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15 Categoria: características pessoais que influenciam nas relações de poder, na percepção

3.1 O poder nas organizações: uma visão geral

3.1.2 Poder, supervisão, gerência e liderança

As definições de liderança, gerência, supervisão e a relação com poder, em alguns momentos, mostram-se muito confusas entre os autores do comportamento humano no trabalho. Dos capítulos pesquisados, dois autores – Limongi-França e Arellano (2002) e Spector (2002) – trazem, no próprio título do capítulo (Quadro 03), uma associação de poder com liderança. Outros autores, como Bowditch e Buono (1992), Davis e Newstrom (1992), Krumm (2005) e Muchinsky (2004), discutem o poder não em capítulos separados, mas nos capítulos “Liderança e o gerente”, “Liderança e supervisão” e “Liderança”, respectivamente. Os autores Robbins (1999) e Vergara (1999), apesar de denominarem o capítulo de outra forma (Quadro 03), no interior do texto esclarecem a ligação entre poder e liderança. Os demais autores (DAFT, 2003; DUBRIN, 2003; HELLRIEGEL; SLOCUM Jr.; WOODMAN, 2001; PAZ; MARTINS; NEIVA, 2004; SHERMERHORN Jr.; HUNT; OSBORN, 1999; WAGNER III; HOLLENBECK, 1999) não tiveram como objetivo diferenciar poder,

6 Para Hardy e Clegg (2001), além de o pesquisador acessar e interpretar as “subjetividades” dos atores

envolvidos nas relações de poder, a própria subjetividade do pesquisador influencia na forma como observa e interpreta o fenômeno poder nas organizações.

liderança e gerência; todavia, ao tratarem do poder, geralmente, colocam os gerentes e líderes como atores que o possuem e o exercem.

Robbins (1999, p. 249) compara os termos poder e liderança afirmando que líderes usam o poder como um meio de atingir as metas do grupo: “líderes realizam metas e poder é um meio de facilitar suas realizações”. Para Vergara (1999, p. 107), não há diferenças entre os conceitos de liderança e poder, “liderança é poder”.

Tanto os autores que discorrem sobre o poder, nos capítulos de liderança (BOWDITCH; BUONO, 1992; DAVIS; NEWSTROM, 1992; KRUMM, 2005; MUCHINSKY, 2004), quanto os autores que trazem no próprio título do capítulo a associação de poder com liderança (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002; SPECTOR, 2002) apresentam discussões semelhantes acerca do processo de liderança e da relação deste com poder, gerência e supervisão. Observa-se que o objetivo principal dos autores é discutir o processo de liderança e as diversas teorias existentes que o explicam (teoria dos traços, comportamental e situacional; liderança transformacional e carismática; teoria da atribuição da liderança, dentre outras). No decorrer dos textos, alguns desses autores diferenciam administração, gerência e supervisão do comportamento de liderança. Todavia, demonstram que “poder” e “liderança” não são conceitos divergentes e, sim, fenômenos que estão interligados. A forma como alguns desses autores conceituam os termos demonstra, até, uma sobreposição conceitual entre liderança, influência e poder. Geralmente, definem a liderança como um processo de influenciar pessoas para o atingimento de metas organizacionais e poder como a capacidade (neste caso, do líder, administrador, gerente ou do supervisor) para influenciar pessoas e acontecimentos. Percebe-se, também, que o objetivo desses autores, ao discutirem o poder, no capítulo de liderança, é apresentar os tipos de poder e suas fontes, ou as fontes de poder que os líderes podem usar para influenciar seus liderados.

Para Bowditch e Buono (1992), o gerente seria um indivíduo, numa organização, provido de poder legítimo (autoridade) para dirigir as atividades relacionadas ao trabalho de, no mínimo, um subordinado. De acordo com os autores, há diversas conceituações de liderança na literatura, porém há aspectos comuns a todas elas: a) a liderança é uma relação entre pessoas, em meio às quais a influência e o poder foram distribuídos de maneira desigual, numa base legítima (contratual ou consensual); b) a liderança não ocorre no isolamento (não há líderes sem seguidores). Observa-se, pelo posicionamento conceitual dos autores que poder, gerência e liderança estão interligados: os autores usam as relações de poder e influência para caracterizar a liderança; e, também, esclarecem que o gerente é um líder

nomeado, ao qual foi concedido um poder legítimo (autoridade) para cumprir e fazer cumprir determinadas tarefas.

