catequese não aconteceu, como era indicado no Marco Referencial. Talvez, porque faltavam professores com formação especializada nessa área. Todos os professores ligados a esses dois cursos participaram de um processo no qual era apontada
a importância de se separar bem esses dois assuntos;; mas, na prática, não acontecia exatamente assim. O “testemunho pessoal” muitas vezes era apresentado, sem um distanciamento científico necessário, o que causava um conflito entre modelos do Ensino Religioso.
Esse período teve duração de 23 anos, o chamei de 3ª Fase do Ensino Religioso, Fase Teológica-Espiritual, Unirreligiosa. Nessa Fase houve uma maior proximidade das áreas afins à Pastoral (Ensino Religioso, Ação Comunitária, Catequese e Encontro de Jovens), com reuniões que eram realizadas regularmente, para discussões de textos/livros, palestras, compartilhar as vivências e experiências de cada grupo, pesquisas da área, participação em simpósios etc. Houve também uma aproximação, ainda maior, da Ação Comunitária (ação social dos alunos) das aulas e, uma parceria educacional com os Cursos, num sentido de "prática" de solidariedade, ou seja, como a prática do que o aluno tinha assimilado nas aulas de Ensino Religioso e/ou Catequese. Mas não durou a Fase inteira, porque em 2010 (Plano Diretor) a Ação Comunitária passa a ser chamada de Voluntariado Educativo, e torna-se uma atividade pedagógica, já que a proposta passa a ser desenvolver ações ligadas a aprendizados curriculares, em formatos mais próximos a aulas formais, e menos ligada às premissas cristãs, de “missão”.
Mas, por outro lado, como o Marco Referencial tinha deixado algumas ideias importantes sobre a religiosidade ser fundamental para a formação integral do aluno, o grupo de Ensino Religioso, dirigido por seu coordenador,
"mergulha" em estudos para buscar um "corpo" para essa disciplina e uma linha mestra a seguir. Optaram pela busca da espiritualidade como tema central e, em maneiras de como trazê-la para a sala de aula, como visto na descrição da 3a Fase, no Capítulo II. Por meio de pesquisas sobre o tema, chegaram aos textos do Leonardo Boff, teólogo e escritor, os quais foram lidos e discutidos.
Segundo Boff, o ensino religioso deve ser introduzido nas escolas como forma de trabalhar a dimensão espiritual dos alunos.
"Nós ensinamos às pessoas muitas disciplinas, mas não as introduzimos na meditação, a encontrar com seu ‘eu’ profundo, a ter um momento de contemplação do universo, da realidade, descobrir o mistério das coisas, porque é isso que humaniza o ser humano e
desenvolve nele o sentimento de grandeza, de respeito". Para ele, uma das novas funções da escola é incorporar a religião no currículo em benefício de uma educação mais humanística e mais completa, tendo em vista as constantes mudanças culturais.
Ele diz ainda, que é possível trabalhar a religião nas escolas levando-se em conta a diversidade cultural e de crenças. "Em uma sociedade democrática todas as religiões estão em pé de igualdade, então, o Estado não pode privilegiar nenhuma delas porque seria injustiça. Por isso, mais do que falar em religião, podemos iniciar o estudante no mundo espiritual porque é da espiritualidade que vivem as religiões. A espiritualidade é um encontro com o mistério do mundo e da pessoa, com grandes temas como: de onde venho, para onde vou, o que faço neste mundo, o que posso esperar, qual é a minha missão aqui. Essas dimensões espiritais não são monopólio das religiões, são dados antropológicos"52.
Essa postura mostra que a ideia dessa Fase era a de que não podia haver distância do fenômeno religioso. Por isso, achava-se que ensinar espiritualidade dentro da sala de aula seria possível, sendo significativo para o aluno e para o professor.
O Padre José Amaral de Almeida Prado (Animador Espiritual) participou do primeiro encontro da Comissão de Verticalidade de Ensino Religioso apresentando um texto sobre os conteúdos da disciplina, disponibilizado no Plano Diretor de 2012. Segue alguns trechos:
Nos anos 70, no Colégio Santa Cruz, a disciplina curricular então denominada Religião se desdobrou em Ensino Religioso e Catequese. A primeira, como parte do currículo obrigatório, elegeu por conteúdo programático a história e a doutrina das grandes religiões que pontuaram a trajetória da humanidade, bem como a leitura de textos bíblicos e a formação dos estudantes alimentada pelos valores cristãos. (...)
