PARTE 2 – REMUNERAÇÃO DA MÃO DE OBRA
2.1. R EMUNERAÇÃO
2.1.7. Outras Parcelas Remuneratórias Previstas no Modelo de Planilha Proposto Pela IN 02/2008 (crítica)
A IN 02/2008 sugere que devem ser estimadas outras parcelas remuneratórias,
absolutamente incompreensíveis e, a nosso ver, incabíveis. São elas:
2.1.7.1. Hora noturna adicional
Esse item, previsto no modelo de planilha sugerido pela IN 02/2008, não representa
nenhum direito trabalhista ou parcela remuneratória prevista em lei.
O Manual de Orientação Para Preenchimento da Planilha de Custo e Formação de Preços,
editada pela SLTI/MPOG, em singela nota de rodapé à página 12 tenta justificar a presença
dessa rubrica na planilha citando, para tanto, o art. 73, § 1º, da CLT e as OJ-SDI-1 127 e 395 do
TST. A fundamentação nos parece equivocada.
O art. 73, § 1º, da CLT, se limita a fixar a contagem ficta do tempo, de modo reduzido, para
a hora noturna. Não cria qualquer obrigação de natureza financeira. Esse modo peculiar de
contagem do tempo tem impacto no cálculo do valor do adicional noturno.
A OJ-SDI-1 127, do TST, sustenta que a hora noturna computada de forma reduzida foi
recepcionada pela CF/88. Já a OJ-SDI-1 395, do TST, prescreve a aplicação da hora noturna
reduzida nas hipóteses de turnos ininterruptos de revezamento.
A única possibilidade que vislumbramos para justificar a presença da mencionada rubrica
na planilha seria com o fito de remunerar a empresa contratada pelo gasto que tem decorrente
do excesso de horas a remunerar, no mês, em decorrência da contagem de tempo reduzido da
hora noturna e eventuais prorrogações.
Vejamos: o salário informado na planilha considera apenas as horas trabalhadas no
período diurno; o adicional noturno informado na planilha incide sobre todas as horas
trabalhadas após às 22h; mas não há previsão de rubrica para a remunerar o salário
correspondente à diferença de horas trabalhadas diurnas e noturnas. Aqui residiria a única
explicação plausível para a rubrica “hora noturna adicional”.
Por exemplo: o trabalho realizado das 22h de um dia às 5h do dia seguinte corresponde a
7 horas normais (valor já contemplado no salário informado na planilha), mas a empresa tem
de remunerar o empregado como se tivesse trabalhado 8 horas, em virtude da contagem da
hora de forma reduzida. Essa diferença não estaria contemplada na planilha, a não ser pela
presença da rubrica ora em discussão.
Essa é a única explicação plausível para a presença de tal rubrica no modelo de planilha
da IN 02/2008.
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Contudo, mesmo essa explicação nos parece frágil, porquanto o salário é ajustado, na
espécie, para uma jornada semanal de 44 horas, que não pode ser extrapolada (ressalvada a
hipótese de pagamento ou compensação de horas extras). O salário já estaria, assim, ajustado à
jornada, seja realizada no período diurno ou no período noturno – neste caso, considerando-se,
obviamente, a contagem ficta da hora de trabalho.
Pelas razões aqui expostas, consideramos despicienda a inclusão do mencionado item na
planilha e custos e formação de preços dos contratos de terceirização.
2.1.7.2. Intervalo intrajornada
Até a edição da IN 06/2013, em 23.12.2013, o modelo de planilha previsto na IN 02/2008
contemplava a inclusão de verba remuneratória a título de intervalo intrajornada. Sempre
entendemos, contudo, que a previsão de tal despesa é de todo descabida e repudiável.
Com vistas a preservar a saúde do trabalhador, determina a lei que seja concedido um
intervalo, dentro da jornada diária de trabalho, para descanso e alimentação. É o chamado
intervalo intrajornada.
CLT
Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.
Ressalte-se que o período do intervalo intrajornada, desde que regularmente concedido,
não é computado como hora trabalhada – não integra a jornada e não é remunerado.
Como determina o art. 71 da CLT, a concessão do intervalo intrajornada é obrigatória.
Caso não seja concedido, o empregador deverá indenizar o empregado, pagando-lhe o
equivalente às horas do intervalo suprimido, com acréscimo de no mínimo 50%.
CLT Art. 71 – [...]
§ 4º - Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.
Vemos claramente, sem qualquer margem para dúvida, que a indenização devida em
decorrência da supressão do intervalo intrajornada tem caráter de sanção, objetivando inibir o
comportamento ilícito do empregador.
O Manual de Orientação Para Preenchimento da Planilha de Custo e Formação de Preços,
editada pela SLTI/MPOG, justifica a presença dessa rubrica na planilha (hoje não mais
admitida) nos seguintes termos (nota 21): “A não concessão do intervalo obriga o empregador
a remunerar por esse período, nos termos da lei, acordo, convenção coletiva, ou sentença
normativa”. Equivocada a fundamentação.
Não há qualquer justificativa razoável para a inclusão da despesa na planilha de custos e
formação de preços. A sanção deve ser suportada única e exclusivamente por quem pratica o
ato ilícito, no caso, o empregador. É de todo repudiável transferir esse custo – imposto pela
prática de ato vedado pela lei – para a Administração contratante.
Registramos que a supressão do intervalo intrajornada não pode ser tolerada, ainda
que pactuada em norma coletiva. Convenção coletiva que contenha tal disposição é, no
ponto, nula de pleno direito, como assentado em verbete da súmula da jurisprudência do TST:
JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Súmula 437
I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.
II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.