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Do ponto de vista da educação — por serem sociedades de forte teor religioso

—, o que há de comum em todas elas é o

seu caráter estático ou de muito lenta

mutação. Devido à complexidade delas, a

educação exigiu a criação da escola,

apesar de restrita a poucos e muito

tradicionalista.

Contexto histórico

1. A revolução neolítica e as primeiras civilizações O processo de hominização passou por diversos períodos, até que por volta de 8 mil ou 10 mil anos atrás ocorreu o chamado

Neolítico, ou Idade da Pedra Polida, caracterizada por ver-

dadeira revolução cultural. Com o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas e de pastoreio, grupos humanos abandonaram a vida

nômade, tornando-se sedentários. Esses povos fabricavam utensílios de pedra polida, de cerâmica, de cestaria etc. e, com o tempo, passaram a utilizar metais como o cobre e o bronze. Desenvolveram também uma arte cada vez mais refinada, além de inventarem formas diferentes de escrita e acumularem saberes diversos.

Há cerca de 5 mil anos teve início o que podemos chamar de

civilização nas regiões banhadas por rios. Por isso, os histori-

adores a conheceram como civilizações fluviais (ou sociedades hidráulicas), uma vez que, nessas planícies incrustadas nos desertos, a terra se tornava fértil e o curso d’água favorecia o in- tercâmbio de mercadores. Assim surgiram a Mesopotâmia (às margens dos rios Tigre e Eufrates), o Egito (“uma dádiva do Nilo”), a Índia (rios Indo e Ganges) e a China (rios Yangtsé e Hoang-Ho).

Apesar das diferenças entre essas civilizações, todas im- puseram governos despóticos de caráter teocrático, em que o poder absoluto do rei ou do imperador se sustentava na crença em sua origem divina. No Egito o faraó era o supremo sacerdote e considerado filho do deus Sol, enquanto na China o imperador era o Filho do Céu. Esse tipo de organização política mantinha as sociedades tradicionalistas, apegadas ao passado. A China, uma das mais conservadoras, ficou à margem da influência ocidental até o século XIX.

As civilizações orientais distinguiam-se tanto das comunid- ades tribais como das civilizações greco-romanas, que viriam mais tarde, por representarem a transição de uma comunidade indivisa para a sociedade de classes. Em outras palavras, a terra não pertencia a todos, como na tribo, nem a particulares, mas era propriedade do Estado.

A administração burocrática do Estado controlava a produção agrícola, arrecadava impostos, recrutava mão de obra para a construção de grandes templos, túmulos, palácios,

monumentos, diques, sistemas de irrigação. À medida que o Estado se tornava cada vez mais centralizado e poderoso, cres- cia a importância dos dirigentes, como altos funcionários do governo, sacerdotes e escribas. Surgiu então uma minoria priv- ilegiada pertencente à administração dos negócios, enquanto a grande massa da população se ocupava com a produção propri- amente dita. Entre estas últimas estavam os escravos, além de mercadores, artesãos, soldados e camponeses obrigados à servidão.

A maneira pela qual os povos das primeiras civilizações ori- entais se relacionavam para produzir sua subsistência é con- hecida como modo de produção asiático. Há quem também as- sim denomine as relações de produção dos povos pré-colombi- anos da América, como os incas, os maias e os astecas.

Além dos mesopotâmios, egípcios, hindus e chineses, outros povos se sucederam nas regiões do Oriente Médio e do Oriente Próximo, ora ocupados com o pastoreio e levando vida nômade, ora dedicados ao comércio e à navegação. São eles, os hebreus, os medas, os persas e os fenícios, que constituíram civilizações florescentes no segundo e primeiro milênios a.C.

Cronologia das primeiras civilizações (datas aproximadas)

Egito:desde o final do 4º milênio a.C. (segundo al- guns, começo do 3º milênio); até o século IV d.C.

Mesopotâmia: desde o final do 4º milênio a.C. (sumérios e sucessão de vários povos) até o século VI d.C.

2. A invenção da escrita

Hoje usamos para a escrita o sistema fonético alfabético, que registra sons, e cada som representa uma letra. No entanto,

China: 2750 a.C. (2500?) (metade do 3º milênio a.C.?)

Índia:primeira metade do 3º milênio a.C.