Davis e Newstrom (1992) são outros autores que discorrem sobre poder, no capítulo de liderança. Para os autores, a liderança é um aspecto importante do processo de administrar. É exigido dos administradores planejar e organizar, mas o papel principal de um líder é influenciar os outros para buscarem, de maneira entusiástica, objetivos definidos. Comparando a conceituação anterior, de liderança, com a definição de poder, parece haver uma sobreposição conceitual: “poder é a habilidade de influenciar as outras pessoas e os acontecimentos” (DAVIS; NEWSTROM, 1992, p. 156). Os autores acrescentam que o “poder” é conseguido e adquirido pelos líderes tendo por base as próprias personalidades, suas atividades e as situações nas quais operam, sendo que a “autoridade” é dada a eles pela alta administração. Além de explicarem quais os tipos de poder e as fontes que os líderes podem usar para exercer a influência sobre seus liderados, Davis e Newstrom (1992, p. 161) também utilizam “o poder” para definir estilos de liderança: a “forma pela qual um líder usa o poder também estabelece um tipo de estilo”. Líderes autocráticos centralizam o poder e a tomada de decisões em si mesmos, são tipicamente negativos e baseiam suas ações em ameaças e punições (há o autocrata ‘benevolente’ que faz escolhas para dar algumas recompensas aos seus subordinados); líderes participativos descentralizam a autoridade, concedendo informações aos empregados e encorajando-os a expressarem suas idéias e a fazer sugestões; já os líderes rédeas soltas evitam o poder e a responsabilidade, sendo que o poder acaba se concentrando no grupo que estabelece objetivos e resolve problemas (DAVIS; NEWSTROM, 1992).

Krumm (2005, p. 135), outra autora que discorre sobre poder, no capítulo de liderança, propõe que, em geral, liderança é definida como “a capacidade de persuadir alguém a assumir um compromisso com as metas de um grupo e trabalhar visando metas”. A autora faz uma distinção entre líderes e administradores, afirmando que o administrador é nomeado pela alta administração e o líder é escolhido pelo grupo, do qual tem o apoio. Quanto a poder, a autora não o define, nem o compara com o de liderança, porém explica os tipos de poder e suas fontes e as táticas de influência que os líderes poderão usar, para serem eficazes. Apesar de a autora não diferenciar, conceitualmente, o papel de gerente e de supervisor do de líder, ao explicar os tipos de poder e suas fontes deixa transparecer uma diferenciação entre os três papéis: o administrador, o gerente e o supervisor, em função do cargo ocupado na hierarquia da empresa, exercem naturalmente o poder legítimo, o de recompensa e o de coerção; e os líderes, por natureza, usam o poder de especialização e de referência, sendo que “a utilização

do poder de referência e do poder da perícia tem maior probabilidade de levar a bons resultados para o grupo e para os subordinados” (KRUMM, 2005, p. 154).

Muchinsky (2004) também discute poder, ao explicar o processo de liderança no ambiente organizacional. O autor relaciona poder a liderança ao apresentar as quatro abordagens teóricas existentes na literatura que a explicam: a) abordagem dos traços; b) abordagem comportamental; c) abordagem do poder e da influência; e d) abordagem situacional. Para Muchinsky (2004, p. 414), a abordagem do poder e da influência pressupõe que a liderança pode ser compreendida pelo uso do poder e da influência: “o poder de um líder é importante não apenas para influenciar subordinados, mas também para influenciar colegas, superiores e pessoas fora da organização, tais como clientes e fornecedores”.

Os autores Limongi-França e Arellano (2002) e Spector (2002) são os únicos que trazem, no próprio título do capítulo (QUADRO 03), a associação entre liderança e poder.

Para Limongi-França e Arellano (2002, p. 259), a liderança “é um processo social no qual se estabelecem relações de influência entre pessoas”. Conforme as autoras, liderança e poder são elementos interligados no processo de influenciar pessoas, sendo poder “a força no direcionamento dos sistemas e das situações sociais através dos recursos organizacionais” (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002, p. 261). Para exercer influência, as autoras esclarecem que os líderes podem usar vários tipos de poder, sozinhos ou combinados.

Finalizando, para Spector (2002) liderança envolve influenciar as atitudes, crenças, comportamentos e sentimentos de outras pessoas e está associada a cargos de gerência e supervisão. No entanto, ser supervisor ou gerente não garante que a pessoa seja capaz de influenciar os outros, pois apesar de a organização atribuir um papel de líder a gerentes e supervisores, líderes informais que surgem dos grupos de trabalho poderão ter maior influência sobre o comportamento dos membros do grupo do que os supervisores (SPECTOR, 2002). Segundo o autor, a influência que uma pessoa tem sobre outra é determinada por fatores tanto pessoais quanto organizacionais. E, ao discutir esses fatores, o autor insere a questão do poder. Spector (2002, p. 331) cita cinco bases da Teoria do Poder Social de French e Raven (1959), para explicar como a “influência ou poder que uma pessoa tem sobre outra, como um supervisor sobre um subordinado” pode ser exercido. Baseando-se na conceituação de poder de French e Raven, Spector (2002), tende a mostrar uma sobreposição dos conceitos de liderança, influência e poder: poder é igual influência e liderar é influenciar.