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CAPÍTULO 3: O CONHECIMENTO CIENTÍFICO CONTEMPORÂNEO:

3.4 A Constituição e a Consolidação do Campo Científico

3.4.1 Os Desafios Epistemológicos

A epistemologia científica procura, na definição de uma prática científica adequada, apontar os principais desafios por que passa a evolução do pensamento científico. Nesse sentido, na história da ciência, alguns filósofos procuraram explicar alguns desses desafios epistemológicos, dentre os quais se podem citar Roger Bacon (1214-1294), Francis Bacon (1562-1626) e John Locke (1632-1704). Os desafios epistemológicos correspondem aos obstáculos que promovem a inércia e até mesmo a regressão do pensamento científico. Assim, para Bachelard (1996), quando se procura entender as condições de progresso do pensamento científico, percebe-se que este deve ser colocado em termos de obstáculos, que não se devem a questões externas, tais como a complexidade e a fugacidade do fenômeno estudado, e tão pouco a fragilidade dos sentidos do pesquisador. Trata-se de uma espécie de imperativo funcional marcado por lentidões e conflitos.

Já no século XX, nas instâncias de uma epistemologia contemporânea, Bachelard (1996) desenvolve todo um estudo procurando identificar e caracterizar os obstáculos epistemológicos presentes na produção científica, buscando apontar os meios de superá-los na formação de um novo espírito científico. De modo geral, trata-se de observar inicialmente que as construções do conhecimento científico têm se fundamentado em uma representação geométrica insuficiente.

Mais cedo ou mais tarde, na maioria dos domínios, é forçoso constatar que essa primeira representação geométrica, fundada num realismo ingênuo das propriedades

espaciais, implica ligações ocultas, leis topológicas menos nitidamente solitárias com as relações métricas imediatamente aparentes, em resumo, vínculos essenciais mais profundos do que os que se costuma encontrar na representação geométrica. Sente-se pouco a pouco a necessidade de trabalhar sob o espaço, no nível das relações essenciais que sustentam tanto o espaço quanto os fenômenos (BACHELARD, 1996, p. 7, grifo do autor).

Bachelard (1978a; 1978b; 1996) entende que a formação de um novo espírito científico imprime, além da dialética entre filosofias, um rigor metodológico desenvolvido a partir do uso sucessivo de diversos métodos que possibilitem uma maior aproximação ao objeto de estudo. O estabelecimento de uma mentalidade científica se dá a partir da identificação, análise e superação dos diversos obstáculos epistemológicos. Com efeito, a construção científica se dá a partir da ruptura com as impressões primeiras em um processo contínuo de retificações. É condição essencial, pois, o desenvolvimento da filosofia dialogada entre experiência e teoria.

3.4.1.1 O Imediatismo

No campo epistemológico das ciências sociais, o rigor metodológico exigirá maior atenção nos processos de vigilância e ruptura epistemológicas, notadamente, com as pré- noções, que possibilitam a construção de conhecimentos imediatos. Assim, na formação do espírito científico, o primeiro obstáculo a ser superado corresponde às experiências primeiras, que se colocam antes e acima da crítica. De acordo com Bachelard (1996), o imediatismo tem por fundamento uma filosofia fácil, que se apoia no sensualismo mais ou menos declarado e romanceado, recebendo suas informações diretamente do dado claro, nítido, seguro, constante, que se encontra sempre ao alcance do espírito totalmente aberto. O conhecimento imediato refere-se a uma prática científica característica do século XVIII, que se dá a partir da Natureza, procurando desenvolver as explicações para os diversos fenômenos com base em interesses e lógicas naturais, sempre na ordem da vida cotidiana.

A partir da caracterização da prática científica embasada em experiências primeiras apresentada por Bachelard (1996), que vai desde o contato com o objeto imediato, passando pela construção pré-científica, à formalização do conhecimento na produção e comunicação científica, pode-se perceber que, não obstante o atual desenvolvimento científico, concerne a atividades amplamente praticadas na atualidade. Embora se constituindo em uma característica da produção desenvolvida até o século XVIII, o espírito científico ingênuo contemporâneo ainda é dotado dessa tendência à naturalização do pensamento e ao imediatismo. De outra forma, o apelo às pré-noções está para além de demarcações de períodos históricos.

