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Pesquisa Crítica de Colaboração

3 METODOLOGIA

3.2 Pesquisa Crítica de Colaboração

Antes de justificar a escolha metodológica desta pesquisa, a PCCol, julgo pertinente abordar o conceito de método na perspectiva vygotskyana, haja vista que a TSHC foi a base para meu trabalho, para transformação da práxis, e que não há colaboração crítica sem a compreensão dos processos de desenvolvimento.

Considerando o fato de que o método, para Vygotsky (1934/2007), visa compreender e analisar o processo de desenvolvimento e não o produto, em uma pesquisa é necessário abranger o processo de desenvolvimento em todas as suas fases e mudanças, descobrir sua natureza e sua essência.

Magalhães (2011) comenta que é necessário, na PCCol, um novo modo de olhar para ações próprias e de outros, além de compreendê-las criticamente, em relação a valores, objetivos, teorias e necessidades dos contextos particulares de ação. Esse novo olhar exige que

A procura de um método torne-se um dos problemas mais importantes de todo empreendimento para a compreensão das formas caracteristicamente humanas de atividade psicológica. Nesse caso, o método é, ao mesmo tempo, pré-requisito e produto, o instrumento e o resultado do estudo (VYGOTSKY, 1934/2007, p.69).

Na tentativa de reorganizar minha práxis, o conceito de instrumento-e- resultado apontado por Newman e Holzman (2002) é fundamental para compreender a PCCol, simultaneamente, como pré-requisito e produto, o instrumento e o resultado do estudo. A partir dessa visão, o método é, ao mesmo tempo, pré-requisito e produto, uma vez que o próprio método já é a produção de um conhecimento e, se organizado para esse fim, reorganiza o conhecimento, promove a emancipação, e colabora para a construção da consciência, entendida, vygotskyanamente, como aquilo que é próprio do ser humano, construída pela interação do sujeito com o objeto por meio dos artefatos culturais.

Desse modo, a abordagem de análise vygotskyana compreende três princípios que consideram:

1º a análise dos processos e não dos objetos, orientada para a reflexão sobre cada estágio de desenvolvimento e, progressivamente, sobre a reconstrução do conhecimento;

2º a explicação como forma de entender as relações dinâmico-causais e subjacentes a um determinado problema, em busca da essência dos fenômenos psicológicos; 3° a desconstrução do comportamento “fossilizado”, de forma que o pesquisador

seja forçado a transformar seu caráter mecânico, retornando à sua origem psicológica elementar para reconstruir seu nível psicológico superior.

Compreender e analisar o processo de desenvolvimento, ao contrário de ser um resultado pronto e acabado, facilita a reorganização da práxis e faz com que a metodologia deste trabalho se paute na pesquisa crítica de colaboração (PCCol), cujo foco é a intervenção na prática escolar, atribuindo aos participantes, antes vistos como objetos de pesquisa, um papel ativo de construtores de conhecimento (MAGALHÃES, 2007). De acordo com a mesma autora, a pesquisa colaborativa pode ser definida como um método intervencionista que visa à compreensão e à transformação da práxis por meio do processo reflexivo permeado por conflitos e inquietações.

John-Steiner e Moran (2003) explicam que a colaboração é um campo social produtivo que apresenta um significado social para seus participantes. É por meio da colaboração que se pode compartilhar a criação e a descoberta de dois ou mais indivíduos com habilidades de interação que se complementam em direção a uma compreensão coletiva, a qual ninguém poderia ter descoberto ou aprendido sem a presença e a colaboração um do outro. Para as autoras, a colaboração é um processo transformador para os participantes, pois cria ZPDs e compartilhamentos que, a longo prazo, abrem espaço para a confiança, a negociação e conexões voluntárias.

O que se pretende nesta pesquisa é frisar a colaboração crítica como processo de transformação de minha práxis como professora-pesquisadora e da reconstrução de todos os sujeitos envolvidos nela. E mesmo com o término desta pesquisa, a colaboração crítica continuará se construindo num processo contínuo.

Magalhães (2011) salienta que a pesquisa crítica de colaboração exige um olhar reflexivo, modos questionadores de pensar e agir, já que colaboração e contradição são centrais para a organização dos processos responsáveis pela constituição dos indivíduos e pelas escolhas de ação-discurso.

A PCCol, como opção teórico-metodológica, possibilita ao pesquisador a conscientização da prática, favorecendo uma possível transformação de condutas, atitudes, valores e sentimentos de uma totalidade. No entanto, a transformação da prática é uma tarefa complexa, com percalços, obstáculos e resistências, advindos dos sentidos que foram se constituindo nos sujeitos, sócio-historicamente, e que permeiam as ações do professor e do contexto escolar.

Esta pesquisa, pauta-se, portanto, na tentativa de um agir profissional dialógico, criativo e ético, pois, como professora-pesquisadora, tentei agir de maneira crítica e colaborativa e me reorganizar como um pensador-ator reflexivo, considerando as contradições estabelecidas na atividade educativa e as questões sócio-histórica-culturais responsáveis por originá-las e por motivar as necessidades a serem supridas para com elas operar modificações no contexto de minhas ações. Não somente a reconstrução de minha práxis estava em jogo, mas também o propósito de levar os aprendizes a novos modos de agir dentro e fora dos muros da escola.

Magalhães (2011) explica que a colaboração crítica é um contínuo movimento de percepção e ação-reflexão, direcionado por um projeto histórico e político em seus momentos de conscientização ou de ação e que supõe uma prática voltada à capacitação do profissional, num processo indissociável de reflexão e ação para transformação da realidade escolar.

Considerando a colaboração crítica como um movimento contínuo de ação-reflexão, durante o desenvolvimento desta pesquisa realizei duas vezes a produção/coleta de dados. A primeira produção/coleta de dados ocorreu em outro contexto de pesquisa, com outros participantes que pertenciam a um grupo de reforço de LP. O objetivo inicial era trabalhar com uma SD sobre o gênero autobiografia com alunos do 6º ano do EFII de uma escola pública da rede estadual. No entanto, ao analisar os dados percebi não ser possível, por meio deles, responder minhas perguntas de pesquisa, fato este gerador de grandes conflitos e que me fizeram refletir sobre uma nova coleta de dados em outro contexto de pesquisa.

Por esse motivo, na ação-reflexão, refiz a coleta de dados e passei a analisá-los sempre ao término de cada aula, com o intuito de reconstruir minha práxis e proporcionar mais interação entre os participantes, de forma que os levasse à apropriação do objeto, ou seja, o aprendizado de como se escreve um currículo.

Definida a metodologia teórico-prática, instrumento-e-resultado que é a PCCol, passo adiante, apresentando a descrição do contexto de pesquisa.