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Perfil da pessoa com deficiência frente ao lócus da pesquisa

EXCLUSÃO/INCLUSÃO E CIDADANIA

4.1 Perfil da pessoa com deficiência frente ao lócus da pesquisa

Com relação ao primeiro eixo da entrevista, foi estabelecido um perfil das pessoas com deficiência, estipulando-se para cada uma, numeração de um (01) a sete (07) pela ordem cronológica das entrevistas, conforme ilustração abaixo.

De acordo com o perfil dos sete entrevistados, observamos que a faixa etária foi entre 24 a 64 anos; O sexo e as deficiências que foram acometidos distribuíram-se da seguinte forma: um do sexo masculino com deficiência visual e seis do sexo feminino com deficiência motora.

De acordo com as respostas dos entrevistados no que se refere à instituição, destacamos duas categorias: razões de buscar a FUNAD e os serviços oferecidos por essa instituição. Essas categorias surgiram pela importância dessa instituição no contexto da pesquisa, tendo em vista que os usuários que participaram deste estudo encontram-se na instituição há um tempo considerável podendo apreciar ou não os serviços realizados na mesma. Foram direcionadas aos entrevistados as seguintes indagações: O que levou você a procurar esta instituição? Quanto tempo está na mesma? Você conhece todos os serviços disponíveis na instituição? O referido serviço atende às suas necessidades? Os serviços oferecidos melhoraram em algum aspecto a sua vida? Qual (is)? O que você poderia sugerir para melhorar o atendimento nesta instituição?

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QUADRO 1 - Distribuição dos usuários entrevistados na FUNAD.

IDADE IDADE SEXO/ PESSOA COM DEFICIENCIA INSTRUÇÃO GRAU DE FREQUENTOU ESCOLA QUE PROFISSÃO

No. 01 F/35

D. Motora SUPERIOR PÚBLICA

ASSISTENTE SOCIAL No. 02 45 F/45 D. Motora ENSINO BÁSICO INCOMPLETO PÚBLICA APOSENTADORIA (BENEFÍCIO) No. 03 64 F/64 D. Motora ENSINO MÉDIO

COMPLETO PÚBLICA APOSENTADORIA (BENEFÍCIO)

No. 04

49 F/49 D. Motora

NÃO ESTUDOU - APOSENTADORIA

(BENEFÍCIO)

No. 05

49 F/48 D. Motora

ENSINO MÉDIO

COMPLETO PÚBLICA APOSENTADORIA (TEMPO DE SERVIÇO)

No. 06 49

M/49 D.Visual SUPERIOR PRIVADA E

PÚBLICA

FISIOTERAPEUTA

No. 07

24 F/24 D. Motora

ENSINO MÉDIO

COMPLETO PÚBLICA ENFERMAGEM TÉCNICA DE

Fonte: Dados da Pesquisa coletados a partir das entrevistas.

De acordo com o demonstrado no quadro acima, no que se refere ao tipo de escola que freqüentou, ao grau de instrução, profissão e as dificuldades escolares na época que estudou, foi observado ser a escola pública o local onde houve uma maior concentração dessa população, pois todos estudaram em escolas públicas e o entrevistado número seis estudou também em escola particular. Quanto ao grau de instrução, o respondente número quatro não estudou e segundo seu relato Não, nunca estudei, pois tinha dor de cabeça e desmaiava e meu pai não deixou eu estudar; e recebe o beneficio13; o número dois possui ensino básico14

incompleto e também recebe beneficio. Têm ensino médio completo os entrevistados de numero seis e cinco que recebem aposentadoria, e o numero sete que tem o curso técnico de enfermagem, mas ainda não trabalha. Concluíram o ensino superior os números um e seis, os quais exercem, respectivamente, a profissão de serviço social e fisioterapia.

Quando questionados se haviam tido dificuldades na época em que estudavam os números dois, três e cinco responderam que não. Ressaltamos que, de acordo com sua fala transcrita, os citados três e cinco não apresentavam a deficiência motora na época, sendo adquirida posteriormente.