Para Bourdieu (1998, p. 49), “a força do pensamento pré-construído está em que, achando-se inscrito ao mesmo tempo nas coisas e nos cérebros, ele se apresenta com as aparências da evidência, que passa despercebida porque é perfeitamente natural”. As primeiras noções sobre a realidade se constituem em verdadeiros desafios à produção do conhecimento científico, principalmente, porque, de acordo com Bachelard (1977), o real se apresenta ao pesquisador como um volume compacto de objeções à razão constituída. Contrariamente às construções espontâneas de primeira aproximação, marcadamente imediatas e intuitivas, o objeto científico corresponde a uma construção instruída, na dialética empírico-racional, por intermédio de um progressivo e discursivo jogo de recortes e retificações.

O conhecimento construído a partir de pré-noções, conforme evidenciou Bachelard (1996), busca uma aproximação com o leitor por intermédio de explicações naturais, desconsiderando as possíveis críticas. A experiência imediata sempre guarda uma relação tautológica definida nos espaços das palavras e das definições, excluindo desse processo a perspectiva de retificações de erros, que corresponde à principal característica da evolução do pensamento científico.

As experiências imediatas constituem-se em obstáculos à evolução do pensamento científico justamente porque são formadas a partir de opiniões originárias das primeiras imagens do fenômeno observado. Isso se deve ao entendimento de que a construção científica se dá por intermédio de rupturas em detrimento de continuidades e, nesse sentido, a experimentação não mantém uma relação direta com a observação. O fenômeno científico constitui-se, contrariamente à noção pré-científica, em um fenômeno instruído pela crítica dialética.

Bachelard (1996) aponta como principais características do pensamento imediato: a produção de imagens (concretas, naturais e fáceis) anterior à crítica e acima dela; o sensualismo mais ou menos declarado, tanto dos fenômenos estudados quanto da forma de exposição adotada; a inserção da produção pré-científica na vida cotidiana, mantendo um diálogo direto entre autor e leitor, que possibilita a identificação de um conjunto de elementos, que se constitui em verdadeiro diagnóstico do seu caso particular; e a supervalorização da riqueza material e natural em detrimento da construção artificial e racional. A construção científica e a evolução do pensamento científico se realizam na relação dialética entre a experiência comum e a experiência científica, por intermédio da recorrência e das retificações necessárias.

3.4.1.2 O Generalismo

Os maiores desafios da prática científica não se encontram nos espaços das construções do senso comum ou das primeiras experiências, mas, principalmente, no conjunto de sistemas de conhecimento relativamente coerentes, porém, generalizados de forma inadequada. Embora pareça paradoxal, ao lado do imediatismo, o generalismo se apresenta como um dos principais obstáculos epistemológicos estudados por Bachelard (1996).

A generalização se apresenta de forma bastante complexa no âmbito do pensamento científico porque se funda no método indutivo, assim, a partir da constatação de sequências e/ou frequência de determinados elementos ou fenômenos, ampliam-se as considerações a eles tecidas por intermédio de inferências. Apesar dessa complexidade do método indutivo, Bachelard (1996) entende que as generalizações se constituem em verdadeiros obstáculos epistemológicos quando são realizadas a partir de observações empíricas imediatas. Apesar de a prática da generalização exigir, por sua origem e natureza, observações mais aprofundadas e instruídas, por vezes, ela se transforma em um generalismo imediato que entrava o pensamento científico mais consolidado.

Duas questões precisam ser observadas bem de perto na relação do imediatismo e do generalismo. Primeiro, o imediatismo possibilita a construção de falsos objetos empíricos. Um dos principais equívocos que entravam a consolidação de um campo científico diz respeito à noção espontânea de objeto empírico dado. Conforme destacaram Bachelard (1977), Kuhn (2007) e Fourez (1995), todo objeto científico é construído. Nesse sentido, Kuhn (2007) esclarece que uma disciplina é menos determinada pelo seu objeto do que pelo seu objetivo. Trata-se, portanto, de partir de problemas que possibilitam os recortes epistemológicos do objeto empírico, em detrimento de definições espontâneas pré- estabelecidas. O fato é que grande parte das generalizações tem como fundamento noções primeiras oriundas de falsas evidências. O objeto construído corresponde a um objeto instruído em relações teóricas bem estabelecidas, que promovem a realização de experiências fecundas.

