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OS FENÔMENOS MEMÉTICOS DA INTERNET A SEREM

No documento Jaime de Souza Júnior (páginas 62-78)

Esquema 2 – Princípios constitutivos do processo de propagação de fenômenos

3 OS FENÔMENOS MEMÉTICOS DA INTERNET A SEREM

Neste capítulo, apresentaremos ao leitor os fenômenos meméticos que servirão de base para a efetiva condução do que chamamos, no Capítulo 2, de análise relacional. Já vimos que, na dimensão externa de propagação, é a partir da propalação das unidades de propagação desses fenômenos que os internautas dão início a tais eventos digitais, indicando uma série de relações que vêm à tona por meio de um processo de memetização dessas referidas unidades.

Antes de investigarmos essa dinâmica de relações, a mesma precisa ser ilustrada, para que o leitor entenda, posteriormente, como os fenômenos meméticos surgem e como sua evolução pode ser explicada, observando-se os aspectos de investigação contidos em uma análise relacional apontados no quadro 4.

Consagrados no âmbito das redes sociais, mas podendo não se restringir a esses domínios digitais, os fenômenos meméticos da Internet resultam da propagação de um memeplexo linguístico-midiático.

Através desse memeplexo, como vimos no Capítulo 2, surgem as unidades de propagação memetizadas pelos internautas. Tais unidades podem tormar a forma de expressões, imagens, tirinhas, vídeos meméticos, ou uma simbiose de todas estas modalidades, fazendo surgir um grande aglomerado de elementos responsáveis pelo estabelecimento de fenômenos meméticos. Assim sendo, buscamos fazer com que o leitor possa visualizar e entender a dinâmica de propagação dos seguintes fenômenos locais que apresentaram alcance midiático global a serem analisados no presente estudo: 1) “#Tenso”; 2)

“Que deselegante”; 3) ”Nana em desastres”.

3.1 “#Tenso” : contexto de surgimento e evolução do fenômeno

De acordo com a memepedia64 do site Youpix.com, “#Tenso” é um dos fenômenos meméticos da Internet mais populares da Web. O fenômeno surgiu com os internautas propagando uma dada foto que, depois de ampliada, mostrava algo que causava um

64 Disponível em: <http://youpix.com.br/memepedia/> Acesso em: 16 out. 2013.

sentimento de “surpresa”. A imagem era disposta em várias subdivisões de quadros, aplicando-se um zoom específico em um participante que exibia alguma expressão reveladora, ou que surpreendia o visualizador da mesma.

Ainda de acordo com o site, muitos creditam ao “#Tenso” a alcunha de primeiro fenômeno memético da Internet 100% brasileiro. O site Know Your Meme registra que o início do fenômeno data do ano de 2008, permanecendo a expressão em uso até o presente ano.

O “#Tenso” foi o primeiro fenômeno memético a ser manifestado através do uso da Língua Portuguesa, pois se originou a partir do “VT” (Vale Tudo, sessão do UOL Jogos65).

Similaridades, ainda de acordo com a memepedia do Youpix, também foram apontadas entre o

“#Tenso” e outros fenômenos meméticos, tais como o “Kurt Reactions”66 e “Reaction Guys”67.

A certeza sobre como o fenômeno memético “#Tenso” evoluiu na Web é algo que até os responsáveis pela memepedia68 não conseguem explicar de modo exato. Não se sabe quem foi o responsável pela migração de “#Tenso” do já mencionado fórum “Vale Tudo” para outras redes sociais e comunidades da Web.

A equipe do Youpix.com analisa que o legado que “#Tenso” deixou foi muito além de novos fenômenos meméticos locais. Os responsáveis pela memepedia explicam que a sede por material fácil e pronto fez com que muito mais criações oriundas dos fóruns fossem parar em blogs. Vejamos, a seguir, os estágios e as formas de propagação do “#Tenso”, enquanto fenômeno memético da Internet, conforme figuras 8, 9 e 10:

65 http://forum.jogos.uol.com.br/vale-tudo_f_57

66http://knowyourmeme.com/memes/kurt-cobain-reaction#.Tekw8VuHiSo

67http://knowyourmeme.com/memes/reaction-guys-gaijin-4koma#.Tekw9FuHiSo

68 Disponível em: <http://youpix.com.br/memepedia/>Acesso em: 16.out.2013.

Figura 8: Recurso memético-midiático para facilitar a propagação de imagens nos moldes do fenômeno“#Tenso”. Disponível em:<http://www.tensao.net/>Acesso em: 28 out.2013.

Figura 9: 6 exemplos de imagens em painel múltiplo propagando o fenômeno memético “#Tenso”. Disponível:<

http://tenso.tumblr.com/page/7>Acesso em: 28 out. 201369.