13 O benefício de prestação continuada é um benefício no valor de um salário mínimo garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 203, inciso V para a pessoa portadora de deficiência sem limite de idade e ao idoso com mais de 67 anos, que comprovem não ter condições econômicas de se manter e nem de ter sua subsistência mantida por sua família. www.entreamigos.com.br/textos/direitos/bepreco.htm.

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No que se refere às dificuldades elencadas, observamos na fala transcrita do número um: Sim, com certeza. A questão da tão famosa inclusão falada hoje né... é que na época de [...] de escola nem toda a escola me aceitava pela minha deficiência . Percebemos uma ênfase na sua afirmação, a valorização da inclusão nos dias atuais que comparada com a época (final dos anos 80 e anos 90) em que se encontrava inserida nas etapas do ensino formal até a conclusão do ensino superior. Demonstrou a dificuldade de ser inserida na escola por ser uma pessoa com deficiência.

Portanto, a exclusão e a discriminação apresentam-se de forma clara numa época em que a inclusão começava a se pronunciar à luz das prerrogativas da Constituição de 1988. Isso foi observado também na fala do respondente número seis, quando diz:

[...] Primeiro e segundo grau tinha visão boa, é entrei na faculdade de engenharia tive um problema de vista que foi se agravando, tive que trocar para o curso de fisioterapia, onde fiz o curso com metade tendo a visão e a outra metade quando perdi a visão. Tendo muita dificuldade depois da perda da visão. Como por exemplo: fazer as provas que não tava preparada pra perda da visão, locomoção para ir para faculdade, é aquisição de material, tinha que gravar fitas, fazer provas orais, tive muitas dificuldades (entrevistado no. 06).

Observamos já a falta de preparo da própria academia, no que se refere à inclusão e as adaptações pedagógicas necessárias para a adaptação em sala de aula. Por fim, a usuária de número sete apresentou a seguinte situação:

[...] Em termos de deficiência, não. Mas tinha alguns colegas de sala que às vezes criticavam, ficavam dizendo uma coisa e outra. Mas que também, e esse fato não me prejudicou, não me levou a ter problema, não a me dificultar na escola, não. Eu sempre levei como todo mundo leva e nunca dei importância pra isso não (entrevistado no. 07).

Verificamos na fala acima citada que a condição de ter a deficiência, não seria o motivo do problema que dificultava suas atividades escolares, quando diz que sempre faz- nos supor que havia um processo contínuo da postura da usuária diante do que lhe ocorria.

Na sociedade existe um difícil acesso da pessoa com deficiência à educação. A estrutura física das escolas não contribui para que isso aconteça, onde é necessário que a pessoa com deficiência venha a se adequar às estruturas que a sociedade em geral impõe. Isto vai de encontro às diretrizes da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de deficiência, que preconiza a inclusão da Pessoa com Deficiência, respeitada as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, saúde,

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trabalho, à educação publica seguridade social, transporte, habilitação, cultura, esporte e lazer (BRASIL, 2000, p. 40).

Ressaltamos que o acesso à educação é um mecanismo imprescindível à sobrevivência e à cidadania, tendo em vista que a educação é um importante recurso na luta por melhores oportunidades. Além do mais, conhecer a si mesmo e as condições que o cercam é um direito do ser humano, reforçado pelo educador Freire (2001, p. 14), quando diz que a educação faz parte da liberdade e, portanto, da cidadania.

As análises das falas nos aproximaram da realidade vivenciada pelos sujeitos, não apenas no interior da instituição FUNAD, mas na manifestação de suas ações quando falam de que forma essa convivência representa para eles. De acordo com Jodelet (1990, p. 120) conhecer as representações dos sujeitos que vivem uma determinada situação nos possibilita ainda compreender as manipulações do cotidiano programado nesta situação. É no cotidiano que as representações imperam e é através delas que identificamos o papel estipulado para cada coisa.

Nosso objetivo é de que através dessa análise das representações da pessoa com deficiência frente à exclusão e inclusão, possamos distribuir as categorias encontradas, percebendo de que forma se expressa esse processo de exclusão e de como o mesmo se vê dentro de uma possibilidade inclusivista e de cidadania.

