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POR DENTRO DA UFRGS: ABRINDO AS CORTINAS ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA

Fernanda Maiato Chagas – Estudante de Psicologia (UFRGS)

Franciele Machado da Silva – Estudante de Direito (UFRGS)

Jorge Antônio de Fraga Ozorio – Estudante de Serviço Social (UFRGS)

Maria Augusta Carvalho Teixeira – Técnica administrativa (DEDS/UFRGS)

Nêmari Furtado Soares – Estudante de História (UFRGS)

Patrick Veiga da Silva – Estudante de História (UFRGS)

Rita de Cássia dos Santos Camisolão – Técnica administrativa (DEDS/UFRGS)

Thamires Damasceno dos Santos – Estudante de Engenharia Mecânica (UFRGS)

A criação do programa de extensão Por Dentro da UFRGS tem por fundamento o compromisso dessa institui- ção com a implementação da política de Ações Afirmativas (AA) no Ensino Superior. Nes-

se sentido, um dos eixos de atividades previstas na ação está na relação da Universida- de com estudantes de ensino médio ou pessoas com essa etapa de ensino já finalizada em instituições públicas de

ensino, a fim de colaborar para que esses atores com- preendam a justiça das AA, em razão das desigualdades sociais e raciais vigentes em nosso país. Nesse intuito, bus- ca informar e orientar quanto

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ao tema, de modo que o aces- so a informações contribua para o autorreconhecimento, ou não, enquanto sujeitos de direito na utilização das distin- tas modalidades de reserva de vagas no ensino superior, previstas na Lei 12.711/12, sancionada pela Presidenta da República em 29 de agosto de 2012, assim como servir de estímulo para a continuida- de dos estudos universitários.

Ainda na perspectiva de cooperar para o aumento no quantitativo de estudantes ingressantes pela reserva de vagas na UFRGS e em ou- tras Instituições de Ensino Superior (IES), o Por Dentro implantou o Curso Pré-Ves- tibular Popular Liberato, em parceria com a Escola Muni- cipal de Educação Básica Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha, na zona norte de Por- to Alegre, no ano de 2017.

A intenção de deslocar- -se e alcançar um número significativo de pessoas atra- vés dessa ação de extensão mobilizou uma equipe de

trabalho composta por ser- vidores do Departamento de Educação e Desenvol- vimento Social (DEDS) da Pró-Reitoria de Extensão e de outros setores da Uni- versidade, colaboradores externos, equipe diretiva e docente da Escola parceira e um contingente expressi- vo de estudantes da UFRGS que atuaram como seus bol- sistas.

Este texto traz a voz de alguns desses bolsistas no período 2017-2018, inseridas em conversas com o DEDS1

em etapa de planejamento desta publicação, oportunida- de também de conhecer um pouco melhor suas trajetórias pessoais, a vivência na Univer- sidade e os impactos da expe- riência enquanto acadêmicos extensionistas no Por Dentro da UFRGS em seu percurso na instituição.

1 - A conversa com os bolsistas aconteceu em três momentos distintos, em duplas de estudantes, com a participação dos técnicos do DEDS. Os entrevistados aceitaram a divulgação de suas informações pessoais na publicação deste texto.

No período mencionado, o programa contou com a participação de 18 graduan- dos de diferentes cursos, em sua maioria negros e cotis- tas, ingressantes na Univer- sidade através do Concurso Vestibular ou do Sistema de Seleção Unificada- SISU/MEC. A seleção de bolsistas, nos dois anos, além de priorizar estudantes ingressantes pela reserva de vagas, considerou a diversidade de áreas de formação, etapas diferencia- das nos cursos e relação com projetos sociais ou ações em comunidades populares como elementos positivos para par- ticipação enquanto bolsista de extensão.

Desse universo, seis dis- centes dispuseram-se a re- fletir sobre a experiência de compor a equipe de trabalho, articulando esta vivência com sua trajetória individual e aca- dêmica. A forma como esses sujeitos narram-se nessa escrita, ainda que de forma sucinta, já assinala percur- sos, expectativas, desafios a serem vencidos na academia. Suas falas vão ao encontro da afirmação de Hooks (2013): “Achar a própria voz não é somente o ato de contar as próprias experiências. É usar estrategicamente esse ato de contar – achar a própria voz para também falar livremente sobre outros assuntos”.

