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CAPÍTULO 3: ELPÍDIO DE ALMEIDA E SUA “HISTÓRIA DE CAMPINA GRANDE”

3.2 O fazer da Campina “grande”

3.2.1 Os grandes personagens da história de Almeida

Um dos elementos para mostrar essa grandiosidade foi a escolha dos personagens que iriam compor a sua “História de Campina Grande”. Os primeiros a ganhar destaque foram os membros da família Oliveira Ledo. Elpídio de Almeida, principalmente nos dois primeiros capítulos do livro, foca na ação desses homens em colonizar o interior paraibano. Para isso, utiliza vários requerimentos de sesmarias, patentes, cartas, para mostrar como se deu a entrada desses homens no interior da província.

Os primeiros da família que são relembrados são Antônio de Oliveira Ledo, Custódio de Oliveira Ledo (irmãos) e Constantino de Oliveira Ledo (filho de Custódio O. Ledo). Esses são os primeiros a requerer terras na Capitania da Paraíba ao governo português junto com outras pessoas.

Antonio de Oliveira Ledo, Custódio de Oliveira Ledo, Constantino de Oliveira Ledo, Luís Albenaz, Francisco Oliveira, Maria Barbosa, e o alferes Sebastião Barbosa de Almeida, todos moradores neste Estado, que na Capitania da Paraíba, nas cachoeiras de uma data que concedeu ao Conde de Atouguia ao Governador André Vidal de Negreiros, há terras devolutas que nunca foram dadas nem cultivadas por pessoa alguma [...]. e ora os suplicantes as têm descoberto e povoado com gados de dois anos a esta parte sem contradição alguma, e outrossim tem servido à Sua majestade, que Deus guarde, de vinte anos a esta parte, com grande dispêndios a sua fazenda, e resulta conveniêntemente ao

bem comum e às rendas de Sua Majestade povoar-se o sertão com toda largueza, que só é estimada do gentio indoméstico. Pedem a V. Excelência que lhes faça mercê a eles suplicantes, em nome de El-Rei Nosso Senhor, dar de sesmarias 30 léguas de terras a todos os referidos nesta petição [...] (ALMEIDA, 1993, p.15).

O primeiro documento utilizado por Almeida para mostrar a importância dos Oliveira Ledo foi um trecho de uma carta de concessão de sesmarias dada pelo governador geral, em 1665. Para Almeida, essa concessão “tem especial significação histórica” (ALMEIDA, 1993, p.15), pois mostra, pela primeira vez, membros da família Oliveira Ledo requerendo terras na Capitania. Apesar do documento mostrar que não era apenas a família Oliveira Ledo que estava colonizando o interior do que hoje é a Paraíba, Almeida só ressalta a importância dos Oliveira Ledo nesse empreendimento.

Elpídio de Almeida lança sua atenção nessa família, pois o autor entende que tivera uma grande influência na conquista do interior paraibano. Como mostra o fragmento acima, os Oliveira Ledo estavam na Capitania da Paraíba para povoá-la e com seus serviços à coroa portuguesa, conseguiram grandes porções de terras e muita influência com as autoridades portuguesas e com os moradores do local, tornando-se uma das principais famílias do interior dessa Capitania.

A família Oliveira Ledo, segundo Almeida, tem suas origens em Portugal. Quando chegaram à América portuguesa, se instalaram na Bahia e, objetivando lucrar com o povoamento do interior, saíram para a Capitania do Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Norte), em 1664, indo, posteriormente, para a Capitania da Paraíba.

As primeiras sesmarias que essa família conseguiu foram doadas pela coroa portuguesa. A doação de terras era uma prática comum durante o Brasil Colonial e visava o povoamento.Por isso, no trecho do documento que citamos, os requerentes ressaltam que as terras que haviam descoberto logo foram povoadas por eles, assim, pediam ao governo a sua posse. Os Oliveira Ledo se tornaram arrendatários de vários lotes de terras, tanto no interior da Capitania do Rio Grande, como também no interior da Capitania da Paraíba (SOUSA, 2012).

Ainda segundo Costa (2012), muitas famílias saíram de Portugal e vieram para a América Portuguesa. Através do povoamento de sesmarias, conseguiam prestígio que, na maior parte das vezes, não conseguiam em suas terras de origem. Os Oliveira Ledo gostaram tanto desse prestígio conseguido nessa região que se auto intitulavam a “melhor família da terra”. Ora, se eles próprios se intitulavam os melhores, porque Almeida os deixaria de fora da história de Campina Grande?