Podemos através das suas falas transcritas, confirmarmos que as razões mais elencadas para procurar a instituição foram pela necessidade de se submeterem ao processo de reabilitação, de acordo os entrevistados de número dois, três, quatro, cinco e seis. Os que procuram à instituição, visando o enquadramento no mercado de trabalho, correspondem aos de números um e sete. Vejamos o que disseram esses usuários a esse a respeito:

[...] bem, de início eu como deficiente eu gostaria de participar de alguma atividade né, na época de escola e eu fiquei sabendo que a FUNAD tinha cursos profissionalizantes, que a minha maior intensão era a questão da profissionalização. E eu vim para cá porque eu queria justamente arrumar um trabalho, então me disseram que a instituição tinha a CORPU, mas conhecida como setor de profissionalização e eu vim por causa disso (entrevistado no. 01).

Devido eu ter esse problema, e hoje em dia o governo ta criando condições, é pra você conseguir um emprego ta muito difícil, como eu já tinha esse problema, e como a FUNAD é uma instituição de dá apoio a este tipo de problema. Alias, em ajudar, você tem mais direito em concurso, junto às empresas, foi isso que me fez procurar a FUNAD (entrevistado no. 07).

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No que se referem às razões e ao tempo que estão na FUNAD, o que chamou a atenção foi à necessidade de se inserirem no mercado de trabalho e obterem o serviço de reabilitação oferecida pela instituição. Com um tempo de permanência variando de alguns meses até 14 anos na instituição, os usuários de certa forma buscaram a instituição com um propósito e, pela sua permanência ate hoje, se mostram de certa forma à vontade e satisfeitos na mesma.

Em relação aos serviços oferecidos pela instituição, a maioria dos usuários respondeu que conheciam os serviços existentes, e quando questionados, as respostas foram mais direcionadas à reabilitação, ou seja, aos serviços que estavam vinculados. Percebe-se, nesse contexto, que os usuários entrevistados via a instituição como um local para tratamento de suas necessidades físicas e motoras.

Quanto ao grau de satisfação em relação aos serviços e se havia alguma sugestão para os mesmo, todos foram unânimes no que se refere a serem suficientes em relação as suas perspectivas e mostraram-se gratos por fazerem parte da mesma. Os entrevistados de número um, dois, cinco, seis e sete, além da afirmativa, expressaram sua falas, enfatizando que a participação na mesma chegou a mudar sua vida em vários aspectos, no atendimento psicológico, fazendo-o sentir-se como cidadão (a) e no sentido de ter melhorado a relação familiar. Podemos observar tal afirmação nas falas dos seguintes entrevistados:

Com certeza, atende as minhas necessidades [...] com certeza, a minha vida particular melhorou bastante [...]. (No. 01);

Sim, atende [...] Cem por cento, em tudo. Como falei ficava sem perspectiva, aqui foi aberta uma porta muito grande, cheguei aqui com depressão, é cabisbaixa [...] (No. 02);

Atende e muito bem, pois desde que cheguei aqui, tenho melhorando bastante [...], melhoraram em todos os aspectos que você possa imaginar, na relação com a minha família, na aceitação da minha condição de deficiente, de entender que mesmo com minhas limitações físicas eu posso ser feliz. - [...]. (No. 05);

[...] com certeza, fui muito bem recebida, o pessoal muito educado, muito simpático, souberam me informar da melhor forma possível [...]. E graças a DEUS eu consegui tudo que eu queria e até alem da conta, [...] por exemplo a carteirinha interestadual, que eu já vou ter uma prioridade no ônibus, a carteirinha interestadual e também posso fazer concurso fica mais fácil entrar [...] (No. 07).

As observações empíricas realizadas no período da pesquisa mostraram que, as expressões utilizadas pelos usuários envolvidos na pesquisa costumam de certa forma, serem usual, principalmente naqueles que estão a longo tempo na instituição, como é o caso da maioria dos entrevistados.

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Constatando através da pesquisa que a reabilitação em si é o que mais está em evidência, nos discursos dos entrevistados, avalia-se que,como os meses e anos na instituição, o estreitamento na relação usuário e equipe sistemática do serviço do qual faz parte favorece uma acomodação que gera uma intimidade que dificulta a resolutividade do programa terapêutico estabelecido no processo de avaliação inicial do programa de tratamento, tendo em vista o(a) usuário(a) desse serviço, tornar-se parte do processo da rotina institucional. De um lado, existe a idéia de que o usuário não tem condições de viver sem a instituição e, do outro, o profissional habitua-se a rotina terapêutica estabelecida, achando que o usuário depende dos seus préstimos.

