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Este capítulo versa sobre as contribuições conceituais da Psicologia sócio-histórica, que se revelaram significativas para o delineamento do método e seus desdobramentos, elementos estes que também são apresentados nesta seção.

2.1 - Contribuições conceituais e metodológicas da Psicologia Sócio-Histórica para o presente estudo

O presente item pretende discutir as principais ideias da psicologia sócio-histórica que se revelaram significativas para a temática de meu projeto de pesquisa: a dimensão subjetiva da deficiência na vida no trabalho. Para tanto, pretende-se debruçar sobre os conceitos de Subjetividade, Dimensão Subjetiva e Sentidos e Significados. Os conceitos aprofundados servirão de arcabouço para o caminho metodológico escolhido. Antes desse processo, no entanto, cabe apresentar algumas considerações sobre a psicologia sócio- histórica que permitam situá-la nos elementos teóricos que serão trabalhados.

A psicologia sócio-histórica é uma perspectiva teórico-metodológica que tem como referencial o materialismo histórico e dialético e compreende o caráter complexo e histórico da subjetividade humana a partir de uma apreensão crítica, em que “as contradições são tomadas como próprias da complexidade do fenômeno psicológico e da subjetividade” (KAHHALE e ROSA, 2009, p, 23).

O século XX marcou a origem da psicologia sócio-histórica a partir dos trabalhos de Vygotsky, na União Soviética, cuja concepção Materialista-dialética da realidade permite colocá-la em um lugar de crítica da Psicologia da época, diante das concepções positivistas, idealistas e materialistas mecanicistas. (BOCK, FURTADO e CONÇALVES, 2009).

Nessa perspectiva, o homem é compreendido como um ser ativo, social e histórico. É essa sua condição humana. Ele constrói sua existência a partir de uma ação sobre a realidade, cujo objetivo é satisfazer suas necessidades. Estas, por sua vez, são social e historicamente produzidas, ou seja, as necessidades básicas do homem não são apenas biológicas; ao surgirem, elas são imediatamente socializadas. Bock, Furtado e Teixeira (2009, p. 89) aprofundam a questão ressaltando que:

A ação do homem sobre a realidade que, obrigatoriamente, ocorre em sociedade, é um processo histórico. É uma ação de transformação da natureza que leva à transformação do próprio homem. É um processo de transformação constante das necessidades e da atividade dos homens e das relações que estes estabelecem entre si para a produção de sua existência. Esse movimento tem por base a contradição: o desenvolvimento das necessidades humanas e das formas de

satisfazê-las, ao mesmo tempo em que só são possíveis diante de determinadas relações sociais, provocam a necessidade de transformação dessas mesmas relações e condicionam o aparecimento de novas relações sociais. (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2009, p. 89)

Conforme ressaltam os autores, este movimento é permanente, e nele o indivíduo é participante ativo da construção de seu círculo de interações, alterando e provocando transformações nos contextos sociais e em sim mesmo. Ressalta-se também o papel do outro nas interações, necessário e fundamental; além de carregar mensagens da própria cultura que será transmitida, o “outro” com quem interage é referência externa que permite ao homem constituir-se como ser humano.

Pela mediação das relações sociais e das atividades que desenvolve, o homem se individualiza, significa seu mundo e produz sua história. No percurso de sua existência ele vai se deparando com um mundo material com significados já construídos por outros homens. Mas é nas relações sociais que ele se apropria desse mundo cultural e desenvolve o “sentido pessoal”.

[...] Produz, assim, uma compreensão sobre o mundo, sobre si mesmo e os outros, compreensão construída no processo de produção da existência, compreensão que tem sua matéria-prima na realidade objetiva e na realidade social, mas que é própria do indivíduo, pois é resultado de um trabalho seu. (BOCK, FURTADO e GONÇALVES, 2001)

Essas considerações dos autores são encontradas no conceito de subjetividade da perspectiva sócio-histórica. A constituição da subjetividade permitirá a ação do homem sobre o mundo, de uma forma ativa. O sujeito vai se apropriar do mundo por meio da sua subjetividade que é ao mesmo tempo individual e social. É individual porque é constituída em um sujeito com uma trajetória singular, geradora de sentidos e significações; mas também é social, porque sua existência só se torna possível a partir das suas experiências com o mundo exterior - histórica, cultural e social. (GONZALEZ REY, 2007)