Ouvir a voz dos estudan- tes bolsistas do Por Dentro da

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UFRGS trouxe uma riqueza de elementos para avaliar a ação extensionista em questão. Mas foi além disso, levantan- do possibilidades para que o autoconhecimento da Uni- versidade como um todo seja possível.

Passemos a alguns ele- mentos desse complexo, rico e potente diálogo.

Fernanda Maiato Chagas – Estudante de Psicologia, co- tista PPI (Pretos, Pardos, Indí- genas) ingressante na UFRGS em 2016/1.

“Eu sou uma pessoa que busca... O curso desperta que eu busque me autoconhecer, também ficar pensando numa versão crítica de mim, melho- res versões [...] eu gosto de ler, eu gosto de ir pra festa, eu gosto de curtir, de ficar perto de pessoas legais, eu gosto de espaços de fala e escuta.”

Thamires Damasceno dos Santos – Estudante de En-

genharia Mecânica, ingres- sante na UFRGS em 2016/2, através do SISU.2

“Eu tenho 28 anos, sou da Restinga, sou filha de um segurança e de uma servido- ra pública, tenho uma irmã que também tá fazendo fa- culdade através do FIES3 e

tá se formando em Nutrição. Sou a segunda da minha fa- mília a ingressar numa uni- versidade, em uma Federal sou a primeira. [...] Sou do signo de virgem com ascen- dente em touro (eu acho, fiz um teste na internet). Sou bolsista no Por Dentro da UFRGS e sinto que era isso que faltava pra eu me sentir pertencente à Universida- de.”

2 - O SISU é o sistema informatizado do Ministério da Educação por meio do qual instituições públicas de ensino superior oferecem vagas a candidatos participantes do Enem.

3 - O Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) é um programa criado pelo Ministério da Educação (MEC) que oferece financiamento estudantil aos graduandos de instituições privadas cadastrados no sistema.

Jorge Antônio de Fraga Ozorio – Estudante de Ser- viço Social, ingressante na UFRGS no ano de 2010, no curso de Ciências Contábeis.

“Sou trabalhador, marido, pai e poeta. Sou um cara de 53 anos, com espírito de guri. Concluí o ensino fundamental e o ensino médio através do Exame Nacional para Certifi- cação de Competências de Jo- vens e Adultos (Encceja).”

Nêmari Furtado Soares – Estudante de História, cotis- ta PPI, ingressante na UFRGS em 2017/1 no curso de Ciên- cias Sociais pelo SISU.

“Eu sou uma pessoa muito curiosa, às vezes quero fazer mil coisas ao mesmo tempo. [...] Gosto muito de ouvir his- tórias de outras pessoas, de vida, e de conhecer outros lu- gares.”

Patrick Veiga da Silva – Estudante de História, ingres- sante na UFRGS em 2015.

“Estudei na escola Libe- rato, escola pública da zona norte de Porto Alegre, bairro Sarandi, que é o bairro que eu nasci e vivo até hoje.”

Franciele Machado da Silva – Estudante de Direito, cotista PPI, ingressante no cur- so de Farmácia em 2014/2.

“Faço Direito aqui na UFRGS, sou cotista, vim da escola Emílio Meyer, que fica no bairro Medianeira, segunda escola municipal de ensino médio de Porto Alegre

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e moro no bairro Teresópolis.”

Entre os elementos que se destacam nas apresentações, o dado que marca a escassez de familiares no ensino supe- rior, apontado por Thamires, e um novo perfil de acadêmico, descrito na apresentação de Jorge, são elementos que per- mitem projetar o quanto a Uni- versidade precisa atualizar-se ao assumir a política afirma- tiva. É necessário conhecer aquele que chega, autoconhe- cer-se, a fim de acolher esses estudantes de uma forma ple- na, proporcionando recursos teóricos, didáticos, afetivos, entre outros disponíveis via assistência estudantil para proporcionar-lhes uma boa permanência na academia que estimule a conclusão dos cursos de graduação.

