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Participação dos atores envolvidos (gestores, técnicos e usuários) e uma nova forma de

5. Análise e discussão dos dados

5.4. Participação dos atores envolvidos (gestores, técnicos e usuários) e uma nova forma de

Quanto ao desenvolvimento e as realizações das ações nos serviços também foi possível visualizar diferenças que poderiam conotar consequências dos diferentes modos de gerência que estão sendo analisados. No tocante ao trabalho desempenhado pelos técnicos componentes de ambos os serviços, pode-se dizer que os modos de gerência influenciam em como os processos de trabalho serão desempenhados, bem como as ações realizadas no âmbito comunitário e aos modos de cuidado e reinserção social desenvolvidos.

Sem entrar no mérito da discussão sobre os processos de trabalho dentro dos serviços substitutivos de saúde mental, tal analogia nos serve muito mais ao propósito de demonstrar que tais processos recebem influência e tornam-se consequência do modo como a nova gestão pública é desempenhada. As parcerias público-privadas nos serviços públicos de saúde sob a

gestão pública do Estado impactam a realidade destes serviços, passando a influenciar e regular as ações e trabalhos desenvolvidos nos mesmos.

Barbosa (2010) elucida bem a questão, em que

A flexibilização das relações de trabalho, informada por novos modelos de relação público-privado no setor saúde, tem apontado para novas possibilidades de desenhos jurídico-normativos de estruturação de unidades prestadoras de serviços de saúde, onde se incluem as organizações sociais de saúde (OSS). A diversidade deformas de gestão/gerência de serviços de saúde implica a existência de novas modalidades de contratação, agregando complexidade ao processo de formulação de políticas de RHS. (p. 2499)

A partir da realidade vista nos dois serviços analisados nesta pesquisa, encontram-se diferentes modos de vínculo profissional com o serviço por parte dos técnicos. Enquanto na gerência privada do CAPS II – PAR a contratação dos profissionais é flexível e regida pelas normatizações da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), dentro do CAPS II – Oeste o vínculos dos técnicos são por processo de concurso público, os quais possuem vínculo estatutário com o município e são funcionários públicos, sendo mais difícil e rígido o processo de contratação.

Portanto, continua Barbosa (2010) elucidando a questão, referindo que

Os gerentes dos serviços de saúde – especialmente os do setor público – são reféns de regulamentações que restringem severamente, no plano formal, sua autonomia para a contratação, descontratação e a negociação local dos termos dos contratos de trabalho (tendo em vista, por exemplo, a flexibilização das remunerações ou o estabelecimento de mecanismos de incentivo/sanção condicionadas a metas qualitativas ou quantitativas). (p. 2500)

O que o autor coloca é que, na verdade o real problema não consiste somente na forma em que é contratado o profissional, mas as consequências se colocam muito mais a partir da necessidade de reorganização dos serviços dentro da lógica do SUS, havendo uma articulação entre a gestão pública e os níveis competentes sobre as habilidades e competências necessárias para a realização do exercício profissional dentro dos serviços (Barbosa, 2010).

Haveria a necessidade de melhor capacitação e articulação dentro das redes de saúde do SUS, promovendo uma melhor alocação e eficiência dos Recursos Humanos em Saúde de acordo com as competências necessárias dentro dos serviços, para melhor desenvolvimento quantitativo e qualitativo nos cuidados. Aqui estaria em questão o melhor desenvolvimento dessas competências no que se refere aos cuidados em saúde mental, área que necessita dessa maior diferenciação na realização do cuidado e das ações nos serviços, as quais acabam sendo realizadas pelos profissionais que compõem o quadro técnico dos serviços.

No CAPS II – PAR, o qual possui em seu quadro uma maior flexibilização de contratação e descontratação dos profissionais, foi relatado que, mesmo com essa característica, uma parte dos profissionais está no serviço há um tempo considerável, em que alguns se encontram lá desde sua fundação. Mesmo com a autonomia que possuem a partir da independência no manejo dos recursos financeiros disponíveis, a capacitação dos técnicos está dentro das responsabilidades de cada um no seu âmbito profissional.

Observou-se que no planejamento das ações há uma priorização dos trabalhos “intramuros”, ou seja, dentro do serviço com as habilidades e competências técnicas inerentes a cada área profissional. São realizados atividades e trabalhos a partir de atuações interdisciplinares, mas também há um foco na técnica desempenhada a partir de cada âmbito profissional dentro de suas caracterizações particulares.

Foi colocado pela administração financeira e coordenadora do serviço que, devido à limitação dos recursos financeiros destinados ao serviço, as ações comunitárias e a atuação

territorial do serviço fica limitada, cabendo mais aos profissionais a atividade de visitas domiciliares como prioridade quanto às ações fora do serviço. Também há a realização de eventos comemorativos, os quais incluem os familiares em festas e comemorações na sede própria do serviço.

Com a mudança na forma de financiamento dos serviços CAPS, a qual é reflexo da mudança na forma de financiamento instituída a partir do Pacto pela Saúde em 2006, o serviço passou a receber uma quantia menor de recursos financeiros, o que acabou por interferir na realização de ações que visem a reinserção social através de atividades territorializadas, as quais aconteceriam fora do serviço em meio à comunidade.

Foi observado também no discurso dos profissionais componentes da equipe técnica do serviço uma visão que contém traços de profissionalismo, ou seja, um privilégio à técnica no cuidado com os usuários, em que os profissionais se posicionariam a partir dos constructos que fundamentam seu campo de atuação.

No serviço CAPS II – Oeste observou-se as consequências decorrentes do modo de gerência pública, em que se encontrando subordinada à administração pública, já nas características de conservação do prédio que funciona como sede, inclusive na hora realizada a pesquisa o administrador encontrava-se preenchendo documentações relativas a pedidos de novos equipamentos e materiais, ofícios estes que seriam encaminhados à SMS de Natal.

A partir dos relatos em entrevista com a equipe técnica, administrador e coordenadora do serviço, foram colocados unanimemente que ninguém sabia quais eram os recursos em caixa disponível para o serviço, tão pouco a quantidade de recursos financeiros que era destinada mensalmente ao mesmo. As ações eram planejadas de forma independente da gestão destes recursos, chegando para o serviço somente os materiais e equipamentos que eram requisitados para a SMS de Natal.

Curioso e intrigante é que grande parte das vezes o que era requisitado pelo serviço não chegava, ou então não chegava à quantidade descrita, por não haver no almoxarifado da Secretaria tais produtos, equipamentos ou insumos. Como são comprados tudo de forma arbitrária sem o conhecimento dos serviços e em grande escala para o bloco da média e alta complexidade, acaba que vários das mercadorias adquiridas não são adequados às necessidades de cada um.

Devido à falta de autonomia por parte da equipe técnica quanto à gerência dos recursos financeiros que é destinado ao serviço mensalmente através do custeio enviado pela União, consequentemente as atividades e ações realizadas pelos profissionais sofre interferências diretas, pois muitas vezes não é possível se desenvolver tudo o que se pretende por falta de meios para realização do que é planejado.

Mesmo com as limitações, observou-se que a equipe busca meios alternativos para desenvolver atividades e ações que envolvam a comunidade que faz parte do território de atuação do serviço, buscando sempre atividades que sejam sustentáveis e que busquem a interação dos usuários com o meio exterior. Na semana seguinte à realização da pesquisa já estava planejado de se levar os usuários que concordassem ao cinema, para verem um filme e passearem no shopping.

Também há a iniciativa de celebrar as comemorações em datas festivas e de tentar trazer a comunidade e familiares a esses eventos, tentando realizar uma interação do serviço com a comunidade em que se situa.