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COMUNICAÇÃO LINGUAGEM DOMINANTES CAPACIDADES DE EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS

1.3 O Ensino de leitura em língua estrangeira

1.3.2 Os modelos de leitura

O modelo de processamento ascendente (bottom-up) configura um modelo linear em que o leitor processa os componentes do texto partindo do símbolo escrito (letra), continuando, seqüencialmente, com as palavras, frases, orações, parágrafos e textos completos para a compreensão do texto (Alderson, 2002; Anderson, 2003; Nunan, 2004). Ou seja, é um modelo, basicamente, centrado no texto cuja leitura passa a figurar como uma decodificação17 de elementos lingüísticos do texto.

Nessa perspectiva, o ato de ler se configura em um processo passivo e a compreensão ocorre do particular para o geral. Sendo assim, a compreensão envolve apenas a soma das partes de um texto e “uma vez decodificados os seus

elementos, tem-se o seu sentido, independentemente de qualquer expectativa ou de qualquer conhecimento prévio do leitor.” (Melo, 2005:76)

Entretanto, várias pesquisas atestam que esse modelo é insuficiente para a compreensão e, conseqüentemente, como reação ao modelo de leitura bottom-up surge o modelo top-down.

O modelo de processsamento descendente (top-down) é construído com base no conhecimento prévio e nos recursos cognitivos do leitor para estabelecer as expectativas, hipóteses e confirmações sobre o conteúdo do texto (Anderson, 2003). Nesse caso, o sentido do texto é processado não apenas nos elementos lingüísticos, mas pelas predições do leitor “com base em seu conhecimento de mundo, seu

conhecimento do conteúdo ou da área de saber do texto, bem como em seu conhecimento da estrutura retórica do mesmo” (Carrell apud Racilan, 2005: 35). A

compreensão ocorre, assim, do geral para o particular.

É de se salientar que esses dois modelos receberam severas críticas dos pesquisadores em leitura ao longo dos anos por não gerarem um processo de (re)construção de sentido entre autor-texto-leitor. Muitas abordagens relacionadas ao ensino de leitura apontam para o fracasso de leitores em língua estrangeira.

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Bastos (2001:53) verifica que “a decodificação torna-se especialmente importante quando se trata de leitura em uma língua estrangeira e, ainda, devido ao pouco conhecimento da língua em questão, trata-se, muitas vezes, muito mais de decifrar do que de decodificar. A língua não é código e, por isso, parece até mais adequado, quando se trata de leitura, o uso de decifrar e não de decodificar. Decifrar é ler, explicar ou interpretar, é compreender, revelar e é também, atenção, adivinhar.”

Esses leitores adotam os modelos de leitura mecanicamente e separadamente, em que, muitas vezes praticam a leitura como mera decodificação do sistema lingüístico (leitura-tradução), fazem pouca leitura nas entrelinhas e aplicam seus conhecimentos de mundo de forma inapropriada (Alderson, 2002), obtendo, então, uma compreensão equivocada. Assim, a leitura em língua estrangeira torna-se uma atividade injustificável.

Compreendemos, no entanto, que os processos bottom-up e top-down não devem ser desprezados no ensino de leitura, principalmente, em língua estrangeira. É claro que não devem ser ensinados de forma isolada, já que o leitor não depende exclusivamente de um ou de outro tipo de processamento, mas de ambos simultaneamente.

Isso nos leva a Eskey e Grabe (2000) quando apontam esses modelos como metáforas dos complexos processos mentais envolvidos para a compreensão. Atentando para esse aspecto, os autores (2000: 224) apontam a necessidade de adoção de um modelo interativo na busca de integrarem ambos os processos na compreensão textual:

um modelo interativo da leitura pressupõe que as habilidades em todos os níveis encontram- se interativamente disponíveis ao processar e interpretar um texto. De forma simplificada, tal modelo inclui as estratégias ‘top-down’ e ‘bottom-up’. Este modelo incorpora as implicações da leitura como um processo interativo, isto é, o uso do conhecimento anterior, as expectativas, o contexto, etc. Ao mesmo tempo, também incorpora noções de reconhecimento rápido e preciso de letras e palavras, ativação das formas lexicais e um conceito de automacidade neste processo, ou seja, o processamento não depende do contexto para um reconhecimento primário das unidades lingüísticas.

No modelo interativo de leitura, o leitor utiliza simultaneamente a decodificação dos menores itens lingüísticos do texto, dentro de uma perspectiva ascendente, e seu conhecimento de mundo para construir uma interpretação de sentido textual, a partir de uma perspectiva descendente. Desta maneira, a compreensão de textos é gerada pelo processo de interação entre o conhecimento de mundo do leitor e a informação contida no texto.

Nessa mesma linha de pensamento, de integração entre os modelos de leitura, Motta-Roth (1998) afirma que o modelo interativo de leitura é construído a partir de uma visão sócio-histórica. O texto é um elemento de negociação e de interação de relações sociais que se estabelecem entre autor e leitor para produzir significado em um processo contínuo de construção e recriação. De acordo com a autora, o texto passa a ser visto como linguagem materializada em uma unidade de significado, utilizada em um contexto ou situação (na escola, na universidade, em casa, no escritório), com um dado objetivo, materializando discursos18 e, assim, refletindo uma determinada visão do mundo.

Nessa perspectiva, Cristóvão (2001) também enfatiza a noção sócio-histórica da leitura em que há construção de sentidos em um determinado contexto. Concordamos com a visão da autora ao afirmar que a palavra precisa ser vista como polissêmica e plurivalente, pois os significados são dependentes dos contextos em que elas ocorrem e dos valores ideológicos que as permeiam.

Diante dessas considerações, buscamos elencar os modelos de processamento de leitura necessários para a busca de construção de significado do texto pelo leitor. A seguir, apresentaremos três tipos de conhecimento – o de mundo, o lingüístico e o textual – que complementam o processo de leitura.