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Wall Street tem esse nome por causa de um muro (wall) que impedia os animais domésticos de se afastarem demais do assentamento existente na ponta de Manhattan. O fato é que o legado rural perdura na lingua- gem dos investidores. Quatro animais, em especial, são mencionados com muita freqüência em Wall Street: touros (bulls), ursos (bears), por- cos (hogs) e carneiros (sheep). Os operadores de mercado dizem: “Os touros ganham dinheiro, os ursos ganham dinheiro, mas os carneiros são abatidos.”

O touro luta arremessando o adversário para o alto com os chifres. O touro é o comprador – pessoa que aposta na alta do mercado e lucra com o aumento dos preços. O urso luta derrubando o adversário com as patas. O urso é o vendedor – alguém que aposta na baixa do mercado e lucra com a queda dos preços.

Por serem gulosos, os porcos são abatidos quando operam no mercado para satisfazer sua intemperança. Alguns porcos compram ou vendem po- sições grandes demais para eles e são massacrados por uma pequena mu- dança adversa. Outros mantêm durante muito tempo suas posições – ficam esperando que o lucro aumente, mesmo depois da reversão da tendência. Os carneiros são seguidores passivos e medrosos de tendências, de dicas e de gurus. Às vezes, usam chifres ou peles e se exibem como touros ou ur- sos. Reconhecem-se os disfarces pelos grunhidos e balidos, quando o mer- cado se torna volátil.

Sempre que o mercado está aberto, os touros compram e os ursos ven- dem, os porcos e carneiros são pisoteados pelas manadas, enquanto os in- vestidores indecisos ficam esperando fora da arena. Terminais em todo o mundo mostram um fluxo constante de cotações – os preços mais recentes

de qualquer objeto de negociação. Milhares de olhos estão focados em cada cotação, à medida que se decidem as operações.

Discutindo sobre preços

Quando pergunto aos operadores de mercado nos seminários o que é pre- ço, alguns respondem: “Preço é uma percepção de valor.” Outros dizem: “Preço é o que alguém em determinado momento está disposto a pagar a outrem por algum objeto.” Alguém observa: “Preço é o que a última pes- soa pagou pelo objeto. Este é o preço agora.” Mais alguém sugere: “Não, é o que a próxima pessoa pagará.”

Os operadores de mercado que não são capazes de apresentar uma de- finição clara de preço não sabem o que estão analisando. Seu sucesso ou fracasso como operador de mercado depende de sua capacidade de lidar com os preços – e é melhor saber o que isso significa! Alguns participantes desses seminários mostram-se inquietos enquanto procuram uma resposta para uma pergunta aparentemente óbvia. Os argumentos vão e voltam, como no seguinte debate:

Vou lhe dar um exemplo de uma situação extremamente negativa. No crash de 1929, as ações da Singer estavam sendo vendidas por US$100, mas de repente cessam as propostas de compra e durante algum tempo ninguém quer comprar, até que alguém diz: “Quero vender. Quanto me pagam?” E alguém na sala de negociações res- ponde: “Um dólar.” E ficou com a ação. Realizou-se a negociação. Preço é o que o maior tolo está disposto a pagar.

Veja o caso do mercado de 1987. Toda aquela queda repentina de 500 pontos – as ações, intrinsecamente, não valiam um tostão a menos depois da queda do que antes. Portanto, tudo consistia na diferen- ça de percepção e de disposição para pagar da próxima pessoa. Podemos ir um pouco mais longe. O objeto pelo qual se está pagando

um preço não tem nenhum valor. É apenas um pedaço de papel. Tudo que importa é o valor intrínseco do dividendo, em compara- ção com os papéis do governo na época.

Ela ainda tem o valor do que alguém estiver disposto a pagar para com- prá-la. Se ninguém quiser adquiri-la, ela não tem valor.

Ela lhe proporcionará um fluxo de rendimentos. E se você negocia com soja? Você pode comer a soja.

Mas e se a ação pagar dividendos? Mas ela não corresponde a ativos?

A empresa que emitiu a ação tem valor, gera fluxo de caixa.

Eu lhe dou uma ação da IBM; se ninguém quiser comprá-la, você pode acender um cigarro com ela.

Não existe esse negócio de ninguém querer comprar ação da IBM. Sempre existe compra e venda.

Dá uma olhada na United Airlines. Um dia está a US$300, no outro está a US$150.

Não ocorreu nenhuma mudança na empresa em si, ela ainda está pro- duzindo o mesmo fluxo de caixa, o papel ainda tem o mesmo valor contábil e corresponde aos mesmos ativos – qual é a diferença? O preço da ação tem muito pouco a ver com a empresa. O preço da ação

da IBM tem muito pouco a ver com a IBM. Da maneira como vejo a coisa, o preço da ação está ligado à IBM por um elástico com um quilômetro de comprimento e pode oscilar como doido para cima e para baixo – a IBM prossegue em seu caminho, sem grandes desvios de rumo, influenciando muito de longe o preço de suas ações. O preço é a interseção das curvas de oferta e demanda.

Todo investidor sério deve conhecer o significado de preço. É preciso sa- ber o que analisar, antes de sair por aí comprando e vendendo ações, futu- ros ou opções.

