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2.2 Resíduos sólidos urbanos: Legislação

2.2.2 Plano municipal

Instituída pela lei nº 12.305/2010 e pelo decreto nº 7.404/2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) previu a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e determinou que estados e municípios elaborassem seus planos para o manejo adequado dos resíduos. Os municípios possuem a titularidade na gestão dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos, razão pela qual são de grande importância para o êxito da PNRS (FGV PROJETOS, 2015).

Os planos municipais devem ser elaborados seguindo diretrizes, metas, ações e programas para o manejo adequado dos resíduos e para a disposição ambientalmente adequada de rejeitos, estipuladas pela lei e pelo decreto regulamentador da PNRS, bem como obedecer a um conteúdo mínimo. Cabe aos municípios a gestão integrada dos resíduos gerados em seus territórios e a lei elencou uma série de instrumentos a serem utilizados (FGV PROJETOS, 2015). Desse modo, é de responsabilidade dos municípios a elaboração, implantação, monitoramento e revisão dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS).

Conforme o artigo 19 da lei 12.305/2010, o plano municipal deve conter o conteúdo mínimo apresentado no Anexo A. O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) é condição necessária para os municípios ter acesso aos recursos da União destinados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos. O PGIRS pode ser inserido no Plano de Saneamento Básico, integrando os planos de água, esgoto, drenagem urbana e resíduos sólidos. Os municípios que optarem por planos intermunicipais para gestão dos resíduos sólidos estão dispensados da elaboração do plano municipal, desde que o plano intermunicipal possua o conteúdo mínimo previsto no art. 19 da Lei nº 12.305/2010 (MMA, 2015).

Inclusive, a Lei 12.305/2010 é objetiva quanto a obrigatoriedade da execução da logística reversa e estabelece responsabilidade compartilhada, exigindo que fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores recolham e destinem corretamente os resíduos sólidos comercializados, como exemplo as embalagens. De acordo com o Art. 62, inciso XII do Decreto Federal nº6.514/2008, àqueles que descumprirem a Lei submetem-se a autuações e multas, que podem chegar a 50 milhões de reais (ABIHPEC, 2014).

A responsabilidade compartilhada constrói um elo de benefícios. São responsáveis também os cidadãos. Ao adotar a coleta seletiva, formaliza-se a responsabilidade socioambiental das pessoas com os resquícios que gera, vez que com a segregação residencial colabora-se para a diminuição de lixo dispostos em lugares incorretos. Se a comunidade se envolver, a coleta seletiva efetiva-se, e consequentemente, dará incentivo a reciclagem. Esta, por sua vez, contribui na redução de lixo a ser aterrada, o que reduz impactos ambientais e ainda preserva os recursos naturais, pois promove a geração matéria prima na produção de novos bens, além de gerar empregos diretos e indiretos (OKUYAMA, 2015).

No intuito de incentivar as empresas a aderir o reaproveitamento e utilização de matérias recicláveis, em junho de 2017, após uma audiência pública para discutir sobre os incentivos fiscais, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ) e à Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais (SEFAZ), analisarem a viabilidade de oferecer incentivos fiscais às indústrias que utilizam produtos recicláveis como matéria-prima procedidos das associações de catadores. Isso vai de encontro à Lei Estadual 6763/75, que permite o benefício de “Tratamento Tributário Setorial (TTS)” para as empresas que utilizam como insumos na produção industrial materiais reciclados, e com a Lei Estadual 18.031/2009, que dispõe sobre a PNRS, da qual orienta o incentivo ao uso desse tipo de matéria prima (MINAS GERAIS, 2018).

Já as prefeituras, para angariar recursos e estruturar todo o processo de logística reversa, coleta seletiva, etc., propõe-se cobrar da população uma taxa específica, denominada taxa de coleta de lixo, sendo a remuneração do sistema de limpeza urbana feita pela população em quase sua totalidade. A taxa é um imposto vinculado

a um serviço público e seu valor deverá revelar visibilidade aos contribuintes. O sistema de limpeza urbana consome cerca de 15% do orçamento do Município, e a arrecadação da taxa de coleta de lixo deve buscar cobrir o custeio das operações de coleta, transporte, tratamento e disposição final do lixo, bem como a limpeza de logradouros. Se não for suficiente a arrecadação por tarifas, o custeio deverá ser feito através de recursos do tesouro municipal, com previsão no orçamento do município, e representando este remanejamento de recursos de outras áreas (SEDU, 2001). Contudo, diferentes municípios sequer arrecadam essa taxa. Tramitam na Justiça, múltiplas ações que contestam a constitucionalidade desse tipo de cobrança, mas a administração municipal pode ser processada pelo ministério público ou órgão estadual de meio ambiente, para que se concretize a limpeza urbana de forma ambientalmente correta (JURAS, 2000; OKUYAMA, 2015).

Outro recurso sugerido aos municípios é organizar-se por consórcios intermunicipais, pois oportuniza a elevação das escalas de aproveitamento tanto de equipamentos quanto das instalações e ainda reduz custos com a disposição final dos resíduos nos aterros. Para os municípios integrantes dessa categoria de gestão a Lei permite a elaboração de um único Plano Intermunicipal de GRSU e, portanto, extingue-se a necessidade de planos individualizados para cada município (REIS; MATTOS; SILVA, 2018).

Além disso, conforme o art. 40 do Decreto 7.404/2010, o sistema de coleta seletiva de resíduos sólidos deve priorizar a participação de cooperativas ou associações de catadores de materiais recicláveis. Dentro do conceito de reponsabilidade compartilhada, esses trabalhadores são considerados aliados estratégicos para a legislação tanto na geração de ganhos quanto para que o poder púbico alcance as metas de recuperação de embalagens. No ano de 2012 registrou-se que 18% dos resíduos triados para reciclagem no Brasil foram manejados pelos catadores (MMA, 2014; CEMPRE, 2015).

Sobre isso, reafirma-se que a coleta seletiva é fundamental para reduzir a quantidade de resíduos nos aterros sanitários e os catadores possuem um papel importante na cadeia produtiva da reciclagem. Motivo pelo qual espera-se que os órgãos do poder

público auxiliem na inclusão social e formalização do papel desses trabalhadores nos processos operacionais para a reciclagem, fornecendo-lhes segurança e legalidade, com o uso de equipamentos de segurança acordados com as normas técnicas ambientais e de saúde. O aperfeiçoamento da coleta seletiva é importante para auxiliar na geração de renda para os catadores, contudo, grande parte dos resíduos não são destinados às cooperativas (CEMPRE, 2015).

Para facilitar a parceria, a contratação dos catadores dispensa licitação, conforme a previsão do art. 44 do decreto n° 7.404/2010, inciso XXVII, e do art. 24 da Lei n° 8.666/1993. O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos pode prever a participação de cooperativas ou de associações de catadores quando essas forem capazes, técnica e operacionalmente, de realizar o gerenciamento dos resíduos sólidos e sua utilização for economicamente viável, não havendo conflito com a segurança operacional do empreendimento (MMA, 2014).