A categoria da subjetividade proposta por González Rey reforça a ruptura com a dicotomia subjetividade/objetividade e contribui com uma nova discussão sobre as pessoas com deficiência. Não há lugar para o natural dentro da subjetividade, não existe nada “a priori”, nem vocações. (BOCK, 2010). Existe sim, um sujeito que tem seu modo de registrar o mundo, singularmente, inclusive sobre a sua deficiência. Nega-se, assim, qualquer visão que naturalize a constituição do sujeito e de sua subjetividade. (BOCK, 2004). Além disso, contribui com um olhar sobre a dimensão subjetiva da deficiência, que ultrapassa determinadas considerações naturalizantes sobre essa temática.

A partir desse entendimento de subjetividade, a perspectiva sócio-histórica busca a compreensão do fenômeno psicológico, na relação sujeito e meio. "O fenômeno psicológico é constituído na relação do sujeito com o mundo material e social, mundo este que só existe pela atividade humana." (BOCK, 2004, p. 6)

Essa compreensão, também tem levado a psicologia sócio-histórica a se posicionar criticamente, sobretudo, quanto à forma com que as teorias psicológicas se colocam perante as questões sociais.

Segundo Bock (2009), a compreensão do universo psíquico tem sido colocada dentro de conceitos naturalizantes trazidos pelas teorias psicológicas. Com essa leitura a Psicologia acaba ficando omissa diante da relação entre o mundo psicológico e as condições reais de vida, ou seja, uma Psicologia descolada da realidade social. A consequência mais notória disso é que as condições sociais que constituem os humanos são dissociadas do objeto da psicologia. Todas as qualidades e todos os defeitos são analisados com base em uma perspectiva naturalizante. E tudo que foge à regra, ao esperado, ao comum é patologizado. "Abrimos mão de nossa possibilidade de, a partir do sofrimento psicológico, denunciar as condições de vida que desigualam, desestruturam e geram sofrimento." (BOCK, 2001, p. 9)

A Psicologia sócio-histórica apreende o fenômeno psicológico a partir da sua história, das condições sociais, econômicas e culturais em que vivem os homens. Entender o fenômeno psicológico implica entender a expressão subjetiva de um mundo objetivo e coletivo. O universo social e o psicológico são elementos de uma dinâmica, que é dialética. A psicologia, ao compreender essa relação, precisará se debruçar sobre a realidade social na qual o fenômeno psicológico se constitui; além disso, ao analisar o mundo psicológico estará contribuindo para a compreensão do mundo social. (BOCK, 2011)

Trabalhar para atenuar o sofrimento psíquico requer do psicólogo um posicionamento ético e político sobre o mundo social e psicológico.

A psicologia sócio-histórica exige a definição de uma ética e exige uma visão política sobre a realidade na qual nosso “objeto de estudo e trabalho” se insere. A psicologia sócio-histórica carrega, intrinsecamente à sua forma de pensar a realidade e o mundo psicológico, esta perspectiva e a necessidade deste posicionamento. (BOCK, 2011, p. 8)

Por dialogar com tal posicionamento, especialmente aquele que se direciona a discutir as condições e formas de organização sociais e históricas que impactam no sofrimento psíquico dos sujeitos, depreende-se a necessidade de debruçar-se sobre alguns elementos da perspectiva sócio-histórica que possam contribuir com as discussões sobre as

condições subjetivas que compõem a vida do trabalho das pessoas com deficiências. Os estudos sobre a subjetividade, a dimensão subjetiva da realidade social e as zonas de sentido tornam-se norteadores desse trabalho.

2.1.1 - A categoria da Subjetividade proposta por González Rey

Os trabalhos desenvolvidos por Vygotsky, e outros expoentes da psicologia soviética como Rubinstein e Bozhovich21 são o ponto de partida de González Rey na criação da categoria da subjetividade. González Rey (2007) afirma que a subjetividade é um macroconceito orientado à compreensão mais ampla da psique. De forma que as "funções psíquicas são compreendidas como processos permanentes de significação e sentido. "(GONZALEZ REY, 2001a, p. 01). Tais elementos são fruto dos trabalhos de Vygotsky, mas que não puderam ser concluídos em função da sua morte.

