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GRAFICO 5 – RAZÕES PARA FREQUENTAR A RUA SÃO FRANCISCO

1 CIDADES, URBANIZAÇÃO E URBANIDADES

1.2 PARA ENTENDER A CIDADE E SEU PLANEJAMENTO

Com o intuito de esclarecer alguns conceitos importantes no contexto das cidades, discute-se seu entendimento a partir dos objetivos da pesquisa. Vamos situar alguns que são essenciais: espaço, lugar, território, territorialidade e paisagem.

Inicia-se com a compreensão do que é espaço e de como ele se configura em uma dimensão mais ampla em relação aos demais. Conforme Santos (2014), o espaço não é dado, ele se constrói numa dimensão relacional que se configura como “[...] um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento” (SANTOS, 2014, p. 31). O autor completa a definição de espaço ao incluir a característica processual e sistêmica onde nada pode ser considerado de forma isolada, “[...]

mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 2006, p. 39).

O detalhamento sobre o conceito de espaço, conforme a citação a seguir, se faz necessário pela característica da pesquisa que situa o Centro Histórico de Curitiba, a Praça de Bolso do Ciclista e seu entorno nesses três modos de concretização do espaço.

É importante considerar os três modos pelos quais o espaço pode ser concretizado.

Em primeiro lugar, o espaço pode ser visto num sentido absoluto, como uma coisa em si, com existência específica, determinada de maneira única. É o espaço do agrimensor e do cartógrafo, identificado mediante um quadro de referências convencional; especialmente as latitudes e longitudes. Em segundo lugar, há o espaço relativo, que põe em relevo as relações entre objetos e que existe somente pelo fato de esses objetos existirem e estarem em relação uns com os outros. Assim, se tivermos três localidades A, B, C, estando os dois primeiros fisicamente próximos, ao passo que C está longe mas dispõe de melhores meios de transporte para A, é possível dizer, em termos relativos espaciais, que as localidades A e C estão mais próximas entre si do que A de B. Em terceiro lugar, há o espaço relacional onde o espaço é percebido como conteúdo e representa, no interior de si mesmo, outros tipos de relação que existem entre objetos. (MABOGUNJE3, 1980, apud SANTOS, 2014, p. 30).

Ao citarmos essa especificidade do dado empírico, a questão que se procura trazer desde já é o quanto a situação de uma cidade como Curitiba, repleta de pluralidades, exige o aprofundamento dessa interseção de conceitos e destaca o complexo da dimensão urbana.

Assim, este percurso de entendimento teórico é que vai permitir o avanço na compreensão do que ocorre durante a fase de revitalização de determinada parte da cidade (no caso pertencente à região central), e nas ações subsequentes. E esse fator torna-se então estratégico e essencial em toda análise a ser feita, em que pese a ênfase na comunicação – mas é nesta ágora que ela ocorre e se constrói ou não.

Por essa razão, acredita-se ser importante apresentar a proposta de Villaça (2012) a respeito da particularidade de que somente as áreas centrais das grandes cidades brasileiras têm. “Tudo o que está no centro atende melhor o conjunto da cidade, e vice-versa: só atende melhor o conjunto da cidade aquilo que está no centro. É por isso que o centro é a mais justa e democrática localização para os equipamentos únicos, raros e/ou mais importantes da cidade”

(VILLAÇA, 2012, p. 92). Ou seja, o pioneirismo, a unicidade e a relevância são aspectos presentes particularmente nos centros das grandes cidades, não que eles não apareçam nos bairros ou nas periferias, mas sua presença é mais marcante e evidente na região central.

Ao analisar o centro de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, o autor define a importância do centro em relação à cidade como um todo, bem como as funcionalidades que esta oferece a seus habitantes.

3 MABOGUNJE, A. L. The development process: a spatial perspective. London, Hutchinson, 1980.

Os equipamentos que estão no centro atendem a maior parte da população da metrópole. Isso não significa que atendem a uma parte maior do que atenderiam se estivessem em qualquer outra localização da metrópole. Isso não significa que atendem a maioria da população da metrópole. Isso significa que o centro é o ponto de acessibilidade máxima de uma metrópole. [...] apenas essa característica já é suficiente para mostrar a posição democrática do centro. (VILLAÇA, 2012, p. 94).