Resolvendo conflitos

Três são os grupos de investidores no mercado: compradores, vendedores e indecisos. “Preço de venda” (ask) é o que um vendedor pede por sua mer- cadoria. “Preço de compra” (bid) é o que um comprador oferece pela mes- ma mercadoria. Os compradores e vendedores estão sempre em conflito.

Os compradores querem pagar o mínimo possível e os vendedores querem cobrar o máximo possível. Se os membros dos dois grupos insisti- rem em suas pretensões iniciais, nenhuma transação se realizará. Ausência de transação significa ausência de preço –- apenas propostas intencionais de compradores e vendedores.

O vendedor tem uma escolha: esperar que o preço suba ou aceitar uma oferta mais baixa por sua mercadoria. O comprador também tem

uma escolha: esperar que os preços desçam ou dispor-se a pagar mais aos vendedores.

A transação ocorre quando duas mentes se encontram em termos mo- netários: um touro ansioso concorda com os termos do vendedor e paga mais ou um urso ansioso concorda com os termos do comprador e vende um pouco mais barato. A presença de investidores indecisos exerce pres- são sobre os touros e os ursos.

Quando compradores e vendedores negociam em particular, podem barganhar em ritmo mais lento. Mas as duas partes devem movimentar-se com muito mais rapidez quando negociam numa bolsa de valores. Sabem que estão cercados por uma multidão de outros investidores que podem interferir na negociação a qualquer momento.

O comprador sabe que se pensar muito outro investidor pode entrar em cena e ficar com o negócio. O vendedor também sabe que se tentar in- sistir em preço mais alto, outro investidor pode adiantar-se e vender a pre- ço mais baixo. A multidão de investidores indecisos aumenta a ansiedade dos compradores e vendedores para chegar a um acordo com a outra par- te. A transação concretiza-se quando as duas pontas chegam a um denomi- nador comum.

Um consenso de valor

Cada impulso na tela de cotações representa uma transação entre um com- prador e um vendedor. Os compradores compram porque esperam que os preços subam. Os vendedores vendem porque esperam que os preços caiam. Os compradores e vendedores operam no mercado cercados por multi- dões de investidores indecisos, que podem tornar-se compradores ou ven- dedores, à medida que os preços mudam e o tempo passa.

As compras pelos touros empurram o mercado para cima, enquanto as vendas pelos ursos puxam o mercado para baixo; enquanto isso, os investi- dores indecisos aceleram o ritmo de tudo, criando um senso de urgência entre compradores e vendedores.

Os investidores chegam ao mercado provenientes de todo o mundo: pessoalmente, via computadores ou por meio de suas corretoras. Todos têm a chance de comprar e vender. Cada preço é um consenso momen- tâneo quanto ao valor do objeto, entre todos os participantes do merca- do, expresso em ação. O preço é um evento psicológico – um efêmero equilíbrio de opiniões entre touros e ursos. O preço é produzido pela massa de operadores de mercado – compradores, vendedores e indeci- sos. Os padrões de preço e volume refletem a psicologia de massa dos mercados.

Padrões de comportamento

Grandes multidões convergem para as bolsas de ações, mercadorias e op- ções – em pessoa ou representadas por suas corretoras. Muito dinheiro e pouco dinheiro, dinheiro inteligente e dinheiro burro, dinheiro institucio- nal e dinheiro privado, todos se encontram na sala de negociações das bol- sas de valores. Cada preço representa um fugaz consenso de valor entre

compradores, vendedores e investidores indecisos, no momento da transa- ção. Por trás de cada padrão no livro de gráficos há uma multidão de inves- tidores.

O consenso da multidão muda a cada momento. Às vezes, forma-se em ambiente comedido; outras vezes, amolda-se em contextos turbulentos. Em tempos tranqüilos, os preços movimentam-se em pequenos incremen- tos. Quando as multidões ficam apavoradas ou empolgadas, os preços co- meçam a dar saltos. Imagine-se vendendo coletes salva-vidas num navio que esteja afundando – é como se comportam os preços quando massas de investidores tornam-se emocionais quanto a determinada tendência. O in- vestidor astuto tenta entrar no mercado em tempos tranqüilos e realiza lu- cro em tempos conturbados.

Os analistas técnicos estudam as guinadas da psicologia de massa nos mercados financeiros. Cada sessão de negociações é uma batalha entre touros, que ganham dinheiro quando os preços sobem, e ursos, que lucram quando os preços caem. O objetivo dos analistas técnicos é descobrir o equilíbrio de poder entre touros e ursos e apostar no grupo vencedor. Se os touros forem muito mais fortes, deve-se comprar e manter. Se os ursos fo- rem muito mais fortes, deve-se vender e vender a descoberto. Se ambos os campos tiverem a mesma força, o investidor sábio fica entre os dois. Deixa que os fanfarrões briguem uns com os outros e opera apenas quando esti- ver razoavelmente seguro quanto ao provável vencedor.

Preços, volumes e contratos em aberto refletem o comportamento da multidão. O mesmo ocorre com os indicadores neles baseados. Essa carac- terística torna a análise técnica semelhante às pesquisas de opinião. Ambas combinam ciência e arte: são científicas na medida em que usam métodos científicos e computadores; são artísticas na extensão em que se baseiam no julgamento pessoal e na interpretação das descobertas.