Além das concepções fundantes a respeito do homem, da psicologia e do método, Vygotski contribui com a Teoria da Subjetividade por meio dos trabalhos sobre a temática deficiência, ao romper com as premissas de naturalização da deficiência como enfermidade. Ainda que não tenha desenvolvido a categoria sentido, fundamental para a teoria de Gonzalez Rey, (e a qual receberá um aprofundamento especial posteriormente neste trabalho), era possível observar em sua produção teórica um destaque sobre as várias conseqüências de uma experiência a partir da maneira em que ela é vivida. De fato, isso estará fortemente relacionado com o processo de subjetivação dessa experiência em um contexto social concreto. (GONZÁLEZ REY, 2004).

Uma das maiores contribuições de Vygotski (1997) dentro dos fundamentos da defectologia corresponde aos estudos de compensação os quais abrem novas perspectivas que se desalinham da norma sobre os encaminhamentos com as crianças com deficiência. Vygotski (1997, p. 18, 20) neste trecho destaca:

O mais importante é que, junto com o defeito orgânico estão dadas as forças, as tendências, as aspirações a superá-lo ou nivelá-lo. E essas tendências para o desenvolvimento elevado são as que não advertiram a defectología anterior. Ainda que, precisamente, elas são as que outorgam peculiaridade ao desenvolvimento da criança deficiente, são as que criam formas de desenvolvimento criativas, infinitamente diversas, às vezes profundamente raras, iguais ou semelhantes às que observamos no desenvolvimento típico de uma criança normal. (VYGOTSKI, 1997, p. 16).

21 Segundo Gonzalez Rey, Rubinstein contribui com seus estudos sobre o aspecto simbólico-emocional da produção de sentidos. A contribuição de Bozhovich se deu a partir das publicações sobre personalidade, sobretudo os estudos sobre capacidade volitiva, a auto-organização da personalidade à determinadas características do plano subjetivo. (GONZALEZ REY, 2001a; 2003).

O autor inverte a relação quando estabelece as condições sociais a partir das potencialidades do corpo e não a partir das deficiências e impedimentos. Não é no corpo que a criança sente sua deficiência, mas nas relações sociais que dela resultam. Tais relações estabelecem o lugar ocupado pela criança com deficiência no meio social.

Ao trabalhar com crianças com deficiência, Vygotski (1997) percebeu que havia um pensamento distorcido que associava um tipo de personalidade específica à representação das crianças e das doenças. A partir desse trabalho, passou a compreender uma dimensão social subjetiva da doença que influenciaria a vida da pessoa. (BARROCO, 2007). Essa função psíquica não era, de forma alguma, linear, imediata e externa, e sim “configurada socialmente e ao mesmo tempo, constituinte do social dentro do processo em que se configura” (González Rey, 2004 p. 23), sendo passível de desenvolvimento constante.

Assim, em confluência com essas premissas de Vygotski, González Rey (2003) parte da perspectiva histórico-cultural para dar prosseguimento à teoria da subjetividade. Concebe o caráter inseparável da atuação individual e social do sujeito na constituição da psique, o que envolve os sentidos gerados no momento da ação e os sentidos configurados ao longo da trajetória histórica desse. "É uma abordagem importante porque toca no ponto nevrálgico da polêmica sobre a dicotomia mente/corpo que insite em sobreviver, mesmo no âmbito da psicologia materialista dialética."(FURTADO e SVARTMAN, 2009, p. 88)

O estudo da subjetividade proposto por González Rey ainda permite um olhar diferenciado sobre a personalidade, referenciando-a como um sistema de configurações dos elementos subjetivos integrados às diversas atuações do indivíduo, imbuídas de emoções. Ou “O sistema de configurações subjetivas, dinâmicas, que integram o sentido subjetivo das distintas atividades e relações que são relevantes para o indivíduo ao longo de sua história pessoal” (GONZÁLEZ REY, 1999, p. 24).