Esse entendimento de Villaça (2012) permite estabelecer uma conexão com a mobilização para a construção da Praça de Bolso do Ciclista, uma vez que, se as mesmas pessoas tivessem se reunido, com o mesmo propósito, porém em outra região da cidade de Curitiba, que não o centro, as realizações, dilemas, conquistas e conflitos ali ocorridos seriam diferentes pela particularidade existente naquele lugar. As próprias dinâmicas de trabalho e envolvimento poderiam ser outras, os perfis de pessoas que atuaram nos mutirões poderiam ser outros, e assim sucessivamente. Desse modo, é o conjunto de variáveis presentes naquele contexto que transformou aquele espaço em lugar.

Mais um passo se dá nesta extensão de conceitos ao localizar as noções de espaço e lugar de maneira interligada, mas podendo destacar seus diferenciais. O espaço alcança a condição de lugar na medida em que passa a ser o “lócus da vida cotidiana” (GRAEML, 2007, p. 37), em que os sujeitos realizam suas atividades, traduzem em objetos intervenções e relações à sua maneira de agir, transformando este espaço em lugar ou, como afirma Prosser, (2009, p. 81) o “lócus da afetividade, dos significados e das relações”.

Tuan, por sua vez, adota uma dimensão mais abstrata de espaço e estabelece, quando o mesmo se transforma em lugar, “Na experiência, o significado de espaço frequentemente se funde ao de lugar. [...] O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar na medida em que o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (TUAN, 2013, p. 14).

A partir do exposto, reconhece-se a complexidade de criar limites definidos de tais conceitos e avança-se nessa constatação ao se incluírem as definições sobre território e territorialidade. Para Graeml (2007, p. 38), “à primeira vista percebe-se semelhanças entre os termos lugar e território, pois tanto um como o outro são resultantes de uma produção e ambos se formam a partir do espaço.” Tal afirmação revela de novo a imbricação desses conceitos e das relações que eles estabelecem entre si, considerando que à medida que o sujeito age neste espaço, apropriando-se dele, ele o “territorializa” (RAFFESTIN, 1993 apud GRAEML, 2007, p. 38).

No diálogo que segue a referência trazida por Haesbaert, de que o território tem uma via dupla caracterizada pelo aspecto material e pelo simbólico, destaca-se que o “território, assim em qualquer acepção, tem a ver com o poder” (HAESBAERT, 2007, p. 20). O poder

referido não se restringe ao poder conhecido de domínio, está também localizando todos os aspectos que fundem o processo de significação do simbólico traduzido pela “apropriação”

(HAESBAERT, 2007). De toda forma, o autor retoma, constantemente, a análise de Lefebvre, que faz a diferenciação de apropriação, que tem a ver com a conotação de valor próprio do uso simbólico e das relações culturais estabelecidas no território, em contraposição ao que se refere ao material, que se caracteriza pela funcionalidade pura, típica do sistema político-econômico vigente. Ao avançar em seu raciocínio, Haesbaert (2007) detalha as similaridades e distanciamentos entre território e territorialidade, sendo o segundo conceito entendido não apenas como a dimensão simbólica, mas, principalmente, o caráter de identificação proporcionado pelas relações sociais, culturais e emotivas. Tal condição proposta pelo autor torna-se mais clara no exemplo exposto por ele: “o da „Terra Prometida‟ dos judeus, territorialidade que os acompanhou e impulsionou através dos tempos, ainda que não houvesse, concretamente, uma construção territorial correspondente” (HAESBAERT, 2007, p. 25). Ou seja, para o autor, ainda que haja territorialidade, ela não terá, necessariamente, algum vínculo a um território construído.

Com uma definição mais direta, Albagli (2004) reforça os aspectos multidimensional e simbólico da territorialidade e destaca seu caráter identitário ao afirmar que:

[...] territorialidade refere-se, então, às relações entre um indivíduo ou grupo social e seu meio de referência, manifestando-se nas várias escalas geográficas – uma localidade, uma região ou um país – e expressando um sentimento de pertencimento e um modo de agir no âmbito de um dado espaço geográfico. No nível individual, territorialidade refere-se ao espaço pessoal imediato, que em muitos contextos culturais é considerado um espaço inviolável. Em nível coletivo, a territorialidade torna-se também um meio de regular as interações sociais e reforçar a identidade do grupo ou comunidade. (ALBAGLI, 2004, p. 28).

