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1- Ficha de leitura e análise desenvolvida para a pesquisa

5.3 AUDIOVISUAL E NARRATIVAS DE COMUNICAÇÃO PÚBLICA

5.3.3 Postagens do dia 19 de maio de 2016

A data em que foi postado em 24 horas o maior volume de material audiovisual durante o período de recorte da campanha foi o dia 19 de maio de 2016, uma quinta-feira. Foram seis materiais audiovisuais postados. Charles Fricks26 é quem aparece no primeiro deles. O ator fala por dois minutos e 51 segundos (2'51") fazendo o que ele estabelece ser um registro contra os “absurdos” que são o fim da EBC e do Ministério da Cultura. O material enviado à campanha demonstra a insatisfação com a situação da TV Brasil prevendo problemas ligados à qualidade artística e cultural do trabalho que a TV Brasil desenvolve. Charles usa a primeira pessoa pra demonstrar seu ponto de vista embora não esboce muita segurança na sua fala. Entre as molduras identificadas no material está o tema recorrente e praticamente todos os vídeos que é a ilegitimidade do governo de Michel Temer e ainda a de uma TV que abre espaço pra outras versões dos fatos, diversidade e de espaço para todas as opiniões.

Do ponto de vista narrativo, Charles coloca a TV Brasil como a mocinha do raciocínio que ele materializa em sua participação. Ao mostrar o outro lado da mídia tradicional brasileira, ele faz o anúncio das transformações e dos possíveis desdobramentos e, rapidamente, posiciona-se quanto à descrença na mudança. Ele aborda ainda o

enfraquecimento do Ministério da Cultura e explica a diferença conceitual entre a TV Pública e as outras emissoras no que diz respeito à prioridade da diversidade cultural e sexual, das etnias.

Essa é a mesma maneira com que a ex-ouvidora da EBC27 Regina Lima28 entende a Comunicação Pública. Jornalista e também professora da Universidade Federal do Pará, acredita na comunicação diversa e plural e afirma que a medida tomada ao exonerar Ricardo Melo atenta contra a independência da Empresa. Regina afirma acreditar na comunicação pública e por isso se manifesta contra a violação da lei de criação da EBC, contra a exoneração do diretor presidente uma vez que o mandato de 4 anos serviria para blindar o diretor presidente de influências políticas.

Durante um minuto e meio a professora utiliza a primeira pessoa para construir seu discurso, ela não se distancia da narrativa e se posiciona politicamente pedindo pra que as pessoas se manifestem. Coloca as pessoas que acreditam na Comunicação Pública e que lutam por ela na posição de heróis da narrativa construída. Enquanto explica os fatos e anuncia o risco de que as garantias individuais sejam retiradas assim como as garantias trabalhistas, a extinção do ministério da Cultura, da CGU e a exoneração do diretor presidente da EBC a Regina se coloca enquanto arauto da narrativa. Os conceitos e imagens da Comunicação e da TV pública que emergem do vídeo dão conta de uma comunicação bem próxima do que conceitualmente entendemos enquanto Comunicação Pública.

Assim também entende a temática, José Araripe29, nos 24 segundos em que grava seu vídeo-selfie veiculado na campanha. Ele não se insere na narrativa e faz o uso do lugar de fala enquanto cineasta para referendar o seu discurso ou dar mais força à mobilização. Inicia o vídeo fazendo uma pergunta: "Como? Tirar o presidente da EBC?”. Segue falando que essa tentativa é inconstitucional e que TV pública precisa ser livre, autônoma. A legenda do vídeo atenta também para o fato de o cineasta já ter trabalhado com radiodifusão, um exemplo bem significativo da impossibilidade de separar o material audiovisual do que o anuncia. A ordem de leitura e de visualização do vídeo, caso não se conheça o autor, não chega a alterar o entendimento do que ele defende, mas sem o (re)conhecimento de sua representatividade o

