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3 HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS RELIGIÕES NO BRASIL

3.3 Pentecostalismo clássico no Brasil

Em 1910, chegaram ao Brasil dois suecos que haviam se tornado pastores batistas nos Estados Unidos, Gunnar Vingren e Daniel Berg. Segundo Chesnut (1997), os dois receberam, durante uma oração coletiva, uma mensagem dizendo que deveriam anunciar o evangelho em uma localidade chamada Pará. Acabada a oração, foram procurar no mapa e descobriram que Pará era um estado na nação brasileira.

Chegando a Belém do Pará, declararam-se pastores batistas e passaram a morar no porão de uma igreja batista, onde posteriormente começaram a fazer cultos, convidando apenas alguns membros. Nessas reuniões, eles conversavam em línguas

diferentes, o que se acreditava ser a glossolalia14. Alguns membros da igreja

começaram a adotar as ideias dos irmãos, aumentando o número de fiéis. Foi quando o pastor da Igreja Batista excomungou os dois pastores por acreditar que estavam divergindo do que seria a verdadeira Igreja Batista. No mesmo ano, os dois fundaram a Missão de Fé Apostólica, que posteriormente mudou de nome para Assembleia de Deus. Diante de tantas doenças tropicais existentes no Pará, como malária, febre amarela, cólera, tuberculose, meningite e lepra, o crescimento da igreja que também prometia a cura pela fé foi grande. Mesmo após a morte de familiares, as famílias que então se sentiam acolhidas pela igreja de Vingren e Berg se convertiam à nova fé, diminuindo, pouco a pouco, os adeptos da religião que os negligenciou até na hora da extrema unção: a católica (Chesnut, 1997). Os missionários percorreram o Brasil inteiro na busca de novas conversões e foram bem-sucedidos. O alvo eram os fiéis batistas que se interessavam pela glossolalia.

Já a Congregação Cristã no Brasil foi trazida dos Estados Unidos para o Brasil em 1910, pelo missionário ítalo-americano Louis Francescon, que atuou em colônias italianas no Sul e Sudeste do Brasil. Ela teve origem num pequeno grupo de evangélicos italianos que, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos da América, no

ano de 1904, passou a se reunir em suas casas, buscando a guia divina para seguir os ensinamentos bíblicos cristãos, dentro da simplicidade da fé apostólica (Freston,1993). A segunda corrente (chamada também de pentecostais de segunda geração) começou a surgir na década de 1950, quando chegaram a São Paulo dois missionários norte- americanos da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular. Lá eles criaram, na década de 50, a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na cura divina, iniciaram a evangelização das massas, principalmente pelo rádio, contribuindo para a expansão do pentecostalismo no Brasil. Em seguida, fundaram a Igreja do Evangelho Quadrangular. Essa se dividiu dando origem às denominações: O Brasil Para Cristo, Deus é Amor, Casa da Bênção e diversas outras (Freston, 1993). A Igreja Deus é Amor teve alto crescimento entre a população mais carente do país, e se destaca por promover exorcismos individuais e coletivos.

Há um estereótipo sobre os evangélicos que os colocam como conservadores, alheios à política, e que justificariam em nome de Deus todas as mazelas as quais se encontram submetidos os homens e as mulheres (Burdick, 1993). No entanto, ao analisar pentecostais em uma cidade brasileira, Burdick descobriu que o envolvimento político na época da ditadura era manifestado e encorajado no seio da Igreja Pentecostal, inclusive com o apoio a candidatos pentecostais e a filiação partidária com preferência pelos partidos de massa, como o Partido dos Trabalhadores, especialmente porque acreditam que a falta de prosperidade, ainda que causada pelo homem contra o seu igual, é na verdade fruto do diabo. Para eles, a pobreza e a simplicidade são virtudes, porém a miséria e a ganância são exageros, frutos da influência negativa do mal trazida pelo capitalismo (Burdick, 1993).

Freston (1993) analisou a presença da bancada evangélica já a partir da constituinte, o que também não confirmou o estereótipo que liga pentecostalismo à alienação política. Se somarmos o pentecostalismo ao neopentecostalismo, eles têm participação política mais marcante que os membros evangélicos históricos. Em geral, os protestantes têm aumentado sua participação na política (Estado de São Paulo, 2010).

No entanto, ter representantes na política não garante a solução dos problemas dos evangélicos. Segundo Chesnut (2000), com o crescimento da violência, da criminalidade e do desemprego, cresceu a necessidade de proteção sobrenatural. É por meio do batismo no Espírito Santo15 que o fiel adquire uma proteção divina contra

males terrenos e sobrenaturais. Aquele que é batizado pode adquirir quatro tipos de poderes especiais: os dons do espírito (fé e milagres através da oração); falar línguas; entender línguas; e os dons da revelação. Em sua amostra, Chesnut (2000) observou que esses poderes não eram sentidos igualmente por pessoas das diversas denominações religiosas pentecostais, e nem por homens e mulheres.

É interessante notar que, talvez como um modo de compensar a subserviência em uma sociedade patriarcal, as mulheres são, no pentecostalismo e em outras religiões como a umbanda e o espiritismo, aquelas que relatam ter maior acesso aos dons do espírito. Chesnut (2000) revela que muitas mulheres se separaram de maridos que mantinham relações extramaritais depois de terem visões que estavam sendo traídas. Muitos maridos, inclusive, passaram a evitar esse tipo de comportamento prevendo que suas esposas poderiam, por meio dos dons do espírito, perceber a traição. Outros problemas domésticos e conjugais, como alcoolismo e uso de drogas, também são “curados” durante os cultos e reuniões de grupo.

A influência da religião na vida da pessoa também se faz exercer por aquilo que Chesnut (2000) descreve como Sociedade Congregacional da Ajuda Mútua. A religião pentecostal ensina a aceitar a vida tal como ela é, facilitando, por exemplo, que a pobreza seja assimilada como uma virtude e um desafio a ser vencido, ao invés de causar ansiedade. Além disso, a igreja também fornece ajuda material, apoio psicológico, e até emprego, seja pela interseção dos pastores, seja por uma ajuda oferecida à família que se encontra em crise ou dificuldade. “É diferente porque na nossa igreja nós somos uma família, todo mundo se conhece. Não é como na igreja católica onde todo mundo sai imediatamente depois que a missa termina e ninguém se

15

O batismo no Espírito Santo faz referência aos Livros dos Atos, no qual João Batista batiza os crentes em Jesus Cristo (Chesnut, 2000).

conhece” (depoimento retirado de Chesnut, 2000, p. 231, tradução minha). Porém, se pobreza fosse pré-requisito suficiente para a filiação religiosa junto aos pentecostais, conforme calculou Chesnut, em 1993, 60% do Brasil daquela época seria pentecostal (Chesnut, 1997).