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Papel do enfermeiro na prevenção de riscos associados à eletrocirurgia

O papel do enfermeiro foi objeto de um dos estudos incluídos nesta revisão. Os autores deste estudo destaca-ram os seguintes cuidados que devem ser desempenha-dos pelo enfermeiro: a utilização de solução antisséptica aquosa em vez de alcoólica (pois o álcool é uma solução inflamável); o ajuste da potência do bisturi elétrico utili-zando valores que não produzam faíscas; a colocação de panos cirúrgicos o mais longe possível de fontes de calor;

o uso racional do oxigênio, que só se deve ser adminis-trado em pacientes em risco de hipossaturação e dando-se preferência a óculos nasais bem-adaptados; e a comu-nicação eficaz entre os membros da equipe de saúde com a finalidade de prevenir incidentes relacionados ao uso do bisturi elétrico5.

Ressalta-se a importância do plano de cuidados de enfer-magem no período transoperatório, o qual deve contemplar a avaliação de riscos associados ao tratamento cirúrgico e incluir diagnósticos e intervenções de enfermagem foca-lizando tais riscos. O bloco operatório destina-se a forne-cer um ambiente terapêutico seguro ao doente, e isso só é possível quando as necessidades individuais do doente são identificadas e assistidas. Assim, cabe ao enfermeiro reconhecer e minimizar possíveis perigos ambientais que envolvam o paciente ou os membros da equipe cirúrgica durante todas as fases operatórias15.

Enfermeiros têm um papel significativo na promoção de boas práticas em centro cirúrgico, o que inclui o uso correto do bisturi elétrico e a implementação de medidas para evitar acidentes relacionados ao uso desse equipa-mento. Por ocuparem a linha de frente do cuidado, enfer-meiros encontram-se em uma posição ideal para informar e aconselhar outros profissionais da equipe de saúde em relação a tais práticas, visando à segurança do paciente, bem como para supervisionar a utilização de equipamen-tos e a adoção das medidas de segurança necessárias no ambiente cirúrgico.

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OlímpiO mAC, SOuSA VEC, pOntE mAV

Embora o enfermeiro esteja na linha de frente do cui-dado, a prevenção de acidentes relacionados ao uso do bis-turi elétrico, bem como de outros incidentes, é resultado de um trabalho em equipe. Aprender a partir de erros como o que ocorreu no incidente que foi relatado em um dos estudos10 é necessário e trata-se de uma recomendação do programa de segurança do paciente Comprehensive Unit-based Safety Program (CUSP). Esse programa, originalmente criado para unidades de terapia intensiva (UTIs), enfoca a colaboração entre os membros da equipe de saúde como forma de minimizar incidentes em unidades hospitalares e já está em teste em centros cirúrgicos norte-americanos.

Autores de um estudo observaram que após a implanta-ção do CUSP em um centro cirúrgico, houve aumento significativo e contínuo de escores que medem a cultura de segurança do paciente em um período de três anos, e que a taxa de substituição de profissionais enfermeiros na unidade caiu de 27 para 0% nesse período16.

Os achados desta revisão podem ser utilizados por enfermeiros, docentes e gestores hospitalares – especial-mente de unidades cirúrgicas para a aquisição de conhe-cimentos atualizados a respeito dos cuidados na utilização do bisturi elétrico, bem como para divulgar resultados de pesquisas sobre atitudes e práticas de enfermeiros relacio-nadas à utilização desse equipamento.

As lacunas quanto à aquisição de conhecimento e ao treina-mento para a manipulação correta e segura do bisturi elétrico, conforme os estudos apontam, servem de alerta para a neces-sidade de maior investimento em ações voltadas à educação continuada dos profissionais da saúde. Esta revisão integrativa pode servir ainda como fonte de informação para o desenvol-vimento de treinamentos, a elaboração de manuais e diretri-zes ou a criação de políticas em um futuro próximo, visando aumentar a utilização de boas práticas na utilização do bisturi elétrico. Tais ações se fazem necessárias para a melhoria da qua-lidade da assistência e para garantir a segurança dos pacientes.

Limitações

Esta revisão integrativa tem algumas limitações. Em primeiro lugar, o número reduzido de estudos incluídos na amostra final limitou os achados da pesquisa. Essa limitação era esperada diante da especificidade do objeto da pesquisa e por serem escassas as publicações na temática em estudo. Em segundo lugar, do total de estudos analisados, apenas três foram desenvolvidos em cená-rios de atuação prática (destes, um trata-se de um relato de caso cuja generalização é restrita). Ressalta-se, novamente, a escas-sez de estudos relacionados aos conhecimentos e às práticas de enfermeiros em centro cirúrgico no tocante à manipulação e à supervisão da utilização de equipamentos cirúrgicos. Por fim, a estratégia de busca utilizada incluiu o uso limitado de palavras-chave, bem como de bases de dados. Isso pode ter causado a exclusão de estudos potencialmente relevantes e alguns artigos científicos de difícil acesso. Soma-se a isso o fato de que estudos com resultados negativos usualmente não são publicados e podem ser acessados somente por buscas específicas na literatura cin-zenta (documentação produzida por ministérios, agências gover-namentais, organizações privadas e instituições acadêmicas), o que não constituiu a estratégia de busca adotada nesta revisão.

CONCLUSÃO

Este estudo possibilitou identificar evidências na literatura cien-tífica a respeito dos riscos associados ao uso do bisturi elétrico e dos cuidados necessários para minimizar esses riscos. Os estudos incluídos na revisão destacam a importância da comunicação entre os membros da equipe multiprofissional para o desenvol-vimento de ações conjuntas de prevenção relacionadas à eletro-cirurgia que minimizem os riscos associados aos procedimen-tos cirúrgicos. Conclui-se, ainda, que é necessário implementar ações para que enfermeiros e técnicos de enfermagem adqui-ram um nível adequado de conhecimentos e habilidades rela-cionados à segurança do paciente submetido à eletrocirurgia.

REFERÊnCIAs

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O USO DO BISTURI ELÉTRICO E CUIDADOS RELACIONADOS: REVISÃO INTEGRATIVA

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| RELATO DE EXPERIÊNCIA |