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CAPÍTULO 3: ELPÍDIO DE ALMEIDA E SUA “HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE”

3.2 O fazer da Campina “grande”

3.2.3 Os espaços da cidade

Para mostrar a grandiosidade de Campina Grande, Elpídio de Almeida explorou ainda alguns espaços da cidade. O primeiro escolhido foi o Açude Velho, hoje principal ponto turístico e símbolo da cidade. Para Almeida, o Açude Velho sempre teve um papel fundamental para a história de Campina Grande. Ele afirma: “Durante muitos anos, pelo restante do século, constituiu o Açude Velho o maior reservatório público do planalto da Borborema. Foi o elemento que assegurou a sobrevivência da vila e depois, durante decênios a da cidade” (ALMEIDA, 1993, p. 106).

De fato, o Açude Velho foi um espaço muito importante para o desenvolvimento da cidade, de 1825 até o início do século XX. Como bem colocou Almeida, era o principal reservatório de água da região. No entanto, Almeida procura mostrar o quanto Campina Grande estava destinada à sua grandiosidade, pois, por conta de sua localização geográfica e do Açude Velho, o autor dizia que a cidade se destacava das demais.

Campina Grande não era simplesmente um pouso, um lugar de descanso para os animais e tropeiros. Mas a estalagem, a parada obrigatória, o ponto terminal da longa caminhada. Aqui operavam-se as permutas, as trocas comerciais.Vendiam- se produtos do sertão, principalmente algodão, couro e queijos, e compravam-se mercadorias para o abastecimento da zona da sêca, em maior quantidade gêneros alimentícios, de preferência rapaduras e farinha de mandioca (ALMEIDA, 1993, p. 107).

Então, para Almeida, Campina Grande não era apenas um local de passagem entre o sertão e o litoral. A cidade se destacou das demais por oferecer outros atributos aos que passavam por ela. Para o autor, o comércio era o ponto chave da cidade, sendo até hoje muito importante para sua economia45. Almeida ressalta os principais produtos vendidos em Campina Grande. Entre eles estão a farinha de mandioca e o algodão, que foram produtos com grandes vendas. Foi por

45 Campina até hoje é conhecida por ser uma cidade comercial e os tropeiros se tornaram o símbolo do

desenvolvimento da cidade. Tanto é que um dos presentes que a administração da Campina Grande deu a cidade em seu centenário foi o Monumento aos Pioneiros que são três estátuas em homenagem aos índios Cariris, aos catadores de algodão e aos Tropeiros (símbolos do início da povoação e do desenvolvimento da cidade), localizando-se as margens do Açude Velho.

causa da comercialização de algodão durante o início do século XX que Campina Grande passou pelo seu período áureo no setor econômico46.

Tornou-se a praça dos escambos na província. Mas para que mantivesse a regalia, cabia- lhe oferecer condições aos tropeiros, dar o de que êles mais careciam: água para os animais, permanentemente em qualquer estação do ano, em qualquer situação climática, mesmo durante as sêcas prolongadas. Sem isso o itinerário poderia ser desviado para a formação de outro centro de mercancia (ALMEIDA, 1993, p. 107).

Para Elpídio de Almeida, Campina Grande conseguiu desenvolver seu comércio principalmente pelo fato de possuir os atributos certos para uma cidade. Dessa maneira, o Açude Velho foi um ponto crucial para a cidade conseguir desenvolver-se. Muitos forasteiros, como os tropeiros, vieram para a cidade atraídos pelo comércio, mas o que o sustentou foi o fato da cidade ter um reservatório de água mesmo em períodos de seca. Ou seja, sem o Açude Velho a cidade não conseguiria se tornar a principal praça de comércio da região.

“O Açude Velho não faltava a essa exigência. Resistiu às estiagens mais inclementes. Suportou sobranceiro às sêcas de 1845 e 1877, retendo água o suficiente para acudir às urgências da calamidade. Foi a salvação de todos. Evitou o êxodo total” (ALMEIDA, 1993, p. 107). O Açude Velho era, portanto, a grande estrela de Campina Grande. Era nesse espaço que os habitantes e visitantes de Campina Grande conseguiam água para beber e realizar as atividades do dia a dia. Lá também era um espaço de socialização aonde as pessoas iam se divertir. Foi justamente por causa do açude que Campina Grande começou sua fama. Para Almeida, se a cidade conseguia se destacar das demais, certamente o açude seria uma das causas.