69 As setas que aparecem nas imagens foram colocadas para auxiliar o leitor, isto é, não estavam nas imagens originais.

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Figura 10: A taxa de propagação diária da expressão “#Tenso”, a partir do Twitter.com, em 2013. Disponível:<

http://topsy.com/analytics?q1=%23tenso&via=Topsy>Acesso em: 28 out. 2013.

Pelo gráfico, mostrado na figura 12, vemos que “#Tenso” ainda é um fenômeno memético de grandes proporções e relevante dentro da memesfera. Sua taxa de propagação diária, indicada pela seta, evidencia o relatado.

3.2 “Que deselegante”: contexto de surgimento e evolução do fenômeno

O contexto de surgimento do fenômeno memético em questão originou-se a partir de uma invasão de transmissão, ocorrida ao vivo, quando da apresentação do Jornal Hoje, da Rede Globo de televisão, no dia 31/10/2011. A ação foi executada por homens não-identificados. Estes empurraram a jornalista Monalisa Perrone, que falava ao vivo com Sandra Annenberg e Evaristo Costa (âncoras do telejornal citado).

Alguns segundos após a invasão, ambos os âncoras lamentaram e criticaram o ato de tais indivíduos e foi aí que, então, a jornalista Sandra Annenberg, como comentário final, utilizou a expressão “Que deselegante!” para avaliar a ação executada por aqueles homens.

Após alguns minutos do acontecido, um vídeo do episódio é postado no site Youtube.com – primeira rede social pela qual o fenômeno começou sua trajetória de propagação. Em junho de 2012, o vídeo já contava com mais de 2.096.377 visualizações, conforme figura 11, a seguir:

Figura 11: Vídeo memético que deu origem ao fenômeno memético “Que deselegante”. Disponível em:<

http://www.youtube.com/watch?v=IB_Nigxxzx0> Acesso em: 04 jun. 2012.

Logo após a sua postagem, o episódio retratado no vídeo e a expressão usada por Sandra Annenberg avançam para outras redes sociais, ganhando diversos usos e atendendo a diversos contextos, o que geraria uma repercussão, agora, por internautas usuários do microblog Twitter.com, conforme visualização na figura 12, a seguir:

Figura 12: “Que deselegante”, saindo da escala local e alcançando o destaque global. Disponível em:

<http//twitter.com/#!/search/ “QUE DESELEGANTE”>. Acesso em: 31 out. 2011.

Em um lapso de tempo curtíssimo e com uma considerável quantidade de menções, a expressão “Que deselegante” consolida-se na Web como unidade de propagação do fenômeno em questão. O site Youpix.com acompanhou a taxa de propagação do “Que deselegante”, conforme podemos observar nas figuras 13,14 e 15, a seguir:

Figura 13: Proporções de usos (36.588) e propagação da expressão “Que deselegante”, algumas horas após o episódio da invasão. Disponível:< http://youpix.com.br/memepedia/que-deselegante/>Acesso em: 28 nov. 2011.

Figura14: Nível de interesse em “Que deselegante”, no mês de surgimento da expressão memética. Disponível:<

http://youpix.com.br/memepedia/que-deselegante/>Acesso em: 28 nov. 2011.

Figura 15: Inclusão definitiva de um fenômeno memético da Internet na memepedia. Disponível:<

http://youpix.com.br/memepedia/que-deselegante//>Acesso em: 28 nov. 2011.

Figura 16: A taxa de propagação diária da expressão “Que deselegante”, a partir do Twitter.com, em 2013.

Disponível em: <http://topsy.com/analytics?q1=que%20deselegante%20&via=Topsy>.Acesso em: 28 out. 2013.

3.3 “Nana em desastres”: contexto de surgimento e evolução do fenômeno

“Nana em desastres” é o nome de uma página70, no site Tumblr.com, que abriga imagens relacionadas ao referido fenômeno memético. A página surge por ocasião de uma matéria publicada no site Ego71. Com base nas 6 fotos, conforme figura 17, e no conteúdo da matéria de Ego, a modelo Nana Gouveia estaria a trabalho, nos Estados Unidos, juntamente com seu fotógrafo, marido e cidadão americano, Carlos Keyes. De acordo com o referido site, a intenção de ambos seria a de mostrar o resultado dos danos causados pelo furacão Sandy, que passara por Nova York em 30/10/2012.

Alguns internautas, aparentemente, discordaram da maneira como o texto da matéria fora apresentado. Este, por um lado, apontava parcialmente para um propósito de mostrar efetivamente os referidos danos causados pelo furacão, enquanto que, por outro prisma, as fotos e falas de Nana, veiculadas na mesma matéria, mostravam certa falta de envolvimento da modelo com o tema central da reportagem. Nesse vácuo, surge, na rede social Tumblr, a página “Nana em desastres”.

