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LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL

3.2 OS INDICADORES DO ANALFABETISMO NO BRASIL

Inúmeras pesquisas (IBGE3, PNAD4, INAF5, RAAAB6, etc.) buscam, dentre uma série de outras ações, mapear o número de analfabetos no território brasileiro e classificá-los por região, idade, sexo, etnia, entre outras variantes, permitindo a

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

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Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

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análise da dimensão do analfabetismo. Os dados se distinguem tanto em relação à concepção do analfabetismo, quanto aos tipos de instrumentos de coleta de dados utilizados. Existem muitas dificuldades no âmbito das pesquisas e do levantamento dos dados quantitativos sobre o analfabetismo, por conta da falta de uma formulação precisa e consensual do conceito desse fenômeno. Quanto ao letramento, esta dificuldade é ainda mais grave, caracterizando-se pela dificuldade de delimitação de um critério convergente de diferentes abordagens teóricas, para avaliar se o sujeito é ou não letrado. Isso ocorre porque o letramento abrange uma “vasta gama de conhecimentos, habilidades, capacidades, valores, usos e funções sociais; o conceito de letramento envolve, portanto, sutilezas e complexidades difíceis de serem contempladas em uma única definição”. (SOARES, 2004, p. 65- 66)

Esta problemática explica o porquê da diversidade de definições para o fenômeno do letramento que se diferenciam e até se contradizem, já que cada corrente pedagógica se fundamenta em definições que são frutos de pesquisas nacionais e compreensões sobre as práticas sociais de leitura. Neste sentido, se valida a necessidade de uma discussão mais ampla entre os educadores e pesquisadores, a fim de possibilitar a construção de um conceito geral e a criação de critérios de avaliação dos índices da alfabetização e do letramento, que apresentem uma maior precisão.

Segundo as últimas pesquisas (a exemplo do INAF, 2003) sobre os índices de analfabetismo no Brasil, existem aproximadamente 20 milhões de brasileiros jovens e adultos sem escolaridade e, portanto, sem a aquisição da leitura e da escrita. Este dado também foi anunciado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro de 2003, ao lançar uma das campanhas pela erradicação do analfabetismo adulto. Alguns autores, como Magda Soares (2004) e Marta Durante (2000), que se baseiam nos resultados de verificação quantitativa, anunciam que tais índices atingem números ainda mais elevados.

Já o IBGE (2000) aponta que o número de analfabetos está em torno de 16 milhões de brasileiros. Estes dados foram coletados com base no conceito adotado pelo IBGE que considera alfabetizada toda “pessoa capaz de ler e escrever pelo

menos um bilhete simples no idioma que conhece”. No entanto, ao se afirmar que uma pessoa alfabetizada é aquela que cursou, no mínimo, quatro anos de escolarização, como sugerem alguns órgãos mundiais, a exemplo da UNESCO, estes dados tendem a crescer para 30 milhões ou mais de analfabetos no território nacional. Se fosse realizada uma pesquisa para avaliar o número de pessoas alfabetizadas, mas que não utilizam a leitura e a escrita para realizar atividades no seu cotidiano, estes dados seriam ainda maiores. Da mesma forma, há hipóteses de que o número de pessoas iletradas representa quase um terço da sociedade brasileira, representando o extenso grau de exclusão de sujeitos que participam de uma sociedade letrada, sem o domínio e a utilização do código escrito no seu cotidiano.

Independente do número exato do analfabetismo no Brasil, devido às próprias divergências para a análise de dados, todas as pesquisas apontam um quadro de abandono sofrido pelas classes economicamente desfavorecidas. Isto demonstra que milhões de brasileiros não conseguem a inserção em práticas cotidianas que utilizam a leitura e a escrita, mesmo na realização de tarefas simples, como assinar o próprio nome ou ler um bilhete curto. Parte dos estudantes participantes da pesquisa Aprender e brincar: é só começar... A alfabetização de jovens e adultos anunciou claramente a existência de um grande número de analfabetos em suas comunidades, mostrando que o analfabetismo é um problema vivido entre os brasileiros, na vida cotidiana; muitos dos estudantes conviviam com diversos amigos e parentes nesta situação, conforme relatou Ebert Jesus Santos, 35 anos:

“Eu conheço muita gente que é analfabeta igual a mim. Tem muita gente mesmo. Às vezes, você olha assim e nem diz que a pessoa é analfabeta. Agora, mande ler um texto pra ver se sabe. Sabe nada! Lá em casa mesmo, meus pais eram analfabetos. Minha mãe até sabia escrever, copiando com a letra bonita, mas não sabia ler”. (Ebert Jesus Santos, estudante, 35 anos).