Contrariamente à tendência generalizante da prática espontânea, compreende-se “[...] que a ciência constrói seus objetos, que ela nunca os encontra prontos. A fenomenotécnica prolonga a fenomenologia. Um conceito torna-se científico na proporção em que se torna técnico, em que está acompanhado de uma técnica de realização” (BACHELARD, 1996, p. 82).

Ao mesmo tempo em que a generalização tem como questão complexa intrínseca a indução, tem como pretensão a construção de verdades primeiras, nas quais se fundam as definições, as leis e as teorias. Contudo, para Bachelard (1996), a ciência da generalidade é exclusiva da Filosofia, já que se trata de uma suspensão da experiência e, consequentemente, um fracasso do empirismo inventivo. O problema da generalização se encontra, principalmente, naquelas realizadas a partir de aproximações primeiras, que se constituem em generalidades estabelecidas pelas tabelas da observação natural ou por registros automáticos provenientes de dados do sentido. A constituição de tabelas corresponde à base do conhecimento estático, que exclui perturbações, variações e anomalias. Inversamente, a base da ciência contemporânea corresponde ao espaço das perturbações. Nesse sentido, Bachelard (1996) conclui que “é das perturbações que surgem na atualidade os problemas mais interessantes. Enfim, sempre chega o momento em que é preciso romper com as primeiras tabelas da lei empírica”.

O obstáculo do generalismo está bem presente na necessidade da construção de um pensamento unitário. Nessa concepção, ele se torna mais amplo e fundamentado não mais em uma base empírica, mas em um fundo filosófico. Assim, todas as dificuldades são resolvidas a partir de uma visão geral do mundo, fazendo sempre referências a um princípio geral da natureza. Nesse contexto, Bachelard (1996) esclarece que, na análise de uma produção científica, o literário é um sinal importante, por vezes um mau sinal em produções pré- científicas, uma vez que há a coordenação da grandiloquência com a harmonia em grandes traços, que dificultam a psicanálise do conhecimento. Trata-se de uma marca inegável da valorização abusiva das variáveis gerais que ofuscam e imobilizam a dinâmica das variáveis particulares do fenômeno estudado. É preciso, contudo, observar que o particular que limita o conhecimento é, muitas vezes, mais importante que o geral que o estende vagamente.

3.4.1.3 As Imagens Usuais

Em parte, decorrente das generalizações ligeiras, o espírito científico espontâneo tende a utilizar, em suas extensões, imagens usuais e abusivas. Essas imagens constituem, na maioria das vezes, efetivos desafios epistemológicos de natureza verbal, que estão vinculados a palavras generalizantes que visam a expressar uma variedade de fenômenos. Dessa forma, os fenômenos são expressos por se apresentarem como conhecidos e são reconhecidos por

parecerem conhecidos. A imagem generalizada de determinados fenômenos é sempre expressa em uma única e inquestionada palavra (BACHELARD, 1996).

Esse tipo de obstáculo é bem presente nas formações discursivas do espírito científico, em que se estabelece uma rede de expressões, por vezes metafóricas, para explicar um conjunto de ideias que compõe o fenômeno estudado. Algumas dessas ideias se constituem a partir de análises e associações ligeiras que não passam de mero jogo linguístico. Embora em um degrau acima da experiência imediata, se se pode dizer assim, corresponde à instrução primeira.

As imagens metafóricas usuais se apresentam como obstáculos epistemológicos mais nítidos quando utilizadas como explicação de fenômenos menos imediatos. Para tentar dar cobertura a esses fenômenos, o espírito pré-científico une um conjunto de imagens simplistas que se pretendem explicativas. Em consonância com Bachelard (1996), é preciso considerar que o perigo dessas imagens, notadamente metafóricas, na formação do espírito científico, encontra-se no fato de elas nem sempre se apresentarem como imagens passageiras, levando a um pensamento autônomo, tendendo a completarem-se e a concluirem-se nos espaços da imagem.

