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Capítulo III – O início da ação planejada

5. Os desafios do novo governo

Certamente, o deficit histórico no que se refere a investimentos públicos na cidade de Santo André não foi suprido nos quatros anos em que se instalou uma nova administração na cidade, grandes carências existiam e grandes carências se mantiveram em diversas áreas. Apesar de afirmar que, relativamente ao conjunto das cidades médias no país, Santo André apresentava dados de atendimento de infra-estrutura de melhor qualidade30, Celso Daniel não diminuía o desafio que esperava o novo governo.

Carências de infra-estrutura geral aguardavam solução (como o desafio de resolver o problema do transbordamento de vários córregos canalizados ou não, inclusive no centro da cidade), ou a questão da urbanização das favelas que desafiava a administração por causa dos poucos recursos disponíveis para a busca de suas soluções (ainda que o percentual da população nesta situação fosse menor em Santo André que em outras cidades de porte semelhante). Também a questão do severo momento de desconcentração industrial por que o país vivia, com grandes impactos sobre a economia do ABC e, principalmente, de Santo André, deveria ser enfrentada com segurança pelo poder público local, inclusive buscando alternativas para garantir sustentabilidade à economia da cidade.

“A lista de carências é extensa e, ainda que desigualmente, estão

espalhadas por toda cidade: pequenas obras como execução de escadarias, vielas, pavimentação de trechos de ruas, urbanização de áreas livres, canalização de águas pluviais (sobretudo em função de enchentes e más condições de saneamento); e inúmeros serviços públicos, transporte coletivo (em especial, no que tange à qualidade), falta d’água (há canalização, mas não há água para consumir), pré-escolas, creches, auxílio ao 3° grau (Fundação de

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Naquele momento, segundo dados apresentados por Daniel, 1989, o percentual de residências dotadas de equipamentos que caracterizam conforto (telefone, geladeira, televisão e carro, por exemplo) eram superiores às médias do país, do Estado de São Paulo, da Região Metropolitana de São Paulo e mesmo da própria região do ABC. O mesmo ocorria a respeito da disponibilidade de infra-estrutura na cidade (redes de água e esgoto, iluminação pública, pavimentação asfáltica serviam mais de 90% do município e quase a totalidade da cidade era servida por linhas de ônibus, coleta de lixo e escolas de 1° grau).

reconhecia que o projeto de governo não “colocava como questão a eliminação das carências”, uma vez que estas não seriam mensuráveis objetivamente. As carências seriam produto de um sentimento de toda a comunidade e variam no tempo e no espaço. O próprio processo de atendimento das mesmas pode gerar novas expectativas e com isso, novas carências. Também a escassez de recursos faria com que esta meta não se cumprisse ainda que seus critérios de definição fossem bastante condescendentes.

A Prefeitura realizou um processo de inversão de prioridades que é demonstrado, no quadro 2, por dados referentes aos investimentos públicos direcionados às áreas de maior alcance social, como saúde, educação e habitação, e que representam problemas de grande monta no Brasil. Segundo balanço realizado pela Prefeitura ao final do mandato, as regiões periféricas da cidade receberam maiores recursos, basicamente, em infra-estrutura e habitação, além de ampliar redes de saúde (com a instalação de nova rede de unidades de saúde básica) e educação (ampliação em 45% o número de vagas na pré-escola) e melhorar o sistema de transporte coletivo (o nível de confiabilidade do sistema cresceu muito e o percentual de viagens cumpridas chegou, em 1992, a mais de 99%).

Pela primeira vez em sua história, Santo André recebeu um projeto consistente de urbanização de favelas, com implantação de serviços públicos (luz, água e esgoto), execução de obras de infra-estrutura (acessos, pavimentação, canalização de córregos, muros de arrimo, escadarias, etc.), inclusive, com ações de saúde, educação e regularização fundiária em diversos núcleos favelados.

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Quadro 2 – comparação de investimentos em áreas sociais, entre 1987 e 1992 – em milhões de dólares americanos.

Área / Ano 1987 (*) 1988 (*) 1989(**) 1990(**) 1991(**) 1992(**)

Saúde 5,1 6,0 11,0 16,8 37,3 39,0

Educação 6,0 6,9 12,9 24,5 31,0 36,2

Habitação 0,5 0,4 1,8 5,9 9,5 21,0

(*) gestão anterior

(**) gestão Celso Daniel (1989-1992)

Fonte: Santo André – 4 anos de direito à cidade: democracia, cidadania e inversão de prioridades, 1992.

Isto não significou que se deixou de investir no centro da cidade, ou em bairros do seu entorno (melhor servidos por infra-estrutura). Também foram realizados investimentos em obras de maior porte, embora em menor escala relativamente ao histórico da administração pública andreense. Foram construídos dois viadutos, um deles buscando integrar os dois subdistritos da cidade ao cruzar, além da ferrovia, também a Av. dos Estados criando uma ligação direta entre estes dois “pedaços” da cidade.

- A nova estrutura de planejamento.

Talvez, uma das maiores contribuições para o aperfeiçoamento da instituição pública local tenha sido, entretanto, a implantação de instrumentos de planejamento e controle para acompanhamento de projetos, estabelecidos pela administração.

Desta forma, foi criada na prefeitura uma estrutura de planejamento com a preocupação central de orientar o desenvolvimento da cidade e democratizar sua discussão. Uma nítida evidência do “status” adquirido, ao longo do tempo, pelo planejamento urbano na administração pública de Santo André estaria no fato de que o Departamento de Planejamento Urbano existente anteriormente se subordinava à Secretaria de Obras. Não existia sequer um banco de dados consistente em toda a Prefeitura de Santo André.

− “elaborar estudos e análises relativos ao desenvolvimento

urbano da cidade, bem como propostas sobre legislação urbana;

− elaborar e acompanhar o orçamento municipal31

;

− gerar dados e informações que contribuam para compreensão

da realidade andreense; e,

− coordenar trabalhos integrados com outras áreas da

prefeitura.”32

Questões importantes para um processo mais amplo de democratização da administração foram implementadas pela nova coordenadoria. A produção e disponibilização de informações para a população foi um dos principais projetos desenvolvidos, tendo sido colocado à disposição da cidade estudos, diagnósticos, levantamentos históricos, entre outros documentos que buscaram contribuir para a qualificação dos espaços de participação da população, abertos na administração pública. Neste sentido, também foram editadas, periodicamente, publicações com indicadores econômicos e o “Sumário de Dados de Santo André”.

A elaboração da proposta do novo Plano Diretor, que seria aprovada com pequenas alterações na gestão seguinte, foi outra ação deste setor de planejamento. Também foi implantada a proposta de “planejamento de bairros”, incialmente através do programa Viva Cidade buscando uma atuação em nível mais localizado, em consonância com as diretrizes mais gerais propostas para a cidade. Foi dado amplo caráter participativo, inclusive com a publicação de documentos (folders, principalmente) sobre os bairros da cidade, com informações coletadas e analisadas em conjunto com a população da vizinhança.

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O orçamento participativo. 32

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