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2.2 Resíduos sólidos urbanos: Legislação

2.2.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS

O primeiro levantamento referente ao saneamento básico no país foi feito em 1974 e essa iniciativa envolveu o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, cabendo ao último a responsabilidade pela operação de coleta de dados. Era urgente a criação de projetos norteados para controlar ou prevenir danos ambientais e posturas decisivas para um gerenciamento eficaz de resíduos se tornaram imprescindíveis (FRANKENBERG, 2011).

Medidas mais severas foram propostas anos mais tarde, quando a Constituição de 1988 preconizava em seu Artigo 225 que todas as pessoas têm direito ao gozo de meio ambiente equilibrado, no qual o bem seja de uso comum, ou seja, todos possam

desfrutar da qualidade de vida, competindo ao poder público e à sociedade o dever de preservá-lo para as gerações presentes e futuras (BRASIL, 1988).

A inquietação com as questões ambientais era evidente e esta prosseguiu, e, posteriormente, em 1998, foi criada a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas impostas à condutas e atividades prejudiciais ao meio ambiente (BRASIL, 1998). No ano de 2007 foi promulgada a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelecia diretrizes nacionais para o saneamento básico (BRASIL, 2007).

Marco importante foi criação da Lei Federal nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Em seu Art. 1º estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e dispõe sobre as diretrizes respectivas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, contidos ou perigosos, à responsabilidade da sociedade que os geram e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. E o Decreto Federal 7.404/10, regulamentou a referida lei, mediante estabelecimento de normas, cuja finalidade foi viabilizar a aplicabilidade de seus instrumentos (MMA, 2014).

A Lei 12.305/10 regulamentada pelo decreto federal 7.404/10 estabeleceu o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e o Comitê Orientador para a implantação dos sistemas de logística reversa, tendo ambos o objetivo de amparar a estruturação e implementação da lei, em conjunto com os órgãos e entidades governamentais. O Comitê Orientador tem como objetivo “estabelecer a orientação estratégica da implementação de sistemas de logística reversa, definindo prioridades e cronogramas, além de avaliar e aprovar estudos, diretrizes, necessidades e medidas” (TREVIZAN, 2011, p.1).

A Lei em questão impõe responsabilidade ao poder público e aos seus respectivos instrumentos econômicos aplicáveis à geração de resíduos. Aplica-se também a todos os responsáveis pela geração de resíduos sólidos e/ ou que desenvolvam ações pautadas na gestão integrada ou no gerenciamento destes resíduos, ou seja, pessoas físicas, jurídicas, de direito público ou privado (BRASIL, 2010c).

Os Art. 14 e Art. 15, da Lei 12.305/10 definem que cabe à União elaborar, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) com vigência por prazo de vinte anos, atualizada a cada quatro anos. É aplicada aos planos estaduais, planos microrregionais e às regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas (BRASIL, 2010a).

Em janeiro de 2017, o Ministério do Meio Ambiente iniciou o trabalho de revisão da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), proposta esta a ser estendida por 20 meses. Ao longo desse período planeja-se debater novas metas e corrigir as distorções averiguadas desde a vigência da lei. O consórcio responsável pela tarefa é composto por especialistas brasileiros e estrangeiros. Os debates contarão com representantes do governo federal, da sociedade civil e do setor empresarial. A PNRS considera perspectivas de gestão e gerenciamento para o desenvolvimento de planos de metas, programas e projetos. Os responsáveis pelo projeto no Ministério do Meio Ambiente ressaltaram os principais entraves verificados na aplicação da PNRS como a existência de bases de dados interrompidas, com periodicidade irregular e, por vezes, não disponibilizadas (BRASIL, 2017).

No diagnóstico preliminar foi observado um grande percentual de diretrizes e estratégias, e, também, a ausência de priorização das ações e programas, além de metas desconexas de diagnóstico e contextos. Um dos objetivos do grupo consiste em mensurar os custos da degradação ambiental, dada à disposição inapropriada de resíduos e o levantamento dos recursos indispensáveis para a gestão apropriada desses resíduos. Dentre os principais objetivos estão: associar a gestão dos diferentes tipos de resíduos, definir as fontes de acesso a recursos para resíduos, promover questões intrínsecas à educação ambiental, instituir mecanismos de estímulo à implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), enfatizar que a prioridade no processo de revisão do plano é definir o papel da união, estados e municípios na gestão desta política (BRASIL, 2017).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) não considerou apenas os aspectos operacionais do processo de gestão dos resíduos. Analisou a questão de acordo com as dimensões a serem observadas. A dimensão política admite a importância política, no sentido de a lei proporcionar a implementação de melhores práticas para os

resíduos sólidos. No âmbito da dimensão econômica, observa-se a implantação de instrumentos econômicos que viabilizem comportamentos ambientalmente saudáveis. A dimensão ambiental se refere à mitigação dos impactos ambientais, enquanto a dimensão cultural considera os hábitos da população local para definição dos métodos e, atrelada a esta, a dimensão social, onde a PNRS deve focar na necessidade de controle social (PHILIPPI JR., et al., 2012).

Cabe mencionar a extrema relevância da PNRS para a sociedade brasileira, vez que estabelece princípios para a elaboração dos planos nacional, estadual, regional e municipal, diligenciando a cooperação entre o poder público, o setor produtivo e a sociedade na procura de soluções para os problemas socioambientais e na valorização dos resíduos sólidos, por meio da geração de emprego e renda (FRANKENBERG, 2011).

Ressalta-se também que a logística reversa é um dos principais instrumentos da PNRS e o seu desenvolvimento visa garantir o avanço do percentual de reciclagem no País (MMA, 2014). Por isso, a Lei Federal 12.305/10 definiu que na logística reversa, todos os fabricantes, distribuidores, importadores, comerciantes e cidadãos têm responsabilidade compartilhada na correta destinação do produto adquirido. A ideia basilar é que a vida útil do produto não se extingue ao ser consumida, mas, retorna ao seu ciclo de vida, de forma a ser reaproveitado, ou para uma destinação ambientalmente correta (REIS; MATTOS; SILVA, 2018)

Deste modo, a logística se configura como uma ferramenta de desenvolvimento econômico e social distinguida pelo conjunto de ações, métodos e recursos alinhados para viabilizar a coleta seletiva e a restituição dos resíduos sólidos ao domínio empresarial, para que haja o reaproveitamento adequado ao seu ciclo produtivo, ou destinação final ambientalmente adequada. Nesse contexto, a coleta seletiva promove ainda a inclusão socioeconômica dos catadores de recicláveis. Por este motivo, os municípios que implantam a coleta seletiva em parceria com as associações de catadores, legalmente competentes para prestar esses serviços, tem prioridade, segundo a PNRS, ao acesso de recursos fornecidos pela União (REIS; MATTOS; SILVA, 2018).

Mesmo assim, de acordo do Reis; Mattos; Silva (2018), a implantação da logística reversa enfrenta desafios pela falta de educação ambiental, dos altos custos operacionais e com a carência de recursos humanos qualificados no país. Dos anos de 2010 a 2016, observou-se o aumento de 138% da coleta seletiva, contudo, somente 18% dos municípios brasileiros a possuíam, concentrando-se mais nas regiões Sudeste e Sul.