Para Almeida, os homens dessa família eram destemidos e buscavam sempre servir da melhor forma a Coroa Portuguesa, mostrando-se sempre preocupados com o dever de povoar as terras de seu novo lar. O primeiro dos Oliveira Ledo que Almeida chamou a atenção por sua atuação na capitania foi Antônio de Oliveira Ledo. Segundo Almeida, “o que não resta dúvida é que, desde a chegada à Paraíba, em 1663, não descansou Antônio de Oliveira Ledo no desbravamento dos sertões da capitania, descobrindo terras, domesticando índios, promovendo o povoamento” (ALMEIDA, 1993, p. 18).

O autor destaca a figura de Antônio de Oliveira Ledo pelo fato de ele ter sido o primeiro da família a ocupar o cargo de capitão-mor, fundando diversas vilas e povoações no interior da Capitania da Paraíba. Por isso, Almeida o adjetiva como sendo “a maior autoridade no sertão da Paraíba, prestigiado pelo governo geral da capitania” (ALMEIDA, 1993, p. 20). Como foi mencionado anteriormente, por promover a povoação, esses homens ganharam muito prestígio e terras.

O que nos chama atenção também é o olhar de Almeida em relação aos indígenas. Por fazer uma história na qual as fontes são as detentoras da verdade histórica, compartilha com o discurso colonizador e compactua com a visão do índio da historiografia tradicional, que vê esse grupo étnico como inferior e que teria que ser integrado à cultura branca para conseguir “civilizar-se”.

Várias são as passagens que mostram os índios como “gentio bárbaro”, que era preciso “domesticá-los, em proveito do povoamento e para não ser incomodado na expansão pastoril incipiente” (ALMEIDA, 1993, p. 17). Assim, para Almeida, os índios, que eram os antigos moradores dessas terras, atrapalhavam o seu desenvolvimento, o que só poderia ser alcançado a partir da atuação de homens como Antônio de Oliveira Ledo, que entrava nos sertões para povoá- lo, construindo aldeamentos e vilas.

Outro membro da família retratado é Constantino de Oliveira Ledo, sobrinho de Antônio de O. Ledo, continuando o trabalho de seu tio. Almeida não entrou em detalhes sobre ele. Apenas destacou que Constantino de Oliveira Ledo deu continuidade aos trabalhos do tio e prestou bons serviços para a coroa portuguesa.

Elpídio de Almeida relata o trajeto desses dois homens para chegar a quem ele considera ser figura central dessa família para a história de Campina Grande, Teodósio de Oliveira Ledo, o membro dos Oliveira Ledo que entrou para a história como o fundador da cidade. Teodósio de

Oliveira Ledo era irmão de Constantino de Oliveira Ledo e assumiu o cargo de capitão-mor no lugar de seu irmão, quando esse faleceu, em 1694.

Na história oficial de Campina Grande, Teodósio de Oliveira Ledo, em 1697, vinha do sertão da Capitania da Paraíba com um grupo de índios Ariús, que desejavam ser catequizados. O capitão-mor decidiu levar os indígenas para a cidade da Parahyba (atual João Pessoa) e no meio do caminho encontrou uma campina. Lá, resolveu aldear os Ariús. Essa povoação deu origem à cidade de Campina Grande.

No entanto, a ideia de que Teodósio de Oliveira Ledo foi o fundador de Campina Grande é uma convenção histórica. Desde 1965, José Elias B. Borges, em um artigo para a “Revista Campinense de Cultura” (a mesma que Elpídio era um dos editores-chefes), aponta que seria impossível que Campina Grande tivesse sido fundada em 1697, já que no ano seguinte Andreas Horatiy publicou um mapa em Roma, no qual constava uma aldeia de índios com nome de Campina Grande. Levando em consideração o tempo que um mapa levava na época para ficar pronto, é impossível a povoação ter sido fundada por Teodósio de Oliveira Ledo e um ano depois constar em um mapa publicado em Roma. Almeida menciona esse mapa no livro, mas se furta de analisar a informação, que apresenta da seguinte forma:

Um ano após o aldeamento já configurava como povoação no mapa de Andreas Horatiy, aproveitado pelo frei Gioseppe de Santa Tereza, em sua IstoriadelleGuerre Del regno

Del Brasile, publicada em Roma, em 1698. Esclarece Câmara Cascudo: “O aldeamento de Ariús, em 1697, já aparece no mapa de Horatiy com nome de “Campina Grande”, tendo um indicador de povoação, um ano depois, data da publicação do livro de frei Gioseppe de santa Tereza (ALMEIDA, 1993, p. 35).