A necessidade da generalização e da construção de unidades de explicação de pensamentos, por vezes a partir de um único conceito, reclamam por ideias e imagens sintéticas que conservam um poder sedutor que paralisam a evolução do pensamento científico. Além das características externas às imagens, o espírito científico menos avisado, numa tentativa de aprofundar seu pensamento, procura vincular algumas explicações mais próximas das substâncias dos fenômenos estudados. Em uma análise cuidadosa embasada no zelo metodológico, é possível identificar e analisar uma série de imagens simplistas de primeira aproximação que reivindicam funções explicativas.

3.4.1.4 O Substancialismo

Embora as imagens imediatamente construídas, principalmente a partir de suas características externas, constituam-se em desafios à evolução do pensamento científico, encontram-se longe de serem as mais ativas. Segundo Bachelard (1996), o obstáculo substancialista, como os diversos obstáculos epistemológicos, é polimorfo e se constitui de intuições muito dispersas e até mesmo opostas. Essas formações pré-científicas se realizam a

partir de atribuições feitas ao objeto com fundamento no método do realismo imediato. Refere-se à vinculação a um objeto e à respectiva síntese de todos os conhecimentos em que esse objeto desempenha algum papel.

Assim, há possibilidades múltiplas de atribuição de qualidades, desde seu aspecto superficial e profundo, manifesto e oculto. Da mesma forma, seria possível falar de cada um desses tipos de substancialismo, ou seja, oculto, íntimo e evidente. Porém, essa distinção promoveria o esquecimento vago e infinitamente tolerante da substancialização, bem como o descuido com o movimento epistemológico alternado entre o interior e o exterior das substâncias. O caso é que, nesse contexto, prevalece a experiência externa evidente e, contudo, escapa à crítica pelo total mergulho na intimidade das substâncias (BACHELARD, 1996).

O substancialismo se dedica à explicação espontânea das propriedades a partir da compreensão da substância. Os desafios substancialistas se manifestam por intermédio da noção de que existe uma qualidade íntima do fenômeno ou objeto e de que a sua compreensão está condicionada ao alcance dessa qualidade. Contudo, é preciso considerar que existe uma série de falsas explicações substantivas, que se fundamentam, principalmente, no jogo da linguagem. É nessa perspectiva que Bachelard (1996, p. 139) alerta: “quando o espírito aceita o caráter substancial de um fenômeno particular, perde qualquer escrúpulo para aceitar as metáforas. Insere na experiência particular, que pode ser exata, uma imensidão de imagens tiradas dos mais diversos fenômenos”.

A prática científica pautada na substancialização envolve o espírito de tal sorte que a necessidade de substantificar torna as qualidades metafóricas em essenciais. Essa prática ganha tamanha monta que “o jogo das substantificações diretas pode levar atribuições que, de um para outro autor, se contradizem” (BACHELARD, 1996, p. 138). O progresso do conhecimento científico se dá contra essa substancialização, ou seja, a partir da diminuição dos adjetivos que convém a um substantivo. Trata-se de atribuir aqueles em um complexo processo de hierarquização em detrimento da justaposição.

3.4.2 A Vigilância Epistemológica

A vigilância intelectual ou epistemológica, segundo Bachelard (1977, 1978a), constitui-se em um posicionamento crítico do sujeito-pesquisador diante do objeto e dos problemas de pesquisa a partir dele construídos, principalmente, em situações nas quais este tem interesse naquele objeto de estudo, mas desconhece os contornos teórico-metodológicos que possibilitam sua compreensão mais objetiva. Esse questionamento jamais pode ser visto como uma mutilação ou posicionamento positivo efetivo, mas como um compromisso dialetizante fundamentado em uma teoria da ciência aberta.