Outro espaço campinense que Elpídio de Almeida destaca é o Paço Municipal, prédio que existia do lado da catedral, sediando o Fórum e a Câmara Municipal de Campina Grande, mas que foi destruído em 1942, fato de grande lástima para Almeida.

No começo do século era ainda um dos melhores prédios públicos da cidade [...]. Merecia ser conservado, restaurado em sua feição primitiva, transformado em museu do município, como foi o Paço Municipal de Ouro Preto em Museu da Inconfidência. [...] Ao invés dessa destinação gloriosa, afirmativa da evolução de seu povo, testemunho de sua elevação espiritual, foi o monumento destruído até a última pedra, em 1942, sem que nada se construísse no lugar em justificativa à destruição. (ALMEIDA, 1993, p. 174).

46 Mais sobre o assunto conferir: ARANHA, G. B. Campina Grande no espaço econômico regional: estrada de ferro,

Para Elpídio de Almeida, o Paço Municipal foi “o recinto onde se decidiram os feitos de maior importância para a vida política e administrativa do município” (ALMEIDA, 1993, p. 173) e não poderia ter desaparecido da forma que aconteceu. Almeida lamenta tanto a destruição do prédio que coloca uma foto dele na sua obra. Isso porque, segundo o autor, o prédio, por toda carga histórica que possuía, merecia ser preservado e transformado em museu. O que mais nos chama a atenção no trecho acima é que, de forma educada, o autor afirma que as pessoas que permitiram a demolição desse prédio histórico não foram muito inteligentes em sua escolha.

Para mostrar o quanto ter um Paço Municipal em Campina foi importante para a cidade, Almeida escreve que o projeto para a criação do prédio teve como objetivo dar emprego a alguns dos inúmeros flagelados que estavam em Campina Grande por conta da seca de 1877, além de diminuir os gastos com aluguel para instalação dos serviços públicos, logo era “uma obra durável, útil, necessária” (ALMEIDA, 1993, p. 165).

Mas a principal importância, para Almeida, do Paço Municipal é, sem dúvidas, esse prédio ter sido sede de vários acontecimentos históricos da cidade, que, para o autor, era de fundamental importância: “entre suas paredes se desenrolaram os sucessos marcantes da história campinense, [...]. Lá ecoaram gritos de vitória, lamentações de derrotas, discussões flamejantes do legislativo, debates excitantes do judiciário” (ALMEIDA, 1993, p. 173).

O Paço Municipal é importante para Almeida por ele ter sido sede do poder legislativo e judiciário da cidade, transformando-se no espaço onde estavam os homens que julgava serem os mais importantes do município. Disse o autor: “o Paço Municipal serviu também de hospedaria para visitantes ilustres, no tempo em que a cidade era totalmente destituída de hotéis” (ALMEIDA, 1993, p. 174). Não é para menos que Almeida lamente tanto a destruição do prédio público, tamanha é a importância histórica do espaço para o autor.

Mais um espaço destacado por Elpídio de Almeida foi a feira de Campina Grande. No capítulo “Feiras”, ele foca sua escrita nas relações políticas que envolviam a localização da feira, durante o século XIX, mostrando o quanto as questões políticas influenciavam a vida dos campinenses.

Sempre que havia mudança nos partidos, a feira também mudava de lugar. Segundo Eliete Gurjão, as querelas entre as duas facções políticas eram tão acirradas e frequentes que já faziam parte do cotidiano da cidade. Muitas vezes essas lutas partidárias culminavam com episódios de violência. Nos últimos anos da monarquia brasileira, existiam em Campina dois partidos, os

conservadores e os liberais. O partido conservador congregava os comerciantes, geralmente vindos de fora, e o partido liberal reunia ricos proprietários de terras das antigas famílias de Campina Grande (GURJÃO, 2000, p. 27).

Essas brigas entre os partidos eram tão acirradas que dividiam até as ruas da cidade. Segundo Gurjão (2000, p. 32), “a rua de baixo, atual Afonso Campos, era habitada apenas pelos liberais, sua parentela e seus amigos; enquanto a Rua do Seridó, atual Maciel Pinheiro moravam os conservadores e seus correligionários”.

