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ouvi; 2 esforçar-me-e

No documento Livro de Testes Manual Sentidos 10 (páginas 42-46)

Renováveis garantiram 63% do consumo elétrico em Portugal em

1 ouvi; 2 esforçar-me-e

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem.

4. Descreva a atitude do sujeito lírico em relação ao objeto do seu amor, apresentando as respetivas razões.

GRUPO II Leia atentamente o texto.

O autocarro desde Joanesburgo sai às 8 da manhã para Maputo − entre tempos de paragem nou- tras cidades ao longo do percurso e a travessia da fronteira de Ressano Garcia, chego a Maputo já de noite. Fico plantado numa esquina à espera de um amigo de amigo de outros amigos. Não sei sequer se existe, mas se existir, chama-se Henrique.

O que ficou combinado foi uma boleia com o Henrique até um promontório mítico para pratican- tes de surf, onde quebra uma onda secreta, de qualidade mundial e de difícil acesso para viajantes so- litários, daí melhor apoiar-me na experiência e na viatura de quem sabe. O Henrique, se existe, sabe. Por ironia do destino ou, quem sabe, por malícia das sinergias que a História tece, tanto Portugal como as suas ex-colónias são excelentes destinos para o surf. A diferença é que na (ex) metrópole as ondas estão à distância de um parque de estacionamento.

Já em Angola e Moçambique, a logística de chegar à praia envolve guias locais, veículos todo- -terreno, provisões, equipamentos de outdoor e um espírito desinibido e aventureiro. Tal como fiz há uns anos em Angola, socorro-me agora da ajuda de um português expatriado para chegar até às ondas. Henrique, se existe, imigrou para Moçambique não apenas pelo trabalho mas também pelo

surf. Provavelmente até na ordem contrária de prioridades.

A noite cai suavemente sobre esta cidade que me faz pensar no Portugal que eu nunca tive, no português que nunca fui.

É uma cidade bonita, apesar do degrado e da incúria e da miséria. Uma cidade que desce para o mar, que permite sempre um tom de azul no fundo do olhar, um pouco como Lisboa com o Tejo. No entanto, de todas as cidades coloniais portuguesas que visitei, é aquela que menos me recorda Portugal.

Maputo é demasiado recente e demasiado airosa, demasiado planificada e escorreita para recor- dar uma cidade portuguesa.

O que o caráter e a fisionomia urbana de Maputo me recorda, na brisa suave do fim da tarde, é um Portugal que ficou por acontecer, uma possibilidade de evolução paralela que se perdeu nas ra- mificações do destino. Tento imaginar uma outra História pátria que teria resultado de uma aproxi- mação mais humilde, menos aguerrida, às culturas do Índico, uma outra miscigenação, uma outra abertura de espírito aos povos e às religiões que íamos encontrando.

Só Moçambique poderia evocar esta dimensão paralela e perdida da História de Portugal, só aqui tivemos a porta aberta para esse oceano Índico que durante séculos promoveu comércio, provocou diásporas, acomodou a diferença, ensinou a Humanidade a lidar com o Outro. Só aqui poderíamos ter sido Outros, diferentes.

Angola, pelo contrário, que portas nos teria jamais aberto? Em que mundos nos teria introdu- zido? O mesmo Atlântico cinzento e tenebroso que já conhecíamos; um planalto esquecido pelos fluxos da História; uma cultura tribal e fratricida que se fechava em si própria e que do exterior só conheceu agressões e esclavagismo.

Não é por acaso que Moçambique é solar e colorida e mediterrânica como só a orla do Índico o consegue ser; enquanto que Angola é atlântica e sombria, envolta em brumas matinais que não conseguem dar alegria a um litoral árido e estéril. Não é por acaso que Moçambique é banhada por uma corrente tépida, transparente e tropical; enquanto que em Angola passa uma das correntes mais gélidas, escuras e densas do mundo. Não é por acaso que a navegação do oceano Índico é previsível, suave e de monção; enquanto que a do Atlântico é turbulenta, irregular e traiçoeira. E o estado do mar não será alheio à perceção que o resto do mundo tem destes dois países − benevo- lência para com o primeiro, comiseração para com o segundo.

Ou talvez esta seja apenas a opinião de quem olhou para os dois países a partir da crista de uma onda, deslizando sobre uma prancha no meio do mar, em solidão serena e refletiva, ao largo.

Gonçalo Cadilhe, in Visão, edição online, 30 de março de 2014 (consultado em janeiro de 2015).

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1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., selecione a opção correta.

1.1. O autor serve-se da ironia quando afirma “O Henrique, se existe, sabe” (l. 7), porque (A) não lhe reconhece autoridade como guia.

(B) está cansado de esperar por ele.

(C) não quer ir ao promontório aconselhado por ele. (D) prefere prescindir da sua companhia.

1.2. Para Gonçalo Cadilhe,

(A) o Portugal de hoje assemelha-se ao Moçambique do passado.

(B) Angola e Moçambique são dois locais igualmente representativos da cultura portuguesa. (C) Moçambique espelha um Portugal que podia ter sido diferente do que o que foi.

(D) Angola em nada se assemelha com Portugal. 1.3. A palavra “até” (l. 5) classifica-se como

(A) preposição. (B) conjunção. (C) advérbio. (D) pronome.