A conversa com os bolsis- tas do Por Dentro da UFRGS constituiu-se tanto num recur- so precioso de avaliação do percurso da ação extensionis- ta quanto num mecanismo de demarcação da necessidade da instituição abrir espaços de escuta ao estudante. Des- se modo, essa escuta pode servir de ferramenta de au- toconhecimento no processo de aprimoramento da política afirmativa assumida no ano de 2008, de modo a renovar- -se nesse movimento.

As trajetórias escolares dos bolsistas na educação bá- sica, o nível de educação for-

mal dos pais, o enfrentamento de dificuldades inerentes às questões financeiras e sociais aparecem sublinhadas nos depoimentos.

Eu não tive muito estímulo no ensino médio, o ensino médio público é meio ruim nesse sentido de estimular o alu- no, incentivam pro mercado de trabalho. Mas, por algum motivo, eu quis entrar na Uni- versidade, porque eu gostava da Psicologia um pouco, mas nada muito elaborado. Eu fiz um curso técnico também, o PRONATEC – Programa Na- cional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego –, aquele programa lá do governo Dil- ma. Então comecei um pouco a tatear algo, além de pensar só no trabalho. Aí eu fiz um cursinho pago e entrei na Uni- versidade. (Fernanda Maiato Chagas, estudante de Psico- logia)

Fernanda apresenta uma leitura crítica com relação à escola pública ao não estimu- lar seus alunos, normalmente da periferia das cidades, a in- gressar no ensino superior e alcançar melhores postos de trabalho. Ao contrário, pare- ce investir num conformismo com o lugar imposto pela falta de acesso a políticas públi- cas de diferentes naturezas e, de certa maneira, coloca o trabalho possível para um de- terminado nível de educação formal como única opção. Sua fala destaca a fragilidade da

escola em ser um espaço que potencialize competências, conhecimentos e expectativas de futuro de seus alunos.

As estudantes Thamires e Nêmari, nos depoimentos se- guintes, trazem para a cena do diálogo outro elemento im- portante, a família.

Eu fiz o ENEM 2015 e é como eu falo, quando a gente vai fazer as visitas nas escolas. Eu só fiz o ENEM porque a mi- nha irmã me encheu o saco, porque ela estava no ano de ingressar na faculdade e tudo mais. Daí eu fiz, a minha mé- dia foi mais ou menos, mas em nenhum momento eu fui estimulada na família para ingressar na Universidade... Meu pai, minha mãe sempre falaram pra gente estudar e a minha mãe ainda fala até hoje: “Estuda, porque é a melhor coisa que vocês têm!” Mas nunca teve aquele incen- tivo de estudar na Universida- de, né? (Thamires Damasce- no dos Santos, estudante de Engenharia Mecânica) Mas a minha mãe incentivava bastante, óbvio que influen- ciou, assim, na minha decisão de querer fazer vestibular. (Nêmari Furtado Soares, estu- dante de História)

As graduandas introduzem a família como um contrapon- to à escola enquanto um ator que impulsiona a continui- dade dos estudos aos jovens

de escola pública. “Estuda, porque é a melhor coisa que vocês têm!”, frase dos pais de Thamires, permite inferir que estudo e ascensão social es- tão vinculados ao imaginário dos pais. Embora seja o prin- cipal espaço de estímulo ao estudo, o horizonte da família, no que se refere ao proces- so de educação formal, está sempre limitado às suas pró- prias experiências educacio- nais, por isso, muitas vezes, a continuidade na formação acadêmica não surge inicial- mente nesse universo. Nes- sa reflexão, Thamires reitera os pressupostos e objetivos do Por Dentro da UFRGS já relacionando sua trajetória pessoal com a vivência como bolsista do programa.

Jorge Ozorio, o mais velho dos bolsistas, reafirma a fa- mília como um espaço funda- mental de apoio e relata que, em seu caso, a condição e res- ponsabilidade de pai, além de impulsionar para o desafio de encarar um processo seletivo, reservou a ele a surpresa da aprovação no Vestibular.