Israel:os hebreus ocuparam Canaã em 1250 a.C. (2º milênio, século XIII a.C.) até a dispersão no século I a.C.

Como ler as datas

O chamado calendário gregoriano, que vigora até hoje, foi adotado no século VI da nossa era, por in- fluência da cultura cristã, que definiu o nascimento de Cristo como marco divisório. A seguir, exemplos:

3450 a.C.: metade do 4º milênio a.C. ou século XXXV a.C.

2940 a.C.: 3º milênio a.C. ou século XXX a.C. 1710 a.C.: 2º milênio a.C. ou século XVIII a.C. 970 a.C.: 1º milênio a.C. ou século X a.C. 720 a.C.: 1º milênio a.C. ou século VIII a.C. 510 a.C.: metade do 1º milênio ou século VI a.C. 52 a.C.: 1º milênio ou século I a.C.

150 d.C.: ano 150 ou século II (fica subentendido “da nossa era”).

muitas vezes não imaginamos o processo pelo qual se deu a in- venção da escrita.

Costuma-se chamar de pictográfica a escrita que representa figuras, enquanto em um nível maior de abstração, a escrita

ideográfica representa objetos e ideias. Escritas como os hier-

óglifos egípcios, os caracteres cuneiformes da Mesopotâmia e os ideogramas chineses são ideográficas, ainda quando passaram por etapas anteriores de registro pictográfico, mais presas à im- agem. Já as escritas fonéticas decompõem as palavras em unid- ades sonoras: neste caso, libertados da figura, do objeto e da ideia, os sinais diminuem drasticamente de quantidade para re- gistrar apenas os sons em infinitas composições possíveis. A es- crita fonética ainda pode ser silábica (um sinal para a sílaba) ou alfabética (um sinal para cada letra).

Na Antiguidade oriental a invenção da escrita não se dissocia do aparecimento do Estado, pois a manutenção da máquina es- tatal supunha uma classe especial de funcionários capazes de exercer funções administrativas e legais cujo registro era imprescindível.

Provavelmente, desde 3500 a.C. os egípcios faziam inscrições em hieróglifos (literalmente, “escrita sagrada”). Essa escrita era no início pictográfica — representava figuras — e só posterior- mente adquiriu características ideográficas, concomitantemente à aplicação da fonética silábica, isto é, “a escrita egípcia dispõe de todo um estoque de sinais figurados, cada um dos quais pode ter um valor seja de ideograma, seja de elemento fonético” (Fév- rier, apud Wilson Martins). Composta por cerca de seiscentos sinais, o que a tornava especialmente difícil, era utilizada pelos escribas, a minoria encarregada de exercer funções para o Estado e que, por isso, gozava de condição privilegiada.

Além das inscrições nas pedras de túmulos e monumentos, os egípcios usavam madeira e papiro para o registro das atas

administrativas, da justiça e para as anotações contábeis nas atividades do comércio.

Na Mesopotâmia, a escrita cuneiforme (inscrições em forma de cunhas) também foi inicialmente pictográfica e depois ideo- gráfica e fonética, quando o signo não mais indicava o objeto, mas o som (de sílabas).

Diferentemente, a China manteve a escrita ideográfica até meados do século XX. Era muito complicada e abstrata, em que os sinais gráficos representavam ideias e não figuras. Os mandarins ocupavam-se dessa função privilegiada, após serem submetidos a difíceis exames pelo Estado.

Escribas no Egito, mandarins na China, magos na Meso- potâmia e brâmanes na Índia exerciam suas funções

monopolizando a escrita em meio à população analfabeta. O saber representava uma forma de poder.

A escrita, no entanto, difundiu-se muito mais no segundo milênio, por volta de 1500 a.C. (data incerta), quando os fení- cios inventaram a escrita fonética alfabética, ou a aper- feiçoaram, não se sabe bem. O termo alfabeto, inicialmente for- mado pelas primeiras letras fenícias aleph e bet, é composto das letras gregas alpha (α) e beta (β). Os 22 sinais permitem as mais diferentes combinações, tornando bem mais práticos o uso e a aprendizagem da escrita.

Os fenícios destacaram-se como exímios navegadores e ex- celentes negociantes, e a invenção do alfabeto facilitava enorm- emente os registros das transações comerciais. A simplificação da escrita contribuiu para que ela deixasse de ser monopólio de uma minoria e perdesse aos poucos o caráter sagrado.