Nos processos de constituição e consolidação de um campo científico recente, a vigilância epistemológica tem um relevante papel, uma vez que o corpo teórico-metodológico se apresenta como um conjunto de observações mais ou menos constituídas, promovendo movimentos imprecisos de busca incessantes por outros problemas e temáticas nas áreas próximas. Ademais, em uma perspectiva das condições materiais, a prática científica se encontra mais vinculada às definições de um dispositivo ideológico, em detrimento de construções teórico-metodológicas mais fundamentadas. Com efeito, “procurar não cair na armadilha do objeto pré-construído não é fácil, na medida em que se trata, por definição, de um objecto que me interessa, sem que eu conheça claramente o princípio verdadeiro desse ‘interesse’” (BOURDIEU, 1998, p. 30, grifo do autor).

Assim, compreende-se, conforme Kuhn (2007), que, para um campo científico que se encontra em fase inicial de constituição, os fenômenos observados se apresentam com a mesma probabilidade de parecerem igualmente relevantes. As primeiras observações sempre se apresentam como uma atividade de coleta de dados realizada mais ou menos ao acaso, que se restringe à riqueza dos elementos prontamente disponível a uma primeira aproximação.

Nesse mesmo sentido, Bourdieu (1998) defende que a prática científica deve ser realizada a partir de uma perspectiva da total liberdade intelectual; contudo, essa condição fica vinculada, em contrapartida, a uma vigilância epistemológica extrema. Com efeito, esclarece que, “em suma, a pesquisa é uma coisa demasiado séria e demasiado difícil para se poder tomar a liberdade de confundir a rigidez, que é contrário da inteligência e da invenção, com o rigor, e se ficar privado deste ou daquele recurso entre os vários que podem ser oferecidos pelo conjunto das tradições intelectuais da disciplina [...]” (BOURDIEU, 1998, p. 26, grifo do autor).

Acrescente-se a isso que, embora Bachelard (1996) parta da noção do conhecimento comum como inconsciência, é preciso entender que esse estado de coisa pode atingir uma prática científica. Nesse sentido, faz-se necessário, ao mesmo tempo, uma atitude expectante e uma constante racionalização da experiência. Ao contrário das construções imediatas, situações em que o conhecimento é realizado a partir de justaposições, em que “cada qual pode trazer sua pedra”, para usar suas palavras, o conhecimento científico se desenvolve a partir de uma teoria da racionalização discursiva. Dito de outra forma, as construções científicas contemporâneas têm como fundamento a filosofia dialogada, que promove a instrução do objeto científico. É nesse sentido que a ciência contemporânea tem como base a dialética entre os mundos empíricos e racionais, trabalhando nos espaços da experiência refletida e da invenção racional. O conhecimento científico passa, portanto, pelo crivo do valor de instrução. O fato é que, na epistemologia dialética bachelardiana, inexiste conhecimento por justaposição. Para o autor, o conhecimento científico tem sempre um valor de organização, ou mais precisamente, um valor de reorganização (BACHELARD, 1977).

A vigilância epistemológica se constitui, portanto, em uma atitude expectante constante tanto ao desconhecido quanto ao conhecido, sempre alerta aos conhecimentos habituais e à postura crítica diante das “verdades estabelecidas”, em maior ou menor grau. Em uma palavra, corresponde à suspensão do espírito para posterior adesão ao conhecimento reflexivo, evitando raciocínios apressados e o estabelecimento de relações precoces.

3.4.3 A Ruptura Epistemológica

No processo de construção do conhecimento, as rupturas epistemológicas também se apresentam como indispensáveis, na medida em que o progresso da ciência se dá a partir de aproximações sucessivas da realidade estudada, que imprime cortes com as noções anteriores. De acordo com Bachelard (1977), a construção do conhecimento científico, na contemporaneidade, dá-se por intermédio de rupturas sucessivas a partir do conhecimento comum. A experiência científica se apresenta como uma contradição à experiência comum. Para Bachelard (1996), essa formação comum não se constitui em um fato construído, apresentando-se, no máximo, como justaposição de observações. Os cortes epistemológicos realizados na evolução do pensamento científico têm por premissa a ideia de que a segunda

aproximação da realidade não tem a mesma estrutura epistemológica da primeira aproximação.

A evolução do pensamento científico tem por base a superação das evidências