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2. A INFLUÊNCIA DA GESTÃO ESCOLAR SOBRE A QUALIDADE

2.5 Análise da Escola selecionada na perspectiva das dimensões da gestão

2.5.2 Planejamento e organização do trabalho escolar

Para Lück (2009), o planejamento e a organização devem ser concebidos como fatores imprescindíveis da gestão escolar que implicam no delineamento e esclarecimento dos encaminhamentos, a difusão dos rumos de cada decisão e dos objetivos de cada ação. Logo, dentro da visão sistêmica da organização escolar, o planejamento torna-se elemento fundamental.

Nesse mesmo sentido, a diretora da EM Carlos Góis deixa claro que o planejamento deve ser compreendido como essencial para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico orientado. Inclusive, como se pode verificar na entrevista (Apêndice C), a diretora, logo ao entrar em exercício na educação pública, afirma ter ficado surpreendida ao perceber que os professores não tinham o hábito de fazer planejamento de suas atividades docentes.

No sentido de planejamento e organização do trabalho escolar definido por Lück, os professores que participaram da pesquisa, consideram que a gestão da EM Carlos Góis é satisfatória quanto a este fundamento, como pode ser visto pelo grau de concordância relação ao item 3 no quadro 3 que enfoca esta dimensão:

Quadro 3 – Avaliação da diretora quanto ao planejamento e organização do trabalho escolar

Frequência de respostas dos professores relativa à avaliação da Diretora quanto ao planejamento e organização do trabalho

escolar

Concordância → 0 1 2 3 4 5

Respondentes 3 - Estabelece na escola a prática do planejamento como um processo

fundamental de gestão, organização e orientação das ações em todas as áreas e segmentos escolares, de modo a garantir a sua materialização e efetividade.

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4 - Promove e lidera a elaboração participativa, do Plano de Desenvolvimento da Escola e o seu Projeto Político-Pedagógico, com base em estudo e adequada compreensão sobre o sentido da educação, suas finalidades, o papel da escola, diagnóstico objetivo da realidade social e das necessidades educacionais dos alunos e as condições educacionais para atendê-las.

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Elaborado pelo autor a partir da resposta dos professores ao questionário aplicado.

Percebe-se, também, pela frequência de respostas ao item 4 do quadro 3, que a diretora favorece a participação da comunidade escolar na elaboração do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola de modo que tais projetos estejam alinhados com as necessidades educacionais de seus alunos. Esse é mais um indicativo de um trabalho bem estruturado e planejado.

Sabe-se também, de acordo com Lück, que a formulação sistemática de objetivos e o estabelecimento de ações alternativas são necessários em todas as dimensões da educação para que sejam tomadas melhores decisões que resultarão em uma contínua melhoria da qualidade educacional da escola. Pode-se perceber algumas ações alternativas na EM Carlos Góis, implementadas pela diretora cuja finalidade era a de proporcionar conquistas pedagógicas, na fala:

Daí cortei o Projeto de Informática (como forma de viabilizar a implantação do Projeto de Intervenção Pedagógica). Muitos disseram: “Nossa, tá tirando a inclusão digital, como que pode ser, chega essa menina e vai fazer isso aqui dentro, tirar os computadores desses meninos!” Ah, mas eu tirei. O que adianta

manter os alunos com acesso à tecnologia, se eles não sabem escrever o nome. Banquei esse projeto de intervenção entre 2007 e 2008. E em 2007 já tive os primeiros resultados. Nosso PROALFA já foi um pouquinho melhor (diretora da escola, em entrevista).

São percebidas nesta pesquisa outras ações alternativas, implementadas pela diretora, que podem ter permitido uma melhor compreensão sobre o sentido da educação e de suas finalidades, bem como o papel da escola em função das necessidades e condições educacionais dos alunos. Uma dessas ações foi a modificação no critério de alocação de professores por turma que, antes de seu mandato, obedecia a lista de acesso26. De acordo com a diretora, a partir de seu mandato, o critério da alocação do professor por turma passou a ser em função do perfil docente, o que poderia ser mais adequado no sentido de suprir as necessidades educacionais de cada turma.

Outra evidência de tomada de decisão estratégica, é vista a seguir:

(...) nossas necessidades são muito básicas. Uma das coisas que me incomodava quando eu cheguei à escola, era que os meninos ficavam assim: “o professora, que horas que é a merenda?” Porque era fornecido um leite para as crianças que chegavam quinze para as sete. Que menino que chega quinze para sete para tomar leite puro? Não tinha um biscoito, nem um chocolate nem nada. Porque não podia ser às sete horas, na hora que o menino chega à escola? Foi uma das coisas que eu fiz. Essa questão de comida. Todo dia tem que ter comida. E à noite, o aluno que trabalhava o dia inteiro chega e vai tomar canjica? Essas nutricionistas, eu não sei o mundo que elas vivem não (diretora da escola, em entrevista).

Por meio de ações alternativas como essas, fundamentadas e legitimadas por uma visão educacional mais abrangente, podem servir de base para a promoção e desenvolvimento integral dos alunos.

Percebe-se também a importância dada às reuniões realizadas na escola para o planejamento das atividades pedagógicas e administrativas. De acordo com a diretora, ocorrem mensalmente reuniões pedagógicas com a participação dos professores, coordenadores e direção. Com a equipe de coordenadores é realizada reunião formal uma vez por semana e, quando necessário, reuniões extraordinárias. Segundo a diretora, nas reuniões pedagógicas são discutidos, entre outras pautas,

26 Lista de acesso: lista na qual os professores são ordenados de acordo com sua lotação na escola. Seu efeito é de que os professores mais antigos na escola possuiriam algumas vantagens, entre as quais, a de escolher sua turma para lecionar.

“a questão de conteúdos, de projetos, do que vai ser feito, das avaliações” (diretora da escola, em entrevista).

Em diversos momentos da entrevista, a Diretora da EM Carlos Góis cita o planejamento como fundamental para definições de ações que visam à produção de resultados educacionais. Por exemplo, quando perguntada sobre o que ela recomendaria à próxima gestão para que não haja regressão de resultados, ela responde: “Planejamento. Foco no pedagógico. O lado administrativo você atrasa um pouquinho. Uma coisa que eu faço questão é que o atendimento do aluno é prioridade.” E quando questionada sobre a possibilidade de a escola ter atingido a saturação dos resultados ela novamente recorre ao planejamento ao responder:

O IDEB é muito difícil de você subir. Então, em relação ao nosso IDEB ali, ainda mais da nossa região, a ideia é manter. E manter é muito difícil. Você tem que manter uma regularidade nas ações. E aí, agora, é ser constante, manter isso. Aprimorar nossas discussões em termos de planejamento” (diretora da escola, em entrevista).

Tais falas encontram sintonia com as ideias de Lück (2009). Segundo a autora, o planejamento constitui um processo contínuo de definição dos compromissos de ações e reflexão sobre as decisões. Por isso, o planejamento deve ser participativo, de modo a envolver todos os atores, buscando dos mesmos a colaboração e a corresponsabilização sobre os resultados.