Esta situação reflete o difícil acesso e permanência de um grande número de analfabetos na escola, o alto índice de evasão nas séries iniciais e a forte desigualdade social existente no Brasil. O baixo índice de escolaridade de um país

revela a sua situação econômica e social interna e determina a sua posição perante o restante do mundo, conforme anuncia o INAF, 2004. Isso ocorre porque, dentre outros indicadores de desenvolvimento humano, o número do analfabetismo se constitui como um dos referenciais básicos do progresso de um país ou de uma região. Logicamente, este não é o único indicador do nível econômico, social e cultural de uma nação, mas se apresenta como uma das principais formas de exclusão dos sujeitos em uma sociedade letrada. Diante disso, torna-se possível a compreensão de que o desenvolvimento de um país é influenciado pela oferta e qualidade da educação, pois a restrita escolaridade limita o acesso e a produção dos bens culturais construídos historicamente pela humanidade.

Além disso, o baixo nível de escolaridade tende a desfavorecer o desenvolvimento de um país, pois dificulta a construção de um processo de conscientização e de participação qualificada dos cidadãos na construção permanente da cultura, já que a falta de informações dificulta o reconhecimento dos atores sociais como agentes de transformação de sua própria história. Se os sujeitos não participam da reflexão do processo histórico de seu país, dificilmente conseguirão perceber as necessidades de atuação para a construção de uma democracia participativa no país. Do mesmo modo, a ausência de conscientização dificulta a identificação dos instrumentos e das possibilidades de acompanhamento das políticas públicas e da gestão do seu município ou região.

Neste sentido, percebe-se a necessidade de atuação dos governantes, bem como de toda a sociedade, na garantia da oferta e da qualidade da alfabetização como um direito humano absoluto e democratizado independentemente da extensão territorial e das condições econômicas e culturais de determinada cidade, região ou país. Enfim, analisar os índices de analfabetismo encontrados no país representa uma compreensão em relação ao grau de democratização da educação básica e as suas demandas, que implicam em planejamento, orçamento, execução de ações e acompanhamento do impacto da luta pela erradicação do analfabetismo.

Porém, com base no que vem sendo discutido, é importante reconhecer que a erradicação do analfabetismo depende de uma vontade política de mudança

social, pois o acesso à leitura é um passo importante para a produção do conhecimento mais aprofundado e a oportunidade de acesso a intervenções por meio da participação social. Assim sendo, a função social da alfabetização de jovens e adultos é nítida e está a serviço da construção de uma sociedade mais justa, com condições reais de inclusão de todos os cidadãos nos setores diversificados.

Neste sentido, compreende-se que o analfabetismo é um problema que possui uma longa trajetória histórica, iniciando-se no período da colonização portuguesa, quando a sociedade brasileira começou a passar por um processo de grafismo, inserindo forçosamente o estudo da língua portuguesa aos negros e índios, que tinham a oralidade como principal meio de comunicação e de transmissão ancestral. A partir daí, estabeleceram-se relações de desigualdades sociais entre aqueles que sabiam e os que não sabiam ler e escrever, já que, apesar da imposição da língua escrita, o seu acesso era restrito. Neste sentido, este texto trata de um assunto que está diretamente ligado ao desenvolvimento econômico e social atual, mas que vem sendo reproduzido ao longo da história, em todo o território nacional. De tal modo, é difícil aceitar que, em pleno século XXI, o Brasil ainda conviva com o analfabetismo, como um dos principais problemas sociais a serem resolvidos, sendo que esta problemática social já foi superada na maior parte dos países desenvolvidos.

Entretanto, apesar de confirmar esta grave conjuntura, é importante anunciar que os dados estatísticos anunciam a queda do número de analfabetos em todo o território nacional, de acordo com a tabela abaixo, que indica os índices no período de cem anos (1900-2000):

Evolução da taxa de analfabetismo da população acima de 15 anos no Brasil.

