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(PLANT-BASED DIET) E DIETA VEGETARIANA

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DIETA BASEADA EM VEGETAIS E VEGETARIANA NA OBESIDADE

A revisão de dados de estudos observacionais e ensaios clínicos controlados mostrou que as dietas vegetarianas foram associadas com menores valores médios de IMC, assim como menor risco de doenças cardíacas, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e obesidade, de forma independente à prática de exercícios físicos7. Segundo esses autores, o menor peso corporal em indivíduos vegetarianos poderia ser decorrente de fatores dietéticos levando à menor ingestão de energia7.

Em ensaio clínico randomizado, Kahleova et al. (2020)8 testaram os efeitos de uma dieta plant-based pobre em gorduras, vegetariana estrita e observaram aumento do efeito

térmi-TIPO DE

Vegetariana Pode ou não incluir alimentos de origem animal (ovos, laticínios)

Exclui de sua alimentação todos os tipos de carne, aves e peixes e seus derivados, podendo ou não utilizar laticínios ou ovos

Ovolactovegetariana Inclui ovos e laticínios Inclui ovos e laticínios Lactovegetariana Inclui laticínios, mas não ovos Inclui laticínios, mas não ovos Ovovegetariana Inclui ovos, mas não laticínios Inclui ovos, mas não laticínios

Vegana

Exclui qualquer produto de origem animal (ovos, laticínios, peixes e também alimentos como mel)

A Sociedade Vegetariana Brasileira define como vegano o indivíduo, e não a alimentação

Vegetariana estrita Equivalente ao termo dieta vegana

Não inclui carne, ovos, mel, la-ticínios e produtos que incluam derivados animais entre os ingredientes, como gelatina, al-bumina, proteínas do leite, alguns corantes e espessantes. É o tipo de alimentação adotado por Tabela 1. Diferentes formas de alimentação vegetariana

Fontes: Academy of Nutrition and Dietetics, 20164; Sociedade Vegetariana Brasileira, 20185

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co do alimento no grupo intervenção após 16 semanas em comparação ao início do estudo, enquanto no grupo controle nenhuma diferença foi observada. Os autores relacionam o au-mento do gasto de energia pós-prandial ao auau-mento da sensibilidade à insulina relacionado à dieta rica em carboidratos e pobre em gorduras8.

Em estudo transversal, Montalcini et al. (2015)9 compararam o gasto energético de re-pouso de 26 indivíduos vegetarianos e 26 onívoros, pareados por idade, índice de massa corporal (IMC) e sexo. Nesta pesquisa, o gasto energético de repouso dos vegetarianos foi significativamente maior do que o dos indivíduos não-vegetarianos. Os resultados da análise de regressão linear indicaram associação entre o gasto energético de repouso e o consumo de gorduras de origem vegetal, aspecto que deve ser melhor elucidado em investigações fu-turas9. Farmer et al. (2011)10 observaram, a partir de análise transversal de dados oriundos do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) 1999-2004 (n = 13.292), que indivíduos vegetarianos – definidos como participantes que não consumiam carne, fran-go ou peixe - eram mais magros quando comparados aos não vegetarianos10.

Para investigar o efeito de intervenções baseadas na prescrição da alimentação vegeta-riana sobre a redução de peso, Barnard et al. (2015)11 conduziram metanálise combinando resultados de uma série de ensaios clínicos (com pelo menos 4 semanas de duração) e identi-ficaram que a prescrição de um plano alimentar vegetariano (ovolactovegetariano ou vegano) foi relacionada com redução média de 4,6kg. Maior perda de peso foi encontrada para parti-cipantes com maior peso inicial, mulheres, partiparti-cipantes mais velhos, estudos com duração mais longa e cujo objetivo era promover emagrecimento11.

Huang et al. (2015)12 realizaram outra metanálise de 12 ensaios clínicos randomizados (n

= 1.151) e também verificaram que dietas vegetarianas apresentaram maior efeito na redução de peso em comparação a indivíduos que consumiam dietas não-vegetarianas. O possível mecanismo subjacente ao efeito das dietas vegetarianas na redução de peso foi atribuído à maior ingestão de grãos integrais, frutas e hortaliças12. Os autores desse estudo concluí-ram que as dietas vegetarianas podem ser recomendadas para controle do peso corporal sem comprometer a qualidade da dieta. A análise dos dados do NHANES 1999-2004 mostrou que os vegetarianos apresentaram maior consumo de fibras, vitaminas A, C, E, B1, B2, ácido fólico e de cálcio e magnésio em comparação aos não vegetarianos10.

Os fatores que podem explicar por que a alimentação vegetariana contribui para um bom manejo do peso seriam a baixa densidade calórica, a maior quantidade de fibras e o efeito benéfico sobre a microbiota intestinal. Hortaliças e frutas são ricas em água, por isso costumam ter uma baixa densidade calórica. Desta forma, é possível ingerir um gran-de volume gran-de alimentos às refeições, contribuindo para a sensação gran-de saciedagran-de mesmo com uma ingestão calórica reduzida13. Ressalta-se que os benefícios das dietas baseadas em vegetais vêm daquelas que se baseiam em alimentos como grãos integrais, leguminosas, frutas, hortaliças, castanhas, óleos vegetais, chás e café14, proporcionando menor ganho de peso, prevenindo o surgimento da obesidade15, além de contribuir para a redução signifi-cativa do IMC16.