70 Disponível em:< http://nanagouveaemdesastres.tumblr.com/> Acesso em: 25 jul. 2013. A referida página do Tumblr.com recebeu envios de imagens de uma comunidade do Facebook.com:<

https://www.facebook.com/NanaGouveaEmDesastres?fref=ts>. Acesso em: 25 jul. 2013.

71 Disponível em:< http://ego.globo.com/famosos/noticia/2012/10/nana-gouvea-registra-em-fotos-danos-do-furacao-sandy-em-ny.html> Acesso em: 25 jul. 2013.

Figura 17: Fotos do site Ego, que serviram de base para o surgimento do fenômeno “Nana em desastre”

Disponível em:<http://ego.globo.com/famosos/noticia/2012/10/nana-gouvea-registra-em-fotos-danos-do-furacao-sandy-em-ny.html> Acesso em: 25 jul. 2013.

As fotos utilizadas na matéria do site Ego passaram a ser copiadas e memetizadas.

Muitas das fotos, depois, passaram a ser alocadas pelos internautas no site Tumblr, ou redirecionadas desse site para o Facebook, a fim de que neste último também fossem armazenadas e propagadas. Nessas fotos, agora já inseridas no escopo do fenômeno como imagens meméticas, conforme exemplos da figura 18, a modelo passa a ser representada de diversas formas e em diversos tipos de “desastres”.

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Figura 18: Exemplos de imagens meméticas propagadas no fenômeno “Nana em desastres72”. Disponível em:<

http://nanagouveaemdesastres.tumblr.com/ > Acesso em: 25 jul. 2013.

72Imagens com legendas em Português e Inglês (as de nº 1 e 3), oriundas da página “Nana em desastres”. Todas criadas a partir da foto f – localizada na figura 17, proveniente do site Ego.

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O sintagma “Nana Gouvea” – assumindo a forma de expressão memética – também contribui, em particular no microblog Twitter.com, para a propagação do fenômeno memético

“Nana em desastres”. Servindo a diversos propósitos, os internautas procuram expandir o alcance da expressão, fazendo com que o sintagma apresentasse diversos padrões de propagação. Através de uma mesma configuração formal (Nana + Gouvea), são percebidos propósitos e usos diferentes dessa expressão. Vejamos os exemplos dessa propagação e como ela se deu, conforme disponibilização nas figuras 19, 20, 21 e 22:

Figura 19: Taxa de interesse no sintagma “Nana Gouvea”, em 2012. Disponível:<

http://www.google.com.br/trends/explore#q=nana%20gouvea&cmpt=q> Acesso em: 25 jul. 2013.

Figura 20: Propagação do fenômeno “Nana em desastres”, em 2012, momentos após o ocorrido, no Twitter.com Disponível

em:<http://youpix.com.br/wp-content/iploads/2012/10/mentions_nanagouvea_Twitter_30outubro.jpg> Acesso em: 25 jul. 2013.

Figura 21: O sintagma “Nana Gouvea” transformado em expressão memética. Disponível em: <

http://youpix.com.br/memepedia/meme-do-dia-nana-gouveia-em-desastres/ >Acesso em: 28 nov. 2012.

Figura 22: Inclusão definitiva do fenômeno memético da Internet na memepedia. Disponível em: <

http://youpix.com.br/memepedia/meme-do-dia-nana-gouveia-em-desastres/ >Acesso em: 28 jul. 2012.

Figura 23: A taxa de propagação diária do sintagma “Nana Gouvea”, a partir do microblog Twitter.com, em novembro de 2013. Disponível:<http://topsy.com/analytics?q1=nana%20gouvea%20&via=Topsy>. Acesso em:

28 jul. 2013.

Neste capítulo, apresentamos ao leitor os fenômenos meméticos que servirão de base para a efetiva condução do que chamamos, no Capítulo 2, de análise relacional.

Como vimos, é a partir da propalação das unidades de propagação desses fenômenos que os internautas dão início a tais eventos meméticos, indicando uma série de relações.

Assim, procuraremos explicitar que conexões são criadas entre quem produz uma unidade de propagação, quem a propaga, como essa unidade e as práticas que a constituem são passadas adiante, para que/quem ela é direcionada, e que tipos de ambientes digitais esse processo atinge, a fim de que os princípios constitutivos (sejam tais de natureza memética, midiática ou linguística) do processo de propagação desses fenômenos sejam evidenciados.

4 A LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL E SUAS CATEGORIAS

No documento Jaime de Souza Júnior (páginas 62-78)