Tal abrangência de conceitos e usos mostra a imbricação entre espaço, lugar, território e territorialidade, não permitindo a possibilidade de limites tão definidos. De todo modo, eles trazem sempre a possibilidade de observar a cidade na perspectiva de natureza e sociedade, interligando a este contexto os aspectos simbólicos, culturais e emotivos. Há ainda que se levar em conta que todo aspecto simbólico é único e, portanto, varia de pessoa para pessoa, conforme explicitado a seguir:

Cada sujeito, percebe, vivencia e ordena o espaço, paisagem ou lugar de acordo com a própria vivência, o que gera uma superposição de territorialidades, de representações e de significações. Como as superfícies mudam constantemente, quer pela ação do tempo, quer pela ação das pessoas, e como cada indivíduo as guarda na memória e em um tempo diverso, torna-se claro porque há descontentamentos quando alguém interfere sobre a paisagem, alterando-a, ressignificando-a.

(PROSSER, 2009, p. 81).

A ideia de paisagem, segundo Santos (2014, p. 75), “como um conjunto de formas heterogêneas de diferentes idades, pedaços de tempos históricos representativos das diversas maneiras de produzir as coisas, de construir o espaço” entra neste momento para fechar e abrir a dimensão do sujeito presente na cidade e que a cada momento a acolhe e a ressignifica. A condição da paisagem em constante movimento e mudança ocorre em função das questões econômicas, sociais e culturais. É importante reconhecer como esta paisagem, esta “apreensão visual”, a cada instante, pode trazer, para os que com ela interagem, um resgate do sujeito em sua conexão com o momento de viver e experimentar a cidade.

Nesse entendimento, quando Santos (2014) cita as diferentes apreensões de uma rua, uma praça, um logradouro, nas variadas horas do dia, ou semanas, caracterizando a dinâmica vibrante impressa nesse cotidiano, pode-se depreender que, no caso analisado, da Praça de Bolso do Ciclista e seu entorno, apresentam-se as peculiaridades de uma paisagem em constante mutação, apesar dos elementos físicos e fixos que também a compõem.

Não é propósito desta pesquisa aprofundar-se na questão do planejamento urbano.

No entanto, evidencia-se a crítica, por parte do autor, sobre essa questão, que discute o direito à cidade. Lefebvre (2008, p. 30) afirma que “de fato não existe uma marcha única ou unitária da reflexão urbanística, mas diversas tendências referenciáveis em relação a esse racionalismo operacional”. O autor segmenta tais tendências em três perspectivas distintas, sendo: a) “o urbanismo dos homens de boa vontade”, que seria aquele praticado por arquitetos e escritores que possuem uma visão mais humanista do planejamento urbano e se veem “como médicos da sociedade e criadores de novas relações sociais”; porém, sua ideologia não corresponde às reais necessidades “do citadino/cidadão” (LEFEBVRE, 2008, p. 31); b) “o urbanismo dos administradores ligados ao setor público (estatal)”, que seria muito mais pautado pelo cientificismo, que determina formas mais racionais no processo decisório, não priorizando o fator humano em suas análises, de modo que essa perspectiva de um urbanismo “tecnocrático e sistematizado” pode trazer filtros de diferentes ciências, mas se correndo o risco de que esses modelos elaborados apaguem “da existência social as próprias ruínas daquilo que foi a Cidade” (p. 31); e c) “o urbanismo dos promotores de vendas”, no qual não há uma venda do imóvel, mas do urbanismo em si, e dessa forma esse “torna-se valor de troca”, colocado como uma alternativa de compra da felicidade, numa “cotidianidade de contos de fadas”. Essa última tendência se destaca como forma de edificar centros de interesses diversos que concentram poder, persuasão e coação, como “centros de consumo privilegiados: a cidade renovada”, que se caracteriza como mecanismo de controle, visando “consumidores de espaço” (LEFEBVRE, 2008, p. 33).