1.4. Na frase “onde quebra uma onda secreta” (l. 6), a palavra sublinhada introduz uma oração (A) subordinada substantiva completiva.

(B) subordinada substantiva relativa. (C) subordinada adjetiva relativa restritiva. (D) subordinada adjetiva relativa explicativa.

1.5. Na frase “A noite cai suavemente sobre esta cidade” (l. 16), o termo sublinhado desempenha a função de

(A) modificador.

(B) complemento oblíquo.

(C) modificador apositivo do nome. (D) modificador restritivo do nome. 1.6. A palavra “incúria” (l. 18) significa

(A) doença. (B) desleixo. (C) incoerência. (D) incompatibilidade.

1.7. Na frase “de todas as cidades coloniais portuguesas que visitei, é aquela que menos me recorda Portugal”, (ll. 20-21), o verbo “recordar” classifica-se como

(A) intransitivo. (B) transitivo direto. (C) transitivo indireto.

2. Responda de forma correta aos itens apresentados.

2.1. Tendo em conta a palavra sublinhada em “Fico plantado numa esquina” (l. 3), escreva uma outra frase que com ela se possa constituir como um campo semântico do vocábulo.

2.2. Explique o significado da palavra “fratricida” (l. 35), sabendo que em latim FRATRE- significa ‘irmão’.

2.3. Classifique a palavra “fratricida” (l. 35), quanto ao processo de formação. GRUPO III

Observe a pintura de Cândido Portinari.

Faça uma apreciação crítica desta pintura, num texto de 120 a 150 palavras, considerando, entre ou- tros que julgue pertinentes, os seguintes aspetos:

• apresentação dos elementos que integram a imagem; • sentimentos transmitidos;

• impacto;

• pertinência da imagem em relação ao capítulo 148 da Crónica de D. João I de Fernão Lopes.

Deverá exprimir a sua opinião (positiva ou negativa) na introdução do texto. A fundamentação da opinião expressa deverá ocorrer associada à exploração dos elementos constantes da pintura.

Os Retirantes (1994), Cândido Portinari (1903-1962), Museu de Arte

TESTE DE AVALIAÇÃO

Nome: ______________________________________________________ N.

O

: _____________ Turma: _____________ Data: ___________________

04.

GRUPO I A

Leia o seguinte excerto do capítulo 148 da Crónica de D. João I.

Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a Deos devotamente por o estado da cidade! E ficados os geolhos1, beijando a terra, braadavom a Deos que lhes acorres- se, e suas prezes nom eram compridas! Uũs choravom antre si, mal-dizendo seus dias, queixando- -se por que tanto viviam, como se dissessem com o Profeta: “Ora veesse a morte ante do tempo, e a terra cobrisse nossas faces, pera nom veermos tantos males!” Assi que rogavom a morte que os levasse, dizendo que melhor lhe fora morrer, que lhe seerem cada dia renovados desvairados padecimentos. Outros se querelavom2 a seus amigos, dizendo que forom desaventuirada gente, que se ante nom derom a el-Rei de Castela que cada dia padecer novas mizquiindades3, firmando-se de todo nas peores cousas que fortuna em esto podia obrar4.

Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas d’ouvir taes novas; e veendo estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas orelhas do rumor do poboo.

Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguũs hom~ees e molheres, que tanta deferença há d’ouvir estas cousas aaqueles que as entom passarom5, como há da vida aa morte? Os padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam6 as faces e peitos sobr’eles, nom tendo com que lhe acorrer, senom planto7 e espargimento de lagrimas; e sobre todo isto, medo grande da cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de tomar; assi que eles padeciam duas grandes guerras, ũa dos ~emigos que os cercados tiinham, e outra dos mantiimentos que lhes minguavom, de guisa que eram postos em cuidado de se defen- der da morte per duas guisas8.

Pera que é dizer mais de taes falecimentos9? Foi tamanho o gasto das cousas que mester haviam que soou uũ dia pela cidade que o Meestre mandava deitar fora todolos que nom tevessem pam que comer, e que soomente os que o tevessem ficassem em ela; mas quem poderia ouvir sem ge- midos e sem choro tal ordenança de mandado aaqueles que o nom tiinham? Porem sabendo que non era assi, foi-lhe já quanto10 de conforto. Onde sabee que esta fame e falecimento que as gentes assi padeciam, nom era por seer o cerco perlongado, ca nom havia tanto tempo que Lixboa era cer- cada; mas era per aazo das muitas gentes que se a ela colherom de todo o termo; e isso meesmo da frota do Porto quando veo, e os mantiimentos seerem muito poucos.

Ora esguardae11 como se fossees presente, ũa tal cidade assi desconfortada e sem neũa certa feúza de seu livramento12, como veviriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de taes aflições? Ó geeraçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos ma- les, nem foi quinhoeiro13 de taes padecimentos! Os quaes a Deos por Sua mercee prougue de cedo abreviar doutra guisa, como acerca14 ouvirees.

Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária),

Crónica de D. João I de Fernão Lopes (textos escolhidos), ed. revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992, pp. 197-199.

No documento Livro de Testes Manual Sentidos 10 (páginas 42-46)