Os gregos assimilaram o alfabeto fenício por volta do século VIII a.C., transmitindo-o posteriormente aos latinos, por meio dos quais chegou até nós.

Educação e pedagogia 1. A educação tradicionalista

Quando as sociedades se tornaram mais complexas, vimos que a divisão se instalou no seio delas: as mulheres, confinadas no lar, passaram a ser dependentes dos homens, os segmentos sociais se especializaram entre governantes, sacerdotes, mer- cadores, produtores e escravos, criando-se uma hierarquia de riqueza e poder. Essas mudanças exigiram uma revolução na educação, que deixou de ser igualitária e difusa, portanto acessível a todos, como nas tribos. Enquanto alguns eram priv- ilegiados, o restante da população não tinha direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante.

Em decorrência, estabeleceu-se uma diferenciação entre os destinados aos estudos do sagrado e da administração e aqueles voltados ao adestramento para os diversos ofícios especializa- dos. Teve início, então, o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino para o povo e outro para os filhos dos nobres e de al- tos funcionários. A grande massa era excluída da escola e sub- metida à educação familiar informal.

Nas civilizações orientais não havia propriamente uma re- flexão predominantemente pedagógica. As orientações sobre como educar permeiam os livros sagrados, que oferecem regras ideais de conduta, segundo as prescrições religiosas e morais, a fim de perpetuar os costumes e evitar a transgressão das nor- mas. Daí o caráter religioso dos compromissos impostos e não discutidos.

A princípio o conhecimento da escrita era bastante restrito, devido ao seu caráter sagrado e esotérico. Com o tempo, aumentou o número dos que procuravam instrução, embora apenas os filhos dos privilegiados conseguissem atingir os graus superiores.

Até as pesquisas atuais, as civilizações consideradas mais an- tigas são as do Egito e da Mesopotâmia. Lembramos que as referências às datas são sempre aproximadas, e muitas delas sujeitas a modificações, dependendo de novas descobertas ar- queológicas, quando algum documento até então desconhecido venha à luz.

2. Egito

A partir do final do quarto milênio a.C., formou-se no Egito talvez a mais antiga das civilizações orientais. Desenvolvida às margens do rio Nilo, beneficiava-se das terras fertilizadas pelo húmus deixado no solo após as enchentes. O trabalho para pro- ceder ao sistema de irrigação das regiões áridas e os

conhecimentos de geometria para a medição das terras destin- adas ao plantio após as enchentes são indicativos do desenvolvi- mento da engenharia daquele povo — confirmado pela con- strução das pirâmides. Também a astronomia avançou, possibil- itando a confecção de um calendário solar, importante para pre- ver as cheias do Nilo. No campo da medicina os egípcios identi- ficavam doenças e até faziam alguns tipos de intervenções cirúr- gicas. No entanto, ainda atribuíam as causas das enfermidades a forças espirituais.

Apesar do forte teor religioso da cultura egípcia, as inform- ações eram muito práticas, como o cálculo da ração das tropas em campanha, o número de tijolos necessários para uma con- strução e complicados problemas de geometria destinados à ag- rimensura. Extensas listas de plantas e animais indicavam sig- nificativo conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia.

É interessante notar que esse volume de informação geral- mente não vinha acompanhado de questões teóricas de demon- stração, nem de princípios ou leis científicas, o que, diga-se de passagem, viria a ser a grande contribuição do pensamento grego. Por exemplo, os egípcios conheciam as relações entre a hipotenusa e os catetos de um triângulo retângulo, mas foi o grego Pitágoras que procedeu à demonstração desse teorema, no século VI a.C.

Essas atividades da nascente civilização egípcia eram de tal monta que exigiam um esforço conjunto rigidamente controlado pelo Estado centralizador e teocrático. Por isso, a transmissão do saber, tanto religioso como técnico, era restrita a poucos, como os sacerdotes, que submetiam os alunos a práticas de iniciação.

Embora o núcleo mais forte da tradição tenha se mantido ao longo do tempo, notam-se pequenas mudanças, conforme o

período, o que também determinou alterações nas formas de ensinar.