Foi em 2008 que eu voltei a estudar, aí eu reiniciei na oi- tava série no colégio Dolores Alcaraz. Ali eu descobri que tinha uma prova pra eliminar todo o ensino médio, princi- palmente pra eliminar o por- tuguês, porque eu não gosto muito de português. Aí eu fiz a minha inscrição lá na Secreta- ria da Educação, fiz as provas

aquelas, lá no Gigantinho, daí eu eliminei todas e só fiquei em química. Química daí eu fiz no EJA em 2008 e 2009. [...] E antes, eu também tive o apoio da minha família toda, antes de conhecer a minha esposa. E ela me deu um baita de um incentivo, pra mim ela é mais que uma esposa, ela é tudo e... Até me emociono... [...] Eu não tinha a pretensão de entrar na Universidade, pois pensava que já tinha uma idade avançada para esse desejo de adolescente, quan- do me vi na obrigação de pai de incentivar minha filha para o ingresso na Universidade, pois ela tinha feito um ano de cursinho se preparando para entrar na faculdade no ano anterior e não tinha conse- guido ingressar. Foi quando no próximo vestibular eu me inscrevi junto com ela e iría- mos fazer juntos o vestibular, pois aconteceu de eu conse- guir através das cotas entrar na faculdade e ela não. (Jorge Antônio de Fraga Ozorio, estu- dante de Serviço Social)

Jorge incorpora de forma mais expressiva a complexi- dade que o perfil do estudante cotista pode apresentar. Traz em si as marcas econômicas, a identidade negra, a faixa etária, a conclusão do ensino fundamental e a realização do ensino médio em supleti- vo, fatos que o colocam numa condição de destaque tanto na relação com a equipe do programa, quanto como refe-

rencial ao público com o qual a ação de extensão dialoga no objetivo de estimular o acesso ao ensino superior.

Em sintonia com as cole- gas, observa a família (pais, ir- mãos, esposa) como um pon- to de apoio importante para que o escolar conclua a edu- cação básica e dê continuida- de aos estudos. É importante ter modelos a seguir. Nesse sentido, o seu depoimento so- bressai-se ao percebermos o esforço em se tornar o modelo de coragem para a filha e ser surpreendido com sua própria aprovação, quebrando com o senso comum de que sua idade já era avançada para tal pretensão.

A vivência na Universi- dade: o desafio de conhe- cer e conhecer-se

O Por Dentro da UFRGS, como o próprio nome anun- cia, é uma convocação a que se fique a par de como se es- trutura, do que acontece e de como se pode viver a Universi- dade. Parte-se do pressupos- to de que quem nela está já tenha esse conhecimento. Os bolsistas nos trazem alguns elementos importantes nesse sentido.

Eu tô entre o quinto e o sexto semestre, no Direito, mas eu entrei na UFRGS em Farmá- cia, depois eu fiz uma transfe- rência interna [...] eu realmen- te ia pra UFRGS e assistia às aulas, saía e ia pra casa, era

só essa rotina, eu conhecia o meu prédio, o meu curso e não conhecia absolutamente nada, eu fui começar a fre- quentar a biblioteca do meu curso a partir do terceiro se- mestre, porque eu não sabia nem onde eu podia entrar ali dentro, então aqui [no Progra- ma Por Dentro da UFRGS] com as discussões de texto, com todas essas questões que a gente via, eu comecei a conhe- cer os espaços da UFRGS [...] (Franciele Machado da Silva, estudante de Direito)

[...] mas eu sempre achei a Universidade um lugar muito frio e aí, às vezes, tu acaba ficando igual, quando tu vê, tá igual. Só que sempre têm pes- soas que são o contrário dis- so. Mas eu nunca achei essa coisa de acolhimento muito concreta... tipo, se eu quiser eu posso ir lá e fazer, eu sei que as pessoas estão aber- tas, mas... Não, nunca me senti muito acolhida assim sabe, mas eu tenho as condi- ções, isso eu tenho. (Nêmari Furtado Soares, estudante de História).