Almeida foi um dos primeiros historiadores a escrever sobre essas disputas. Em relação à feira, o autor assevera: “Se o funcionamento era na Praça Municipal, em frente ao comércio velho de Baltazar Luna, não tinha que duvidar, dominava o Partido Liberal; se era na Rua do Seridó defronte ao mercado novo de Alexandrino Cavalcante, subira o Partido Conservador” (ALMEIDA, 1993, p. 269-270).

Mesmo com o advento da República, quase nada mudou na política campinense. Assim como ocorreu no restante das cidades da Paraíba e do Brasil, a tradicional elite política, tanto do Partido Conservador como do Partido Liberal, continuou exercendo importantes cargos no governo (GURJÃO, 2000, p. 34), mostrando que o poder ainda continuava nas mãos desses homens e suas famílias. Claro que Almeida não entra nessas questões, visto que a sua escrita não é de crítica às elites e sim de glorificação delas.

Não é só no capítulo “Feiras” que Elpídio de Almeida mostra essas querelas políticas. Outro capítulo que tem relação direta com o supracitado é o “Rasga-vales”. Nessa parte do livro, o autor vai descrever esse episódio da história campinense como mais uma marca das disputas pelo poder local.

Era comum naquele ano de 1895, em Campina Grande e em outros locais a irregularidade da emissão de vales, papel impresso com a assinatura do comerciante responsável, cujo fim estava na facilitação das transações comerciais, dada a escassez de moedas de pequeno valor em circulação. Constituía uma infração a dispositivos legais, mas era frequentemente usado, de preferência nos dias de feira, para desembaraço do trôco (ALMEIDA, 1993, p. 254).

Como Almeida descreve, era normal, há muito tempo, o uso de vales no lugar de troco no comércio da cidade, uma prática proibida por lei desde a Constituição de 1891. No entanto, os comerciantes, não só de Campina Grande, mas de todo o Brasil, insistiam em utilizar os vales. Para buscar diminuir essa prática, o Ministro da Justiça, em 1895, encaminhou advertências a

todos os estados, a fim de coibir os vales (GURJÃO, 2000, p. 44). Em Campina Grande, o grupo que estava no poder era o dos liberais, inimigos políticos dos conservadores, que eram os comerciantes. A situação utilizou da força para cumprir determinação do Ministério da Justiça, prejudicando diretamente os comerciantes. Almeida descreve o episódio da seguinte forma:

Em uma tarde de agôsto (1895), dia de feira, combinaram o promotor público (José Honorato da Costa Agra), o prefeito municipal (Francisco Camilo de Araújo) e o delegado de polícia (José Martins da Cunha) acabar com a contravenção, não por meios legais, mas abruptamente, violentamente, estreptosamente. Acompanhados de soldados, saíram rua afora, pela feira, a apreender e a rasgar os vales dos adversários, de preferência os emitidos por Cristiano Lauritzen, Lindolfo Montenegro, Alfredo Espínola e Joaquim Henrique de Araújo.

Como os vales eram tomados aos feirantes e valiam dinheiro, sôbreêstes recaíam os prejuízos. Rasgando o papel não mais podiam receber a importância equivalente. Nem do emitente nem de ninguém. Houve por isso protesto, reação, conflito. No fim do barulho, estava estendido no chão, morto, um soldado de polícia (ALMEIDA, 1993, p. 256-257).

Elpídio de Almeida relata então como foi violento o episódio. José Honorato da Costa Agra era um dos principais líderes do partido liberal, enquanto Cristiano Lauritzen encabeçava o partido conservador. O autor ressalta que os vales emitidos por Lauritzen foram um dos que mais foram rasgados. Além disso, Cristiano Lauritzen e os comerciantes presentes na confusão foram acusados de ter mandado matar o policial, fato que acarretou a prisão dos comerciantes e uma intensa luta nos tribunais, mostrando claramente uma disputa política.

O Rasga-Vales foi um exemplo de como as querelas políticas eram levadas as últimas consequências. Esse incidente ocorreu justamente na feira da cidade, mostrando que esse espaço foi palco de muitos acontecimentos, o que, para Elpídio de Almeida, mostra o lugar dos grandes homens da cidade, dos que eram protagonistas da história e, por isso, mesmo com exemplos pouco gloriosos, como era o caso das brigas, mereciam estar na sua história da cidade.

