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CAPÍTULO 2 – MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

2.3. Em Portugal

Cebola (2015, p. 56) ensina que dentre os tipos de regulação possíveis da mediação a UE adotou a regulamentação-quadro ou formal framework materializada pela Diretiva 2008/52/CE, enquanto o Estado português optou pela regulação legislativa ou formal legislative aproach por meio de um diploma legal específico sobre o assunto, no caso, a Lei n.º 29/2013, de 19 de abril103.

Sousa (2002, p. 72) informa que à semelhança de outros países Portugal revela dois modos de utilização da mediação: privado e público104, sendo neste último caso, convencionado no todo ou parcialmente pelo Poder Público ou por entidades sem fins lucrativos. Para Cebola (2015, p. 56) o ordenamento jurídico lusitano inovou face ao panorama europeu ao criar serviços públicos de mediação geridos por entidades públicas no âmbito da competência material do sistema onde mediadores previamente listados eram habilitados e fiscalizados em suas atividades, nada sendo previsto para as mediações privadas ou ad hoc105, pelo menos até a promulgação da Lei da Mediação em 2013.

Mas de acordo com Jorge Morais Carvalho (2011, p. 271) o marco fundamental na legislação nacional se deu antes com a introdução da mediação no Código de Processo Civil pela Lei nº 29/2009, de 29 de junho que transpôs a Diretiva 2008/52/CE

103 A autora informa outros países que adotaram o mesmo tipo de regulamentação da mediação: Espanha

com a Lei n.º 5/2012, de 6 de Julho, Alemanha com a lei alemã “mediationsgesetz” vigente desde 26 de Julho de 2002 e o Uniforme Mediation Act americano de 2002.

104 Reis (2010) citada em Cebola (2011, p. 7) ressalta que em Portugal a mediação pública é promovida

pelo Ministério da Justiça, na área cível através dos JPs; na área familiar ocorre nacionalmente; no setor laboral de forma continental; e na área penal, em algumas comarcas.

105 Gustavo Henrique Nitão Pereira, Mariana Silva de Sousa, Cassius Guimaraes Chai e Mariana Lucena

Sousa Santos (2014, p. 259) informam que sob a ótica da escola austríaca a mediação privada é um complexo sistema e a melhor forma de solução de conflitos. É de lembrar que os meios de autocomposição são anteriores ao próprio Estado e a liberdade é o standart dos austríacos, assim como o respeito aos direitos de igualdade, propriedade e vida. Dessa forma, sendo a liberdade inerente à natureza humana, é com base nela que se deve pautar o convívio social. Para a escola austríaca, marcada pela subjetividade de valor, individualismo metodológico, conhecimento disperso e ordem espontânea, a mediação privada é mais eficaz que o Estado, uma vez que este, ao possuir o monopólio da jurisdição, não sofre concorrência e dessa forma falha na prestação sem ser responsabilizado como ocorre num contrato de mediação. Em conclusão, para a escola austríaca, a associação do ideal de liberdade com a análise empírica de que o monopólio jurisdicional estatal está fadado ao fracasso faz imperativa a aplicação de novas formas de resolução de conflitos.

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do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de maio de 2008, relativa a certos aspetos da mediação em matéria civil e comercial, ainda que tenha tido caráter simbólico106.

Em termos práticos Sousa (2002, p. 49) defende que os primeiros passos em mediação foram dados pelos JPs e Carvalho (2011, p. 272) confirma que a LJP consagrou a mediação que já era aplicada de forma pouco expressiva em vários setores como relações de consumo, imobiliário e família107. Como exemplo o autor informa que a mediação familiar como via alternativa e complementar da via judicial já vinha sendo aplicada desde 1997 através do Gabinete de Mediação Familiar, de iniciativa do Ministério da Justiça em colaboração com a Ordem dos Advogados.

Albertina Pereira (2006, p. 130) informa que a mediação familiar em Portugal foi oficialmente consagrada pelo despacho 12368/97, de 25 de novembro em Lisboa e se restringia a conflitos decorrentes do poder parental. Para a autora, foi o ponto de partida na criação dos ADR em observância ao compromisso internacional e comunitário assumido perante o Conselho da Europa e a UE que propugnavam a criação e desenvolvimento desses meios.

No que se refere às relações de consumo a autora revela que o Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo de Lisboa, iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Lisboa, Associação Portuguesa para Defesa do Consumidor, Instituto Nacional da Defesa do Consumidor e da União das Associações de Comerciantes do Distrito de Lisboa, também oferecia serviços de mediação com grande sucesso, exemplo que foi seguido por numerosas entidades que, iniciando o serviço de arbitragem (movimento mais antigo e estruturado em Portugal) alargaram o âmbito de atuação para incluir também a mediação.

Carvalho (2011, p. 273) informa que além da conciliação e arbitragem implementadas por organismos privados e administrativos (administração direta e indireta) a mediação foi sendo paulatinamente instituída em diversas áreas como: na

106Apesar da relevância do aditamento ao CPC, a opção do legislador foi duramente criticada pela

doutrina que considerou que a matéria merecia destaque e autonomia e não ser inserida sem qualquer preocupação de organização sistemática ao processo de inventário (Carvalho, 2011, p. 276).

107 De acordo com Carvalho (2011, p. 272) originalmente foi o DL n.º 146/99, de 4 de maio que criou o

sistema de registro voluntário de procedimentos de resolução extrajudicial de conflitos de consumo, incluindo entre estes o serviço de mediação; no campo da família a Lei n.º 133/99, de 28 de agosto que aditou o DL n.º 314/78, de 27 de outubro sobre o poder paternal também já fazia previsão da mediação; no setor imobiliário o Código dos Valores Mobiliários aprovado pelo DL n.º 486/99, de 13 de novembro, previa a oganização pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários de um sistema de mediação de litígios e segundo o autor, nesse diploma, foi pioneiramente regulado o processo de mediação no artigo 34.º em aspectos específicos como: princípios da imparcialidade, celeridade, gratuidade e a garantia da confidencialidade do processo.

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jurisdição de menores (regime de visitas, alimentos e guarda); mediação penal para jovens entre doze e dezesseis anos que praticassem fatos qualificados como crimes; JPs (na fase preliminar ao processo ou como extra competência, ou seja, aquela realizada pelos julgados ainda que a matéria não seja de sua atribuição original); na relação laboral108 (criada por protocolo entre o Ministério da Justiça e as Confederações Patronais e Profissionais, exceto acidentes de trabalho e outras matérias indisponíveis); e na ação penal para os crimes cuja pena não exceda cinco anos109. Para o autor, a mediação tem sido cada vez mais utilizada devido ao aumento de sua divulgação no meio científico, especialmente o jurídico.