População analfabeta Ano do censo População total Nª % 1920 17.557.282 11.401.715 64 1940 23.709.769 13.242.172 55,9 1950 30.249.423 15.272.632 50,5 1960 40.278.602 15.964.852 39,6 1970 54.008.604 18.146.977 33 1980 73.542.003 18.716.847 25,5 1990 95.810.615 18.587.889 19 2000 119.533.048 16.294.889 13,6

Fonte: BRASIL: Recenseamento Geral do Brasil, 1920, v. IV, 4ª parte; IBGE, Censos Demográficos 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000.

Com base nos censos demográficos, torna-se possível refletir que os índices de analfabetismo reduziram, destacando, principalmente, a importância das campanhas pela erradicação do analfabetismo, deflagradas por movimentos sociais, especialmente na década de 70. Conforme já foi elucidado, as demandas sociais estão se tornando cada vez mais complexas, exigindo do sujeito competências que vão além da apropriação da leitura e da escrita. Dessa forma, a queda do analfabetismo não tem representado um expressivo avanço estatístico, porque a sociedade contemporânea tem exigido um conhecimento mais amplo, crítico e contextualizado frente às demandas de outras habilidades para a atuação no meio social. A tabela em questão apresenta ainda o grande crescimento populacional no último século no Brasil, demonstrando que o fenômeno do analfabetismo torna-se a cada dia mais difícil de ser solucionado, implicando em um maior investimento financeiro na construção de escolas, distribuição de material didático, formação de alfabetizadores, dentre outras estratégias de ação.

Diante da análise destes dados, convém questionar a qualidade da formação dos sujeitos considerados alfabetizados, pois, conforme já afirmado, alguns institutos de pesquisa, como o IBGE, consideram o ato de assinar o próprio nome como prova de alfabetismo. Por outro lado, apesar da diminuição dos índices de analfabetismo no Brasil em relação ao século passado, convém salientar a necessidade de sua erradicação para o desenvolvimento social e econômico. Para

isso, é necessário que a luta contra este problema seja deflagrada por todos os segmentos sociais, como a escola, a família, associações de moradores, igreja, etc, visto que está posta a necessidade de um maior investimento na Educação de Jovens e Adultos, frente à erradicação do analfabetismo.

Considerando que as desigualdades sociais se distinguem ao longo das regiões brasileiras, verifica-se que o analfabetismo também se modifica de acordo com a divisão político-geográfica do país. O Nordeste é a região que apresenta a maior taxa de analfabetismo do Brasil, chegando a 8 milhões de brasileiros e compreendendo 50% dos analfabetos do Brasil inteiro. Isto denuncia a negligência dos poderes públicos no que se refere ao investimento na educação básica (ensino fundamental e ensino médio) na região mencionada. Observando a tabela, a seguir, que apresenta os dados do analfabetismo por cada região brasileira, percebe-se a disparidade existente entre a Região Nordeste e o eixo Sul-Sudeste brasileiro:

Analfabetismo por ano e região no Brasil ANO REGIÃO 1996 1998 2001 BRASIL (médias nacionais) 14,7% 13,8% 12,4% NORTE 12,4% 12,6% 11,2% NORDESTE 28,7% 27,5% 24,3% SUDESTE 8,7% 8,1% 7,5% SUL 8,9% 8,1% 7,1% CENTRO- OESTE 11,6% 11,1% 10,2%

Analisando a tabela acima, verifica-se que os índices de analfabetismo de jovens e adultos, entre 15 a 64 anos, da Região Nordeste, nos anos de 1996, 1998 e 2001, ultrapassam o triplo das taxas das Regiões Sul e Sudeste e dobro do Norte e Centro-Oeste. Além disso, o Nordeste apresenta o dobro do índice de analfabetismo em relação à média nacional que é de 12,4% em 2001, apontando a necessidade de um trabalho intensificado na Educação de Jovens e Adultos, nesta região brasileira. Ao mesmo tempo, os dados reforçam a necessidade de investimento na educação das crianças, a fim de se evitar a perpetuação do problema.