Ao iniciar a discussão teórica, González Rey (2003) afirma que o campo da subjetividade do sujeito se constitui no que o autor define como configuração, forma complexa com que o indivíduo organiza os elementos da sua personalidade, ou seja, são aspectos que organizam as produções de sentido subjetivo. Abaixo se situam algumas definições de configuração trazidas pelo autor:

[...] não tenho hoje uma alternativa melhor para me referir às formas de organização da subjetividade social que a de configuração, categoria que tenho utilizado para definir a personalidade como forma de organização da subjetividade individual. (...) constitui um núcleo dinâmico de organização que se nutre de sentidos subjetivos muito diversos, procedentes de diferentes zonas de experiência social e individual. (...) as configurações são um elemento de sentido dentro do comportamento atual de um sistema subjetivo, seja este social ou individual e, ao mesmo tempo, podem alterar sua forma de organização ante a

emergência de sentidos e configurações que passam a ser dominantes dentro do momento atual de ação do sistema. (GONZALEZ REY, 2003, p.203-204)

As definições mencionadas levam ao entendimento de que as configurações são dinâmicas e, sobretudo, singulares; a cada experiência vivenciada nos espaços sociais, o sujeito apresenta diferentes organizações e atribuições de sentido e significados. González Rey (2003) valoriza, não só os eventos significativos para a produção de configurações, mas também as experiências do cotidiano.

As configurações, assim, têm a função de aprofundar e desenvolver o conceito de subjetividade, ou seja, "o campo da subjetividade engendra-se justamente no que o autor define como configuração" (FURTADO, 2009, p. 89). A subjetividade se organiza a partir das configurações subjetivas, nutridas de sentidos e significados implicados, simultaneamente, com sua história de vida e sua experiência atual.

González-Rey (2003) situa o estudo da subjetividade dentro de um substrato ontológico complexo dos processos psíquicos - a subjetividade é a constituição do psiquismo do sujeito. Compreende-a por meio de processos de sentido e significado trazidos pelo sujeito psicológico concreto e as diferentes instâncias sociais e históricas nas quais este se constitui e é constituído. Nas palavras do autor:

[...] subjetividade é definida como a organização dos processos de sentido e significação que aparecem e se organizam de diferentes formas e em diferentes níveis do sujeito e na personalidade, assim como nos diferentes espaços sociais em que o sujeito atua. (GONZÁLEZ-REY, 2003, p.108).

A subjetividade colocada dessa forma, considerando simultaneamente os significados e sentidos expressados pelo sujeito nos diferentes espaços sociais que o constituem e são constituídos por ele, propõe-se a superar os marcos tradicionais sobre os quais a Psicologia historicamente se apoiou (e continua se apoiando). Uma proposta que se empenha em romper com as dicotomias individual/social, cognitivo/afetivo, interno/externo, articulando dialeticamente ambas as esferas. (GONZALEZ REY, 2002) A compreensão da subjetividade, sem reduzi-la a um fenômeno resultante do campo social ou do biológico, só será possível a partir do acesso à história que, permanentemente, reorganiza-se no tempo social, na qual o sujeito é um constituinte ativo do próprio processo em que ele se constitui. "A história do sujeito psicológico é a história de sua constituição subjetiva, no curso da qual as experiências temporais se configuram no tempo presente e se realizam na dimensão cultural." (FURTADO 2009, p.89)

Além da história, o conceito de sujeito é indispensável para compreender o caráter processual da subjetividade. (GONZALEZ REY, 2002; 2003; 2005; 2007). A discussão

sobre o conceito permite transitar por outras correntes que também se debruçam sobre a temática da subjetividade e confrontá-las.22

A concepção de sujeito discutida por esta perspectiva apresenta o indivíduo formado por sentidos dinâmicos produzidos a partir das emoções geradas nas mudanças sociais, o que para González Rey (2003; 2004; 2005) evidencia a relevância do sujeito como categoria essencial para a compreensão da subjetividade. Para este autor, a subjetividade abrange simultaneamente a dimensão individual e a social. Define-o como "(...) a pessoa capaz de gerar subjetivação em suas diferentes atividades humanas. O sujeito é a pessoa apta a implicar sua ação no compromisso tenso e contraditório de sua subjetividade individual e da subjetividade social." (GONZÁLEZ REY, 2007, p. 144)

O sujeito não possui uma condição universal e estática. Pelo contrário, há uma qualidade de ser ativo, histórico, implicado no seu processo constitutivo. Ainda que o autor reconheça que existam níveis de organização da subjetividade que facilitam o processo de se tornar sujeito, ou seja, a pessoa atua como sujeito pelo modo com que conduz seu envolvimento em uma atividade. Na sua condição de sujeito ativo, ele é capaz de produzir espaços próprios de subjetivação que lhe permitam um desenvolvimento diferenciado dos espaços de subjetividade social, na própria ação que ultrapassa as normas estabelecidas. Toda subjetividade social possui princípios e normas que limitam a expressão das pessoas. (FURTADO, 2009; GONZALEZ REY, 2001)