Podemos inferir que ocorre na relação pessoa com deficiência e instituição uma prática assistencialista. A impressão, durante a análise das respostas, é que a prática do assistencialismo alimenta a idéia de que a pessoa com deficiência está subordinada à reabilitação. A equipe que o assiste e a instituição passa a ser parte da sua vida, criando uma alienação e uma dificuldade ou até uma impossibilidade do corte dessa relação, justificada pelo longo tempo institucional pontuado pelos respondentes.

Deixamos bem claro que a relação e o respeito terapeuta/paciente são importantíssimos e elementares, para o processo de reabilitação como um todo. Mas, a partir do momento que os vínculos criam laços de dependência, subestima-se a capacidade do outro de ser livre e criar sua própria identidade e autonomia. E, por conseguinte, a não conscientização dos seus direitos e deveres como cidadão pertencente a um meio sem precisar tornar-se parte dele suas possibilidades de reivindicações e o senso crítico pelo fato de sempre terem justificativas, quando seus direitos como cidadão (ã) são desrespeitados e subestimados pela instituição como um todo.

Dentro do consensual, as instituições deveriam garantir àqueles em situação de exclusão social, como ainda é o caso dos nossos entrevistados dentro da conjuntura social vigente, às condições para que alcancem os seus direitos, partindo do princípio que esses segmentos são igualmente titulares de direitos, que, por sua vez, lhes têm sido sonegados.

Para tanto, ao longo das suas lutas e enfrentamentos,por meio dos grupos sociais que os representam, observamos a construção de políticas públicas voltadas à recuperação de sua dignidade e auto-estima, que consideramos ponto fundamental nesse processo é a própria construção das relações entre o poder público e as comunidades assistidas.

A assistência estabelecida por instituições que diz representar a pessoa com deficiência, deveria se dar entre dois sujeitos autônomos e não entre um sujeito, o poder público e um objeto, a comunidade carente. Diante disso, o que se vislumbra é a possibilidade

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dos assistidos nesse contexto institucional se organizarem de forma independente, elaborar suas demandas de forma coletiva e passarem a crer mais em si próprio do que na intervenção de qualquer liderança, autoridade ou instituição, que lhe apareça superior.

A assistência oferecida por instituições fins, que tenha como princípios essenciais o reconhecimento dos direitos e deveres das pessoas com deficiência, deveria ter como objetivo, através das suas atividades institucionais, despertarem uma consciência individual e coletiva, para que as pessoas com deficiência que participam das atividades de reabilitação tornem-se agentes críticos e conscientes dos seus direitos sociais e políticos, não só no meio em que realiza sua reabilitação, mas em qualquer ambiente que se encontrem e, assim, possam promover uma prática de emancipação social e política. Se na prática essas atitudes fossem empregadas, provavelmente produziriam sujeitos mais livres, críticos e autônomos capazes de construir e exercitar sua cidadania.

A assistência institucional que visa apenas o assistencialismo, ao se praticar a atenção às populações excluídas, oferece a própria atenção como uma "ajuda", vale dizer: insinuam, em uma relação pública, os parâmetros de retribuição de favor que caracterizam as relações na esfera privada. É pelo valor da "gratidão" que os assistidos se vinculam ao titular das ações de caráter assistencialista . O que se perde aqui é a noção elementar de que tais populações possam usufruir dos direitos e deveres sociais, e que, portanto, toda iniciativa pública, voltada ao tema da assistência caracteriza dever do Estado.

O que se vislumbra, é que o assistencialismo propriamente dito desenvolvido por instituições do estado tende a promover a submissão e a dependência, dificultando a organização de forma autônoma, mais ainda como expressão de demandas políticas. O assistencialismo observado sob essa vertente, transforma-se numa prática de dominação. Se bem sucedido, esse senso comum produz pessoas dóceis e manipuláveis.

4.2 A Representação Social da pessoa com deficiência frente à exclusão e