52Disponível em: http://www.itatiba.sp.gov.br/Noticias/27042009-leonardo-boff-qreligiao-deve-
ser-introduzida-nas-escolas-para-uma-educacao-humanistica-e-mais-completaq.html. Acesso em: 20 de setembro de 2017. Leitura indicada pelo Professor Cláudio Rondello.
O caráter ecumênico e pluralista é um ideal cuja consecução exige profundo discernimento entre uma visão antropológica da religião – que em nossa perspectiva pressupõe uma educação sustentada pelos valores cristãos – e um processo catequético, que envolve a fé e a doutrina católica. Sendo um colégio de orientação católica, o Colégio Santa Cruz quer preservar e manter seus princípios religiosos, sem negar sua condição ecumênica e o respeito à liberdade de pensamento e a defesa dos direitos humanos. (...)
A modernidade e a pós-modernidade revolucionaram a nossa visão do mundo e, como consequência disso, transformaram a linguagem com a qual descrevemos esse mundo novo. As ciências, de todo o tipo, nos fizeram rever, por exemplo, a leitura dos primeiros capítulos da Gênesis e o que se via como dogma passou a ser visto como mito sem que isso desmerecesse a obra de Deus, criador do universo.
O texto citado acima serve, no contexto inserido, para lembrar que apesar de ser um colégio pluralista, o Santa Cruz é católico, e como pensar num currículo que concilie essas duas linhas.
A Professora Cristine Conforti, Diretora Pedagógica do Colégio, juntamente com a Professora Renata Usarski, coordenadora da Pastoral – setor ao qual o Ensino Religioso está ligado -, passa a acompanhar mais de perto as reuniões de verticalidade, e decide que as professoras de 2o ano passem a ministrar essa disciplina, e não mais os especialistas, com conteúdo voltado mais a valores, não tanto a religião em si, dada a faixa etária e a proximidade com o professor de classe.
A devolutiva do Professor Afonso Soares seguiu para uma direção que, como primeira ação, apontava para a separação dos professores de Ensino Religioso dos de Catequese, indicação essa já feita pelo Padre Lourenço em 1981 em seu Marco Referencial da Educação Religiosa no Curso de 1o Grau do Colégio Santa Cruz, como já visto no item 1 desse Capítulo. Por isso, o Padre Lourenço foi convidado a dar uma palestra para o grupo de professores do
Ensino Religioso, retomando o Marco Referencial e suas principais ideias, que corroboraram para a escolha da Ciência da Religião como base estruturante dessa disciplina no Colégio. E dessa palestra, participaram também os coordenadores pedagógicos do Ensino Fundamental 1 e 2, seus respectivos diretores, além de coordenadores e a diretora do Ensino Médio, e as professoras de Catequese.
Assim, a partir de 2013, com estudos, formações e encontros de verticalidade, o grupo se preparou para que a mudança pudesse ser implementada em 2014, ano em que o documento do Ensino Religioso do Colégio Santa Cruz é concluído e entregue à Direção do Colégio.
Originando-se desse modo, um novo modelo de Ensino Religioso no Colégio Santa Cruz, juntamente com uma nova Fase, a 4a Fase: teórico-
científica;; que define o modelo atual. Num processo de adaptação, avaliação, revisão e de como está sendo sua implementação e seu funcionamento.
2.2. Documento do Ensino Religioso do Colégio Santa Cruz
Para que seja possível entender as práticas realizadas no Ensino Religioso do Colégio Santa Cruz é importante conhecer o seu documento.
Esse documento está dividido em três partes, uma introdução geral, um descritivo de como é pensado e desenvolvido no Ensino Fundamental 1 e um outro, no mesmo formato, para o Ensino Fundamental 2. Nesses descritivos são apresentados os objetivos, a metodologia e os eixos programáticos da disciplina.
Foi escrito por todos os professores de Ensino Religioso, em conjunto com as coordenadoras pedagógicas dos cursos e a coordenadora da Pastoral;; concluído e oficializado em 2014.
A seguir, o Documento do Ensino Religioso do Colégio Santa Cruz na íntegra: