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Pesquisas ad hoc

No documento Estratificação Socioeconômica e C (páginas 45-49)

CLASSES SOCIAIS E ESTRATOS

1.5 ESTRATIFICAÇÃO SOCIOECONÔMICA NO BRASIL

1.5.4 Exemplos de aplicação da estratificação socioeconômica no Brasil

1.5.4.3 Pesquisas ad hoc

Esse tipo de pesquisa refere-se àquelas feitas para atender a um fim específico. São pesquisas realizadas sob encomenda de uma empresa, de um governo, de uma ONG, de um partido político, enfim, de uma organização que deseja obter respostas para problemas especificamente colocados para um pesquisador. A origem, portanto, das pesquisas ad hoc decorre de neces- sidades pontuais apresentadas por um solicitante. Em função dessa carac- terística e considerando, por exemplo, o campo de conhecimento de mar- keting, essas pesquisas têm forte participação, em seu desenvolvimento, de gerentes de produto, de gerentes de marketing, de gerentes de comunica- ção, dentre outros profissionais. Eles participam e/ou aprovam o tipo de pesquisa que será realizada (pesquisas calcadas em técnicas qualitativas e/ ou quantitativas); o instrumento de coleta de dados (questionário, roteiro de perguntas, formulário de observação etc.); o plano amostral (método

amostral a ser empregado, segmentos-alvo de pessoas ou organizações a serem pesquisados, regiões e municípios onde será feita a coleta de dados, o tamanho e distribuição da amostra etc.); procedimentos de coleta dos da- dos (por entrevista pessoal face a face, por internet, voluntária por autopre- enchimento etc.); além de discutirem e estabelecerem suas necessidades de análise dos dados, definindo o tipo de apresentação dos resultados/relatório que gostariam de receber.

Pesquisas ad hoc são feitas em praticamente todas as áreas de conhe- cimento: em marketing (por exemplo, testando o conceito de um novo pro- duto, de uma nova embalagem, em pré e pós-teste de comerciais etc.); em recursos humanos (pesquisa sobre clima organizacional, ergonomia, satis- fação com benefícios sociais dados aos empregados etc.); em educação (per- cepção de alunos em relação a pontos fortes e fracos associados a diferentes processos de ensino/aprendizagem), em arquitetura (percepção de mora- dores em relação a plantas de apartamentos); em medicina (descrição de sensações ou reações por pacientes quanto ao uso de novos medicamentos); em engenharia automotiva (avaliação feita por motoristas de estabilidade, desempenho, consumo de combustível, conforto de um automóvel); em ci- ência política (fatores relevantes considerados pelos eleitores na escolha de um candidato a prefeito); em sociologia (percepção em relação a questões de homofobia, preconceito racial, geracional, socioeconômico, de gênero etc.). Pesquisas ad hoc são aquelas mais comumente realizadas pelas empre- sas (anunciantes, veículos de comunicação, agências de propaganda etc.), pelo governo, por organizações do terceiro setor, por partidos políticos, por instituições religiosas e, inclusive, por pesquisadores acadêmicos e por alunos de mestrado e doutorado na elaboração de suas dissertações e teses, respectivamente.

Efetuada essa apresentação geral, focaremos nossa atenção nos tipos mais comuns de pesquisa ad hoc realizadas na área de marketing:

• pesquisas AIO – atividades, interesses e opiniões de consumidores em relação a uma determinada categoria de produto ou marca (por exemplo, creme dental, marcas A, B, C etc.);

• pesquisas de satisfação de clientes em relação às principais marcas de uma dada categoria de produto ou em relação a determinados prestadores de serviço;

• pesquisas de imagem percebida de marca, por exemplo, de televisão aberta, de universidades, de jornais e revistas etc.;

• pesquisas relativas à confiança depositada pelos consumidores em re- lação a um conjunto de marcas de uma dada categoria de produto; • pesquisas sobre mudança efetiva ou intencionada de marca;

• pesquisas sobre intenção de compra de um novo produto ou de um produto existente lançado em um novo mercado;

• pré e pós-teste de comerciais para televisão, de jingles para rádios, de anúncios para publicação em jornais e revistas, avaliando a com- preensão da mensagem, pontos positivos e negativos em relação a eles, aspectos que modificariam na mensagem etc.;

• pesquisas relativas a lançamento de novos produtos, avaliando as- pectos como seu conceito, atributos percebidos como positivos ou negativos, sensibilidade a preço e a apelos de comunicação, análise da embalagem, percepção a locais que deveriam vender o produto, tipo de consumidor que compraria o produto, modificações sugeri- das para o produto, enfim, levantar e analisar elementos que auxi- liem a administração de uma empresa a reduzir riscos de insucesso competitivo quando da entrada do produto no mercado;

• pesquisas de preferência do consumidor, avaliando custos e benefí- cios entre atributos relevantes do produto, níveis de preço e marca, por exemplo;

• pesquisas de elasticidade de preço;

• pesquisas sobre compras ou uso de serviços realizados em lojas físi- cas e no comércio eletrônico;

• pesquisas de posicionamento de marcas, discriminando atributos que caracterizam e diferenciam uma marca de outras;

• pesquisas de marcas, avaliando o conhecimento, a imagem perce- bida, a personalidade, o consumo, de forma a configurar o valor dessa marca;

• pesquisas de identificação do perfil de potenciais consumidores de um novo produto ou serviço;

• pesquisas para avaliação do dimensionamento do mercado poten- cial para um novo produto ou serviço;

• teste de sabor de um novo produto, como refrigerante, cerveja, sor- vete, iogurte etc.

Em função dos objetivos específicos estabelecidos para cada pesquisa ad hoc, da disponibilidade de recursos orçamentários, do tempo requerido para obter os resultados, do conhecimento e experiência dos pesquisadores envolvidos, definem-se o tipo e as técnicas de pesquisa a serem emprega- dos. De modo geral, as pesquisas ditas qualitativas são realizadas por meio de grupo focal, entrevistas em profundidade, etnografia e observação. De outra parte, as pesquisas ditas quantitativas geralmente utilizam coleta de dados por meio de entrevistas presenciais, por internet ou por telefone, empregando-se para analisar os dados, dependendo de seu objetivo e de condições como o número de variáveis dependentes e tipos de escala de me- dida utilizados, técnicas estatísticas de dependência ou de interdependência. As principais técnicas clássicas de dependência que têm sido empregadas nas pesquisas ad hoc correspondem à análise de regressão por mínimos quadrados ordinários, regressão logística binária ou multinomial, análise discriminante binária ou múltipla, análise conjunta, análise de variância simples ou múltipla, análise de correlações canônicas e modelagem de equa- ções estruturais, dentre outras. Em contraposição, como principais técnicas clássicas de interdependência empregadas em pesquisas ad hoc, destacam- -se as seguintes: análise de componentes principais, análise fatorial, análise de conglomerados ou de agrupamentos, escalonamento multidimensional e análise de correspondência, dentre outras.

As empresas, em especial as de maior porte, costumam comprar pesquisas contínuas, como as de painel de consumidor e de mídia, assim como realizam pesquisas ad hoc. Estas são demandadas à luz de neces- sidades específicas das empresas, sendo executadas ao longo de todo o ano, muitas vezes por diferentes institutos de pesquisa. Desse modo, es- sas pesquisas deveriam ter um elemento comum que permitisse a compa- rabilidade de resultados e que poderia ser a variável estratificação socio- econômica, que possibilitaria cruzar os resultados de todas as pesquisas realizadas. É importante destacar que a classificação de respondentes nos diversos estratos socioeconômicos pode ser efetuada com base em um subconjunto de variáveis geodemográficas, culturais, de acesso a bens públicos e de posse de bens e serviços de conforto doméstico, utili- zadas para a construção da estratificação socioeconômica. Isso permite que pesquisas ad hoc feitas por distintos institutos de pesquisa possam ser cruzadas usando-se como base a estratificação socioeconômica. Da mesma forma, pesquisas realizadas em diferentes épocas também pode- rão ser avaliadas longitudinalmente, se identificados os estratos socio- -econômicos dos respondentes.

Tendo-se efetuado, neste capítulo, uma breve revisão de literatura a respeito de classes ou estratos socioeconômicos, sendo evidenciada a re- levância teórica de fundamentar a estratificação com base no conceito ou construto de classe social e renda permanente e justificado o uso da mode- lagem por classes latentes ordinais, vamos apresentar e discutir, no próximo capítulo, os procedimentos metodológicos empregados para a concretiza- ção da estratificação socioeconômica proposta.

No documento Estratificação Socioeconômica e C (páginas 45-49)

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