Constata-se que o analfabetismo está presente em todas as faixas etárias com intensidades diferentes, necessitando de estratégias de ação diferenciadas. Verifica-se que o índice de analfabetos adolescentes e jovens continua crescendo, mostrando que o sistema escolar brasileiro permanece produzindo novos analfabetos. O fato que mais chama a atenção, é a constatação de que cerca de 35% dos analfabetos brasileiros freqüentaram a escola durante a infância (IBGE). Diversas pesquisas nessa área demonstram que as principais razões para o fracasso na alfabetização são: as péssimas condições físicas, administrativas e pedagógicas das escolas, exploração do trabalho infantil, baixa escolarização das famílias, ausência de preparo das escolas em lidarem com o analfabetismo e escassez de materiais impressos para leitura, tanto em escolas quanto em bibliotecas. Assim, constata-se o baixo rendimento dos estudantes, causando altas taxas de evasão e reprovação escolar.

O analfabetismo também pode ser analisado pelo ângulo das condições econômicas das famílias brasileiras. As pesquisas já citadas demonstram que a distribuição de renda e as taxas de analfabetismo estão intimamente ligadas, sendo que uma contribui para gerar e perpetuar a situação da outra. Os dados do INAF (2001) confirmam esta constatação em relação ao letramento:

A primeira constatação a fazer é a confirmação do óbvio. Os resultados da pesquisa permitem afirmar categoricamente que há estreita correlação entre

letramento e condição social: enquanto 14% dos sujeitos das classes D e E estão enquadrados no nível mais alto do alfabetismo (nível 3), 58% dos sujeitos das classes A e B localizam-se nesse nível. Os resultados por renda, raça e escolaridade reproduzem esse perfil, com ligeiras diferenças. (BRITTO, 2004, p. 54).

É possível ainda constatar que o analfabetismo dialoga com outras características culturais da sociedade. A tabela, a seguir, apresenta os dados coletados pelo IBGE, em 2001, demonstrando os índices de analfabetismo em todo o território nacional, dividido por regiões, estados e por gênero. Nota-se a existência de 13,3% da população brasileira excluída de diversos setores sociais que utilizam a leitura e escrita, tornando-se impossibilitada de construir diferentes relação sociais com a língua escrita. Sobre as diferenças de gênero, os dados revelam que, na média nacional, homens e mulheres apresentam os mesmos índices de analfabetismo (13,3%), conforme pode-se deduzir na leitura da tabela, a seguir:

Taxas de analfabetismo de brasileiros acima de 15 anos (%)

REGIÕES TOTAL HOME NS MULH ERES Brasil 13,3 13,3 13,3 Norte 11,6 11,7 11,5 Rondônia 9,6 9,0 10,2 Acre 15,5 18,0 13,4 Amazonas 8,8 8,8 8,8 Roraima 8,6 9,3 8,0 Pará 12,4 12,5 12,4

Região Metropolitana de Belém 4,8 3,9 5,5

Amapá 9,5 8,8 10,1 Tocantins 21,0 22,8 19,1 Nordeste 26,6 28,7 24,6 Maranhão 28,8 31,0 26,6 Piauí 31,6 35,2 28,4 Ceará 27,8 31,8 24,1

Região Metropolitana de Fortaleza 14,3 15,4 13,4

Rio Grande do Norte 25,5 29,0 22,4

Paraíba 25,9 28,5 23,6

Pernambuco 24,7 26,4 23,2

Região Metropolitana de Recife 12,0 11,4 12,5

Alagoas 32,8 35,5 30,4

Sergipe 23,9 25,8 22,1

Bahia 24,7 25,4 24,1

Região Metropolitana de Salvador 7,6 6,7 8,3

Minas Gerais 12,2 11,3 12,9 Região Metropolitana de Belo

Horizonte 6,3 5,3 7,1

Espírito Santo 11,1 10,0 12,2

Rio de Janeiro 6,0 4,9 7,0

Região Metropolitana do Rio de

Janeiro 4,5 3,4 5,5

São Paulo 6,2 5,1 7,2

Região Metropolitana de São Paulo 5,1 4,0 6,1

Sul 7,8 7,1 8,4

Paraná 10,2 8,9 11,4

Região Metropolitana de Curitiba 5,1 4,0 6,1

Santa Catarina 6,8 6,5 7,1

Rio Grande do Sul 6,1 5,7 6,4

Região Metropolitana de Porto

Alegre 4,0 3,4 4,5

Centro-Oeste 10,8 10,5 11,0

Mato Grosso do Sul 10,9 9,9 12,0

Mato Grosso 11,8 11,4 12,2

Goiás 12,5 12,5 12,5

Distrito Federal 5,1 4,9 5,2

Fonte: Síntese de indicadores sociais 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. (Estudos e pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica, n. 5).

