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3. OS PARÂMETROS URBANÍSTICOS E A SUA INFLUÊNCIA NA MEDIAÇÃO

3.3 O PLANO DIRETOR INSTRUMENTALIZADO

Costa (2015) referencia a constatação de que a transformação observada na forma de ocupação do território brasileiro ocorreu principalmente nas últimas duas décadas do século XX, derivada do grande crescimento da urbanização, apresentando dados levantados pelo IBGE. Aponta a base de que em 1980 o país possuía 142 cidades com mais de 100 mil habitantes, e passou a ter, em 1991, 187 cidades. Também é possível verificar esse crescimento acelerado através da taxa de urbanização, a qual demonstra que a população urbana passou de 36,16% para 77,13% da população total do país entre 1950 e 1990. Os dados apresentados são a base das justificativas para os resultados da falta de planejamento urbano.

Como cita Costa (2015), o Plano Diretor é uma lei municipal de cunho obrigatório para municípios com cidades com mais de 20 mil habitantes, e deve ser a ferramenta básica da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana. E, pelas palavras do autor, de acordo com Braga (1995), tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

Mattos (2017) compreende que o conceito de que o plano realizado de acordo com a realidade física, social, econômica, administrativa e ambiental, e que vise a melhorias que atendam e proporcionem bem-estar e qualidade de vida a toda a população do município, é a ideia de efetivação do Plano Diretor.

A legalidade e ilegalidade são faces do mesmo processo de produção do espaço urbano, e muitos são os estudos que cercam a relação entre a legislação, planejamento urbano, exclusão social e segregação urbana, e também até mesmo a violência urbana (COSTA, 2015). A mudança de enfoques sobre os mesmos problemas, sobretudo aqueles que tanto preocuparam a questão urbana nas décadas recentes, é paradigmática, indicando até mesmo uma mudança no modo de ver a cidade.

Villaça (1999) defende o questionamento do porquê a sociedade discute Planos Diretores há tanto tempo, já que o considera algo que não se sabe direito o que é, e quais são os efeitos supostamente benéficos que ninguém nunca experimentou efetivamente. A serviço da criação e sustentação dos sonhos de planejamento se apresentam os políticos, os intelectuais, a imprensa, os professores e os órgãos públicos e de classe (COSTA, 2015). Órgãos municipais, estaduais, regionais e federais conectados ao desenvolvimento urbano redigem relatórios e realizam pesquisas visando suprir essa necessidade real de planejamento.

Lacerda (2005), citado por Costa (2015), explica que a Constituição Federal de 1988 apresenta os Planos Diretores como instrumentos básicos e fundamentais para o planejamento urbano, o que se reafirma em 2001, com a promulgação do Estatuto das Cidades. Destaca-se que, durante a década de 1970, a promoção da elaboração de planos caracterizados pela valorização do ordenamento físico-territorial, a abrangência exclusiva da área urbana e seu caráter tecnocrático foram concebidos sem o envolvimento da população.

Ainda segundo Villaça (1999), a década de 1990 foi marcada pelo fim de um período na história do planejamento urbano brasileiro, determinando o começo de um processo de politização. A elaboração de um plano diretor põe em vista os problemas urbanos, e os coloca em discussão, e assim o interesse do setor imobiliário tem proposto planos apenas de princípios gerais, que se tornam obsoletos, pois temem o surgimento de novos dispositivos contrários a seus interesses (VILLAÇA, 2005).

