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A ampliação da rede física escolar do município: 1943 a

3.1. O primeiro Convênio Escolar

Os anos que se seguiram não modificaram muito o quadro existente até então na cidade de São Paulo. De 194312 a 1948, época em que funcionou o primeiro Convênio público voltado para a construção de espaços para educação, foram realizados apenas três edifícios. Essa situação parece ter sido causada, segundo artigo publicado anos após a extinção desse primeiro convênio, pela ausência de uma estrutura administrativa capaz de direcionar corretamente os recursos destinados para a construção de escolas.

Em uma conferência realizada em São Paulo em outubro de 1949, o eng. José Amadei relata o quadro das instalações destinadas à educação pública na cidade:

A situação, no ano de 1947 era a seguinte:

111 grupos escolares, dois funcionavam junto aos dois Institutos de Educação.

Dos 109 grupos restantes 34 funcionavam em prédios pertencentes ao Estado, sendo 28 em prédios especialmente construídos e 6 em prédios adaptados.

Os outros 75 funcionavam em prédios alugados, dos quais 13 especialmente construídos e os demais adaptados, na sua maioria necessitando de substituição tais as suas más condições higiênico-pedagógicas.

Alugueres em geral baixos, quasi todos os contrátos vencidos, alguns já sob a ação de despejo e outros de interdição.

Na sua maioria sob regime de aulas de três períodos.

258 eram as escolas isoladas e 214 as classes nas escolas agrupadas. (...)

O problema da edificação para a escola primária logo se nos apresentou claro:

64 edifícios para substituir os existentes condenados e 37 edifícios para atender as 40.000 crianças sem instrução e sem escola tomando-se por base a média de nove salas por grupo que é a média fornecida pelos existentes. Mas como o tresdobramento13 deve cessar, tais os seus inconvenientes, um terço a mais sobre o total de 146 (109 + 37) elevaria o número de prédios necessários a 194. (AMADEI, 1959, p.8)

As dificuldades encontradas para o início dos trabalhos do primeiro Convênio Escolar são descritas por Celso Hahne, chefe da Contabilidade da Comissão de Construções Escolares, órgão que sucedeu a Comissão Executiva (CE) do segundo Convênio Escolar: 12

Cf. Engenharia Municipal (12): 1, jan. / mar. 1959.

13

Prática comum na época de usar uma mesma sala de aula em três períodos ao longo do dia, com alunos diferentes. O principal problema é que cada classe fica com seu horário dentro da sala de aula reduzida, além da necessidade de ocupar horários noturnos, o que nem sempre era adequado às crianças.

(...) o primeiro Convênio firmado em 1943 praticamente não chegou a ser executado pela inexistência de um órgão técnico especializado que o puzesse em funcionamento. Assim é que as verbas destinadas ao ensino no período de 1943 a 1948 foram na sua quase totalidade creditadas no Fundo do Ensino, pois as repartições do Departamento de Obras e posteriormente da Secretaria de Obras não estavam entrosadas para a finalidade de construção de prédios escolares e suas instituições auxiliares. Tanto assim que nesse período (1943-1948) apenas três prédios escolares foram construídos. (HAHNE, 1959, p. 9)

Em 1946, a Constituição passou a determinar que União, Estados e Municípios investissem uma certa porcentagem dos recursos arrecadados na educação primária. Para atender a essa determinação, foi realizado mais um acordo, no caso da cidade de São Paulo, entre o governo do Estado e a Prefeitura, também denominado Convênio Escolar. Por este acordo, a Prefeitura, na administração de Milton Improta, seria responsável pela construção das escolas e edificações complementares, e ao governo do Estado, na administração Adhemar de Barros, caberia a manutenção do ensino.

Já existia uma prática, ainda que em certos momentos descontínua, de construção de escolas públicas por parte do governo estadual, e que abrangia tanto a capital quanto as cidades do interior paulista, estando essa responsabilidade na maior parte do tempo, e até 1960, relacionada diretamente à Diretoria de Obras Públicas. Somente a partir desse ano é que sistematicamente a construção de escolas estará sob a responsabilidade de um órgão constituído exclusivamente para esse fim. Até 1930, a construção desses edifícios não tem um ritmo contínuo, ainda que se possa afirmar que as cidades no interior foram mais bem atendidas que a capital, no que se refere à quantidade de edifícios. Essa irregularidade se repete com o segundo Convênio Escolar: trata-se ainda de um momento bastante definido no tempo e no espaço, tendo o ano de 1954 como data limite para atender os objetivos estabelecidos.

Além do atendimento às exigências da Constituição, o Convênio tinha como meta, certamente política em sua formulação, colocar todas as crianças da capital, em idade escolar, em instituições públicas de ensino até o ano de 1954, ano de comemoração do IV Centenário

da cidade. Essa postura revela, por parte dos dirigentes do Estado, uma mudança significativa em relação à preferência normalmente dada às cidades do interior.

O Convênio deveria, portanto, ser responsável pela solução do problema da edificação voltada para a educação pública em toda a cidade, mesmo sendo, em essência, um instrumento temporário para a realização das metas estabelecidas pela Constituição, além de estar submetido à Diretoria de Obras Públicas. As metas eram claras: em 1954 não deveria haver nenhuma criança fora da escola. A direção da Comissão do Convênio Escolar, inicialmente dirigida pelo eng. José Amadei, incluindo o arquiteto responsável pela realização dos projetos, Hélio de Queiroz Duarte, sabiam da necessidade de impor uma grande velocidade à execução dos edifícios, em face da rapidez com que a cidade crescia demograficamente e geograficamente.

O gráfico 1, publicado na revista Habitat n. 4, revela a expectativa do Convênio de atender progressivamente a demanda até alcançar o objetivo final.

Gráfico 1

Influência das atividades da Comissão Executiva do Convênio Escolar na difusão do ensino primário oficial Fonte: AMADEI, 1951, p. 3.

O gráfico 1 revela ainda um outro aspecto que é pouco citado nas publicações e dados obtidos nesta pesquisa: segundo ele houve um aumento, ainda que pequeno em relação à demanda, no número de classes em funcionamento durante a Segunda Guerra Mundial. Nas

pesquisas realizadas sobre as edificações escolares construídas no município de São Paulo, foram construídas pouquíssimas edificações novas durante esse período. Não foi possível verificar quais as fontes utilizadas pelo autor do artigo, o engenheiro José Amadei, para elaborar o gráfico, e é possível que esse pequeno aumento no número de classes entre 1942 e 1946 seja correspondente ou ao aumento no número de edificações destinadas a escola, ou a modificações na quantidade de turnos de aula, prática comum na época.