As declarações de Fran- ciele e Nêmari ressaltam que o discente passa um largo tempo com a circulação res- trita no espaço da academia por desconhecimento da sua estrutura, extensão e organi- zação, decorrente da frieza e insuficiente acolhimento na instituição. Desse modo, a extensão universitária se

apresenta como esse espaço possível de acolher, de encon- trar-se consigo, com o outro e com a própria UFRGS. São os princípios de interação dialó- gica e impacto na formação acadêmica que sustentam essa experiência, permitindo aos estudantes extensionis- tas vivências diferenciadas de formação e relacionamentos no programa Por Dentro da UFRGS.

Engenharia Mecânica era uma coisa que eu queria des- de sempre, mas nunca me vi fazendo na UFRGS. Eu sabia que a Engenharia não era um curso fácil e é um curso bem elitizado, na sua maioria por homens brancos, então quando eu entrei na aula, que era específica de Engenharia Mecânica, eram 60 alunos, cinco mulheres e uma negra, que era eu, e mais um ou dois colegas negros que tinha. É um desafio diário, eu me questiono bastante em rela- ção ao curso. É um desafio estar se reafirmando ali no curso, né? (Thamires Damas- ceno dos Santos, estudante de Engenharia Mecânica) Thamires revela a percep- ção das muitas formas de opressão já em sua chegada na sala de aula. O enfrenta- mento a questões vivenciadas no curso e na academia exi- gem reafirmar-se todo o dia, enquanto mulher negra, mo- radora da periferia da cidade, exceção no curso frequentado

majoritariamente por homens brancos. É preciso “Ser Resis- tência” para permanecer no curso.

A minha experiência dentro da Universidade, até receber o e- -mail do Por Dentro, do DEDS, pra fazer capacitação, foi bem complicada [...] eu fiquei prati- camente quase 30 anos sem estudar, sem pegar um livro, né, e o meu jeito de estudar, na escola, no fundamental e no ensino médio, que eu fiz o EJA também. Eu sou alu- no de prestar muita atenção em sala de aula, tanto é que às vezes a gente tá aqui em reunião e eu dificilmente falo alguma coisa e eu anoto, mas eu me lembro o dia que eu te- nho que fazer, o dia que eu te- nho que apresentar, eu tenho muita atenção assim. (Jorge Ozorio, estudante de Serviço Social)

[...] e aí foi esse problema as- sim, esse impacto com a Uni- versidade que tá recebendo pessoas que nunca tiveram uma tradição de leitura e já têm que encontrar direto es- sas leituras que são muito complexas. E os professores

pensando que a gente já chega na Universidade sabendo es- crever um artigo, sabendo es- crever uma resenha, sabendo escrever, sei lá, o que for, né, com modelo de formato acadê- mico, e não é uma realidade4,

a gente tem que correr por fora pra conseguir fazer as coisas. (Patrick Veiga da Silva, estudante de História) Eu entrei na UFRGS em Far- mácia, depois eu fiz uma transferência interna. Eu fi- quei só um semestre, eu en- trei e já tava fazendo curso técnico de Farmácia antes, que eu consegui no SISUTEC. Só que no curso técnico eu ti- nha me encontrado, tava indo super bem. Quando eu passei em Farmácia na UFRGS eu tive que abandonar, porque os períodos eram o dia intei- ro. Farmácia na UFRGS é bem complicado, eu acabei não gostando e acabei vendo já no primeiro semestre como trocar de curso. (Franciele Machado da Silva, estudante de Direito)

As falas de Franciele, Jor- ge e Patrick conduzem nosso olhar para a linguagem acadê- mica, para a estrutura curricu- lar e para a necessidade de que o professor olhe de ma- neira diferenciada para o dis- cente cotista, oriundo de es- cola pública, que carrega um capital cultural5 diferenciado

para este universo. Os proces- sos de transferência interna, vividos por vários desses estu- dantes, os rearranjos em tem- pos de realização do curso, as aprendizagens em coletivos

5 - Conceito cunhado por Pierre Bordieu, em seus estudos de reprodução social e o lugar da escola nesse processo.

estudantis e participações em ações extensionistas são es- tratégias que eles encontram