Considerando que a média do analfabetismo no Brasil é 13,3%, constata-se que o Nordeste é a única região brasileira que está acima da média nacional, com 26,6%, totalizando, inclusive, o dobro do índice nacional. Isso evidencia ainda mais a necessidade de investimento na erradicação do analfabetismo, principalmente nesta região. A região metropolitana de Salvador, apesar de pertencer ao Nordeste, que apresenta o maior índice de analfabetismo, expressa uma porcentagem abaixo do índice nacional, do estado da Bahia e das regiões mais desenvolvidas do país: Sul e Sudeste. O gráfico seguinte apresenta os mesmos dados do IBGE (2001), de uma forma mais objetiva, mostrando apenas os dados por região e tornando mais fácil a comparação e a análise dos índices de analfabetismo em cada região do país.

Índices de analfabetismo por regiões brasileiras- 2000 11,50% 24,60% 8,70% 8,40% 11,00% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 1 Norte Nordeste Sudeste Sul Centr-Oeste

Com a finalidade de situar esta discussão dentro de uma realidade social de utilização da leitura e da escrita, apresenta-se, a seguir, mais alguns dados7 de pesquisa que indicam os índices de analfabetismo no Brasil. Esta pesquisa entrevistou 2 mil sujeitos de 15 a 64 anos da sociedade brasileira, residentes de regiões urbanas e rurais e pertencente a classes sociais diferentes em todo o país. A pesquisa objetivou mapear um conjunto de informações sobre as habilidades e práticas relacionadas à leitura, escrita e matemática da população brasileira, buscando contribuir para a formulação de políticas públicas de educação e cultura. Com esses dados coletados, por meio de entrevistas domiciliares, torna- se viável uma compreensão mais abrangente acerca do problema do analfabetismo em diferentes regiões do país. A opção por utilizar esses dados, neste capítulo, se deu por considerar a seriedade das instituições envolvidas e pela atualidade dos dados disponíveis aos pesquisadores da área de analfabetismo e letramento no Brasil.

A partir da década de 60, as campanhas de erradicação do analfabetismo começaram a se ampliar em todo o Brasil. As demandas mais atuais de universalização do letramento trazem consigo a necessidade de avaliação e mensuração do progresso na erradicação desse problema social. Apesar desta

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Tais dados foram coletados, entre o ano 2000 a 2003, por pesquisadores do Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF), que se configura como uma iniciativa do Instituto Paulo Montenegro (ação social do IBOPE) e da ONG Ação Educativa.

pesquisa fundamentar-se em uma abordagem qualitativa da alfabetização de jovens e adultos, convém salientar que os dados quantitativos auxiliam na compreensão da extensão do problema e das possíveis formas de atuação para a sua resolução.

Segundo a pesquisa sobre o analfabetismo realizada pelo INAF, grande parcela da população analfabeta, equivalente a 54% dos entrevistados, nunca completou uma série escolar, porém 39% dos analfabetos cursaram de um a três anos na escola. Isso demonstra a ineficácia de tal instituição em alfabetizar os alunos em, pelo menos, três anos.

No caso da presente pesquisa-ação, que atuou diretamente com 42 estudantes, os dados coletados apresentam uma realidade diferente em relação às pesquisas nacionais sinalizadas neste texto. As entrevistas coletivas foram realizadas em 3 (três) diferentes momentos, nos círculos de leitura com o tema analfabetismo. Nesta atividade, foi questionado sobre quais estudantes estudaram durante a infância, sendo que 63% tiveram a oportunidade de estudar neste período da vida, enquanto 30% nunca tiveram contato com uma sala de aula e 6,67% não quiseram opinar, conforme apresenta o gráfico a seguir: