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A pesquisa em fontes primárias e secundárias: compreensão do conceito deweyano de “educação

1. ABORDAGEM QUALITATIVA DA PESQUISA

1.1 Instrumentos de pesquisa

1.1.1 A pesquisa em fontes primárias e secundárias: compreensão do conceito deweyano de “educação

A natureza do objeto de estudo focalizado nesta pesquisa firmou a necessidade de uma investigação bibliográfica. O conceito de experiência presente na teoria educacional de um autor que viveu entre os séculos XIX e XX (o qual foi superficialmente lido em nosso país e ainda assim o é em nossos cursos de formação de professores), bem como a literatura atual sobre cultura escolar e valorização da experiência exigiram esta forma de pesquisa:

Caracteriza-se a pesquisa bibliográfica pela identificação e análise dos dados escritos em livros, artigos de revistas, dentre outros. Sua finalidade é colocar o investigador em contato com o que já se produziu a respeito do seu tema de pesquisa (GONSALVES, 2001, p.35).

Tal definição de pesquisa bibliográfica é válida especialmente porque os escritos analisados para compreender o conceito de experiência, teorizado por John Dewey, têm origens diferenciadas. A leitura abrangeu desde seus livros até os trabalhos de autores que se ocuparam em estudá-lo, sendo que a vasta bibliografia encontrada teve como critério de seletividade a referência feita ao conceito de experiência.

Pensando a caminhada de pesquisa neste sentido de exploração e investigação, faz-se necessário que sejam esclarecidas algumas definições que caracterizam a pesquisa bibliográfica. Segundo Gonsalves (2001), nesta metodologia de pesquisa, de exploração de materiais bibliográficos, podemos nos valer de materiais considerados de fonte primária e de fonte secundária.

Definem-se como sendo fontes primárias, aqui nesta pesquisa, os escritos do próprio Dewey. As fontes secundárias caracterizam-se, neste caso, como textos construídos por estudiosos que se dedicaram em pesquisar a vida e a obra de John Dewey. Além deles, são considerados também, como fontes secundárias, trabalhos que definem a cultura escolar atualmente e sua dimensão “experiencial”, de autores

contemporâneos, que se ocupam em retomar o conceito de experiência e que subsidiaram as falas das professoras entrevistadas.

É importante destacar que, no início da pesquisa, não estava definido que obras de John Dewey seriam utilizadas para alcançar os objetivos propostos. Aquilo que se apresentava com clareza era o fato de que o conceito de experiência era encontrado em diferentes trabalhos do autor, em alguns de forma mais explícita, em outros não. Entretanto, na medida em que fui realizando as primeiras leituras de suas obras, pude selecionar algumas destas. A situação permitiu-me ter um panorama mais completo das produções teóricas que poderiam ser utilizadas no desenvolver da pesquisa. A viabilidade da alternativa, de não limitar a priori as obras, é perceptível, pois, mesmo tendo em mãos vários textos complexos, o foco permaneceu no conceito de experiência, o qual, por si só, delimitou a leitura e a análise. O conceito de experiência toma, assim, a proporção de ser centro da investigação, pois comporta elementos fundamentais da filosofia de educação de John Dewey, revela aspectos da concepção de ensino e aprendizagem da obra deste autor.

A leitura das fontes primárias tem nesse conceito seu foco principal. A Escola e a

Sociedade, A Criança e o Currículo (2002), originalmente publicado em 1900, é um

dos livros analisados. Trata-se de uma importante obra de Dewey, a mais antiga das aqui selecionadas, que comporta uma série de elementos significativos sobre a caracterização da experiência, especialmente no capítulo que se refere à Criança e o Currículo16, naquilo que diz respeito à distância que a escola consegue estabelecer entre os conhecimentos academicamente organizados e aquilo que o aluno vive, interage, constrói no seu dia a dia.

La Educación de Hoy (1957), originalmente publicada em 1957 é um livro no

qual Dewey trata de temas diferenciados: cultura, política, religião, profissão docente, democracia, individualidade, entre outros. Focalizo a leitura e análise especialmente nos capítulos: 3 – “El lugar de la actividade manual en el programa elemental”, 6 – “La experimentación en la educación”, 17- “Por qué tenemos escuelas progresivas”, e no último capítulo do livro, 23- “La democracia y la educación en el mundo de hoy”. Nestes capítulos, encontro significativas contribuições ao conceito de experiência. Em

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Cabe aqui fazer uma nota de destaque ao fato de que o Capítulo: Criança e Currículo deste livro encontra-se de forma muito semelhante no livro Vida e educação (1973). No capítulo I. A Criança e o

programa escolar. O que diferencia os textos é o fato de terem sido traduzidos por profissionais

diferentes, o que modifica a organização dos textos e as palavras dos mesmos. Sendo assim, do meu ponto de vista, este último traz de forma mais clara e didática as idéias do autor.

tal obra, aparece com ênfase a idéia de Dewey quanto às incoerências que se mostram entre um sistema “atrasado” de educação em contraponto à evolução da sociedade, da ciência principalmente.