Para Almeida, o fato de ter um mapa na Europa um ano após a fundação da Aldeia por Teodósio de Oliveira Ledo só reafirma a importância desse espaço. Em nenhum momento, Almeida cogita a possibilidade de já existir um aldeamento antes de 1697. No entanto, José Elias Borges36, provavelmente após ter lido o livro de Almeida e ter realizado suas pesquisas sobre as etnias locais, mostrou que já havia uma aldeia de índios Cariris, que se chamava Campina Grande.

36 José Elias B. Borges foi o maior pesquisador sobre a etnografia paraibana. Fez estudos etnográficos e linguísticos

que modificou o que se conhecia sobre as etnias do estado no período proto-história. Para mais sobre o assunto ver:

O etnólogo José Elias Borges. Disponível em:<http://mhn.uepb.edu.br/Boletins/Boletim_52_OUT_2010_Especial

Desse modo, vemos que Teodósio de Oliveira Ledo aldeou os índios Ariúsno já existente povoado de Campina Grande. No entanto, foi Teodósio de Oliveira Ledo que mandou uma carta para o Governador-Geral, informando que aldeou um grupo de índios nessa localidade e trouxe consigo um padre para fundar uma missão no local. Assim, oficialmente, foi Teodósio de Oliveira Ledo que fundou a aldeia, mas o povoado já existia e provavelmente já era frequentado por boiadeiros e viajantes (uma vez que já constava no mapa, a localidade deveria ser bem conhecida). Considera-se ainda que Teodósio já deveria saber da existência dessa povoação, pois tinha uma fazenda (Fazenda Santa Rosa) próximo ao local (BRITO; OLIVEIRA, 2010).

Como Almeida seguia a história tradicional e expunha o que estava nos documentos oficiais, Teodósio de Oliveira Ledo foi o fundador de Campina Grande, e ele “muito iria concorrer para o povoamento da Paraíba, fundando arraiais que se transformariam em cidades” (ALMEIDA, 1993, p. 21). Para o autor, tanto Teodósio de Oliveira Ledo como também seus familiares foram as pessoas mais importantes no povoamento do interior da Capitania da Paraíba. Porém, Teodósio de Oliveira Ledo ganha destaque maior por ter fundado a cidade. Almeida apresenta o capitão-mor de uma forma idealizada, ressaltando como ele era um homem forte, bom, destemido, íntegro, que prestava bons serviços à Coroa Portuguesa.

O primeiro documento utilizado para mostrar a importância de Teodósio de Oliveira Ledo foi a patente de capitão-mor da Paraíba, em 1694. O argumento de Almeida é de que utilizou-a para mostrar o “merecimento do irmão ‘povoador daqueles sertões donde continuou muitos anos em defesa daquela Campanha e moradores com grande despesa de sua fazenda” (ALMEIDA, 1993, p. 22). Almeida seleciona essa frase da referida patente, que é transcrita a fim de demonstrar que Teodósio de Oliveira Ledo era merecedor do cargo, pois defendia a Capitania e seus moradores com o seu próprio provento, destacando a benevolência e honradez desse homem.

Almeida, por mais que pretenda ser imparcial e acreditar em uma verdade histórica, manipula o documento para mostrar a sua visão de Teodósio de Oliveira Ledo. Ele não destaca nos documentos a parte em que o capitão-mor, em troca de sua “boa vontade” em defender o território paraibano, requeria terras do governo português e que, desse modo, se tornou um dos homens mais ricos do local. De acordo com Costa (2012), Teodósio de Oliveira Ledo conseguiu arrendar 28 propriedades.

Além disso, a defesa feita pelo capitão-mor a que Almeida se refere diz respeito, principalmente, ao aprisionamento de índios que eram utilizados muitas vezes como escravos. O

mais interessante é que, posteriormente, Almeida vai evidenciar como os ideais abolicionistas são importantes. Essa contradição acontece, a nosso ver, porque Elpídio de Almeida quer destacar as qualidades do capitão-mor, e essas qualidades só poderiam ser provadas por meio dos documentos. Dessa forma, utiliza largamente o discurso dessas fontes para provar a boa imagem de Teodósio de Oliveira Ledo.