A teoria da subjetividade valoriza os espaços dialógicos do sujeito, por ser um dos elementos que definem os processos de subjetivação. A conversação é um fenômeno subjetivo na qual, múltiplos registros que podem não estar visíveis na organização linguística do diálogo interferem, tais como as posturas, imagens, fantasias e emoções. Assim, o diálogo não está separado da produção de sentidos subjetivos daqueles que participam dessa comunicação, sendo esse um dos elementos que definem os processos de subjetivação. (GONZALEZ REY, 2002)

O sujeito também tem lugar central na discussão sobre subjetividade individual e subjetividade social, outros conceitos fundantes da teoria da subjetividade. Nas palavras do

22 Embora não se tenha a pretenção de aprofundar o confronto teórico e as outras correntes que se destacaram pelos estudos sobre a subjetividade, vale ressaltar que na sua obra Gonzalez Rey (2001; 2003; 2005; 2007; 2011) traz a discussão, principalmente, sobre a Psicanálise, o emprego "do caráter universal para explicar o homem, a psique humana e seu funcionamento (estruturas inflexíveis e pré-ordenadas e, em sua maioria, determinadas biologicamente)". (González Rey, 2003, pp. 30 - 31) Afirma que a definição de subjetividade que se propõe a aprofundar "não tem nada em comum com os atributos essencialistas, causais e universais" propostos por essa corrente teórica. (GONZÁLEZ REY, 2001, p. 21)

autor:

A pessoa, ao atuar como sujeito, expressa, em qualquer de seus atos concretos, uma subjetivação que implica sua subjetividade individual e a subjetividade social, integração única que surge em forma de sentidos subjetivos singulares que se desdobram em trajetórias únicas, em suas ações concretas. Por sua vez, a ação pode ter uma repercussão da subjetividade social que vai além de sua intenção individual, passando a se constituir na subjetividade social. O sujeito de maneira permanente produz novos espaços de subjetivação no decorrer de uma atividade, daí sua significação como momento constituinte da subjetividade social. (GONZÁLEZ REY, 2003, p. 146)

Na compreensão da relação dialética das subjetividades individual e social, verifica- se a reciprocidade das mesmas, sem que uma se dilua na outra, ou seja, trata-se de uma integração complexa e contraditória entre indivíduo e sociedade. A própria trajetória do sujeito pode levar a outras configurações subjetivas que se desalinham com o que está socialmente estabelecido. Conforme González Rey (2005, p. 206):

Essa subjetividade individual está constituída em um sujeito, cuja trajetória diferenciada é geradora de sentidos e significações que levam ao desenvolvimento de novas configurações subjetivas individuais que se convertem em elementos de sentidos contraditórios com o status quo dominante nos espaços sociais nos quais o sujeito atua.

O autor ainda ressalta que a concepção de subjetividade individual não tem um caráter individualista, pois representa a configuração em nível subjetivo que ocorre de acordo com a vida social do sujeito, a qual não seria possível acessar de outra forma. Representa a constituição da história de relações sociais e as experiências atuais do sujeito concreto dentro de um sistema individual. Ao viver suas relações sociais e experiências em uma cultura que tem idéias e valores próprios, o indivíduo vai se constituindo, vai construindo sentido para as experiências que vivencia. "Este espaço pessoal dos sentidos que atribuímos ao mundo se configura como a subjetividade individual." (BOCK, 2001, p. 19)

Pelo entendimento de uma relação indissociável entre a subjetividade individual e social o autor referencia intrinsecamente:

A subjetividade individual se produz em espaços sociais constituídos historicamente; portanto, na gênese de toda a subjetividade individual estão os espaços constituídos de uma determinada subjetividade social que antecedem a organização do sujeito psicológico concreto, que aparece em sua ontogenia como um momento de um cenário social constituído no curso de sua própria história. (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 205)

O conceito de subjetividade social representa a organização subjetiva dos diversos espaços sociais, os quais formam um sistema configurado pela multiplicidade de produções em uma determinada sociedade. Em uma das definições abordadas pelo autor

percebe-se a implicação da subjetividade social nas relações institucionais:

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