O Relógio da Matriz é mais um espaço que Elpídio de Almeida destaca. Acreditamos que o autor trata desse aparelho por ele ser um símbolo da modernidade que chega a Campina Grande. Almeida diz que, em 1891, Cristino Lauritzen e os outros intendentes de Campina Grande decidiram investir o dinheiro que havia nos cofres da prefeitura na “compra, na Europa, de um relógio moderno, com mostradores, provido de carrilhão, o qual deveria ser colocado na torre esquerda da igreja, por ficar voltada para a cidade e achar-se em construção mais adiantada” (ALMEIDA, 1993, p. 280).

Para o autor, o Relógio da Matriz serviu para abrilhantar ainda mais a matriz de Campina Grande que, na época, estava sendo reformada. Ela foi inaugurada e aberta ao culto público em 8 de dezembro de 1891, tornando-se naquele tempo o mais bem acabado templo do interior do estado (ALMEIDA, 1993, p. 281). Entretanto, o relógio só foi inaugurado em agosto de 1896. Campina Grande, além de ter uma igreja que se destacava das demais da região, ainda possuía um relógio moderno, vindo da Europa.

Elpídio de Almeida, para mostrar a importância de se ter um relógio no topo da torre da igreja matriz, diz que ele foi, “durante décadas, o orientador único da população, anunciando com regularidade, dia e noite, as horas alegres e tristes, aguardadas umas com ansiedade, recebidas outras com desolação. Por êle eram regulados os relógios particulares, de bôlso e de parede, e por êle se guiavam os que não tinham relógio” (ALMEIDA, 1993, p. 286). Mostrava, assim, que o investimento que os intendentes fizeram na compra do relógio foi bem aplicado.

Mas o autor finaliza o capítulo sobre o Relógio da Matriz lamentando, mais uma vez, o fato de a administração da cidade não cuidar bem do seu patrimônio, já que o relógio parou e ninguém tomou providencias para consertá-lo. Completa dizendo que, em Santos/SP, o relógio da igreja de Nossa Senhora do Rosário parou, mas foi recuperado e voltou a funcionar. Almeida termina defendendo que “Campina Grande, em preparativos para a comemoração de seu centenário como cidade, deve imitar o exemplo” (ALMEIDA, 1993, p. 287). Vemos então que a preocupação de Almeida é que a data da comemoração do centenário chegue e a cidade não tenha mais a memória desses monumentos que testemunharam sua história.

Outro espaço relembrado, mas que inexiste atualmente, é o cemitério velho, construído em 1857 no centro da cidade. Conforme Almeida, o cemitério nasceu como parte de um plano de higienização da cidade, e também por conta de uma lei que obrigava que os sepultamentos fossem feitos em cemitérios e não mais em igrejas. Dessa forma, o cemitério tinha que atender toda a população. Almeida afirma:

Construído para atender a uma população de dois mil habitantes, a da vila na época, que se pensava não aumentar, era de tamanho reduzido, com cêrca de trinta metros de frente por outros tantos de fundo. Não foi de se admirar, pois, achar-se completamente cheio em 1899, sem lugar de abertura de uma cova (ALMEIDA, 1993, p. 292).

O cemitério não teve capacidade suficiente para receber todos os mortos de Campina Grande. Então um outro foi construído, ficando abandonado o antigo.Com o passar do tempo, o

cemitério velho ficou em ruínas. Mais uma vez, Elpídio de Almeida volta a insistir no descaso com os antigos prédios públicos, os quais eram os guardiões da memória da cidade. No caso do cemitério, não é apenas a memória das elites locais, como o autor costumava relembrar, mas, como ele mesmo coloca: “na velha necrópole jaziam os ossos de milhares de campinenses, de ricos e pobres, de velhos e crianças, de senhores e escravos” (ALMEIDA, 1993, p. 296).

Almeida ainda afirma que parte da população de Campina tentou salvar o cemitério da destruição. A partir de uma campanha feita pela Igreja Católica, foram angariados fundos para a manutenção do espaço. “Cumpriu o grupo de devotados campinenses a obra cristã que em boa hora foi empreendida. Mereceu aplausos da consciência pública” (ALMEIDA, 1993, p. 299). No entanto, mesmo após o esforço na década de 1930 o cemitério foi demolido. Os ossos que lá estavam foram transferidos para outro cemitério e jogados em uma vala comum. Segundo Almeida, não deixaram vestígio do antigo cemitério.

