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Pressupostos necessários à decretação da prisão preventiva

4. Medidas de coação

5.3. Pressupostos necessários à decretação da prisão preventiva

Para que uma medida de prisão preventiva, que afeta o indivíduo na sua liberdade seja decretada é necessário que determinados requisitos na lei estejam verificados.

Há interesses da ordem pública que devem ser acautelados, por esta razão há que evitar a fuga do arguido, a perturbação do inquérito ou da instrução do processo, a perturbação da ordem e da tranquilidade públicas ou da continuação da atividade criminosa.

Para além dos requisitos gerais, para a aplicação em concreto da prisão preventiva é necessário que obedeça aos princípios da adequação e da proporcionalidade, consagrados no art.193.º do CPP. Segundo estes requisitos, a medida de coação a aplicar tem que ser adequada para acautelar o caso a que se reporta e tem que ser proporcional à gravidade do crime e às sanções que possam vir a ser aplicadas.

Por fim, é necessário que estejam verificados determinados requisitos específicos da prisão preventiva previstos no art.202.º do CPP.

Assim, a primeira condição prevista é a de que nenhuma das outras medidas de coação sejam, para o caso concreto, adequadas ou suficientes; está aqui presente a natureza excecional e subsidiária da prisão preventiva que resulta dos arts.27.º e 28.º da CRP.

A segunda condição encontra-se prevista nas várias alíneas do n.º1 do art.202.º do CPP. Pela ordem prevista no nosso Código de Processo Penal podemos enunciar os seguintes requisitos: “haja fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena

de prisão de máximo superior a cinco anos112 (alínea a); haja fortes indícios de prática de crime doloso que corresponda a criminalidade violenta113 (alínea b); haja fortes indícios de prática de crime doloso de terrorismo ou que corresponda a criminalidade altamente organizada punível com pena de prisão de máximo superior a três anos114

112 Antes da revisão de 2007, com a Lei n.º48/2007, de 29 agosto, a pena de prisão era de máximo

superior a três anos.

113 Este requisito foi introduzido pela Lei n.º26/2010, de 30 de agosto. Podemos entender por

“criminalidade violenta” as condutas que dolosamente se dirigirem contra a vida, a integridade física, a

liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou a autoridade pública e forem puníveis com pena de prisão de máximo igual ou superior a 5 anos” (art.1.º, al. j) do CPP).

114 Este requisito sofreu algumas alterações com a Lei n.º26/2010, correspondia à alínea b) anterior.

Entende-se por “criminalidade altamente organizada” as condutas que integram crimes de associação

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(alínea c); haja fortes indícios de prática de crime doloso de ofensa à integridade física qualificada, furto qualificado, dano qualificado, burla informática e nas comunicações, recetação, falsificação ou contrafação de documento, atentado à segurança de transporte rodoviário, puníveis com pena de prisão de máximo superior a três anos115 (alínea d); haja fortes indícios de prática de crime doloso de detenção de arma proibida, detenção de armas e outros dispositivos, produtos ou substâncias em locais proibidos ou crime cometido com arma, nos termos do regime jurídico das armas e suas munições, puníveis com pena de prisão de máximo superior a três anos116 (alínea e); que se trate de pessoa que tiver penetrado ou permaneça irregularmente em território nacional, ou contra a qual estiver em curso processo de extradição ou expulsão (alínea f)”.

Para legitimar a aplicação da prisão preventiva, o legislador impõe a existência de fortes indícios da prática de crime doloso (cfr. art.202.º, n.º1, als. a) e b), do CPP). Quanto ao alcance da expressão de “fortes indícios”, no entendimento de Simas Santos e Leal Henriques, não basta que a suspeita sobre a autoria ou participação no crime “assente num qualquer estrato factual, mas antes em factos de relevo que façam

acreditar que eles são idóneos e bastantes para imputar ao arguido essa responsabilidade, sob pena de se arriscar uma medida tão gravosa como esta em relação a alguém que pode estar inocente ou sobre o qual haja indícios seguros de que com toda a probabilidade venha a ser condenado pelo crime imputado”117.

Neste sentido, o Ac. da RP, de 31.01.2007, in www.dgsi.pt (Proc. n.º0710476) pugna que “não deve ser decretada a prisão preventiva quando seja previsível, atentas as

psicotrópicas, corrupção, tráfico de influência, participação económica em negócio ou branqueamento”

(art.1.º, al. m), do CPP).

115 Este requisito foi introduzido pela Lei n.º26/2010, de 30 de agosto. Com esta Lei, foi alargada a

admissibilidade da aplicação da prisão preventiva a determinados fenómenos criminais que atingem uma gravidade social elevada e cujas restantes medidas poderão não ser suficientes para conseguir acautelar os interesses sociais em causa.

116 Este requisito consagrado na alínea d) do n.º1 do art.202.º do CPP prevê os casos que já admitiam a

prisão preventiva, nos termos do regime jurídico das armas e suas munições, aprovado pela Lei n.º5/2006, de 23 de fevereiro, alterada e republicada pela Lei n.º17/2009, de 6 de maio, art.95.º-A, nº.5, cujo preceito legal foi revogado pela Lei nº.26/2010, de 30 de agosto. Deste modo, a previsão e regulação desta matéria está no Código de Processo Penal e não na lei referida.

117 SANTOS, M. Simas e HENRIQUES, M. Leal – Código de Processo Penal Anotado, Vol. I. 2.ª

Edição. Lisboa: Rei dos Livros, 2003 Apud CARVALHO, Paula Marques – As Medidas de Coação e de

Garantia Patrimonial, Uma análise prática à luz do regime introduzido pela Lei nº48/2007, de 29 de agosto. 2ª Edição. Coimbra: Almedina.

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concretas circunstâncias do caso, que o arguido não venha a ser condenado, a final, em pena de prisão efectiva”118.

No caso de o arguido não cumprir a obrigação de permanência na habitação, o juiz pode impor-lhe outra medida de coação prevista no CPP e admissível ao caso, incluindo a prisão preventiva, mesmo que ao crime caiba pena de prisão de máximo igual ou inferior a cinco anos e superior a três anos (cfr. art.203.º, n.ºs 1 e 2, do CPP119).

O juiz pode ainda decretar a prisão preventiva, se for legalmente admissível, se o arguido faltar injustificadamente o ato para o qual se encontre devidamente notificado, por exemplo, a falta de comparência para a realização da audiência de julgamento (cfr. art.116.º, n.º2, do CPP).