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2.2 Psicodinâmica do trabalho

2.2.1 Prazer no trabalho

O prazer faz parte da existência humana, constituindo-se em uma necessidade vital do homem. A partir do entendimento de Aquino (1934), tem-se que o ser humano, através da percepção de seus sentidos e de seu corpo, necessita de contentamento, não sendo possível viver alheio a isso. Para o autor, o prazer proporciona a tranquilidade da alma, sendo as vivências de prazer indispensáveis para aliviar a sobrecarga espiritual.

Hernandes e Macedo (2008) situam o prazer como algo que faz parte da construção da identidade do indivíduo no meio social, tornando-o único, conferindo-lhe prestígio e o reconhecendo perante seu trabalho e diante da sociedade. Em mesmo sentido, Mendes (1999) defende que o prazer é de fundamental importância na vida psicológica do trabalhador, situando-se como fator central, por ser capaz de construir a identidade do indivíduo, em paralelo à sua produtividade e às situações sociais (MENDES, 1999). Para Tamayo (2004), quando o indivíduo é capaz de se sentir realizado em sua atividade laboral e quando o trabalho representa para ele a formação de uma identidade particular e também social, o exercício desse trabalho proporciona prazer e sinaliza um estado de saúde do trabalhador. O prazer está vinculado à existência de propícias circunstâncias de trabalho e do ambiente de

trabalho, de modo que isso seja proporcional à aptidão e à força do indivíduo para o cumprimento de suas tarefas (TAMAYO, 2004).

Para Ferreira e Mendes (2003), o prazer é sentido individualmente ou partilhado por uma coletividade de empregados, em razão de vivências positivas do trabalhador, diante do suprimento de suas vontades e necessidades, demonstrando que as discrepâncias no relacionamento entre empregado e empregador no âmbito da produção de bens e serviços foram solucionadas, após um processo de conciliação. Então, o indivíduo pode perceber vivências de prazer tanto de maneira individual, quanto de maneira coletiva, junto a um grupo de trabalhadores, experimentando o sentimento de regozijo em âmbito privado ou coletivo.

De acordo com Dejours (1992), o prazer pode ser vivenciado quando existe um estado de harmonia entre a organização do trabalho e os processos mentais do trabalhador. Assim, o autor considera que a equidade entre a organização do trabalho e os processos funcionais da mente do indivíduo oferece condições para a experimentação do prazer. Disso, tem-se que o equilíbrio de ambas as partes na relação de trabalho, seja na divisão de tarefas, seja nas exigências físicas e intelectuais do trabalhador, bem como a consonância das necessidades do indivíduo e das aspirações da empresa são capazes de tornar o trabalho agradável, sendo motivo de prazer.

Nesse mesmo sentido, Mendes e Morrone (2002) entendem que o estado de prazer é atingido quando há harmonia das pretensões e necessidades psíquicas do indivíduo, ocasionando benefícios em suas funções psicológicas. Para Toledo e Guerra (2009), em termos psicológicos, o prazer decorre do estado de equilíbrio do indivíduo, tanto em termos físicos quanto em termos psíquicos.

A partir de Macedo e Guimarães (2003), tem-se que o propósito do prazer é atingir um sentimento de satisfação interior, que se verifica quando o trabalho proporciona ao indivíduo a devida moderação mental, preservando o estado físico do trabalhador, ou seja, beneficiando sua saúde.

Conforme se depreende, o sentimento de prazer pode ser verificado a partir de indicadores, que sinalizam como os indivíduos mantêm o equilíbrio no desenvolvimento de suas atividades laborais e obtêm experiências favoráveis, de prazer.

Harvey (2006) cita o dinheiro como fator determinante do prazer, já que, considerando a lógica do capital, representa poderio frente à sociedade, sendo tido como elemento de ambição.

Para Mendes e Silva (2006), quando o trabalho é escolhido ou organizado de maneira mais livre, é capaz de suavizar a carga psíquica e melhor atender as necessidades dos indivíduos, tornando-se fonte de relaxamento. Ferreira e Mendes (2001) situam que a liberdade de pensamento, de ação e de exposição dos anseios do trabalhador indica prazer no trabalho. Nesse sentido, segundo Schutz (1974), o sentimento de prazer está ligado à efetivação das capacidades do indivíduo, promovendo um estado de realização.

O êxito profissional também se presta a proporcionar a sensação de prazer ao indivíduo, e a organização do trabalho incute essa ideologia a seu próprio favor. Conforme Pagés et al. (1993), o sucesso é uma forma de o indivíduo situar-se na sociedade. O sujeito, na qualidade de trabalhador, envida todos os seus esforços para alcançar seus objetivos, colocando sua carreira como fator eminente e distintivo no relacionamento com a empresa, essa que, por sua vez, consegue impor a ideia de que o indivíduo que atende aos valores organizacionais é uma pessoa bem- sucedida.

Desse modo, variados indicadores são fonte de prazer no trabalho. Ferreira e Mendes (2001) citam como fatores originadores de prazer a criatividade, a liberdade de expressão pessoal, o orgulho e satisfação relacionados à atividade laboral, bem como o reconhecimento por parte dos dirigentes e dos demais trabalhadores. Os mesmos autores também sinalizam como indicadores de prazer a flexibilização das relações da organização do trabalho, a ajuda mútua e o companheirismo no relacionamento entre os profissionais no ambiente social do trabalho. Mendes e Silva (2006) apontam como indícios de prazer a valorização, o reconhecimento, a

autonomia, a gratificação, a aptidão para adquirir conhecimento, o orgulho, a realização e a significância no trabalho. Morin (2001) aponta como indicador o desempenho. Alinhados ao entendimento dos autores citados, a sensação de prazer, para Mendes e Linhares (1996) e Mendes de Abrahão (1996), pode ser apreciada em função da valorização e do reconhecimento da atividade exercida, por parte da organização e por parte da sociedade. Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994) fazem referência à motivação como indicador.

Todos esses indicadores compõem-se de sentimentos que interagem nos processos mentais do indivíduo, propiciando o exercício da subjetividade do trabalhador, fazendo com que ele se sinta bem consigo mesmo, com os colegas de trabalho e com a empresa, criando um ambiente interno saudável e experimentando vivências de prazer.