O que queremos destacar é que Almeida escolhe trabalhar com os membros da família Oliveira Ledo primeiro porque eles eram portadores dos valores da elite, como também para embasar o argumento de que Campina Grande foi grandiosa até no homem que a fundou. Outro ponto interessante a destacar é a relação de Teodósio com os índios, que era baseada em interesses. Segundo Renata Assunção da Costa, foram encontrados documentos que mostram índios requerendo terras junto a Teodósio de Oliveira Ledo. Isso demonstra uma aliança entre os índios e o capitão-mor. Essa pode ter sido uma das causas de Teodósio de Oliveira Ledo ter conseguido conquistar tantas terras no interior das Capitanias do Rio Grande e da Paraíba.Essas alianças com os indígenas poderiam ter sido uma estratégia para conseguir proteção e se manter em suas terras (COSTA, 2012).

Mas não podemos esquecer que o aprisionamento e o genocídio de índios foram práticas constantes na vida de Teodósio de Oliveira Ledo37. Apesar de haver as alianças, a maior parte dos índios foi capturada para ser utilizada como mão de obra cativa. No entanto, em razão da Instituição a qual Almeida estava vinculado e o seu lugar social, não poderíamos exigir outro tipo de relato, já que essa forma de escrita da historiografia tradicional é marcadamente apologética e heroicizante.

Após todo esse percurso para mostrar que Teodósio de Oliveira Ledo foi o homem “certo” para aldear Campina Grande, Almeida passa a mostrar como o capitão-mor deu início ao povoamento e ao desenvolvimento dequele espaço. Para tanto, Elpídio de Almeida une em seus argumentos a importância desse homem e sua família e acrescenta um novo elemento: a localização geográfica de Campina Grande.

37 Teodósio de Oliveira Ledo era conhecido pela sua habilidade como conquistador. A historiografia oficial o tem

como herói. No entanto, já há algum tempo pesquisas vêm apontando que as conquistas de Teodósio de Oliveira Ledo foram feitas à custa de derramamento de sangue de indígenas. Segundo Brito e Oliveira (2010), mesmo após a Guerra do Bárbaros, o capitão-mor continuou uma dura repressão aos indígenas e os utilizava como presos de guerra. Cf. BRITO, Vanderley de; OLIVEIRA, Thomas Bruno. A missão catequética de Campina Grande: uma pseudomissão para dissimular o etnocídio nos sertões da Paraíba. Disponível em: <http://mhn.uepb.edu.br/revista_tarairiu/n4/TARAIRIU_N04.pdf>.

Viajou Teodósio de Oliveira Ledo, em fins de 1697, do arraial de Piranhas para a capital da província, a fim de entregar ao governador as cartas de D. João de Lancastro. [...] Sem que se saiba o motivo, antes de descer a Borborema, aldeou-se numa grande campina, nos limites orientais da região dos cariris. Fundava aí o núcleo que deu origem a Campina Grande (ALMEIDA, 1993, p. 35)

Para Almeida, a localização de Campina Grande é mais um fator que demonstra a importância da cidade. Segundo ele, Campina está localizada em um espaço privilegiado, “sem que se saiba o motivo”. Logo, instintivamente, Teodósio percebeu o potencial desse local e resolveu fundar um núcleo de povoamento, pois percebeu que esse território era o melhor ponto de passagem entre o sertão e o litoral da Capitania.

“Desbravador infatigável, já no ano seguinte tornava a Campina Grande, sem dúvidas com o propósito de desenvolver a aldeia que fundara” (ALMEIDA, 1993, p. 37). Para Almeida, estava claro que Teodósio de Oliveira Ledo, como “grande” homem que era, entendeu que a localidade que aldeou tinha um grande potencial a ser explorado, justamente pelas suas características geográficas. Almeida constrói seus argumentos de tal forma que podemos pensar que o espaço onde se desenvolveu a cidade de Campina Grande sempre foi especial, faltando-lhe apenas uma pessoa como Teodósio de Oliveira Ledo, de espírito “desbravador” e empreendedor, para entender que esse espaço era “especial”.