Costa (2015) comenta que o Estatuto das Cidades aborda juridicamente a ação dos governos municipais que têm se empenhado no enfrentamento das questões urbanas, sociais e ambientais e que têm afetado a vida de uma enorme parcela de brasileiros, já que 82% da população total vive em meio urbano. Este Estatuto impulsionou novas reflexões sobre o planejamento municipal, principalmente os Planos Diretores, quando estabeleceu prazos para a elaboração destes. Vejamos:

“O Estatuto da Cidade, segundo Fernandes (2001, p. 32) consagra vários princípios do Direito Urbanístico, tais como: o da função social da propriedade e da cidade; o do urbanismo como função pública que não se reduz à ação estatal; o caráter normativo das regras urbanísticas – que regulam tanto a ação do poder público quanto do

meio social e do domínio privado; a conformidade da propriedade urbana às normas urbanísticas; a separação do direito de construir do direito de propriedade; a coesão das normas urbanísticas; o da justa distribuição dos benefícios e ônus da urbanização; o da afetação das mais valias ao custo da urbanização – ‘de modo que o poder público possa recuperar e reverter em prol da comunidade à valorização imobiliária que decorre do investimento público para as propriedades privadas” (COSTA, 2015, p. 114).

De acordo com Rezende e Ultramari (2008), a principal crítica levantada sobre os planos diretores é a amplitude de seus propósitos para uma realidade complexa e mutante, que é a urbana da atualidade. Villaça (1999) defende alguns dilemas em recorrer aos planos diretores que os colocam em crise. Destaca como maior apontamento o fato de que o planejamento urbano manifestado nos planos diretores ou planos físico-territoriais existem apenas na teoria, contrariamente às leis de zoneamento e parcelamento.

“A obrigatoriedade de elaboração dos planos diretores foi imposta pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 182, contudo, conforme demonstra Braga (1995), dentre os municípios paulistas, já havia tal obrigatoriedade desde 1967, quando da aprovação da Lei Orgânica dos Municípios (Lei 9842/67), depois alterada pelo Decreto Lei Complementar número 09 de 31 de dezembro de 1969” (COSTA, 2015, p.115).

Costa (2015), delimita que o conteúdo mínimo do plano diretor deve dispor de:

1) uso do solo urbano, expansão urbana; 2) parcelamento do solo urbano; 3) habitação, saneamento básico e, por fim, 4) transporte urbano. A Constituição não define as dimensões temáticas do Plano Diretor, concluindo que o foco principal é o desenvolvimento municipal. O artigo 182 da Constituição tem grande implicação territorial ao elencar funções sociais da cidade e o bem-estar comum entre os cidadãos como objetivos da política urbana, estabelecendo o Plano Diretor como instrumento fundamental para a mesma política, incluindo o desenvolvimento e expansão urbana (VILLAÇA, 2005).

Villaça (1999) aponta que o plano diretor não pode limitar-se às zonas urbanas do município, pois não há uma total interdependência entre a cidade e a zona rural. O plano diretor deve abordar todos os problemas de competência do município.

Atualmente, esta questão deve ser abordada no Plano Diretor, conforme consta no Estatuto da Cidade.

Costa (2015) reafirma ainda que o plano deve estabelecer diretrizes, metas e programas, visto que projetos e leis serão executados posteriormente. Ressalta também que as diretrizes devem ser claras, objetivas e detalhadas para que não se tornem apenas uma carta de boas intenções.

“A elaboração da maioria dos planos diretores por órgãos ou empresas estranhas à administração pública local, o que tende a acarretar os seguintes problemas que inviabilizam a implementação: a) os planos ficam interessantes tecnicamente, mas inviáveis politicamente; b) os planos não ficam bons nem tecnicamente nem politicamente, pois os elaboradores não conhecem a realidade local e; c) o plano diretor torna-se um corpo estranho à administração local que não participou de sua elaboração e, portanto, não o encara como um instrumento legítimo, não tendo assim interesse na sua implementação” (COSTA, 2015, p. 123).

A definição do perfil do Plano Diretor deve acontecer coletivamente, no início do seu processo de elaboração, e não deve deixar de abordar a política urbana em seus aspectos territoriais, especialmente em relação à moradia e serviços urbanos. A dimensão físico-territorial também inclui os aspetos relativos ao meio ambiente e à preservação do patrimônio material (COSTA, 2015). Nesse sentido, é possível partir do princípio de que, considerando o plano diretor como uma ferramenta política, torna-se fundamental a compreensão de como o Estado reproduz, de forma direta e indireta, o modo de produção capitalista e os seus impactos na produção dos espaços urbanos.