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4.2 A LINGUAGEM VISUAL: A IMAGEM

4.2.1 Percepção da Imagem

A maior parte da aprendizagem que ocorre em ambientes escolares resulta de estímulos visuais e auditivos. Apesar de ser óbvio que indivíduos cegos e surdos disponibilizam outras fontes de informação para superar a limitação dos sentidos, em qualquer caso, nem todos os estímulos que chegam aos nossos mecanismos sensoriais são internalizados. As informações são selecionadas tanto pelas limitações físicas, quanto pelo tipo e pela qualidade de nossas experiências passadas. Daí decorre a necessidade de saber o que foi visto e ouvido pelo aluno e que informações foram retidas por ele (NOVAK, 1981, p. 56).

Quanto se vê? Esta simples pergunta abrange um amplo espectro de processos, atividades, funções e atitudes. A lista é larga: perceber, compreender, contemplar, observar, descobrir, reconhecer, visualizar, examinar, ler, mirar. As conotações são multilaterais: desde a identificação de objetos simples até o uso de símbolos e linguagem para conceituar, desde o pensamento indutivo até o dedutivo (DONDIS, 1995, p.13, tradução nossa).

por meio da visão. Na conduta humana, não é difícil perceber a prevalência da informação visual. A busca deste apoio para o conhecimento só é deixada de lado em caso de ocorrência de um problema físico ou quando se é direcionado para outro sentido, como a audição, o olfato, o paladar e o tato. É possível, por exemplo, aprimorar o aprendizado de uma língua estrangeira, apenas ouvindo uma fita gravada, sem se valer do texto escrito.

Para Guyton (1988, p. 181), a informação visual é dissecada pelo sistema visual, que responde a situações em que ocorrem clarões luminosos ou bordas de contraste na cena visual, de modo que seus elementos mais importantes sejam identificados.

Estruturas presentes nos olhos, que são órgãos fotorreceptores, captam a imagem, conseguindo perceber a luminosidade e a variação da intensidade luminosa. As imagens não correspondem ao padrão real do objeto observado e, sim, um tipo de sinal indicativo de intensidade geral da iluminação, além de outros sinais que mostram onde ocorreram variações de luz na cena visual, com as respectivas cores. Estes sinais seguem através dos nervos ópticos até o encéfalo, onde haverá a percepção de profundidade e a complementação da visão em cores. A percepção da profundidade é proporcionada pela junção das duas imagens, vistas pelos dois olhos isoladamente, as quais apresentam diferenças diminutas nas formas dos objetos. Em relação à visão em cores, uma das razões para acreditar que o encéfalo tem participação neste processo é que se pode olhar para uma luz vermelha com o olho esquerdo e para uma luz verde com o direito, e ver uma luz amarela, demonstrando que as duas cores observadas pelos olhos se combinam. Posteriormente, a interpretação destes sinais, atrelada à memória visual e ao pensamento, ocorrerá no encéfalo (GUYTON, 1988, p. 189).

Dondis (1995, p. 34) também alerta para a importância da luz na percepção visual de quem elabora a imagem, pois, com base nela, o homem dá forma e imagina o objeto, verificando e identificando os demais elementos visuais, como linha, cor, contorno, direção, textura, escala, dimensão e movimento.

Aumont (2002, p. 22), por sua vez, definiu a percepção visual como um processo que chega em sucessivas etapas, através da luz, a nossos olhos. Nosso sistema visual é capaz de localizar e interpretar certas regularidades que se referem a três características da luz: intensidade, comprimento de onda e distribuição no espaço. Complementa que os fatores temporais afetam a visão e descreve:

1. A maioria dos estímulos visuais varia com a duração, ou se produz sucessivamente. 2. Nossos olhos estão em constante movimento, o que faz variar a informação recebida pelo cérebro. 3. A própria percepção não é um processo instantâneo; certos estágios da percepção são rápidos, outros muito mais lentos, mas o processamento da informação se faz sempre no tempo. (AUMONT, 2002, p. 31)

O autor, referindo-se ao cinema, ressalta que vivemos no tempo e com o tempo, e, segundo modalidades bastante variáveis, a imagem existe no tempo (AUMONT, 2002, p. 160). É possível perceber isso nas imagens que representam as etapas de desenvolvimento do embrião. Elas estão subordinadas a uma evolução (obviamente temporal), daí serem apresentadas em seqüência.

Segundo Aumont, o termo imagem pode apresentar variados significados, entre eles os relacionados aos sentidos ou ao intelecto. Em sua obra, trata a “imagem visual como modalidade particular da imagem em geral” (AUMONT, 2002, p. 13). Afirma que “a imagem – como toda cena visual olhada durante certo tempo – se vê, não apenas no tempo, mas à custa de uma exploração que raramente é inocente; é a integração dessa multiplicidade de fixações particulares sucessivas que faz o que chamamos nossa visão de imagem” (AUMONT, 2002, p. 61).

Diz Alcântara (2001, p. 88): “As imagens são detonadoras de emoções. Têm o poder de despertar a memória das experiências acumuladas dentro de nós, trazendo à tona registros de lugares e tempos já vistos e vividos”.

O significado da imagem, no entanto, depende da resposta do espectador, que a modifica e a interpreta de acordo com os próprios critérios (subjetivos). A decodificação da imagem é intrínseca à pessoa. A mesma cena visual pode levar a sentimentos variados de pessoa a pessoa, dependendo das experiências que cada uma teve ao longo da vida.

Compreender o que o aluno percebe ao ver a imagem torna-se prioritário no processo pedagógico do ensino de Biologia. Saber como ele ancora esta nova informação nos subsunçores ou, simplesmente, se a está ancorando, é um importante elemento para o professor, que, muitas vezes, apresenta imagens ao aluno, supondo que a percepção dele é semelhante à sua. Para constatar a verdadeira percepção e a compreensão do significado da mensagem visual, é essencial o diálogo entre o emissor e o receptor, como em qualquer processo de comunicação.

Nas palavras de Vezin e Vezin (1988, p. 655, tradução nossa): “A ilustração e o esquema são construídos com intenção comunicativa”.

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