Como Pensamos (1959a), originalmente publicado em 1910, revela a complexidade que envolve a dinâmica do pensamento. Sua riqueza está na forma metódica com que o autor explana a organização lógica do pensamento reflexivo. Nessa obra, encontramos importantes contribuições sobre o conceito de experiência. É um trabalho considerável para fugirmos de entendimentos superficiais sobre o que significa experiência para Dewey.

O livro Democracia e Educação (1959b), livro originalmente publicado no ano de 1916, foi considerado pelo próprio autor como sendo o seu melhor livro sobre educação. É uma obra extensa que dá subsídio a uma série de conceitos importantes referentes ao sistema de educação que ele propõe, mas especialmente à Filosofia da Educação. Conforme explicado pelo próprio autor, a obra está dividida em quatro partes17, dessas, a que mais se aproxima dos objetivos da pesquisa é a segunda, a qual comporta noções de experiência e de método. Detive-me, então, especificamente à leitura e à análise dos capítulos: 11- Experiência e pensamento, 12 – O ato de pensar e a educação e, 13 – A natureza do método, integrantes da segunda parte, sem, é claro, deixar de ler e compreender a obra como um todo.

No livro Experiência e Educação (1971), publicado originalmente no ano de 1938, tem-se uma dimensão mais completa de como o autor encaminha suas teorizações quanto à valorização da experiência no ambiente escolar e à necessidade de uma teoria que a sustente no âmbito educativo. Neste livro, puderam ser aprofundadas as questões que reforçam a opção pelo estudo da obra de Dewey dado que, suas afirmações nesta obra se referem especialmente à incoerência que a escola consegue estabelecer nas relações entre o aluno, suas vivências e experiências, e os saberes construídos pela humanidade. Está justificada, assim, a busca por uma teoria que sustente a importância de considerar a ‘conexão orgânica entre educação e experiência pessoal’.

Vida e educação (1973), originalmente publicado em 1973 foi um livro

importante para esta pesquisa, pois reforça elementos já mencionados em obras anteriores e acrescenta fatores importantes que caracterizam os prejuízos gerados por

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A análise do livro Democracia e educação foi realizada de forma mais detalhada por Marcus Vinícius Cunha (2007) no texto: Leituras e desleituras da obra de John Dewey, conforme citado nas referências desta pesquisa.

visões extremistas “ou deixamos a criança entregue à sua própria atividade espontânea, ou lhe temos que ditar a direção por compressão externa” (DEWEY, p.61). Na obra, encontramos, também, uma importante fonte secundária da pesquisa, os escritos de Anísio Teixeira. Este autor brasileiro foi um dos principais, se não o principal, difusor da filosofia de John Dewey no país, no início do século XX. Teixeira escreveu, na edição brasileira do livro Vida e educação, de John Dewey, um capítulo sobre “A pedagogia de Dewey”, composto por dois textos: “Educação como Reconstrução da Experiência” e “A Escola e a Reconstrução da Experiência”.

Outra importante referência brasileira de estudos e difusão do pensamento de John Dewey em nosso país está nos trabalhos do professor Marcus Vinícius Cunha, o qual contribuiu e ainda vem contribuindo consideravelmente para a leitura dos escritos deweyanos, dada sua renomada produção teórica sobre o autor norte-americano. Dentre seus escritos, encontramos dois livros, John Dewey: uma filosofia para educadores

em sala de aula (1998) e John Dewey: a utopia democrática (2001), além de artigos e

capítulos de livros que revelam um cuidado especial com o legado deste pensador. Considero pertinente, então, referir tais produções, na medida em que contribuem para uma melhor apreciação do conceito de experiência em John Dewey, foco central da pesquisa.

As obras aqui citadas foram importantes fontes para alcançar os objetivos propostos neste estudo, especialmente, para a compreensão do conceito de experiência presente na teoria de John Dewey. Cabe também salientar que todo este movimento investigativo tem sua raiz motora em uma incoerência ou problemática que nos é bem atual e que, por isso, também foi aqui caracterizada, qual seja: a dificuldade do trabalho com a experiência do aluno e com o acontecimento da experiência no espaço escolar, agravada em uma escola que não consegue ser significativa para seu aluno.

1.1.2. Entrevistas semi-estruturadas: sua importância na construção e