Porém, nem todos os alimentos de origem vegetal têm baixa densidade energética (como as bebidas e sucos açucarados, frituras e doces), assim como alguns produtos direcionados ao público vegetariano podem ser ultraprocessados, ricos em gordura saturada e sódio.

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Ensaio clínico randomizado realizado na Nova Zelândia investigou o efeito do uso de uma dieta plant-based suplementada com vitamina B12 para adultos e idosos com excesso de peso e comorbidades (DM2, doença cardiovascular isquêmica, hipertensão e/ou hipercolesterole-mia) sem restrição calórica. O programa levou a uma redução significativa de peso, maior no grupo intervenção, verificada após 6 meses (-12,1kg vs. -1,6kg no grupo controle). Os partici-pantes do grupo intervenção foram acompanhados até 12 meses e a média de perda de peso foi mantida em -11,5kg16.

A proteína vegetal, como parte de uma dieta baseada em vegetais, está associada à me-lhora na composição corporal e redução tanto do peso corporal como da resistência à in-sulina17. Além disso, no contexto de uma dieta baseada em vegetais pobre em gorduras, a redução da ingestão de gorduras saturada e trans e o aumento relativo do conteúdo de ácidos graxos poli-insaturados, particularmente os ácidos linoleico e alfa-linolênico, está associada com a redução da massa de gordura corporal e resistência à insulina, com me-lhora da secreção de insulina18.

Parece haver aumento na secreção de hormônios intestinais, como GLP-1, e na sacie-dade, seguido à uma única refeição baseada em vegetais com tofu. No entanto, o grupo controle foi constituído por refeição com carne processada e queijos, pareadas em energia.

Neste estudo, a sensação de saciedade relatada pelos participantes também foi maior após a refeição vegetariana19.

RECOMENDAÇÃO

De acordo com o Guia Alimentar Americano (2020)20, é possível alcançar um padrão ali-mentar vegetariano equilibrado através da inclusão de proteínas vegetais, porém existe preo-cupação com o consumo de vitamina B12, que está presente somente em alimentos de origem animal. Por isso, o plano alimentar deve, além de englobar vegetais ricos em ferro, zinco, cálcio e ômega-3, bem como estratégias para melhorar a biodisponibilidade de nutrientes, incluir a suplementação de vitamina B12 para vegetarianos estritos, crianças, gestantes, lac-tantes e ovolactovegetarianos que consomem ovos e/ou laticínios com pouca frequência5,20. Assim, a dieta vegetariana ou baseada em vegetais com redução da ingestão de alimentos ultraprocessados e aumento da ingestão de alimentos in natura pode ser uma opção para prevenção e tratamento da obesidade, desde que seja compatível com as motivações do in-divíduo e que a alimentação seja planejada por um profissional capacitado para oferecer os diferentes grupos alimentares em proporções adequadas. Classe de recomendação IIa, Nível de evidência A.

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REFERÊNCIAS

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De acordo com portaria aprovada em 1998 pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Mi-nistério da Saúde, o desenvolvimento de produtos destinados a ser utilizados como substi-tutos de refeições (SR) devem: fornecer quantidades de macronutrientes e micronutrientes essenciais, além de respeitar o valor energético para o qual foram destinados (redução, ma-nutenção ou ganho de peso). Desde então, os SR ganharam o interesse do consumidor prin-cipalmente quando seu uso objetiva a perda de peso1, podendo ser utilizados para substituir parcialmente2 ou totalmente3 as refeições diárias. As diretrizes da American Heart Associa-tion/American College of Cardiology/The Obesity Society (2013) admitem a superiorida-de dos SR em relação à dieta hipocalórica (LCD) contendo alimentos tradicionais em curto prazo, mas reforça que faltam evidências em longo prazo do benefício do seu uso3. Por outro lado, o posicionamento da Academy of Nutrition and Dietetics indica a opção do uso de SR como parte da LCD2.

O importante estudo Look AHEAD foi desenhado para avaliar o impacto da mudança intensiva de estilo de vida na redução do risco e mortalidade cardiovascular de indivíduos com excesso de peso e DM24. Assim, mais de 5.000 indivíduos foram randomizados em dois grupos: grupo controle, que recebeu orientações de suporte e educação em DM2 (DSE), e grupo intervenção, de mudança intensiva de estilo de vida (ILI), que foi orientado a praticar no mínimo 175 minutos semanais de atividade física, técnicas comportamentais, suporte so-cial e recebeu orientações para modificação da dieta com uso de 2 SR nas primeiras 20 sema-nas e 1 SR da 21ª semana em diante. O grupo DSE participou de três reuniões em grupo por ano durante os 4 anos do estudo. As sessões abordavam aspectos alimentares, sociais e de exercício. Nos primeiros 6 meses, o grupo ILI participou de três sessões em grupo por mês e

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SUBSTITUTOS