As escolas eram frequentadas por pouco mais de vinte alunos cada uma, segundo as raras informações de que dispomos. Apesar de já se perceber a institucionalização das escolas, elas não funcionavam em prédios especialmente construídos para essa função, mas sim nos templos e em algumas casas. Os mestres sentavam-se em uma esteira e os alunos ao redor dele, muitas vezes ao ar livre, “sob uma figueira”, como atesta a rica iconografia egípcia. Os textos eram aprendidos mediante a re- petição mnemônica, isto é, pela leitura em voz alta, em con- junto, para facilitar a memorização. O ensino autoritário tinha por finalidade curvar o aluno à obediência. Mas como diz Mario Alighiero Manacorda: “num reino autocrático, a arte do comando é também, e antes de tudo, arte da obediência: a sub- ordinação é uma das constantes milenares desta inculturação da qual, portanto, faz parte integrante o castigo e o rigor”[14]. E completa citando o ensinamento egípcio: “Pune duramente e educa duramente!”

Segundo um ensinamento antigo, além da obediência, o falar bem constituía importante instrumento político para a arte do convencimento daqueles que faziam parte dos conselhos ou de- viam discursar para aplacar as multidões.

A atenção dos educadores também se voltava para a educação física, destinada aos nobres e aos guerreiros, inicialmente centrada na natação e com o tempo ampliada para atividades de tiro com arco, corrida, caça, pesca.

Dissemos que a educação enfatizava a arte de bem falar, mas a técnica do “escrever bem” não era inicialmente o intuito prin- cipal dessa educação, mas daquela voltada para a formação de peritos, dos escribas encarregados dos registros de atos oficiais, ou ainda, em um nível inferior, dos registros do comércio. Por volta do final do terceiro milênio a.C. e começo do segundo,

porém, os textos escritos assumiram importância maior, o que trouxe prestígio para a função do escriba. Recorremos nova- mente a Manacorda: “escriba é aquele que lê as escrituras anti- gas, que escreve os rolos de papiro na casa do rei, que, seguindo os ensinamento do rei, instrui seus colegas e guia seus superi- ores, ou que é mestre das crianças e mestre dos filhos do rei, que conhece o cerimonial do palácio e é introduzido na doutrina da majestade do faraó”.

Conforme atesta um antigo papiro, o reconhecimento do valor do escriba era tão grande que um pai estimulava o filho a levar a escola a sério: “Eu conheci fadigas, mas tu deves dedicar-te à arte de escrever, porque vi quem é livre do seu trabalho: eis que não existe nada mais útil do que os livros”. E acrescenta em outra passagem: “Eis que não existe uma profissão sem que al- guém dê ordens, exceto a de escriba, porque é ele que dá ordens. Se souberes escrever, estarás melhor do que nos ofícios que te mostrei”.

As escolas mais adiantadas de Mênfis, Heliópolis ou Tebas formavam escribas de categoria mais elevada. Além de fun- cionários administrativos e legais, preparavam médicos, engen- heiros e arquitetos.

Havia ainda o ensino dos ofícios especializados para formar artesãos e para o treinamento dos guerreiros, o que separava a escola nos seus objetivos “intelectuais” ou “práticos” (profis- sionais). Mas uma abundante iconografia representando as cri- anças no ambiente de trabalho dos adultos nos faz supor que a grande maioria aprendia com pais e parentes.

3. Mesopotâmia

A Mesopotâmia — designação dada posteriormente pelos gre- gos, que significa “entre rios” — surgiu por volta do fim do quarto milênio a.C. ou início do terceiro no vale dos rios Tigre e

Eufrates, território do atual Iraque. Ali se sucederam povos di- versos, primeiramente os sumérios, depois os acádios, os assíri- os e os caldeus, entre outros, até a ocupação pelos persas no século VI a.C. Apesar dessa sequência de conquistas, a cultura suméria — religião, arte, leis e literatura — permaneceu com pequenas alterações por 3 mil anos.

Embora as enchentes dos dois rios não fossem tão fecundas como as do Nilo, exigiam, da mesma forma, um trabalho in- tenso e coletivo para a construção de diques e adequado apro- veitamento da irrigação natural. Portanto, além de usarem fer- ramentas e armas de bronze e de terem inventado a escrita cuneiforme, a que já nos referimos, os mesopotâmios dispun- ham de conhecimentos diversos. Construíram bibliotecas, desenvolveram a astronomia, a medicina — conheciam diversas drogas medicinais —, fizeram um calendário lunar. É bem ver- dade que esses saberes se achavam impregnados de misticismo: as doenças seriam causadas pelos demônios, e a posição dos as- tros revelava os desígnios dos deuses.