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Embora essa informação não seja explicitada no vídeo, Regina Lima foi ouvidora da EBC entre os anos de 2011 e 2013, quando foi responsável pela apresentação do programa O Público na TV, veiculado semanalmente pela TV Brasil e objeto da dissertação de mestrado do jornalista Raul Mourão Ruela: Ouvidoria na televisão pública: a experiência do programa “O Público na TV”, disponível em

https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/2398

28 Vídeo Disponível em: https://www.facebook.com/emdefesadaEBC/videos/1611036162547045/ 29Vídeo disponível em: https://www.facebook.com/emdefesadaEBC/videos/1611038462546815/

impacto na mobilização pode ser modificado. Interessante destacar também que a frase de maior força do audiovisual foi transcrita na legenda do vídeo depois de identificá-lo.

Ao falar sobre o contraponto, sobre a autonomia e sobre respeitar a maneira como a EBC foi criada, Araripe indica que ele entende e reconhece o processo de discussão com a sociedade que culminou na criação da empresa. Entendemos que o autor construiu o seu conceito de TV pública como sendo a comunicação feita a partir da diversidade e da pluralidade e com respeito às individualidades e representatividades.

O terceiro vídeo postado no dia coloca em cena Bemvindo Siqueira30 que em 22 segundos falou do contexto da democracia golpeada e de mais um golpe, dessa vez na EBC e em Ricardo Mello. Insere-se na narrativa dizendo apoiar Ricardo Melo para ele exercer seu mandato de completo de quatro anos. O ator que está ligado à cultura, usa da subjetividade a partir do segundo momento de fala no vídeo. Entretanto não fala da sua subjetividade e relação com a EBC para além do apoio ao diretor presidente.

Em um tempo parecido, Ivan Moraes31 gravou os 27 segundos de material no interior de um cômodo onde chama atenção a ilustração de um homem de braços abertos. Gravado de forma usual por alguém que, inclusive diz “vai”, o autor defende que a Comunicação Pública precisa ser construída e fortalecida e não sucateada. Coloca-se enquanto parte do contexto uma vez que apresenta um programa de TV, o “Pé na rua” que é veiculado em emissoras públicas.

O jornalista pernambucano trabalha no Centro de Cultura Luís Freire e a partir deste lugar de fala afirma que a Comunicação Pública precisa ser fortalecida e não sucateada como quer o governo ilegítimo e provisório. Ele se insere no drama narrado enquanto uma espécie de arauto (MATA, 2011) ao anunciar o sucateamento eminente da EBC caso não seja fortalecida da Comunicação Pública. Na sua participação verificamos a presença de três figuras de linguagem. A função emotiva ao se apresentar e dizer que apoia a EBC, a função referencial ao falar da Comunicação Pública e a função apelativa ao tentar convencer de que o governo ilegítimo quer sucatear a EBC.

Já no vídeo de Ionara Costa32, o uso da primeira pessoa e a narrativa da experiência em ambiente televisivo evidencia majoritariamente a função emotiva da linguagem. Há também no tempo de um minuto e 34 segundos de produção (1'34") um referente tratado de forma denotativa: a Comunicação Pública.

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Vídeo disponível em: https://www.facebook.com/emdefesadaEBC/videos/1611404072510254/ 31 Vídeo Disponível em: https://www.facebook.com/emdefesadaEBC/videos/1611419619175366/ 32 Vídeo disponível em: https://www.facebook.com/emdefesadaEBC/videos/1611050972545564/

Neste, que é o último vídeo postado no dia 19, a autora se coloca como espectadora da TV Brasil. Conta que mora no exterior e recentemente descobriu a TV. Sempre que está no Brasil assiste em detrimento de outras emissoras. Afirma recusar-se a aceitar tudo o que venha do governo golpista e que não se pode destruir algo importante quanto a EBC. Ela destaca a qualidade da programação e ao se inserir enquanto telespectadora evidencia o pensamento de que os meios de comunicação públicos sejam possíveis agentes de transformação cidadã.