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5 Reservas e produção de petróleo e gás natural

6.3 Perspectivas

Tendo em vista o interesse global na produção deste recurso energético, esta seção apresenta um breve panorama das situações que têm dificultado e ameaçado o acesso em importantes regiões produtoras de petróleo. Neste contexto, é descrito o potencial nacional para produção de petróleo, tanto na região do pré-sal, que alavancou o status do Brasil no cenário mundial, quanto nas demais áreas com risco exploratório.

Há uma carência relativa de boas e novas oportunidades exploratórias no mundo para produzir petróleo, do ponto de vista político. Em regiões como o Norte da África e o Oriente Médio, a instabilidade política foi agravada, a partir de dezembro de 2010, por movimentos populares e queda de ditaduras. Estes movimentos ameaçaram o abastecimento de derivados de petróleo e gás natural gerando elevação de preços no mercado. Na África, o pouco sucesso, ou o adiamento das rodadas de licitações na Nigéria e Gabão e a separação do Sudão, evidenciam a constante instabilidade política de certas regiões e, como consequência, o receio causado nos investidores (DUTRA, 2011).

explorar novas fronteiras petrolíferas, bem como mercado consumidor final, têm enfrentado obstáculos para repor suas reservas e ampliar a produção, cada vez mais dependente do petróleo dos países detentores de reservas. As majors se retiraram, por questões políticas, de alguns países com tradição em produção e exportação de óleo & gás, como Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, bem como perderam espaço na Colômbia e Peru (DUTRA, 2011).

Outros exemplos de regiões onde as grandes petroleiras também têm enfrentado problemas de acesso às reservas são o Alaska, Atlântico Norte e Golfo do México.

No Alaska e Atlântico Norte, as atividades estão caminhando para geologias e condições meteorológicas cada vez mais críticas, dificultando as operações. No Golfo do México, após o acidente em 2010 com a plataforma Deepwater Horizon da BP, o ritmo da atividade exploratória foi reduzido em pelo menos dois terços e passou a ser executada sob novas regras e com novos reguladores (DUTRA, 2011).

Com base nesse cenário, a produção de petróleo estará mais concentrada em países com elevados riscos geopolíticos, tensões políticas, possibilidades de guerras e conflitos, e instabilidade econômica e institucional (ALÉM; GIAMBIAGI, 2010). Assim uma região como o Brasil, com estabilidade política e regulatória, é vista como um destino de interesse para as empresas que desejam ampliar sua produção de petróleo.

Além disso, no Brasil em 2007, foi anunciada a descoberta de grandes quantidades de petróleo e gás na província petrolífera do pré-sal42. Os primeiros sinais de petróleo na camada do pré-sal foram detectados na bacia de Santos, em áreas licitadas no regime de concessão. Os resultados das primeiras avaliações apontaram para a existência de volumes expressivos de hidrocarbonetos. A acumulação de Tupi43, na Bacia de Santos, com volume estimado entre 5 a 8 bilhões de barris de óleo equivalente, corresponde a aproximadamente 50% das reservas atuais. Esta descoberta é uma das maiores do mundo desde a descoberta de

42 A província do pré-sal possui cerca de 800 km de extensão e 200 km de largura e se distribui pelas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo, indo desde o litoral de Santa Catarina até o do Espírito Santo.

43 A comercialidade deste campo foi declarada em dezembro de 2010, quando passou a ser denominado Lula.

Kashagan, no Cazaquistão, em 2010. Novas descobertas também foram realizadas na nova província, confirmando o potencial da área: Júpiter, Iara, Bem-Te-Vi, Carimbé, Cernambi, Guará, Franco, Libra e Piracucá (PETROBRÁS, 2012).