O autor termina o capítulo sobre o cemitério com uma comparação no mínimo curiosa. Almeida diz: “Enquanto na Palestina, a tumba de Raquel, preferida de Jacó, pode ainda ser vista, em Campina Grande não há vestígio dos túmulos que guardavam os restos mortais dos fundadores da cidade” (ALMEIDA, 1993, p. 300). Almeida, com essas palavras, parece querer comparar a visibilidade de um túmulo de um personagem bíblico com um cemitério de uma pequena cidade do interior paraibano. Comparação um pouco ousada, mas que mostra que Elpídio acreditava, ou pelo menos queria acreditar, na grandiosidade e na importância da cidade da qual ele está escrevendo a história.

Almeida não poderia deixar de falar da estrada de ferro, grande símbolo do progresso que chegou a Campina Grande em 1917. No entanto, praticamente todo o capítulo que ele destinou à chegada do trem é dedicado a exaltar as figuras de Irineu Joffily e, principalmente, Cristiano Lauritzen, que foi o homem que mais se esforçou para conseguir o prolongamento da via férrea de Itabaiana/PB até Campina Grande. De acordo com Almeida, no dia em que foi inaugurada a estação ferroviária na cidade, Lauritzen “sentiu naquele instante que o progresso de Campina Grande estava assegurado, que a cidade, que adotara como sua, iria crescer rapidamente, tornando-se a mais importante do interior do Nordeste” (ALMEIDA, 1993, p. 348-349).

Com certeza, Cristiano Lauritzen sabia que a cidade ia crescer com a chegada do trem. Caso contrário, ele não se esforçaria tanto para trazer a estrada de ferro. Ele, como comerciante, ganharia muito com os benefícios de empreendimento como esse. Porém, é um equívoco dizer

que Lauritzen presumiu que Campina Grande seria a maior cidade do Nordeste. Na verdade, acreditamos que Almeida coloca essa frase para mostrar o quanto o trem ajudou Campina Grande a se desenvolver e por isso ela se tornou uma cidade reconhecida no interior da região.

Foi com a chegada do trem que o desenvolvimento iria chegar à Campina Grande, pois, como escreveu Irineu Joffily, em 1889, em seu jornal “A Gazeta do Sertão”, a grandiosidade de Campina, até então, era apenas uma aspiração. Para isso, fazia-se necessário que a administração da cidade usasse de todos os meios para que essa aspiração se tornasse realidade. Assim, uma das primeiras medidas tomadas para desenvolver o município foi a chegada do trem. Conforme escreve Almeida, “logo que se tornou extremidade da linha férrea, entrou a cidade em crescimento rápido, excedendo as previsões mais otimistas. De 731 casas em 1907, passara a 1216 em 1913” (ALMEIDA, 1993, p. 348-349). Mesmo em desenvolvimento, Campina ainda estava longe de ser uma cidade grande, como queria mostrar Elpídio de Almeida.

O Açude de Bodocongó é o último espaço destacado por Almeida. Esse açude foi construído para suprir o abastecimento de água de Campina Grande após a chegada do trem, que trouxe com ele uma quantidade de pessoas bem maior do que a cidade estava acostumada a acomodar. Almeida vai contar então a história da construção do açude. Ao final, ele admite que, mesmo com o gasto de uma grande quantidade de dinheiro público, o açude não serviu para abastecer a cidade, pois a água era muito salubre.

Contudo, o autor ressalta que apesar disso “o trabalho não se perdeu. Se não prestou serviços imediatos, tornou-se mais tarde o fator decisivo da formação de um novo bairro, o bairro industrial, que tanto está concorrendo para o enriquecimento e a propagação do nome de Campina Grande” (ALMEIDA, 1993, p. 348-349).

Mesmo que a criação do Açude de Bodocongó tenha sido um grande fiasco, Almeida ainda procura argumentos para mostrar a sua importância. O autor deve ter escrito sobre esse espaço por ele ser uma grande obra pública. Desse modo, como ele se propôs a escrever toda a história da cidade, não podia abrir mão de mencioná-lo. E mesmo sendo uma construção que não teve serventia, Almeida ainda afirma que ela ajudou no desenvolvimento da cidade. Para nós, isso

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