Temos poucas informações sobre os métodos educativos da civilização mesopotâmica. De início, predominava a educação doméstica, em que os saberes, crenças e habilidades eram trans- mitidos de pai para filho. Após 1240 a.C., quando os assírios conquistaram a Babilônia, foram criadas escolas públicas, com a intenção de impor os valores dos conquistadores. Com o tempo surgiram instâncias de educação superior — os centros de estudos de história natural, astronomia, matemática criados nos palácios reais — a que os historiadores chamaram de “Univer- sidade Palatina da Babilônia”. Também proliferaram ricas bibli- otecas no interior dos templos, em que os “livros” eram tabu- letas ou cilindros gravados com caracteres cuneiformes e ver- savam sobre os mais diversos assuntos.

À semelhança do Egito, destacava-se a cultura da poderosa classe sacerdotal, depositária do saber e encarregada da

educação. A escola formava os escribas, incumbidos de ler e co- piar os textos religiosos usando a difícil escrita. Por isso, o aprendizado era longo, minucioso e voltado para a preservação dessa cultura milenar. Os escribas tinham a função de registrar inclusive as transações comerciais, e foi desse modo que ficamos sabendo da intensa atividade comercial internacional dos mesopotâmios.

Ainda durante o segundo milênio a.C., o rei Hamurabi in- stituiu um código de leis conhecido pelo seu nome. Segundo a tradição, as leis resultavam da autoridade divina e como tal não podiam ser transgredidas, o que supunha castigos severos. Os mesopotâmios também acreditavam que os governantes eram escolhidos pelos deuses, o que garantia a teocracia.

4. Índia

Na Índia floresceu uma civilização por volta do ano 2000 a.C. às margens dos rios Indo e Ganges.

Para nós, ocidentais, a importância da tradição hindu está no fato de ter permanecido viva até os dias de hoje, por meio da herança de duas das principais religiões do mundo, o hinduísmo (bramanismo) e o budismo: “Longe de pertencer inteiramente a um passado encerrado, como as glórias defuntas do Egito e da Babilônia, a aventura hindu prossegue sob nossos olhos”[15].

Para o hinduísmo, religião composta de diversas crenças, das quais a mais disseminada é o bramanismo, os seres e os aconte- cimentos são manifestações de uma só realidade chamada Brah- man, alma ou essência de todas as coisas.

Se nas civilizações orientais as divisões de classe foram mar- cantes, na Índia estabeleceram extrema discriminação. A popu- lação era dividida em castas fechadas: os brâmanes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros e magistrados), os vaicias

(agricultores e mercadores), os sudras (artesãos) e os párias (servos dedicados aos serviços considerados mais humildes).

Devido à crença de que todos saíram do corpo do deus Brah- man, os brâmanes eram considerados mais importantes por ter- em sido gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os pári- as, por nem sequer terem origem divina, não pertenciam a nen- huma casta e por isso eram intocáveis e reduzidos a uma con- dição miserável.

Segundo tão rígida hierarquia, que predeterminava as con- dições de casamentos e a escolha de profissões, a educação tam- bém era discriminadora, privilegiando os brâmanes. Encamin- hados por mestres, eles aprendiam os textos sagrados dos Vedas e dos Upanishads. Entre os livros dos Vedas, compilados em sânscrito a partir de tradição oral, o mais antigo é o Rig-Veda (talvez do terceiro milênio a.C.). Os Upanishads, textos mais re- centes, datam do período entre 1500 e 500 a.C.

As aulas, geralmente ao ar livre, sob árvores, dependiam da iniciativa privada. O mestre era venerado, e a disciplina não abusava de castigos. Os estudos tinham fundo religioso e moral, e o aprendizado era mnemômico. Devido ao predomínio do ideal místico-contemplativo, não havia grande interesse pela educação física. Inicialmente só os brâmanes estendiam os estudos aos cursos superiores, em que, além da religião, estu- davam gramática, literatura, matemática, astronomia, filosofia, direito, medicina. Com o tempo, outros segmentos tiveram