Não foi difícil a Teodósio dar desenvolvimento ao núcleo iniciado com o grupo ariús. Dadas as condições favoráveis do sítio, a amenidade do clima, a existência de matas, a natureza do solo e, principalmente, a sua localização, ponto de passagem preferido nas comunicações entre o sertão e o litoral, cedo conseguiu atrair parentes, colonos brancos, índios mansos, com o que assegurou a prosperidade do lugar (ALMEIDA, 1993, p. 37- 38).

Assim, vemos que para Almeida, além de ser um ponto privilegiado por sua localização geográfica, o espaço ainda dispunha de solo fértil, clima agradável, água e matas, ou seja, a localidade dispunha de todos os atrativos para agregar pessoas e formar uma cidade. Por essas características, o lugar conseguiu atrair os parentes de Teodósio de Oliveira Ledo. Almeida também destaca que além da “boa” família dos Oliveira Ledo vieram para Campina Grande “colonos brancos” e “índios mansos”. Em outras palavras, não foi qualquer tipo de pessoa que chegou para povoar e desenvolver a pequena aldeia. Apenas gente da melhor estirpe foi para Campina Grande. Até os índios que vieram eram “mansos”, diferentes dos indígenas de outras localidades que eram tratados por Elpídio de Almeida como “gentio bárbaro”.

Almeida cria com esses argumentos uma espécie de destino manifesto para Campina Grande. Para ele, era natural que Campina se desenvolvesse, visto que a localidade era privilegiada e possuía todos os atrativos necessários. Contudo, não poderia ser qualquer pessoa que faria esse trabalho. Campina, para Almeida, não poderia ter sido fundada por outra pessoa senão Teodósio de Oliveira Ledo, pois foi ele quem percebeu o potencial do lugar.

Apesar de, na opinião de Almeida, a aldeia ter esse potencial, ele não podia negar o fato de que Campina, desde seu povoamento até a sua emancipação para a categoria de cidade, permaneceu pequena e pouco desenvolvida, mesmo sendo um lugar de movimento contínuo. Ainda tendo tecido todos esses comentários para mostrar a grandiosidade do lugar, Almeida não tinha como discordar de suas fontes. Ele mesmo afirma que “o desenvolvimento da povoação, na primeira metade de 1700, lento e silencioso, passou despercebido à administração da província” (ALMEIDA, 1993, p. 38).

Dessa forma, Elpídio de Almeida não podia sustentar seu argumento de que Campina era grande baseado no desenvolvimento do local. Então, como estratégia, o autor passou a focar na questão política e na atuação dos Oliveira Ledo nesses assuntos. Assim, Almeida passa a relatar a disputa entre os moradores da freguesia de Nossa Senhora dos Milagres (atual São João do Cariri) e a freguesia de Campina Grande, com o intuito de ver qual das localidades seria elevada à categoria de vila.

Almeida mostra que a freguesia de Nossa Senhora dos Milagres era mais desenvolvida do que a freguesia de Campina Grande. Todavia a elite campinense era bem mais articulada politicamente. Para demonstrar isso, Almeida apresenta os vários ofícios e abaixo-assinados que as elites campinenses mandavam para o governador geral, a fim de que ele escolhesse o povoado para tornar-se a nova vila da capitania. Por fim, quem ganhou a querela e o título de Vila Nova da Rainha foi Campina Grande e Almeida, depois de mostrar o trâmite dessa disputa, faz questão de fazer a seguinte afirmação:

Fundara Teodósio de Oliveira Ledo a aldeia de Campina Grande. Quase um século depois, descendentes seus foram elementos decisivos na criação da vila. Os dois primeiros subscritores dos requerimentos ao governador e ao ouvidor, Paulo de Araújo Soares e José de Araújo Soares eram trinetos de Teodósio. O que assinou com Paulo de Araújo Soares a escritura de doação, Sebastião Correia Ledo, era casado com uma trineta (ALMEIDA, 1993, p. 50-51).

Nesse trecho, fica ainda mais claro a opinião de Elpídio de Almeida sobre a família Oliveira Ledo. Para ele, essa família foi fundamental para o desenvolvimento da localidade. Se o povoado de Campina Grande conseguiu crescer e se tornar a Vila Nova da Rainha foi graças aos esforços desses homens, como o autor coloca, “homens bons”, que por amarem a cidade e saberem o potencial dela fizeram todo o esforço para vê-la grande.

Para mostrar a importância desses homens remanescentes dos Oliveira Ledo, Elpídio

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