Com a mesma criticidade, porém com menor ênfase, Mongin sugere que o urbanismo faça o exercício do autoquestionamento:

Dado que o tipo ideal da cidade isola traços correspondentes em níveis distintos de experiências negativas (retraimento dentro do privado, ausência de mobilidade corporal, desvio do espaço público pelo mercado, ausência de participação pública), o urbanismo deve, ele mesmo, ser interrogado em função do que ele torna possível, ou não, quanto à experiência urbana. Se não existe um bom urbanismo universal, aquele da cidade utópica, suscetível de desenhar a “boa cidade”, então um urbanismo que toma partido dos lugares contra os fluxos quase não tem mais sentido. (MONGIN, 2009, p. 108).

A crítica de Mongin (2009) foca-se, principalmente, no planejamento urbano que pensa a cidade, porém não considera como ela pode realmente ser vivenciada, ou seja, priorizam-se as formas racionais de ordem e estrutura, ao invés de pensar esse espaço no contexto dos fluxos que ali ocorrem; para Mongin (2013, p. 11) “não importa tanto a qualidade da arquitetura, mas se a cidade é acessível aos habitantes, tornando viável a experiência urbana. Minha tese é a de que a experiência urbana passa pelo corpo, pelo cenário e pelo espaço público.” Assim, ao desprezar tais conexões, ignoram-se, também, as experiências vividas pelos sujeitos nesse lugar complexo e repleto de histórias e vivências.

Situa-se nessa reflexão teórica a importância de que os sujeitos compreendam seu papel na prática social como atuantes de uma nova metodologia de intervenção na cidade, no sentido de se apropriar do direito de construir territorialidades. Por isso, acredita-se que “não se recompõe a cidade e o urbano a partir dos signos da cidade [...] ainda que a cidade seja um conjunto significante. A cidade não é apenas uma linguagem, mas uma prática” (LEFEBVRE, 2008, p. 101). A reflexão se aprofunda na afirmação de que para a compreensão de que o ponto possível da apropriação do direito de intervir nos rumos da cidade está mais afinado com o conceito de práxis.

Apenas uma práxis, em condições a serem determinadas, pode se encarregar da possibilidade e da exigência de uma síntese, da orientação na direção desse objetivo:

a reunião daquilo que se acha disperso, dissociado, separado e isso sob a forma de simultaneidade e dos encontros. (LEFEBVRE, 2008, p. 102).

A práxis é aqui apresentada sem a intenção de aprofundar ou destacar um ou outro autor, mas apenas preservando o entendimento de que pode ser interpretada como ação voluntária sobre um processo, visando mudanças, permitindo que se reflita o quanto esta abordagem se fará presente nesta pesquisa. Outrossim, os conteúdos teóricos até aqui apresentados permitem que se situe um trajeto de entendimento de como a cidade se configura

como espaço dinâmico e de relações e sensibilidades, e que o avanço da abordagem será o de trazer o contexto das relações do sujeito com si próprio e com a alteridade.

Essa via representa a inclusão da vivência e da experiência no que então se ousa denominar de ambiente urbano, que necessariamente estabelece a relação com os sujeitos, que assim fazem a transição de um ambiente meramente territorial para uma configuração que permite que “uma experiência singular se desenvolva em outros níveis além do da poética, da troca comercial ou do saber do urbanista, [...] a do espaço público que remete à experiência de pluralidade, mas também a da política que remete à participação, da igualdade e do conflito”

(MONGIN, 2009, p. 36).

Seguindo essa ideia de cidade construída a partir de significados e da experiência, Ferrara indica que:

Manipulado pela imagem que adere à massa, aquele vínculo [comunicativo]

transforma, de um lado, o espaço social em espetáculo mas, de outro, aponta-lhe a possibilidade de ultrapassar a técnica, na medida em que inventa ou propõe alternativas para a ela responder. Para estudar essa transformação, o geógrafo Milton Santos criou duas categorias epistemológicas que se tornaram matrizes para a tecnosfera se adapta aos mandamentos da produção e do intercâmbio e, desse modo, frequentemente traduz interesses distantes; desde, porém, que se instala, substituindo o meio natural ou o meio técnico que a precedeu, constitui um dado local, aderindo ao lugar como uma prótese. A psicosfera, reino das ideias, crenças, paixões e lugar da produção de um sentido, também faz parte desse meio ambiente, desse entorno da vida, fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o imaginário. Ambas – tecnosfera e psicosfera – são locais, mas constituem o produto de uma sociedade bem mais ampla que o lugar. Sua inspiração e suas leis têm dimensões mais amplas e mais complexas. (SANTOS, 2006, p. 172).