Além dos expressivos volumes que poderão ser produzidos, o óleo leve da camada do pré-sal, pode mudar o perfil da produção nacional, reduzindo a importação de óleo leve e gás natural (PETROBRÁS, 2012). Essas descobertas representam um marco para a indústria nacional e mundial de petróleo e gás natural. De acordo com o MME, quando estes recursos forem incorporados às reservas provadas, a expectativa é que o Brasil fique entre os dez países com as maiores reservas de petróleo e gás natural do mundo (BRASIL, 2012).

Com isso, o Brasil passa a ter uma nova dimensão em relação ao potencial de participação no mercado mundial de petróleo e gás natural, podendo tornar-se um exportador no mercado internacional (TOMALSQUIM; PINTO JUNIOR, 2011). Diante desta nova condição, o governou optou por manter o regime de concessão para as novas áreas com risco exploratório a serem licitadas no futuro e para as áreas do pré-sal já outorgadas no regime de concessão e, suspendeu a regularidade das Rodadas de Licitações da ANP visando avaliar as mudanças necessárias no marco regulatório para as áreas do pré-sal ainda não licitadas. Assim, as novas áreas do pré-sal e aquelas consideradas estratégicas serão licitadas no novo modelo de partilha da produção, no qual a estatal nacional deverá ser a operadora de todos os contratos.

Nesse contexto, o Brasil apresenta-se como uma das áreas mais promissoras para exploração de petróleo nos próximos anos. Considerando o potencial de aumento das reservas nacionais e o modelo regulatório vigente que permite a atuação de empresas estrangeiras, tanto no regime de concessão quanto no novo modelo de partilha da produção, o Brasil poderá exercer importante papel no fornecimento de petróleo para o mercado mundial, atraindo investimentos em exploração e produção nos próximos anos (SANT’ANNA, 2010).

De acordo com projeções da U.S. Energy Information Administration, para o cenário de referência, o Brasil será o país que mais contribuirá para o crescimento da

duas vezes e meia no período, seguido por Iraque (2,1), Cazaquistão (2,1) e Quatar (1,8) (EIA, 2010).

A Petrobrás em seu plano de negócios, para o período 2011-1015, espera duplicar suas reservas provadas até 2020 e atingir a produção total de óleo e LGN de 3.993 mil boed em 2015 (inclui produção no Brasil e exterior). O objetivo da empresa no planejamento de longo prazo é produzir 6.418 mil boed em 2020. Neste número está previsto o aumento da participação da produção nas áreas do pré-sal, que receberão maiores investimentos da empresa (PETROBRÁS, 2011).

Dados do BNDES estimam que os investimentos no setor de petróleo e gás natural sejam da ordem de R$ 378 bilhões no período 2011– 2014. Devido as perspectivas geradas pelo pré-sal, este valor é 84% superior ao contabilizado no quadriênio anterior (2006-2009) e representa 62% do total de investimentos mapeado para a indústria brasileira. Considerando que a maior parte deste valor ainda não está relacionada a exploração no pré-sal, os investimentos deverão aumentar a partir da retomada das Rodadas de Licitações da ANP tanto para concessão de blocos com risco exploratório quanto para novas áreas do pré-sal. Portanto, o setor de petróleo e gás natural poderá ter uma importância ainda maior nos investimentos industriais realizados no país, no curto, médio e longo prazo (PUGA; BROÇA JUNIOR, 2011).

No entanto, a inexistência de novas rodadas de licitações nos últimos três anos, projeta para os próximos anos uma redução significativa da área em exploração, chegando a devolução de todos os blocos concedidos até o ano de 2015, caso os atuais contratos não prossigam para a fase de produção (NUNES; CAMPOS, 2010).

Assim, a retomada das Rodadas de Licitações das áreas com risco exploratório é importante para viabilizar novos investimentos no setor e manter uma área mínima sob concessão, colaborando também para ampliar as possibilidades de aumento das reservas nacionais. Além de redução na área em exploração, a falta de novas oportunidades por um período prolongado também pode levar algumas empresas a deixar o país, destinando seus investimentos de exploração e produção para licitações em outras regiões.