Nessa linha de pensamento, é possível uma aproximação entre a teoria e o empírico da Praça de Bolso do Ciclista, que reforça a ideia de como um lugar, com suas variáveis opostas e complementares, vai aparecer de diversas maneiras durante todo o processo de análise, por trazer a oportunidade de conjugar a intersecção de vivência e experiência. Como continuidade, Mongin afirma que:

[...] ao mesmo tempo que a experiência urbana concilia linguagens heterogêneas remetendo a diversas camadas de experiência, ela coloca em relação, em uma espécie de dialética “interminável”, elementos opostos: o interior e o exterior, o

dentro e o fora, o centro e a periferia, o privado e o público. (MONGIN, 2009, p.

37).

Ainda a respeito da ideia da experiência da cidade, Ferrara (2008, p. 65) defende que

“a representação do espaço mudou. Ao mesmo tempo visual e tátil, a cidade cosmopolita é desenhada no corpo, pois é usufruída nas suas cores e sentida com a planta dos pés nos longos percursos a pé, no caminhar inconsequente e obrigatório para todos, a fim de ver e ser visto”.

Ou seja, o espaço dialoga, a todo momento, com os atores que ali passam, marcando e sendo marcado por eles, de modo a estabelecer fluxos que definem a cidade cosmopolita.

É interessante pensar que as camadas não são somente de experiências como citado, mas também de conceitos, que vão numa circularidade de sentidos, evidenciando que os sujeitos, na relação que têm com os lugares ou de que forma dão significado a um lugar, pela maneira que este os envolve, vão evoluindo para o que Graeml destaca:

[...] dentre o que foi apresentado percebe-se que um aspecto perpassou todos os conceitos: o de que a ideia de lugar está diretamente ligada à questão social, à necessidade de que os atores sociais estejam juntos, vivendo o cotidiano, realmente envolvidos com aquele lugar e se sentindo parte dele. (GRAEML, 2007, p. 41).

Sobre esses aspectos que dão significado ao lugar é que emerge também a questão da identidade. No caso em estudo, apresenta-se de duas maneiras: a) a identidade coletiva do lugar, a Praça de Bolso do Ciclista, e b) a identificação dos sujeitos com este lugar, a ponto de desejarem intervir e agir para a ele pertencer. Este pertencimento, ao concretizar a ligação entre sujeito e lugar, vai determinar novos modos de entender a situação em análise.

As maneiras de decidir pelo uso e a forma desta área urbana ocupada por meio de uma intervenção da comunidade urbana, que se apresenta como um fato recorrente na atualidade, percebido em vários exemplos ao redor do mundo, podem também caracterizar uma forte onda de “ocupações”, que têm sido destacadas pela mídia nacional e mundial. Esses novos modos de agir diante do desejo de viver a cidade definem um jeito de ser, organizar, trabalhar e viver. Essas manifestações podem evidenciar como os sujeitos intervenientes são compostos “não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas” (HALL, 2014, p. 11). Sem adentrar os conceitos de ocupação/intervenção, que serão trabalhados na sequência, a questão das identidades aparece como fio condutor para desafiar certamente a própria compreensão de como o lugar de análise e as identidades ali presentes durante o tempo devem ser retomadas.

Assim, é importante ressaltar a visão de Claval (2001, p. 296) sobre a formação cultural espacial, ao afirmar que “os espaços humanizados superpõem muitas lógicas: eles são

em parte funcionais, em parte simbólicos”. O que ocorre é que a cultura vai trazendo a modelagem de muitas facetas que esses espaços começam a mostrar, quer seja pelas tecnologias inerentes aos processos necessários para determinados formatos possíveis, quer pelos desenhos diante de preferências e valores que vão sedimentando a vida e o convívio social, delineando-se sempre pelo viés do significado para os diversos sujeitos em suas

em parte funcionais, em parte simbólicos”. O que ocorre é que a cultura vai trazendo a modelagem de muitas facetas que esses espaços começam a mostrar, quer seja pelas tecnologias inerentes aos processos necessários para determinados formatos possíveis, quer pelos desenhos diante de preferências e valores que vão sedimentando a vida e o convívio social, delineando-se sempre pelo viés do significado para os diversos sujeitos em suas

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